Algo se mueve en Brasil

por Antonio Giménez Merino

 

 

En Brasil, diversas organizaciones policiales componen un verdadero paraestado cuyas puntas más violentas son la Policía Militar y los llamados “escuadrones de la muerte”, tristemente famosos por sus tropelías dentro de los “aglomerados” o barrios de favelas que forman parte del paisaje urbano de las grandes ciudades del país.

La violencia policial-militar tiene en Brasil un carácter estructural, que se ha intensificado en los últimos años de crecimiento económico del país con la presión urbanística en las grandes ciudades promovida por el sector de la construcción. Los “aglomerados”, inmensos barrios de favelas, son objeto de un acecho constante por parte del Batallón de Operaciones Policiales Especiales, la Tropa de Choque y la Fuerza Nacional, sin que esta aplicación constante y sangrienta de la fuerza tenga una gran repercusión mediática, al ser percibida por la opinión pública como un mal endémico del país.

El espectador brasileño está acostumbrado a presenciar la violencia contra el pobre, pero no manifestaciones masivas de fuerza aplicada contra la clase media.

Este hecho está relacionado con un dato sociológico importante: la población que se ha rebelado en Brasil, a pesar de tener un carácter heterogéneo (destacan las movilizaciones de las periferias pobres de la mayoría de las capitales brasileñas, sobre todo São Paulo, Belo Horizonte y Rio de Janeiro, que han desplazado la protesta de los tradicionales centros urbanos hacia la periferia y que han provocado el miedo y consiguiente reacción racista de los sectores conservadores de Brasil), tiene también un numeroso componente joven, despolitizado y familiarizado con las nuevas tecnologías.

Las protestas espontáneas de este estilo suponen un importante impulso democratizador y comportan la policitación de la población joven, pero también un beneficio gratuito para la derecha que trata de derribar las tímidas políticas redistributivas y conservacionistas llevadas a cabo con grandes dificultades por el PT. La derecha social brasileña, fuerte, organizada y con presencia en el propio gobierno (donde destacan miembros de las sectas evangélicas claves para la estabilidad del gobierno), está rentabilizando las protestas para aumentar el creciente descrédito del gobierno Rousseff, en clara caída de popularidad por los graves casos de corrupción que han afectado al partido y, relacionado con esto, por los dispendios enormes en obras que nada tienen que ver con los déficits estructurales del país. Pragmáticamente hablando, un cambio de gobierno que dejara a éste en manos de la derecha (con un programa económico basado en un sistema impositivo regresivo y en favorecer la entrada de más capital extranjero, y con postulados sociales igualmente regresivos) sería en estos momentos demoledor para Brasil y para el cono sur de América. Importantes iniciativas sociales en curso, como el programa Minha casa, minha vida, que ha sido capaz de dar vivienda a una gran cantidad de familias de renta baja, serían con toda seguridad canceladas. Y las políticas de resistencia al neoliberalismo más feroz en esa región del planeta se verían seriamente debilitadas.

En tanto no emerja una alternativa política sólida a las políticas neoliberales o reformistas, el robustecimiento del nuevo impulso democratizador en Brasil, como en España, pasa por capitalizarlo en torno a las luchas sociales preexistentes por las cuestiones más acuciantes para las vidas cotidianas de la mayoría: la vivienda, la sanidad, la salud, los transportes, el medio ambiente, la distribución de la riqueza, etc.

GRÉCIA. A luta contra o fascismo e as suas forças

O Aurora Dourada e o movimento antifascista

 

por Ricardo Cabral Fernandes

Em período de estabilidade e legitimidade do sistema político e de crescimento económico as forças políticas de extrema-direita costumam situar-se à margem da competição eleitoral, pois os seus discursos de ódio e de violência afastam o eleitorado. No entanto, perante uma situação de instabilidade e deslegitimação do sistema político e confrontados com uma severa crise económico-financeira e social estes partidos têm um terreno fértil para crescerem por se assumirem como forças anti-sistema e capitalizarem o descontentamento, principalmente entre o eleitorado de direita e de centro-esquerda. As causas económicas não explicam por si só a ascensão da extrema-direita, tendo também de ser contempladas as causas políticas sistémicas.

À medida que a crise económico-financeira e social grega se foi acentuando depois dos Memorandos com a troika, o Aurora Dourada, um partido que se inspira claramente na ideologia nacional-socialista, obteve um crescimento eleitoral que surpreendeu, ao mesmo tempo que consolidava a sua implantação na sociedade grega, principalmente nos bairros mais atingidos pela pobreza e desemprego. A sua ascensão eleitoral começou com a eleição do seu líder, Nicos Michaloliakos, para o Conselho Municipal de Atenas nas eleições autárquicas de 2010 com 5,29% dos votos. Nas eleições seguintes o partido continuou a sua ascensão, tendo-a consolidado. Nas eleições legislativas de Maio de 2012 elegeu 21 deputados (6,97% dos votos) e nas de Junho do mesmo ano elegeu 18 deputados (6,92%), fortalecendo a sua posição eleitoral e parlamentar mesmo que tenha perdido três deputados. Pela primeira vez desde o pós-guerra um partido de extrema-direita tinha entrado num parlamento nacional europeu, afirmando-se como a terceira maior força política parlamentar do sistema político grego. Ao mesmo tempo o bipartidarismo grego, entre o Nova Democracia e o PASOK, colapsava, originando novos fenómenos políticos, como a ascensão do Syriza como segunda maior força parlamentar. Nas eleições autárquicas de 2014 o Aurora Dourada conseguiu eleger deputados municipais para todas as autarquias em que apresentou listas eleitorais, o que demonstra o seu avanço em quatro anos: de apenas um lugar no Conselho de Atenas passou a ter deputados municipais em quase todas as autarquias. Nas eleições europeias e legislativas de Janeiro e Setembro de 2015, o Aurora Dourada continuou a consolidar-se eleitoralmente, mesmo sendo alvo de processos criminais após a morte do rapper antifascista Pavlo Fyssas em Setembro de 2013. Leia mais

O movimento antifascista: história, organização e estratégia

Se analisarmos as práticas do movimento antifascista conseguimos delinear quatro eixos estratégicos orientadores que todas as organizações e colectivos cumprem de forma independente (e dependendo das suas capacidades), que são: 1) criação de colectivos de bairro antifascistas para impedir a expansão das forças fascistas e dos seus eventos pela cidade, organizando manifestações; 2) disputa de influência através da produção de propaganda (flyers, jornais e cartazes), de debates e de grandes eventos antifascistas, como o Festival Antifascista, que todos os anos se dá em Salónica em Junho, ou o Torneio de Kickboxing Antifascista, que se realiza há dois anos consecutivos e que recebeu atletas da Alemanha, Espanha, Itália, Polónia, Holanda, Suíça e, claro, gregos de todo o país, e, por fim, a criação de websites de monitorização das actividades do Aurora Dourada e de call-centers onde as pessoas podem ligar para pedirem ajuda ou comunicar actividades que tenham presenciado ou que saibam que irão acontecer; 3) criação de colectivos de solidariedade para os mais pobres, desempregados e imigrantes, tentando minimizar as suas carências materiais e disputando esta área com os neonazis, que também organizam os seus centros de assistência só para “gregos”; 4) apresentação de alternativas ao fascismo com o aprofundamento de práticas de democracia directa, de auto-gestão, de igualdade e de solidariedade, principalmente nos colectivos de bairro, nos centros de solidariedade e nas assembleias antifascistas. Todos estes quatro eixos se inter-relacionam de forma profunda, compondo uma estratégia transversal perante a sociedade grega. Uma estratégia ofensiva contra as forças fascistas, mas também construtiva, de prevenção, sob as condições que permeiam o avanço social do fascismo.

Durante a sua ascensão o Aurora Dourada espancou e assasinou imigrantes, levando o movimento antifascista a intensificar a sua luta de forma cada vez mais agressiva, enquanto o poder político nada fazia. No entanto, com o assassinato do conhecido rapper antifascista Pavlo Fyssas, em Setembro de 2013, o poder político foi obrigado a tomar medidas contra o partido nazi em consequência de uma enorme pressão da sociedade e de alguns meios de comunicação social. A partir desse momento alguns dos seus altos dirigentes foram acusados de terem montado uma organização criminosa, o que poderá levar à ilegalização do partido como a constituição grega estipula. Tanto o mediatismo como os processos judiciais levaram ao fortalecimento do movimento antifascista, ao mesmo tempo que o Aurora Dourada decidiu acalmar as suas actividades violentas para se poder afirmar como vítima de uma conspiração, publicando vários comunicados de imprensa em que denunciavam o processo judicial e se afirmavam como mártires da sua luta e ideologia. O Aurora Dourada passou à defensiva, quando antes estava à ofensiva. Com o avanço do movimento antifascista e a enorme pressão mediática começou a não poder agir como antes, tendo deixado de controlar vários bairros. Em Salónica, por exemplo, o Aurora Dourada está confinado à sua sede, mas em Atenas a situação é mais complicada, pois é aí que o epicentro da acção do partido se encontra. No entanto, se nas ruas o Aurora Dourada recuou imenso, tal já não se pode afirmar no que concerne à sua actividade parlamentar, como demonstram os resultados das eleições de 20 de Setembro de 2015: 18 deputados conquistados, 6,95% dos votos, mesmo que a abstenção tenha sido a maior de sempre. A sua manutenção como terceira maior força política parlamentar no sistema político grego demonstra que possui um eleitorado fiel e não volátil, o que é uma enorme preocupação.

Perspectivas

A situação actual não nos permite de forma alguma afirmar que uma eventual progressão eleitoral, e mesmo nas ruas, do Aurora Dourada se encontra fora de questão. Mesmo que o partido seja ilegalizado, em consequência do acordão do processo criminal, nada leva a crer que não escolha a via da violência, nomeadamente nas ruas, ou que os seus militantes criem outro partido similar, mesmo que a sua liderança esteja na prisão. Na luta contra o fascismo não basta a via legal, é preciso também impedir o seu avanço político nas várias áreas urbanas e rurais e combater as condições políticas, económicas e sociais que lhe permitem conquistar apoiantes. A luta tem de ser global e não apenas legalista.

Com a assinatura do Terceiro Memorando de Entendimento por parte do Governo Syriza-ANEL, a 13 de Julho de 2015, a situação política, económica e social irá agravar-se, podendo facilitar a expansão do Aurora Dourada ou de outro partido similar. Um provável colapso do Syriza, a grande esperança da maioria dos gregos na luta contra a austeridade e na regeneração de um sistema político deslegitimado, e à medida que for aplicando o terceiro memorando, poderá levar muitos desapontados a escolherem o partido nazi. Perante a instabilidade política e a desordem do dia-a-dia, o discurso autoritário e de ordem do fascismo pode vir a colher frutos. É neste contexto que se considera fundamental a reorganização das forças de Esquerda gregas, nomeadamente da Unidade Popular, para apresentarem propostas políticas que se afirmem como alternativas concretas e reais aos estudantes, trabalhadores, pensionistas e reformados gregos. Uma proposta que tenha em conta os erros da estratégia encetada pelo Syriza nos primeiros sete meses da sua governação, mas mais profunda.

Os próximos meses serão terrivelmente desafiadores para o movimento antifascista, um movimento que até agora mostrou estar à altura, mesmo que sozinho, mas também para toda a Esquerda grega. Perante a ascensão de forças de extrema e direita-radical no continente europeu temos muito a aprender com o movimento antifascista grego. Transcrevi trechos

A direita sempre foi o principal fator de instabilidade política

Editorial Portal Vermelho

O povo nas ruas defende a legalidade e barra o impeachment

 

A Câmara dos Deputados já foi presidida por homens com alto sentido da função pública, da moralidade republicana, e da responsabilidade democrática. A lembrança de deputados do calibre e da honradez de Ulysses Guimarães ou Adauto Lúcio Cardoso se impõe. Eram políticos que colocavam os interesses do país, as exigências da democracia, e sua própria honra, acima de qualquer interesse pessoal.

Não é o que acontece em nossos dias. A Câmara dos Deputados é presidida por um deputado contra o qual se acumulam acusações sobre acusações. De faltar com a verdade em CPIs, de receber dinheiros ilícitos, de manter contas secretas no exterior. De usar seu cargo, que o coloca em linha direta na sucessão presidencial, como um biombo que o esconda dessas acusações ou como recurso para fazer chantagens políticas em defesa de interesses pessoais e espúrios.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, decidiu, nesta terça-feira (2), iniciar um processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, e não há como esconder o objetivo de retaliação contra o anunciado voto dos deputados do PT, na Comissão de Ética da Câmara, pela abertura de um processo parlamentar em que ele será julgado.

Além das chicanas políticas, da pequenez da atuação desse parlamentar que, incensado pela mídia conservadora e com decisivo apoio da direita na Câmara dos Deputados (as bancadas do PSDB, DEM, PPS e Solidariedade foram decisivas na eleição e nas ações de Cunha), é preciso levar em conta que a luta de classes, em sua manifestação mais crua, surge sem disfarces na cúpula do Estado brasileiro.

Ao longo de nosso período republicano os governos democráticos e progressistas que estiveram à frente da Presidência da República geraram reações golpistas. A direita, que sempre foi o principal fator de instabilidade política no Brasil, agiu da mesma maneira contra Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva e, agora, contra Dilma Rousseff, contra quem nada há que possa legitimar uma ruptura institucional tão grave que justifique a perda de seu mandato – nem há fundamento jurídico, nem a presidenta praticou qualquer ato ilícito que fundamente a medida absurda pretendida pela direita.

A direita, que ao longo do tempo mandou nos rumos do país, não recua em usar os recursos ilegais e antidemocráticos – se não alcança o poder pela via legal, pelo voto popular, rasga a lei para tomar o governo de assalto.

É o que tenta agora. Com os apoios de sempre, sendo o mais caricato deles a figura deletéria do senador, ex-governador mineiro e candidato tucano derrotado em 2014, Aécio Neves, que posa de “campeão” do impeachment.

A direita, sobretudo seu principal partido, PSDB, quebrou o Brasil três vezes, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Foi campeã na criação de desemprego, de arrocho salarial, de empobrecimento dos brasileiros e de humilhação nacional ante as imposições de governos estrangeiros, principalmente dos EUA. Este quadro mudou desde o início do atual ciclo de mudanças democráticas e soberanas no Brasil. Nos governos Lula e Dilma, desde 2003, mesmo no cenário da grave crise mundial do capitalismo, o Brasil avançou, a vida do povo melhorou, o país se tornou respeitado no mundo.

São mudanças que contrariam o programa da direita e ameaçam seus privilégios. E movem a oposição conservadora para, a todo custo, retomar o controle da Presidência da República.

Mas não passarão. O golpe da direita, desta vez, vai fracassar. Os golpistas terão que derrotar o campo progressista e democrático nas esferas institucionais – na Câmara dos Deputados e nas posições mais altas do Judiciário.

A luta pela legalidade vai ocupar as ruas nesta conflagração iniciada pela direita. Os democratas e progressistas sairão em defesa da legalidade e do mandato constitucional da presidenta da República.

O povo, nas ruas, vai vencer os golpistas, derrotar de vez a direita e consolidar as mudanças democráticas que o Brasil vive desde 2003. A direita não passará!

CRISIS POLITICA Y ECONOMICA DE BRASIL

Contraofensiva de Dilma

En los congresos de la CUT y de la Confederación Sindical Mundial, con Lula como protagonista, la presidenta de Brasil recibió un fuerte apoyo para enfrentar el golpe institucional de la derecha.

dilma golpe ditadura

Por Néstor Restivo


Con dos ejemplos, el ex presidente de Brasil Luiz Inácio Lula da Silva aclaró la razón de la ofensiva de la derecha al gobierno de su sucesora y compañera del Partido de los Trabajadores, Dilma Rousseff. El primero: “La señora se pone un buen perfume el viernes para encarar el fin de semana. Y el lunes, cuando la empleada doméstica regresa a su casa, la señora ve que ella también usa el mismo perfume”. El segundo: “América latina tuvo universidades muy tempranamente tras la llegada de Colón, sólo unos pocos años después abrió la primera en la actual República Dominicana, y en los siglos siguientes las hubo en Perú, Bolivia, Argentina. En Brasil la primera abrió recién en 1922 porque nuestra élite nunca quiso un pueblo educado”. Lula recordó que en estos doce años de gobiernos del PT abrieron 18 universidades y 455 escuelas técnicas, “contra 140 que se habían abierto en todo un siglo”.

Dilma también dijo que la minoría brasileña “alimenta a diario a través de la prensa, con odio e intolerancia, a un pueblo que nunca tuvo esas características, porque no aguanta el ascenso social que vivimos estos años”, refiriéndose a los más de 40 millones de personas que salieron de la pobreza o a los 22 millones de nuevos trabajadores, que hoy (Lula) “por primera vez tienen auto, o viajan en avión y colman los aeropuertos como si fueran rodoviarias (terminales de micros). Todo eso antes estaba reservado sólo a los ricos”.

campanha do ódio

Ambos dirigentes hablaron semanas atrás ante el 12º Congreso de la Central Unico de Trabajadores (CUT), en San Pablo, en medio de una brutal ofensiva para iniciar un juicio político a Dilma para desplazarla del poder y de un clima económico grave, con la peor recesión en Brasil en el último medio siglo. También sesionó en la misma ciudad brasileña la Confederación Sindical Internacional, que hace unos años unificó a distintas centrales (socialdemócratas, socialcristianos y de izquierda) luego de que el fin de la Guerra Fría, la caída del mundo soviético y la ofensiva neoliberal lo hicieron posible. Fue una muestra de apoyo a la CUT, al PT y a Dilma frente al cuadro político, con asistencia de numerosos líderes mundiales entre ellos el líder de una de las organizaciones de Túnez recientemente galardonada por el Premio Nobel de la Paz, la Unión de Trabajadores del país africano; líderes sindicales de la estadounidense AFL-CIO, de Canadá, Australia, Alemania, Italia y de todos los países latinoamericanos, entre ellos la CTA y la CGT, y el ex presidente del Uruguay Pepe Mujica, quien propuso una lucha mundial por la jornada laboral de seis horas, para combatir el consumismo y la sobreproducción.

“El PT tiene algunas divergencias internas sobre cómo encarar la crisis económica. Pero la CUT y los movimientos sociales son la verdadera base de apoyo que tiene Dilma para remontar la situación y para poner resistencia al golpe”, dijo a Cash el dirigente Joao Felicio, ex presidente de la CUT y actual presidente de la CSI. La gran contradicción que tienen el gobierno de Dilma es el ajuste fiscal y la elección de un neoliberal en la cartera económica, el ministro Joaquim Levy, que fue realizado a principios de año y de su segundo mandato de la jefa de Estado (cuando recibió 54 millones de votos) para tratar de congraciar al mercado y al establishment. Pero éstos le devolvieron el favor con la ofensiva golpista, que surge de sectores del poder judicial y de un Parlamento que el PT no controla.

“El Poder Judicial, dada su composición histórica de jueces derivados de la élite, ha ejercido cada vez más la presión política, a menudo con un sesgo conservador, y además de promover una persecución sistemática de la izquierda y de los movimiento sociales y sindicales, con acusaciones, juicios y encarcelamiento de una manera completamente arbitraria y partidista”, dijo la CUT, que también tiró dardos al Parlamento e hizo una defensa tan encendida de Dilma como de los derechos adquiridos y contra el ajuste.

corrupção dilma aécio psdb tucano

La situación brasileña es muy crítica en lo económico y explica la abrupta caída de popularidad de la Presidenta: recesión, devaluación, fuerte caída de exportaciones, duplicación del desempleo en un año – del 4 al 8 por ciento – y muchas empresas paradas por el escándalo de Petrobras, que afectó y detuvo negocios previstos por sectores muy dinamizadores como el propio petróleo o las industrias naval y del acero. Justamente ese escándalo, derivado de la financiación de los partidos por empresas, públicas y privadas, está en el centro de las acusaciones contra el gobierno. Pero en verdad cruza a todo el arco político, es muy antiguo y reclama una reforma del sistema de financiación de los partidos.

Dilma habló ante los líderes sindicales como pocas veces lo había dicho. Tanto, que Lula afirmó en el mismo escenario y unos minutos después que “hoy se ha convertido ya no en presidente de Brasil sino en una líder política”.

La primera mandataria le apuntó claramente a Eduardo Cunha, del PMDB y presidente de la Cámara de Diputados, quien tiene la llave del juicio político (en los últimos días mermó esa posibilidad, pero sigue latente la amenaza con otras iniciativas desestibilizadoras) y está envuelto él mismo en varios escándalos de corrupción, con cuentas secretas en Suiza descubiertas recientemente. Dilma le dijo: “Quién tiene autoridad moral para atacar mi honra. Luché mi vida entera por la libertad (Lula luego recordó su paso por la cárcel y la tortura durante la dictadura militar brasileña) y seguiré luchando para defender el mandato que me dio la voluntad popular y nuestro proyecto de democracia con inclusión social”.

La CUT la aclamó.

En su documento para el congreso sindical recordó que hoy hay en Brasil “el Congreso más conservador desde el fin de la dictadura, con predominio de sectores reaccionarios, vinculados a fanáticos religiosos, latifundistas, fuerzas de seguridad y sistema financiero, incluso nostálgicos de la dictadura”, y definió el eje de la derecha en estos términos desde el año pasado, cuando la Presidenta iba por la reelección: “Dilma no puede ser elegida; si es elegida, no puede tomar posesión; si toma posesión, no puede gobernar”. El apoyo sindical y de los movimientos sociales parece ser la retaguardia desde la cual el gobierno brasileño –que igual que los de Argentina, Venezuela y Ecuador sufren permanentes acciones de erosión por parte de quienes relegaron algo de poder estos años– puede empezar a recuperar el camino y enfrentar la ofensiva golpista.

Escolas estaduais de São Paulo: a sangria dos professores invisibilizados

por Raphael Sanz

greve professor sao paulo

Foi decidido na sexta-feira 12 de junho, em assembléia, o final de uma das mais duradouras greves da história recente do país. Nestes 92 dias de paralisação, os professores estaduais paulistas ajudaram a levantar uma série de debates. Desde a equiparação salarial dos professores em relação a outras categorias e as condições de trabalho e projetos de educação em disputa, até questões de organização e política sindicais.

No auge da greve, entre abril e maio, cerca de 70% da categoria estava parada. O movimento enfrentou a repressão bruta da polícia militar durante seus atos de rua. Enfrentou também a falta de diálogo por parte do governo do Estado, que fazia questão de ignorar a greve e desqualificar suas reivindicações. Enquanto isso, a difusão desse desdém oficial era feita pelos grandes meios de comunicação. Além disso, uma série de disputas internas pela burocracia sindical enfraqueceu o movimento grevista.

Chegando ao acampamento dos professores, em frente à Secretaria de Educação, na praça da República, na noite da quinta-feira, dia 11 de junho, nossa reportagem se deparou com rostos cansados e vozes já trêmulas, vindas de bocas secas pelos três meses de discussões, debates e assembléias. Naquela noite, ainda se defendia a continuação da greve, mesmo com todos os prognósticos contrários. Os professores se encontravam em uma situação material extremamente precária, sem conseguir se manter financeiramente e pagar suas contas, sem acesso ao fundo de greve e, portanto, cada vez mais desmobilizados em busca de suas necessidades básicas.

Esvaziamento da greve

Alessandro Soares, professor de geografia no estado desde 2005, contou que, no final de maio, começou um refluxo na adesão à greve, “com a burocracia sindical desmobilizando a categoria”, diz.

A partir de então, vários grupos que se aproximaram durante a greve tentaram se articular em torno de uma agenda para debater as questões pertinentes à categoria, junto aos Conselhos Representantes do sindicato, e fazer pressão para que o movimento engrossasse novamente.

“Antes das assembléias, há uma plenária dos Conselhos Representantes. Em cerca de 4 ou 5 oportunidades, comparecemos a esses grupos de forma autônoma, pedindo a voz para que pudéssemos também mostrar que nós tínhamos uma pauta, uma agenda de reivindicações que levavam como maior bandeira uma melhoria da qualidade da educação, não apenas a questão salarial. Tem isso também, claro. Mas o mais importante para nós era discutir o que significa a educação aqui no estado de São Paulo. Uma educação toda sucateada”, explica o professor.

“Tivemos a abertura em relação ao regime militar no final dos anos 80, e então o governo do estado passou pelo PMDB e depois caiu no controle tucano. Houve uma crescente desmobilização e uma diminuição do poder aquisitivo dos professores a partir de então. E também uma piora do ensino público no estado de São Paulo”, observa.

Partidarização do debate

Para o professor, um dos fatores que “sangrou” o movimento grevista foi a postura dos diferentes grupos que disputam a burocracia sindical. Para ele, houve uma prioridade colocada nesta disputa em detrimento ao avanço das pautas propostas pela base.

“A gente observa dentro do sindicato que diversas correntes que lutam pelo aparelho, no momento mais agudo, se juntaram para terminar a greve”, critica o professor. De acordo com ele, mesmo as correntes de oposição, ligadas ao PSTU e ao PSOL, não aprofundaram a discussão sobre o que significa a educação. Para Alessandro e outros professores acampados na República, o debate em torno da educação foi partidarizado, transformando os professores em massa de manobra na disputa do imaginário político.

“O movimento grevista foi chamado no dia 13 de março pela direção da APEOESP com uma proposta de barrar toda uma série de propagandas que vinham contra o governo federal. Tanto que no dia 13 foi a nossa paralisação e, logo em seguida, no dia 15, houve o ato do pessoal mais conservador”, explica. Nesse momento, o movimento grevista foi crescendo, até chegar ao seu auge no final de abril. “Isso enquanto era conveniente para os setores governistas”, frisa Alessandro. Em outras palavras, não é uma coincidência o fôlego dessas correntes no momento em que as manifestações da direita estavam a todo vapor.

“No momento em que começava a esvaziar a greve, várias correntes independentes e autônomas se juntaram na rua, fazendo as caminhadas, os chamados cortejos, para a Secretaria de Educação. Em alguns momentos, a gente tentou tencionar um pouco mais para que outras pautas, caminhos e discursos fossem ouvidos”, continua Alessandro. Ele considera que esse fôlego extra, que estendeu a greve por quase mais um mês, foi uma vitória, pois, mesmo com toda a sangria, houve certa visibilidade para discutir o processo de deterioração das escolas públicas.

A sangria dos professores

Alckmin Foto do Cloaca News

Um outro fator fundamental a ser explicado é a postura que o estado de São Paulo, comandado pelo governador Geraldo Alckmin, tomou em relação aos profissionais da educação. “É um governo completamente centralista, que não ouve os trabalhadores. Simplesmente ignora a pauta que a gente levanta e não dialoga com os professores. É um governo autoritário e fascista, que coloca a polícia pra bater e perseguir professor. Também não quer discutir de forma aprofundada a escola publica”, dispara Alessandro.

Thiago Lucas

Thiago Lucas

A negociação em torno do aumento salarial foi um dos pontos dos quais o governo se esquivou. “A nossa data base é em março, mas o governo estadual bateu o pé e disse que era em julho. Mesmo sendo legal em março, o governo do estado falou que não aceita essa data base e, quando começou a negociar, o governo dizia que daria o aumento em determinado momento, mas, de forma mais objetiva, não passou nenhum dado a respeito desse aumento”, explica.

Quanto à regularização dos professores temporários, outra pauta da greve, o governo disse ao movimento grevista que iria mandar um projeto de lei para a ALESP. “Mas também não avançou”.

“Ou seja, é complicado, porque, mesmo com esse lema de pátria educadora, quando aparece um movimento sindical que discute não apenas a questão salarial, mas a qualidade e os objetivos da educação, da básica até a superior, não tem onde dialogar, porque partidarizaram a discussão”, lamenta. Se, de um lado, os adeptos de um desses partidos boicotaram internamente a organização da categoria, por outro lado o governo do outro partido se recusou a negociar e perseguiu os professores grevistas.

Para o professor de geografia, o golpe final do estado de São Paulo contra a mobilização dos professores veio na forma do corte do salário. “Esse corte de pontos foi um dos fatores que fez com que o movimento perdesse a sua postura. Todas as pessoas têm suas contas para pagar, sua realidade material, seu modo de vida, têm de colocar arroz, feijão e mistura na mesa. Tem gente que precisa pagar pensão, aluguel, e isso foi uma tática usada pelo governo do estado para enfraquecer o movimento”, descreve.

“No meu caso, tive um corte de salário total. Não vou receber em junho, nem em julho. Como voltei na última segunda-feira (15 de junho), só vou receber em agosto a metade do mês de junho (a contagem do salário é feita 60 dias depois de fechar o mês). Ou seja, vou ter problemas para pagar as minhas contas. Toda a questão material da minha vida está bem complicada, tenho que pedir dinheiro emprestado, correr para o banco, ter familiares ajudando, tentando uma série de coisas para segurar as pontas nesse meio tempo até que eu tenha a minha renda novamente, em setembro”, conta o geógrafo.

Ele não é o único a estar nessa situação. Naquela noite de 11 de junho, no acampamento, uma professora que falava na reunião dos acampados dizia em alto e bom som: “não podemos pedir para um professor que está há 3 meses com o aluguel atrasado, com muitas dificuldades para pagar as contas, vendo os filhos comerem pouco, que continuem em greve. Eles nos sangraram”.

Projeções para um “Brasil em transformação”

Montado pela APEOESP no início da greve, o acampamento foi desfeito no final de maio, após uma assembleia no dia 25. Os professores consideram um ato de resistência ter mantido o acampamento, de forma autônoma em relação à direção sindical, até o fim da greve. “Durante essa greve, a aula foi na rua. Eu aprendi muito nesse processo”, prossegue o nosso entrevistado.

Será que esse modelo de escola pública fechada, cheia de grade, onde uns entram e outros não, essa coisa policialesca, é o projeto que queremos de uma escola pública? Ou a gente tem outro projeto? Eu não tenho uma resposta certa para isso. É uma questão que está levantada. Talvez esse modelo que temos de escola pública não seja o mais positivo no sentido da construção do conhecimento”.

Em relação à representação sindical, muito criticada pelos professores que acamparam na República, podem-se observar alguns novos ingredientes. É notável que há uma nova geração de professores e trabalhadores da educação que pensam a questão sindical sob um ponto de vista interessante, porém, pouco usual. Concorde-se ou não com as críticas, é inegável que a base do movimento grevista busca um debate mais sério.

“Essa greve deu uma oxigenada nas estruturas com um pessoal bastante combativo e cheio de fôlego, que quer por a mão na massa. Esse movimento vem desde junho de 2013, com o empoderamento de você poder sair na rua e levantar as bandeiras dos trabalhadores, da melhoria das condições de trabalho e qualidade de vida da classe trabalhadora. Eu acho que esse movimento grevista vem ainda no embalo do processo das jornadas de junho de 2013, junto com a questão do transporte colocada pelo MPL, e toda a agenda popular que estamos construindo nos últimos dois anos nesse Brasil em transformação”.

Jarbas

Jarbas

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Brasil, dictadura, colonización y expansión

Las venas de América Latina siguen sangrando

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El 31 de Marzo de 1964, un golpe de Estado encabezado por militares derechistas derroca al presidente João Goulart. El golpe se da como respuesta a medidas nacionalistas tomadas por su gobierno como los controles al aumento del precio de los alquileres, la nacionalización de las refinerías de petróleo, la expropiación de las tierras no explotadas y la limitación de la exportación de ganancias obtenidas por las empresas foráneas, medidas que daban cierta autodeterminación al país, sacudían parte de la injerencia imperialista y afectaban intereses de la oligarquía.

A raíz del golpe, revueltas populares se levantan, los movimientos sociales así como los partidos políticos de izquierda son perseguidos, se cuentan por miles los asesinatos cometidos por la dictadura; la represión es combatida por grupos guerrilleros de ideología marxista e influenciados por el triunfo de la revolución cubana. Mientras el pueblo sufre la represión brutal, la oligarquía nacional brasilera y el imperialismo acrecientan sus inversiones, expanden los latifundios y aumentan sus ganancias y fortunas. 21 años después, la presión popular y el desgaste de la dictadura, la hacen caer, se realizan elecciones directas.

Al final de los años 60 y 70 y como parte de la política económica de la dictadura, se inició una agresiva campaña de “colonización” y expansión de las inversiones en la zona norte del país, más específicamente en región amazónica, lo que produjo deforestación y potrerización de millones de hectáreas con la consecuente concentración y ampliación latifundista (sólo una familia, los Mutrán, llegó a tener más de 50 mil hectáreas), para la misma época -en el año de 1967- se descubren los yacimientos de hierro en la “serra dos Carajás” por una empresa subsidiaria de la “United States Steel Corporation”.

Debido al importante hallazgo la compañía Vale do Rio Doce, para el año de 1970 empieza a desarrollar el “Projeto Carajás”. En esta misma zona fueron también descubiertos otros yacimientos minerales de cobre, manganeso, bauxita, níquel, estaño y oro, además en la región también está la “Serra Pelada”, gigantesca explotación artesanal de oro -que fue inmortalizada por el fotógrafo Sebastián Salgado – ahora abandonada por los pequeños mineros y la riqueza del yacimiento exprimida por la Vale.

El descubrimiento de los yacimientos contribuyó en gran medida a la deforestación de la selva amazónica en esta parte de Brasil, no sólo por los daños ambientales propios de la explotación minera sino también por la ampliación de la frontera agropecuaria con fines latifundistas y la destrucción de miles de hectáreas de bosque para quemar su madera y de esta forma producir el carbón necesario para el funcionamiento de siderúrgicas en la región sur-sureste de Pará, norte del estado de Tocantins y oeste de Maranhão.

La Vale.

preço vale picolé

En la primera fase que se desarrolló en los años 70 y 80 del proyecto Carajás se explotaban cerca de 10 millones de toneladas de hierro al año con una calidad cercana al 70% de hierro en el material extraído, para esos años la Vale do rio doce (Valle del río dulce) era una de las empresas insignias del Estado brasilero que para la primera mitad de los años 90 explotaba en promedio 80 millones de toneladas de mineral de hierro, sin embargo la súper-explotación de los minerales del rico subsuelo de esta parte de la Amazonía aún no empezaba.

Para el año de 1997, en la presidencia del neoliberal Fernando Henrique Cardozo, el gobierno brasilero privatiza la empresa, cambia su nombre de Vale do rio Doce a simplemente Vale, para ese año se produjeron 184.974.000 toneladas de mineral de hierro y acero en el Brasil de las cuales por lo menos 100 millones salieron de las minas del complejo Carajás. La privatización de la empresa aumentó exageradamente la explotación de minerales, para el año 2008 la producción de mineral de hierro y acero en el Brasil llegó a 360.000.000 de toneladas de las cuales 250.000.000 salieron del sur sureste paraense.

En la actualidad la producción brasilera llega a la cifra de 400.000.000 de toneladas al año, de las cuales tres cuartas partes son producidas en el complejo del sureste Paraense dando la increíble cifra de 822.000 toneladas diarias convirtiéndola en una de las minas de hierro más grandes del mundo y con miras a expandirse. Las acciones de la empresa se encuentran en proporción de un 55% en manos de fondos de inversión estatales y un 45% en manos de bancos y otros inversionistas privados, la Vale cotiza sus acciones en las bolsas de valores de París, Nueva York, Hong Kong y São Paulo y junto a la BHP Billingtong (Dueña en Colombia de Cerromatoso en el departamento de Córdoba y accionista de El Cerrejón) y la empresa Río Tinto son las tres mayores mineras a nivel mundial.

Esta gran cantidad de hierro extraído sobrepasa de lejos la demanda interna brasilera que ronda los 35 millones de toneladas anuales y que es suplida por explotaciones en el estado de Minas Gerais por compañías como la propia Vale y Votorantim (ahora dueña de Acerías Paz del Río y Minas Paz del Río en Colombia). Por consiguiente el 90% de la explotación de mineral es para la exportación en bruto a países como Alemania, Estados Unidos, Japón y China, material que es transportado en camiones y por vías férreas por trenes con 300 vagones que hacen entre 6 y 8 viajes de ida e igual número de vuelta al día, desde la región de la explotación hasta el puerto situado en la ciudad de São Luis, capital del estado de Maranhão.

Para el 2014 la empresa Vale obtuvo ganancias netas por el orden de 657 millones de dólares y además pagó 4.200 millones de dólares en dividendos a los accionistas por su producción de 331.6 millones de toneladas de mineral de hierro y sus inversiones en más de 35 países. Sin embargo la empresa calificó el año pasado como “un año muy difícil debido a la caída acentuada hace cinco años de los precios de los commodities.”[1]

En Brasil y debido a leyes y normas de los gobiernos las empresas mineras pagan en materia de impuestos sólo entre el 1 y 3% de las ganancias obtenidas por sus operaciones, dependiendo del mineral extraído, además, reciben exenciones tributarias para actividades como la exportación.

Aparte de las actividades de explotación del mineral, la empresa es dueña de la línea férrea de 900 kilometros que conecta el complejo minero de Carajás con São Luis de Maranhão, del puerto de embarque y de los barcos para la exportación de material.

En Colombia, hasta el año 2012 la empresa Vale tuvo inversiones cercanas a los 300 millones de dólares en el departamento del Cesar, en donde explotaba una mina de carbón térmico que producía alrededor de 4,5 millones de toneladas al año, además poseía un puerto de embarque en el Atlántico y acciones que le daban propiedad de aproximadamente el 10% de Fenoco (ferrocarriles del norte de Colombia), estos activos fueron comprados por un fondo de inversionistas privados.

Los trabajadores.

En los años del funcionamiento de las mineras y el avance territorial del capitalismo en la región se han presentado diferentes transformaciones ecológicas. La región sur de Pará ha visto el nacimiento de ciudades importantes en menos de 30 años, caso emblemático el de la ciudad de Parauapebas que con 27 años cuenta ya con una población cercana a los 300.000 habitantes -quienes en su mayoría están relacionados con la minería, el transporte y los servicios- expulsando a los indígenas y ocupando porciones de selva a las márgenes del río homónimo.

Para llevar a cabo sus operaciones, la Vale Carajás emplea directamente una cifra cercana a los 12.000 trabajadores, sin embargo, por cada trabajador con vinculación directa, la empresa tiene 3 tercerizados es decir, trabajan para la Vale pero su vinculación laboral se hace a través de otras empresas, garantizando salarios más bajos, menores garantías económicas y sindicales y aún más ganancias para la empresa.

Así como en los años anteriores a su privatización la empresa representaba para el estado brasilero un activo estratégico, para los trabajadores se mostraba como una oportunidad de trabajo estable, con salarios que rondaban en promedio el equivalente a 10 salarios mínimos mensuales y otros beneficios. A raíz de la privatización de la empresa las vinculaciones se han pauperizado, los salarios han bajado hasta 2.5 salarios mínimos mensuales en promedio y por la “crisis” de la empresa se han recortado beneficios como el subsidio de arriendo para vivienda, la bolsa de alimentación y el paquete de salud.

Es importante resaltar que según algunos estudios, los trabajadores de este tipo de minería monstruosa tienen probabilidades significativamente más elevadas de sufrir amputaciones, la muerte o problemas mentales asociados a la esquizofrenia.

Para enfrentar las intenciones de los patronos y darle mayor fuerza a la lucha de los trabajadores, se creó Metabase, sindicato de los trabajadores de la industria de hierro y metales básicos, que cuenta con 23 seccionales estaduales en Brasil y miles de asociados. Sin embargo y en contra de los intereses de los obreros, en 22 de las 23 seccionales del sindicato las direcciones apoyan decididamente las medidas de la empresa llegando incluso a perseguir a trabajadores que promueven reivindicaciones obreras, a esta dinámica de cooptación del movimiento sindical sólo escapa la seccional de estado de Minas Gerais.

Para el caso de Carajás, de los trabajadores vinculados directamente, 4.000 están afiliados al sindicato constituyendo de esta manera la mayor seccional del sindicato en el Brasil, también en manos de los patronos pero con un creciente Movimiento de oposición sindical que por un lado ha sido apoyada por movimientos sociales y reprimida por la empresa y sus esbirros en el sindicato.

La disputa por el sindicato en Pará ha tenido como centro de la persecución al trabajador Anízio Álves Teixeira, uno de los impulsores del Movimiento de oposición sindical y candidato a las elecciones del sindicato por la chapa (plancha) 2, Anízio fue despedido ilegalmente de la empresa, por sus labores políticas, por la distribución y participación en la edición del informativo “a classe operaria sem censura” (“la clase trabajadora sin censura”) que denuncia los movimientos de la empresa así como el mal proceder de las directivas del sindicato. Un juez ordenó la restitución de Anízio a su trabajo a lo que la empresa ha contestado dilatando la realización de las elecciones, presionando al sindicato para declarar ilegal la postulación de la chapa 2 y buscando que sus miembros sean despedidos.

El capital arremete y clava sus garras con más fuerza.

fhac vale

La división internacional del trabajo como repartición capitalista del mundo impuesta violentamente o por medio de medidas que buscan explotar las “ventajas comparativas” con locomotoras o planes desarrollistas, busca los mayores rendimientos para la acumulación de capital pasando por encima de comunidades, biomas y territorios sin importar necesidades reales de pueblos y naciones.

En esta división capitalista del mundo, a las tierras del sur se nos imponen las necesidades de las transnacionales y del imperialismo como propias, así, nuestros países se convierten en productores de materias primas – commodities -.

En la amazonia brasilera aparte de la depredación causada por la Vale, los inversionistas están inyectando enormes cantidades de dinero para la instalación de monocultivos de maderables como pino, eucalipto y teca, y cereales como soja y maíz –agronegocio-, construyendo enormes represas para la generación de energía –hidronegocio- y cebando millones de cabezas de ganado para la exportación – 70 millones de cabezas de ganado tiene en la actualidad la región norte de Brasil-, negocios que necesitan de un paso anterior común: la deforestación y el desplazamiento de comunidades.

Llama la atención que estos intereses son muy parecidos a los que impulsaron la confianza inversionista del expresidente Álvaro Uribe e impulsan la locomotora minero-energética y el proyecto de las Zonas de interés de desarrollo empresarial ZIdres de Santos en Colombia, así como el proyecto de interconexión internacional IIRSA para la amazonia.

Los pueblos resisten.

La llegada de estas empresas e inversiones generan, de cualquier manera, reacciones, ya sea en muchos casos de postración a los intereses del capital por gran parte de los gobiernos o la disputa por el territorio y el manejo soberano de los bienes de la naturaleza, que hacen las comunidades para desarrollar lo que han denominado un proyecto popular para Brasil.

Es así como el Movimiento de los Trabajadores Rurales sin Tierra –MST- hace frente al latifundio con tomas de tierras, campamentos y lucha política por una reforma agraria que vaya más allá de la distribución de la tierra y garantice un buen vivir para los campesinos y una lucha frontal contra el agronegocio y la llamada revolución verde.

Contra la minería en sus afectaciones y su política se destacan el Movimiento Nacional por la soberanía popular frente a Mineração –MAM-y los sectores del sindicalismo popular, así como comunidades indígenas, campesinas y negras que viven en carne propia los problemas causados por la minería.

Existe además el Movimento dos atingidos pelas barragens –MAB- movimiento que tiene reivindicaciones contra las hidroeléctricas y sus afectaciones.

Estos movimientos son sólo una muestra de las organizaciones que resisten existentes en la región y en Brasil en general.

La lucha para detener el desangre de las riquezas naturales de nuestras naciones y pueblos traspasa esfuerzos individuales y necesita de organizaciones sociales y populares, regionales, nacionales e internacionales que encaminen sus esfuerzos para la construcción de un proyecto económico político y social que deje atrás el capitalismo y su depredación natural y humana.

En los últimos años se han dado pasos en firme para la consolidación de articulaciones internacionales de lucha como lo son la Vía Campesina a la cual el Coordinador Nacional Agrario CNA hace parte y el ALBA de los pueblos que cuenta con la participación del Congreso de los pueblos.

Las luchas locales y propias de nuestras comunidades en pos de la soberanía y autodeterminación de los pueblos son aporte y garantía para las luchas del mundo y apoyo real para hacerle frente a las transnacionales de múltiples facetas y expresiones como la Vale.
Nota

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[1] Palabras de Luciano Siani, director ejecutivo de Finanzas de Vale, en un video dirigido a los inversores. Información de AFP.
Publicado originalmente en: Trochando Sin Fronteras: http://trochandosinfronteras.info/la-vale-las-venas-de-america-latina-siguen-sangrand/

FERNANDO LIMONGI Impeachment “tem uma coisa de direita forte em toda a América Latina”

“PSDB e movimentos de rua devem tomar posição agora sobre Cunha”
Fernando Limongi, cientista político / F. CAVALCANTI

Fernando Limongi, cientista político / F. CAVALCANTI

Sociólogo diz que a gritaria contra a corrupção precisa ir além das denúncias contra o PT

por Carla Jiménez/ El País

O professor da Universidade de São Paulo, Fernando Limongi, concedeu uma entrevista por telefone ao EL PAÍS há um mês para avaliar o cenário político, mas considerou que era melhor falar de novo. “Está tudo mudando muito rápido e o que falei antes já não vale mais”, disse ele, resumindo um pouco do quadro brasileiro, que vive no sobressalto da crise política de Brasília. Doutor pela Universidade de Chicago, Limongi entende que a fraqueza do Governo Dilma garantiu espaço a uma certa hipocrisia, ao colocar o PT no centro de todas as responsabilidades por atos ilícitos.

Pergunta. É possível ter um diagnóstico preciso sobre o quadro político neste momento?

Resposta. Há um jogo em curso difícil de decifrar porque não se fecham alianças. Há uma possibilidade de uma força de oposição se consolidar e derrubar a Dilma. Há outra, que é ela conseguir montar uma base mais ou menos e funcionar. Mas o principal que aparece continua a ser um movimento extremamente radicalizado pelo impeachment, com raiz fora do sistema político, que são esses movimentos organizados, com uma base estranha, apoio externo. Isso não acontece só no Brasil. Tem uma coisa de direita forte em toda a América Latina. Tem apoio do establishment, de um jeito doentio. Irracional e totalmente despropositada. O PT não é tudo isso que estão pintando. Ele não vai socializar os meios de produção. Ele já está fazendo política neoliberal, como já foi feita no passado.

P. Como um partido assim tem a possibilidade de virar o jogo?

R. Veja, há um quadro estranho. Quando Fernando Henrique Cardoso estava no poder, alguém tentou o impeachment dele. É algo despropositado. Mas tem sempre um louquinho falando de impeachment num Governo, e tudo bem. Mas agora, o que tem de diferente neste momento é que há um apoio institucional.

P. É mais de um louquinho agora?

R. É uma confluência de loucos. Há o [Augusto] Nardes [presidente do Tribunal de Contas da União], Gilmar Mendes [ministro do Supremo] , e [Eduardo] Cunha. Os três agem de forma a reabilitar de qualquer forma o impeachment. É muito difícil entender o jogo do Cunha. Ele tem oposição ideológica ao PT. Ele e o Nardes são pessoas sem o menor caráter, capazes de qualquer coisa. Há uma aliança muito estranha. Uma direita que se diz moralista, que faz aliança com quem explora a coisa pública para ter beneficio.

P. Mas no que você identifica esse padrão?

R. É muito estranho como o Cunha está sendo tratado pela mídia. Enquanto houver essa espada na cabeça da Dilma, o Governo não vai sair dessa sinuca. Tem que ser dito. A proposta de impeachment é uma forçada de barra e demonstração de absoluta irresponsabilidade pois compromete todos os avanços dos últimos anos com FHC e Lula. Tudo está sendo destruído por uma infantilidade.

P. Tudo coincide com o fatiamento da Lava Jato. Isso significa alguma coisa?

R. A Lava Jato vai pegar tudo, todas as corrupções do Estado serão investigadas por ela. Não tenho exatamente uma opinião formada sobre isso. Mas estão tomando controle, pois estava-se extrapolando, de maneira seletiva. Não estou muito convencido. Tem um exagero antipetista. Se olharmos a coisa da corrupção que a Lava Jato desvenda, de um lado não tem nada novo. Se olhar o que foi, são as mesmas empresas envolvidas no impeachment do Collor. Se olhar o [escândalo] do orçamento dos anões [de 1993] são as mesmas empreiteiras e a mesma forma de agir, e a forma como elas geram sua própria demanda. Trabalham pelos seus contratos e financiam o sistema político. Isso desde a redemocratização. Então como eu regulo esse mercado? Como ter mercado de obras do Estado que não seja tão corrupta? As doações de campanha financiaram tanto a Dilma quanto o Aécio.

P. Mas apuram-se as suspeitas de que dinheiro de propina abasteceu a campanha de Dilma.

R. Aécio foi financiado pelas mesmas empresas. Um levantamento informal que fiz mostra que 67% do dinheiro que o PSDB recebeu é de grupos que também doaram para Dilma. Difícil dizer que só o PT se beneficiou de um esquema de corrupção enquanto o PSDB também recebeu. Foi muito dinheiro para os dois. Só a Dilma está pegando dinheiro ilícito? É difícil ir por aí. Tem dois mercados ligados a corrupção política que precisam ser regulamentados. A de empreiteiras e de propaganda oficial.

P. Mas há acusações sérias ao PT…

R. O PT se destruiu, vai pagar. Mas chamo a atenção para o fato de que precisamos ir além disso. Ir as causas, financiamento e gastos de campanhas, que estão desregulados. Por que não se cria um sistema como bolsa de Valores? Com recursos internos de investigação? Só fica essa coisa boba, moralista. Neste momento, a única forma do governo se colocar de pé é conversando com a ala podre do PMDB, que é o que ela está fazendo.

P. Ela acertou com uma ala do PMDB nesta reforma ministerial, mas tudo pode ser jogo de cena e ela ficar sem apoio, não?

R. Sim. Agora o Cunha não sabe o que ele pode ou não pode fazer. Ele não tem escapatória, não tem como não ser condenado. Se o PT fecha com ele ou o [Leonardo] Picciani, é a institucionalização da roubalheira. A pressão deles é para colocar gente deles para pequenas corrupções. Só não entendo o que o PSDB está fazendo ali. É fazer pacto com o diabo.

P. Como as coisas ficam com o Cunha investigado pelo Ministério Público?

R. A denúncia contra o Cunha muda tudo. Força o PSDB a tomar uma decisão. Os tucanos namoraram o Cunha um pouco e com a reação dele à possibilidade de ser denunciado, foi acelerado a possibilidade de impeachment. O PSDB aceitou, participou. Agora o PSDB tem de decidir se é ou não o aliado dele.

P. O PSDB ajudou a vitaminar o Cunha?

R. Deu apoio sim, inclusive a Aécio começou a apoiar a ideia sugerir novas eleições. Com assim? Aqui não é a casa da mãe Joana. O povo nas ruas também dizia que eram contra o PT porque eram contra a corrupção. Contra a corrupção do PT? Do Cunha não?

P. Movimentos precisam se posicionar agora?

R. Para eles, o Cunha tudo bem? Isso deixa claro quem são. Grupos políticos ligados à direita. Todo mundo disfarçando, dizendo que é movimento cívico. Mas é contra a corrupção ou não? O lado positivo é que os crimes estão sendo investigados. O sistema brasileiro é um dos que mais pune seus políticos. Na França, Estados Unidos acabam em pizza. A ideia de que políticos não são condenados é um pouco falsa. É difícil comparar as coisas. As pessoas estão indo para as ruas. Mas não acho que seja uma mudança. Desde que me conheço por gente se diz que o Brasil não será mais o mesmo. Desde as Diretas, caras pintadas do Collor, pós impeachment, é sempre assim. Políticos pedem milhões de dólares para depois comprar Lamborghini, como o Collor. Lembra o [ex-deputado] João de Deus, da Comissão do Orçamento dos anões. Nem sabem o que fazer com dinheiro. São políticos que montam os esquemas, isso se fala pouco.

P. Como assim?

R. Quem monta os sistemas são as empreiteiras, os políticos se tornam sócios, em vez de fiscalizá-los. São as mesmas empreiteiras em todos os escândalos.

Grécia. O nazismo e o movimento antifascista

O crescimento da Aurora Dourada

por Ricardo Cabral Fernandes

Manos Symeonakis

Manos Symeonakis

Em período de estabilidade e legitimidade do sistema político e de crescimento económico as forças políticas de extrema-direita costumam situar-se à margem da competição eleitoral, pois os seus discursos de ódio e de violência afastam o eleitorado. No entanto, perante uma situação de instabilidade e deslegitimação do sistema político e confrontados com uma severa crise económico-financeira e social estes partidos têm um terreno fértil para crescerem por se assumirem como forças anti-sistema e capitalizarem o descontentamento, principalmente entre o eleitorado de direita e de centro-esquerda. As causas económicas não explicam por si só a ascensão da extrema-direita, tendo também de ser contempladas as causas políticas sistémicas.

À medida que a crise económico-financeira e social grega se foi acentuando depois dos Memorandos com a troika, o Aurora Dourada, um partido que se inspira claramente na ideologia nacional-socialista, obteve um crescimento eleitoral que surpreendeu, ao mesmo tempo que consolidava a sua implantação na sociedade grega, principalmente nos bairros mais atingidos pela pobreza e desemprego. A sua ascensão eleitoral começou com a eleição do seu líder, Nicos Michaloliakos, para o Conselho Municipal de Atenas nas eleições autárquicas de 2010 com 5,29% dos votos. Nas eleições seguintes o partido continuou a sua ascensão, tendo-a consolidado. Nas eleições legislativas de Maio de 2012 elegeu 21 deputados (6,97% dos votos) e nas de Junho do mesmo ano elegeu 18 deputados (6,92%), fortalecendo a sua posição eleitoral e parlamentar mesmo que tenha perdido três deputados. Pela primeira vez desde o pós-guerra um partido de extrema-direita tinha entrado num parlamento nacional europeu, afirmando-se como a terceira maior força política parlamentar do sistema político grego. Ao mesmo tempo o bipartidarismo grego, entre o Nova Democracia e o PASOK, colapsava, originando novos fenómenos políticos, como a ascensão do Syriza como segunda maior força parlamentar. Nas eleições autárquicas de 2014 o Aurora Dourada conseguiu eleger deputados municipais para todas as autarquias em que apresentou listas eleitorais, o que demonstra o seu avanço em quatro anos: de apenas um lugar no Conselho de Atenas passou a ter deputados municipais em quase todas as autarquias. Nas eleições europeias e legislativas de Janeiro e Setembro de 2015, o Aurora Dourada continuou a consolidar-se eleitoralmente, mesmo sendo alvo de processos criminais após a morte do rapper antifascista Pavlo Fyssas em Setembro de 2013. Nas eleições europeias elegeu três eurodeputados (9,4%), nas legislativas de Janeiro elegeu 17 deputados (6,28%) e nas de Setembro de 2015 18 (6,95%). Estes resultados demonstram que o Aurora Dourada conseguiu consolidar o seu sucesso eleitoral apesar do assassinato de Pavlo Fyssas, dos respectivos processos criminais que alguns dos seus dirigentes de topo são acusados, incluindo o seu líder, por criarem uma organização criminal e pelas declarações de responsabilidade política no assassinato de Fyssas dois dias antes das eleições de Setembro de 2015. Os resultados eleitorais do partido apesar de todos estes acontecimentos são deveras preocupantes, pois demonstram possuir um eleitorado fiel e não volátil.

Aurora Dourada: nascimento, ideologia e actividades
Símbolo oficial da Aurora Dourada grega

Símbolo oficial da Aurora Dourada grega

É importante referir que o Aurora Dourada recupera a cultura autoritária que caracteriza certos períodos da História contemporânea grega: a brutal ditadura do general Ioannis Metaxas (1936-41), a ocupação nazi e o colaboracionismo de certos sectores da direita grega com os ocupantes (1941-44) e a ditadura dos Coronéis (1967-74). As forças fascistas, mesmo tendo sido durante muito tempo residuais e desagregadas, sempre estiveram presentes na política grega, sendo que muitos dos seus apoiantes se encontravam no principal partido de direita, o Nova Democracia. No entanto, com a questão da Macedónia, os discursos nacionalistas ganharam novo ímpeto e com eles as forças de extrema e direita-radical. É na década de 90 que se começa a assistir a um fortalecimento, ainda que residual, das forças fascistas na Grécia. E foi precisamente neste período que o movimento antifascista começou a assumir uma posição cada vez mais essencial na contenção destas forças, mesmo que o próprio movimento não possuísse tanta força como actualmente.

Em Setembro de 2000, com a cisão de uma parte da ala mais radical do Nova Democracia, encabeçada por Georgios Karatzaferis, e a criação de um novo partido de direita radical, o LAOS, a convergência das forças de extrema e direita-radical deu um grande passo. Entre 2000 e 2010 era comum membros do Aurora Dourada integrarem listas eleitorais do LAOS. No entanto, a crescente ascensão do Aurora Dourada e o apoio do LAOS ao Memorando de Entendimento (2010) e ao governo tecnocrata de Lucas Papademos, em 2011, criaram divergências entre os seus militantes e prejudicaram este último em termos eleitorais, enquanto o primeiro crescia, ao mesmo tempo que absorvia alguns dos membros do primeiro. A extrema e direita-radical gregas foram-se concentrando no Aurora Dourada, mesmo com o aparecimento do ANEL de Panos Kammenos em 2010, após a cisão da sua ala com o Nova Democracia, após este ter apoiado e aplicado políticas de austeridade.

O Aurora Dourada nasceu nos ínicios da década de 80, assumindo-se como uma fractura do movimento neo-nazi 4 de Agosto. No início os seus membros apenas publicavam um boletim de ideologia nacional-socialista com pouco sucesso, mas rapidamente começaram a praticar acções violentas, comportando-se mais como um gangue do que como um grupo político, o que caracteriza em parte os neonazis. Foi então que decidiram criar a Associação Popular – Aurora Dourada em 1983, concorrendo pela primeira vez em eleições mais de dez anos depois, em 1994, e tendo obtido um resultado muito marginal na ordem dos 0,11% (7242 votos). Entre o período da sua fundação até às eleições de 2010 o Aurora Dourada oscilou frequentemente entre actividades de violência nas ruas e a disputa de eleições, sem nunca se conseguir impor em ambas as vertentes. No entanto, o despoletar da crise internacional e os seus efeitos na Grécia criaram novas oportunidades ao partido à medida que a deslegitimação do sistema político grego aumentava a par da crise social, ao mesmo tempo que foi consolidando a sua posição política face a outros partidos e militantes, albergando estes últimos. A forte imigração que a Grécia tem acolhido nos últimos anos foi também um factor importante de conquista do seu eleitorado. Como qualquer partido de extrema-direita, o Aurora Dourada culpabiliza a imigração pela crise, pela perda de postos de trabalho e pela severa situação social que a sociedade atravessa, originando um efeito spill-over aos restantes partidos da direita, como é o caso da Nova Democracia, que intensificou o seu discurso e políticas anti-imigração para não perder eleitorado para o Aurora Dourada. Este último conseguiu obter algum controlo sobre a agenda política grega, obrigando os partidos de direita a assumirem posições próximas das suas.

Nas mais de três décadas de bipartidarismo entre o Nova Democracia e o PASOK, os armadores e os empresários da construção civil (e o poder financeiro) financiaram continuamente as suas campanhas eleitorais com o objectivo de influenciar (ou controlar) os governos para se protegerem contra o pagamento de impostos. Historicamente os armadores são um dos poderes privados mais poderosos na Grécia por causa da importância da posição geopolítica do país, possuindo a segunda maior frota mercante do mundo. Já os empresários da construção civil expandiram os seus negócios no país, principalmente após a entrada da Grécia na União Europeia e, mais tarde, com a entrada na zona euro e as respectivas taxas de juro baixas, criando uma bolha imobiliária. Mas com a crise económico-financeira, a aplicação das políticas de austeridade, o acentuar das manifestações dos movimentos operário e social, o colapso do bipartidarismo e a ascensão do Syriza, os armadores e os empresários começaram a financiar o Aurora Dourada para fazer pela via da violência o que os partidos do “arco da governação” não conseguiam. O Aurora Dourada começou a reprimir especificamente os trabalhadores grevistas, os sindicalistas e os militantes de Esquerda de forma violenta com os seus Esquadrões de Ataque, quer de dia quer de noite, sem o poder político reagir. Se os partidos tradicionais não conseguiam travar o movimento operário e a ascensão de uma força política de Esquerda Radical, então os armadores e empresários decidiram apoiar o Aurora Dourada para salvaguardaram a sua taxa de acumulação e os seus privilégios, o seu poder na sociedade grega. Todas as ditaduras na Grécia contaram com o apoio dos armadores, bem como da banca grega.

Com mais dinheiro o partido pôde intensificar a sua propaganda e estruturas locais, dando-se a conhecer às camadas mais desfavorecidas da sociedade grega. À medida que se foi consolidando e os partidos de direita-radical, como o LAOS, foram perdendo eleitores em seu favor, foram ganhando eleitorado, entrando primeiro no Conselho de Atenas e depois no parlamento grego. Com os financiamentos parlamentares fortaleceram ainda mais a sua máquina partidária e propagandística, criando distribuições de roupas e alimentos e uma rede de “solidariedade” chamada “Médicos Gregos” – mas apenas para os “gregos” que o provem ser – e um site on-line, onde todos os dias publicam notícias sobre as suas actividades. Uma das alterações do partido em termos propagandísticos foi o investimento na propagação das suas ideias racistas, nacionalistas, homofóbicas, xenófobas, entre outras, através das redes sociais e das novas tecnologias para chegarem aos jovens, principalmente aos estudantes. No entanto, desde que alguns dos dirigentes superiores, e o partido no geral, se confrontam com processos criminais que as verbas de financiamento do parlamento foram cortadas, o que lhes dificultou o financiamento e, por inerência, a realização de actividades.

As principais características do partido são: grande concentração de poder no líder, o fuhrer Nicos Michaloliakos; forte inspiração no nacional-socialismo; a defesa da superioridade da nação helénica e na separação entre pessoas por meio de identidades étnicas, como raça, sangue e credo religioso; um severo discurso anti-política e sistema; e a rejeição da democracia substantiva. Todas estas características permitem, de acordo com a constituição grega, ilegalizar este partido, acção que os anteriores partidos do “arco da governação” decidiram não encetar. No entanto, podemos ainda acrescentar uma outra característica que poderá, eventualmente, colocar em risco a democracia-liberal grega: a influência que o Aurora Dourada possui entre o aparelho repressivo do Estado, as forças políciais e armadas. São comuns os relatos de o partido e as forças policiais se comportarem de uma forma que parece que trabalham de forma algo coordenada ou, no mínimo, permissiva. É comum as forças de extrema-direita, que possuem um discurso e práticas militarizadas, terem influência nas forças policiais e armadas, principalmente nestas últimas se no passado intervieram na política através de golpes de Estado, como é o caso da Grécia. Um dado concreto é o facto de nas eleições as forças policiais votarem em locais distintos dos restantes eleitores, o que permite apurar directamente o número de votos que vão para a Aurora Dourada no seio da polícia. De acordo com um militante antifascista, se naquele distrito os votos no partido se situam entre os 4%na generalidade dos eleitores, então entre a polícia serão aproximadamente 8%. Ou seja, a polícia vota o dobro no Aurora Dourada que os restantes eleitores dos vários distritos, principalmente entre as forças de intervenção. A permeabilidade das forças policiais aos ideais nacionais-socialistas do Aurora Dourada é uma questão a ter em conta.

Perante uma situação de instabilidade e deslegitimação do sistema político, uma severa crise económico-financeira e social comparável à da Alemanha pós-guerra e a ascensão de um partido neonazi como o Aurora Dourada, são cada vez maiores as especulações sobre se estaremos, ou não, a assistir à “Weimarização” da Grécia.

Escrito a partir de Salónica, Grécia

“Vai pra Cuba!” é um grito que escorre como bílis dos lábios dos neo-reacionários

Leandro Fortes, via DCM

papa_francisco27_cuba_charge Mário

Foi o Facebook, como nenhuma outra rede social da internet, que iniciou um processo inédito e ainda não dimensionado de histeria ideológica que, ao menos no Brasil, foi cristalizado sob um complexo manto de silêncio.

Digo complexo porque, até surgir uma plataforma tecnológica capaz de lhe dar cor, forma e conteúdo, esse manto foi sendo lentamente consolidado por diferentes processos de acomodação moral, política e social, sobretudo a partir das gerações subsequentes ao golpe militar de 1964.

Até então, ninguém sabia ao certo quais eram as consequências de cinco décadas de construção conservadora dentro de uma sociedade naturalmente autoritária como a brasileira, nascida e moldada na cultura do escravagismo, do fisiologismo, da separação de classe e da carteirada.

Com a internet e, especificamente, com o Facebook, tornou-se possível entender como a overdose de doutrina anticomunista rasteira, aliada a uma visão de mundo ditada por interesses ligeiros, acabou por gerar essa multidão de idiotas que se aglomeram no espectro ideológico da direita nacional.

Essas pessoas que travestiram de piquenique cívico as manifestações de rua nas quais, em plena democracia, foram pedir intervenção militar. Uma multidão raivosa, mentecapta, de faixas na mão, cevada por uma mídia mais irresponsável do que, propriamente, conservadora.

Essa mistura explosiva de ressentimento político com déficit educacional fez explodir nas redes sociais jovens comentaristas com discurso roubado de velhas apostilas da Escola Superior de Guerra dos tempos dos generais.

“Vai pra Cuba!”

Ir para Cuba.

Onde, exatamente, erramos ao ponto de ter permitido o surgimento de mais de uma geração cujo insulto essencial é mandar alguém ir morar em Cuba?

Desconfio, que no centro dessa questão habita, feroz, a tese de que é preciso viver em pobreza franciscana para ser de esquerda. Essa visão macarthista do socialismo impregnada no imaginário da classe média brasileira e absorvida, provavelmente por falta de leitura, de forma acrítica por grande parte da sociedade.

“Vai pra Cuba!”, aliás, na boca torta da direita brasileira, não é apenas um insulto, mas uma praga horrenda, um desejo de morte lenta, um pelourinho necessário e elogiável, como bem cabe a traidores de classe.

“Vai pra Cuba!” é um grito que escorre como bílis negra pelo canto dos lábios do neo-reacionários brasileiro.

De minha parte, não vou a lugar nenhum, enquanto esse tipo de gente ainda estiver por aqui.

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Grèce : la droite veut sa revanche sur l’histoire

por MARIA MALAGARDIS ENVOYÉE SPÉCIALE À ATHÈNES/ LIBÉRATION

Manifestation des proeuropéens pour le oui au référendum, le 30 juin. Pour la droite, la victoire du non signiferait la fin de l’avenir européen de la Grèce. (Photo Christian Hartmann. Reuters)

Manifestation des proeuropéens pour le oui au référendum, le 30 juin. Pour la droite, la victoire du non signiferait la fin de l’avenir européen de la Grèce. (Photo Christian Hartmann. Reuters)

REPORTAGE A Athènes, les conservateurs profitent des divisions au sein de la population pour jouer un remake de la guerre civile qui vit la défaite des communistes après l’occupation nazie.


C’est un murmure qui parcourt Athènes. Les mêmes mots qui surgissent des conversations qu’on surprend dans la rue : «Argent», «euros»… Comme en grec, les mots lefta («argent») et lepta («minutes») se ressemblent, difficile parfois de discerner si les préoccupations concernent le manque de liquidités qui asphyxient depuis quelques jours les banques grecques ou bien la peur du compte à rebours jusqu’au référendum de dimanche, alors qu’un nouvel «ultime» Eurogroupe était convoqué mercredi soir. Mais il aura suffi de l’annonce d’un référendum en fin de semaine pour faire valider ou non les dernières propositions de réformes des créanciers, pour que l’étau monétaire se resserre soudain, imposant au pays un compte à rebours tendu jusqu’au scrutin. «La Grèce votera dimanche», a confirmé mercredi après-midi le Premier ministre grec, Aléxis Tsípras, faisant ainsi taire les rumeurs sur un éventuel renoncement au référendum.
Il aura lieu avec des banques fermées et des retraits réduits. A 120 euros par semaine pour les retraités sans carte de crédit et à 60 euros par jour pour tous les autres. «C’est déjà une somme énorme pour certains», souligne Maria Genissopoulou, une sociologue qui travaille aussi comme bénévole dans un centre d’accès aux soins pour les plus démunis, juste derrière la mairie d’Athènes. Devant la porte d’entrée, trois silhouettes décharnées évoquent les risques d’une faillite ou d’une sortie de l’euro en cas de victoire du non au référendum. «L’argent, nous, on a plus de toute façon. Alors, qu’est-ce qu’on aurait à perdre ?» raille une femme très maigre aux dents abîmées. En avoir ou pas ? Le clivage entre le oui et le non se jouera en grande partie sur la ligne qui partage ceux qui ont encore des économies et ceux qui n’ont plus rien. Mais certains voudraient ranimer aussi d’autres clivages. Et notamment ce «eux» contre «nous» de la sanglante guerre civile, qui a suivi l’occupation nazie et s’est achevée par la défaite de la résistance communiste, effacée alors de l’histoire, jusqu’en… 1981.

Peur des «staliniens». En Grèce, un mot a fait sa réapparition ces jours-ci : dichazmos, «la division». C’est un mot lourd de sens en Grèce, qui renvoie à bien des batailles du passé. Du megalo dichazmos, la confrontation historique de l’entre-deux-guerres, entre les républicains du Premier ministre Eleftherios Venizelos et les monarchistes, jusqu’au dichazmos de la guerre civile dont les blessures mirent plus longtemps à se cicatriser que celles de la dictature des colonels entre 1967 et 1974. La peur des «staliniens» était justement sur toutes les lèvres lors des trois manifestations organisées ces dix derniers jours par la droite «pro-européenne», qui pense tenir là sa revanche sur la victoire de Syriza (le parti de Tsípras) aux élections du 25 janvier. Des dames de Kolonaki, le quartier de la bourgeoisie athénienne, multipliaient les coups de fil en début de semaine pour mobiliser contre les «gauchistes». Certaines n’avaient pas peur d’affirmer que les membres du gouvernement Tsípras «parlent russe entre eux», confortées par la visite du Premier ministre grec à Moscou en avril. «C’est une véritable manipulation historique s’insurge l’historienne Maria Spinatopoulou. Ça peut marcher avec les plus vieux, mais les jeunes nés après le retour de la démocratie en 1974 ne gobent pas cette rhétorique, très ancien régime.»

Certes, au lendemain de sa victoire, le 25 janvier, le premier geste d’Aléxis Tsípras a été de se rendre au mont Valérien grec dans le quartier de Kessariani à Athènes pour se recueillir devant le Mur des fusillés : résistants à l’occupation nazie mais aussi combattants de gauche pendant la guerre civile. Un geste inédit, mais qui n’avait pas suscité de réelle polémique. Il est vrai aussi qu’un grand nombre de cadres de Syriza, comme la présidente du Parlement, Zoe Konstantopoulou, ou le bras droit de Tsípras, Nikos Pappas, sont des enfants d’opposants à la dictature des colonels. «Mais en réalité les plus proches conseillers de Tsípras, à commencer par Nikos Pappas, sont de centre gauche», rappelle Yanis Androulidakis, un journaliste proche de Syriza. «Aujourd’hui on assiste au retour de la vieille droite anticommuniste. Des réflexes qu’on pensait oubliés, alors que ces vingt dernières années, la Grèce se sentait plus moderne, moins balkanique et plus en phase avec l’Europe. Du moins jusqu’à ce que l’austérité fasse plonger le pays», déplore le journaliste Dimitris Psarras, spécialiste de l’extrême droite grecque.

Tiers-monde. La Grèce peut-elle tomber encore plus bas qu’aujourd’hui, après cinq ans d’austérité ? Somalie, Soudan, Zimbabwe : les mêmes mots accusateurs revenaient mardi sur les chaînes de télé privées, très hostiles au gouvernement, et qui actaient ainsi l’annonce mardi soir du défaut de paiement au Fonds monétaire international (FMI), «le premier d’un pays développé». La Grèce, boutée hors d’Europe, sera-t-elle ramenée au rang d’un pays du tiers-monde ? «Mon petit Tsípras, à toi de choisir : soit tu capitules, soit les créanciers vont nous détruire en même temps que toi», susurrait mardi la voix caverneuse de Giorgos Tragas, animateur populiste de la radio Skai. «C’est désormais une évidence : le seul but des créanciers, c’est la tête de Tsípras. Sinon pourquoi auraient-ils accepté ses propositions lundi comme de “bonnes bases” avant de les rejeter mardi ? s’interroge Maria Spiritopolou. Lorsque le représentant bulgare à Bruxelles avance que le salaire minimum est à 200 euros dans son pays, j’ai envie de lui montrer toutes les prostituées et femmes de ménage bulgares qui ont envahi Athènes. Ce qui se joue en Grèce, ce n’est pas le retour de la guerre civile, c’est une bataille sociale qui concerne toute l’Europe. Car ailleurs aussi, l’austérité fait des ravages et pourrait être remise en cause par des élections.»

«Reste que le gouvernement de Tsípras a pêché par manque d’anticipation : il aurait dû s’attendre à cette hostilité et garder du cash de côté, au lieu de mettre un point d’honneur à rembourser ses prêts depuis cinq mois. La guerre, ça se prépare», rétorque Dimitris Psarras qui, comme beaucoup, redoute la chute du gouvernement et «une austérité encore plus dure imposée alors à un pays sonné». La tête de Tsípras ? La droite grecque en rêve, à voix haute. «On trouvera toujours, pour le remplacer, un homme providentiel. Au besoin, on l’inventera», confiait un député conservateur de Nouvelle Démocratie, samedi dans les couloirs du Parlement alors que les députés adoptaient le projet de référendum. La guerre civile est peut-être finie, mais l’avenir paraît bien sombre sous un ciel athénien, curieusement lourd et moite, en ce début d’été, décidément pas comme les autres.

Maria MALAGARDIS Envoyée spéciale à Athènes