“Não–vai- ter-golpe.” Entendeu?

Por Paulo Endo*, especial para os Jornalistas Livres

panelaço

Desde pelo menos o início da década de oitenta, milhões no Brasil sonhavam com a democracia que já acenava no horizonte de um governo civil-militar que dava seus últimos suspiros.

A luta de muitos cujas vidas foram devassadas, atormentadas e destruídas enquanto lutavam contra o golpe de 64 e, depois, pela conquista da democracia no Brasil, foram e são testemunho dessa transição lenta e inconclusa que germinou esperanças, provocou canções, espetáculos de teatro, obras de arte, deu guarida à indignação de trabalhadores, incitou intelectuais e acadêmicos a saírem de suas cadeiras e gabinetes, instruiu políticos a defenderem uma pauta republicana e amadureceu estudantes.

Uma nova ética foi inaugurada no Brasil, que muitos ainda chamam de princípios da esquerda. Nessa pauta se incluem principalmente o combate sem tréguas às iniquidades que fundam a nação brasileira e, mais tarde, a luta pelo alinhamento entre o estado democrático de direito e os direitos humanos no país.

Iludidos ou não, muitos que engrossaram tais fileiras plantavam no Partido dos Trabalhadores as melhores esperanças e talvez – secretamente — a revolução tão aguardada, que ocorreria por vias institucionais e eleições livres e justas.

Mais de 12 anos depois das primeiras eleições presidenciais, o Partido dos Trabalhadores chegaria ao poder, e essa foi uma conquista de parte da sociedade brasileira e dos muitos que lutavam e lutam por um Brasil republicano.

O PT no poder surpreendeu e decepcionou, foi corajoso e covarde, foi republicano e autoritário, condenou corruptos e se corrompeu, acertou e errou.

A despeito do que pesa mais na balança nesse momento e destacado pelas análises sérias desse período — que hoje são a minoria sobre esses últimos quase 13 anos — o PT foi e é um partido que hoje se encontra no poder há mais de 12 anos, e que desde 2002 vem sendo reconduzido ao Planalto, sucessivamente, pelo cidadão que compareceu às urnas a cada nova eleição. Dessa trajetória, o que podemos afirmar é que o PT soube esperar.

Soube aguardar a democracia, soube aguardar as eleições. Soube perder para Collor de Melo em 1989, para Fernando Henrique em 1994 e 1998 e se preparou para as eleições nos anos vindouros e venceu. O PT — com todos os seus erros e problemas que são muitos — , e cortando na própria carne, é o governo que mais apurou (e permitiu apurar) irregularidades, mazelas e corrupções de toda espécie, incluindo as de pessoas importantes do empresariado, da classe política e de seu próprio partido e governo. Jamais se viu tantas figuras ilustres das elites financeiras e políticas no banco dos réus, investigadas e sob suspeita.

Como efeito e decorrência disso, os poderes judiciário e legislativo autônomos permitem uma das oposições mais críticas e francamente opositoras ao governo da história do país e tais lideranças dos poderes instituídos trabalham, para o bem e para o mal, segundo o regimento atual das câmaras legislativas.

Os atuais líderes da câmara e do senado foram, também eles, duas vezes eleitos, primeiro pelos cidadãos brasileiros e, depois, para assumirem as respectivas presidências da câmara e do senado, pelos seus pares, igualmente eleitos pelo voto popular e, enquanto cumprirem o regimento e o decoro, será difícil acusá-los de irregularidades do ponto de vista do exercício de suas funções.

Entretanto, nesse embate e nessa crise política que se aprofunda, mas que historicamente sempre existiu no país, há uma verdade inconteste que precisa ser repetida, alertada, denunciada: há hoje no Brasil um golpe de Estado a caminho. Um golpe que inclui e é efeito das oligárquicas concessões de rádio e TV — que o governo foi incapaz de apurar e redistribuir de forma mais representativa e equânime — e das negociações políticas e fraturas ideológicas às quais o Partido dos Trabalhadores muito rapidamente cedeu, estabelecendo ligações partidárias com o principal objetivo de se preservar no poder.

Às tendências hegemônicas do PT parece nunca ter ocorrido que a fidelidade às suas bases é o que o levou e o levaria ao poder novamente, quantas vezes fosse possível e necessário, desde que o partido tivesse o que dizer e a quem convencer, e desde que tivesse quem se dispusesse a fazer isso (seus militantes e simpatizantes) em nome das bandeiras que historicamente carregava.

O PT envergonhou o que no Brasil denominamos de princípios fundamentais e inegociáveis das esquerdas, aqueles que orientam na luta contra a assimetria de poder político e econômico no Brasil — e hoje, quem diria, o PT tem receio das manifestações de rua; seja por ser hostilizado por elas, seja por temer o risco de ver seu apoio muito reduzido e alquebrado.
O partido então enfrenta a sua mais importante crise, desde sua fundação, e deve enfrentá-la com dignidade.

Mas o que o PT, seus eleitores do passado e do presente, e todos os partidos e cidadãos que se auto denominam democráticos ou republicanos não podem aceitar é o golpismo, que pretende a alternância de poder à força e sem sustentação e que quer arrancar do poder executivo um partido que chegou a ele respeitando todos os preceitos da democracia representativa, persuadindo eleitores, e não por efeito de conflitos armados ou de pressões por renúncia ou impeachment sem circunstância e fundamento.

Impeachment e renúncia não podem ser nem pleiteados e nem reivindicados a não ser implodindo a jovem democracia brasileira que mal chega aos seu 30 anos.

Para as ruas devem ir agora e depois não apenas os petistas e os apoiadores do PT, hoje em menor número do que no passado, mas todos aqueles que lutaram para que partidos nascidos na democracia chegassem ao poder; porque democracia significa também a maturidade de aceitar a derrota e se preparar para novos pleitos.

Sem isso os regimes não passam de pseudodemocracias, simulacros de falso republicanismo. E é evidente que diante do golpismo que se articula e organiza, o país necessitará da mesma energia e as mesmas virtudes que o reconduziram à democracia em 1985.

Uma enérgica e contundente reação “nas escolas, nas ruas, campos e construções” contra o golpismo branco, que desmerece as últimas eleições e quer atropelar o tempo institucional que regula o voto, será urgente e necessária.

Sem o respeito às decisões colhidas de eleições democraticamente instituídas e geridas, a pátria estará não apenas dividida, mas inteiramente afogada no ideário: se não ganho, não vale. E daí por diante a situação será imprevisível.

Se o golpe se deflagra, a autorização para que resultados colhidos das urnas sejam desmerecidos e não reconhecidos no futuro terá sido dado.

Quem disse que o impeachment ou a renúncia da atual presidente encerraria a crise política?

Quem disse que outros milhões de brasileiros que no passado votaram em Lula e Dilma aceitarão passivos Aécios, Cunhas e quem mais vier, se empurrados goela abaixo, deslegitimando o voto conquistado historicamente com sangue, suor e lágrimas por grande parte da população brasileira?

Como disse Renato Meirelles, presidente do Data Popular, em entrevista ao “El País”, a insatisfação com o governo não quer dizer desejo de que a presidente saia. Pode, inclusive, também expressar o desejo de que melhore. Para que, ao final do mandato, ela venha a fazer jus aos votos confiados a ela.

Creio que para aqueles que levaram os membros do poder executivo e do legislativo ao poder pelas urnas e pelo voto a notícia deve ser emitida clara e limpidamente e sem hesitação: Não vai ter golpe!

Respeitem o voto conquistado e que ainda rege nossa claudicante democracia.

Mas se o golpe vier, isso não resultará num fim pacificador, ao contrário, convocará o início de reações e conflitos que podem vir a ser incontroláveis e cujo desfecho será imprevisível. Se o respeito ao voto do cidadão for desfeito, a cada um não restará muito mais do que agir por conta própria, num país onde as posições de consenso e as instituições são, constantemente, ridicularizadas e lançadas à lata do lixo.

Caberá sempre ao eleitor decidir e reavaliar seu voto na próxima vez em que estiver diante das urnas. O sequestro do voto é um atentado grave à cidadania e aos cidadãos, num país em que o futuro da democracia ainda é totalmente incerto e nebuloso.

Apertar o botão verde nas próximas eleições será o efeito de um sistema eleitoral que se moderniza e se consolida, e que se tornou tão propalado mundo afora, ou não será muito diferente de um vídeo game inútil e risível em que é sempre possível recomeçar o jogo do início diante da derrota.

Paulo Endo* é psicanalista, professor da Pós Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades e do Instituto de Psicologia, ambos da USP, membro da Cátedra UNESCO de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância da USP.

TV GLOBO, 50 ANOS. Dez razões para descomemorar

por Ângela Carrato

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Era para ser uma festa de arromba, com eventos se sucedendo em todo o país. Grande parte do que a TV Globo preparou para comemorar seu cinquentenário, a ser completado no domingo (26/4), está mantido, mas, sem dúvida, não terá o mesmo brilho de outras épocas. Depois dos problemas verificados durante a sessão solene da Câmara dos Deputados em homenagem à emissora, em que três militantes em prol da democratização da comunicação tiveram que ser retirados por seguranças, as festas em locais abertos ou de acesso público estão sendo repensadas. Os cuidados se justificam.

Nunca a audiência da TV Globo, centro do império da família Marinho, esteve tão baixa. O Jornal Nacional, seu principal informativo, que chegou a ter 85% de audiência, agora não passa dos 20%. Suas novelas do horário nobre estão perdendo público para similares da TV Record. No dia 1º de abril aconteceram atos em prol da cassação da concessão da emissora em diversas cidades brasileiras. O realizado no Rio de Janeiro, em frente à sua sede, no Jardim Botânico, foi o mais expressivo e contou com 10 mil pessoas. Número infinitamente maior participou, no mesmo horário, do tuitaço e faceboquiaço “Foraglobogolpista”.

Artistas globais e a viúva de Roberto Marinho integram a relação de suspeitos de crimes de evasão fiscal e serão alvo de investigação pela CPI do Senado, criada para analisar a lista de mais de oito mil brasileiros que têm depósitos em contas secretas na filial do banco HSBC, na Suíça. Este escândalo internacional envolve milhares de pessoas em diversos países. A diferença é que fora do Brasil o assunto tem tido destaque e é coberto diuturnamente, enquanto aqui, a mídia, Globo à frente, prefere ignorá-lo ou abordá-lo parcialmente.

Além disso, o conglomerado teria sonegado o Imposto de Renda ao usar um paraíso fiscal para comprar os direitos de transmissão da Copa do Mundo Fifa de 2002. Após o término das investigações, em outubro de 2006, a Receita Federal quis cobrar multa de R$ 615 milhões da emissora. No entanto, semanas depois o processo desapareceu da sede da Receita no Rio de Janeiro. Em janeiro de 2013, uma funcionária da Receita foi condenada pela Justiça a quatro anos de prisão como responsável pelo sumiço. No processo, ela afirmou ter agido por livre e espontânea vontade.

Nem mesmo a campanha filantrópica “Criança Esperança”, promovida em parceria com a Unesco, se viu livre de críticas. Um documento datado de 15 de setembro de 2006, liberado pelo site WikiLeaks em 2013, cita que a Rede Globo repassou à Unesco apenas 10% do valor arrecadado desde 1986 com a campanha (à época R$ 94,8 milhões). A emissora garante “desconhecer” essa informação e afirma que “todo o dinheiro arrecadado pela campanha é depositado diretamente na conta da Unesco”.

Como se tudo isso não bastasse, ao assumir a postura pró-tucanos durante a campanha eleitoral de 2014, a emissora perdeu parte da régia publicidade oficial com que sempre foi contemplada. O governo não anuncia mais na TV Globo e nem na revista Veja e, pelo menos até o momento, não há indícios de que o quadro esteja prestes a se alterar. Motivos que têm levado cada dia mais repórteres e equipes da emissora a serem alvo de protestos e recebidos aos gritos de “O povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo!”

Os protestos contra a Rede Globo, pelo visto, vão continuar e existem pelo menos 10 razões para que os setores comprometidos com a democratização da mídia no Brasil não tenham nada a comemorar neste cinquentenário.

1. Canal 4 estava prometido à Rádio Nacional

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Em meados de 1950, Roberto Marinho era apenas um entre os vários empresários da comunicação no país. O magnata da época atendia pelo nome de Assis Chateaubriand e detinha a maior cadeia de jornais, rádios e duas emissoras nascentes de televisão. A rádio líder absoluta de audiência e mais querida do Brasil era a Nacional, a PR-8 do Rio de Janeiro, de propriedade do governo federal. O sucesso da Nacional era tamanho que animou seus dirigentes a solicitar que o então presidente da República lhe concedesse um canal de TV. Constava do currículo da Rádio Nacional já ter feito experiências pioneiras na área, ao ocupar o canal 4 para televisionar (como se dizia na época) dois dos seus programas.

O presidente da República era Juscelino Kubitschek, que considerou justa a reivindicação, uma decorrência natural da liderança da emissora. Na publicação de final de ano em 1956, a direção da Rádio Nacional anunciava para “breve” a entrada no ar da sua emissora, a TV Nacional, canal 4, conforme compromisso assumido por Juscelino. As concessões de canais de rádio e TV eram atribuições exclusivas do ocupante do Executivo Federal.

Os meses se passaram e Juscelino ”esqueceu-se” da promessa. No final de 1957, para surpresa da direção da Rádio Nacional, o canal 4 que lhes fora prometido acabou concedido para a inexpressiva Rádio Globo, de Roberto Marinho. A decisão foi condicionada por pressões diretas de Chateaubriand, que aceitava qualquer coisa menos que a Rádio Nacional ingressasse no segmento televisivo, temendo as consequências disso para seus negócios. Neste contexto, o canal ir para Roberto Marinho era um mal menor.

O Brasil perdeu assim a chance histórica de ter, no nascedouro, duas modalidades de televisão: a comercial, representada pelas emissoras de Chateaubriand, e a estatal voltada para o interesse público como seria a da Rádio Nacional.

2. Acordo com a Time-Life feriu interesses nacionais

globo oposição Brasil

Ao contrário da Rádio Nacional, que dispunha de todas as condições para colocar no ar sua emissora de TV, a de Roberto Marinho precisou aguardar alguns anos. Para a implantação da TV Globo, a partir de 1961, foi decisivo o apoio do capital internacional, representado pelo gigante da mídia norte-americana Time-Life. A emissora começou a operar de forma discreta em 26 de abril de 1965 e seus primeiros meses foram um fracasso em termos de audiência.

Em junho de 1962, Marinho passou a ser apoiado com milhões de dólares, num episódio que a emissora ainda hoje sustenta que se tratou apenas de “um contrato de cooperação técnica”. A realidade, fartamente documentada por Daniel Herz, em sua obra já clássica A história secreta da Rede Globo (1995), prova o contrário. Roberto Marinho e o grupo Time-Life contraíram um vínculo institucional de tal monta que os tornou sócios, o que era vedado pela Constituição brasileira. Foi este vínculo que assegurou à Globo o impulso financeiro, técnico e administrativo para alcançar o poderio que veio a ter.

A importância da ligação com os norte-americanos, nos primórdios da emissora, pode ser avaliada pela declaração do engenheiro Herbert Fiúza, que integrou a sua primeira equipe técnica: “A Globo era inspirada numa estação de Indianápolis, a WFBM. E o engenheiro de lá foi quem montou tudo, porque a gente não sabia nada”.

Chateaubriand, que antes havia ficado satisfeito em inviabilizar o canal de TV para a Rádio Nacional, percebeu o risco que suas emissoras passavam a correr. Tanto que dedicou ao “Caso Globo/Time-Life” nada menos do que 50 artigos, todos atacando Roberto Marinho e acusando-o de receber, na época, US$ 5 milhões, repassados em três parcelas, o que representava “uma ofensiva externa contra os competidores internos” (Morais, 1994, p.667).

A repercussão dessas denúncias foi tamanha que a CPI criada pelo Congresso Nacional para apurá-las acabou descobrindo que a TV Globo mantinha não um, mas dois contratos com o grupo Time-Life. Em um deles, os norte-americanos tinham participação de 49%. Em outras palavras, não se tratava de contrato, mas de sociedade. A CPI pôs fim à sociedade. Mas, ao invés de sair penalizada do episódio, a Globo foi duplamente beneficiada: Roberto Marinho ficou com o controle total da emissora e os militares, então no poder, não tomaram qualquer providência contra ela. A TV Globo poderia ter tido sua concessão cassada.

3. O apoio à ditadura militar (1964-1985)

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Nos anos 1960, o Brasil era visto pelos Estados Unidos como sua área de influência direta. E a TV Globo foi fundamental para trazer para cá o way of life norte-americano juntamente com o seu modelo de televisão. A TV comercial, um dos tipos de emissora existentes no mundo, adquire aqui o status de única modalidade de TV. Não por acaso, Murilo Ramos (2000, p.126) caracteriza o surgimento da TV Globo como sendo “a primeira onda de globalização da televisão brasileira”, que, concentrada num único grupo local, monopolizou a audiência e teve forte impacto político e eleitoral ao longo das décadas seguintes.

Durante quase 20 anos, TV Globo e governos militares viveram uma espécie de simbiose. Os militares, satisfeitos por verem nas telas da Globo apenas imagens e textos elogiosos ao “país que vai para a frente”, retribuíam com mais e mais benesses e privilégios para a emissora. A partir de dezembro de 1968, com a edição do AI-5, o país mergulhou no “golpe dentro do golpe”, com prisão e perseguição a todos os considerados inimigos e adversários do regime e a adoção de censura prévia aos veículos de comunicação.

A TV Globo enfrentou alguns casos de censura oficial em suas telenovelas, mas o que prevaleceu na emissora foi o apoio incondicional de sua direção aos militares no poder e a autocensura por parte da maioria de seus funcionários.

Ainda hoje não falta quem se recorde de situações patéticas em que o então apresentador do Jornal Nacional, Cid Moreira, mostrava aos milhares de telespectadores brasileiros cenas de um país que se constituía “em verdadeira ilha de tranquilidade”, enquanto centenas de militantes de esquerda eram perseguidos, presos, torturados ou mortos nas prisões da ditadura. Some-se a isso que a TV Globo sempre se esmerou em criminalizar quaisquer movimentos populares.

4. O combate permanente às TVs Educativas

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Desde 1950 que as elevadas taxas de analfabetismo vigentes no Brasil eram uma preocupação constante para setores nacionalistas e de esquerda. Uma vez no poder, algumas alas militares viram na radiodifusão um caminho para combater a subversão e, ao mesmo tempo, promover a integração nacional. O resultado disso foi que, em 1965, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) solicita ao Conselho Nacional de Telecomunicações a reserva de 48 canais de VHF e 50 de UHV especificamente para a televisão educativa.

O número era dos mais significativos e poderia ter representado o começo de canais voltados para os interesses da população, a exemplo do que já acontecia em outras partes do mundo. Pouco depois do decreto ser publicado, Roberto Marinho começa a agir para reduzir sua eficácia. E, na prática, conseguiu seu intento. O decreto-lei nº 236, de março de 1967, se, por um lado, formalizava a existência das emissoras educativas, por outro criava uma série de obstáculos para que funcionassem. O artigo 13, por exemplo, obrigava essas emissoras a transmitir apenas “aulas, conferências, palestras e debates”, ao mesmo tempo em que proibia qualquer tipo de propaganda ou patrocínio a seus programas. Traduzindo: as TVs Educativas estavam condenadas à programação monótona e à falta crônica de recursos.

Como se isso não bastasse, o artigo seguinte fechava o cerco a essas emissoras, determinando que somente pudessem executar o serviço de televisão educativa a União, os estados, municípios e territórios, as universidades brasileiras e alguns tipos de fundações. Ficavam de foram, por exemplo, sindicatos e as mais diversas entidades da sociedade civil.

Dez anos após este decreto-lei, apenas seis emissoras educativas tinham sido criadas no país, número muito distante dos 98 canais disponíveis. As emissoras educativas não conseguiam avançar, esbarrando na legislação que lhes obrigava a viver exclusivamente do minguado orçamento oficial, ao passo que as televisões comerciais, em especial a Globo, experimentavam crescimento sem precedentes. Crescimento que contribuiu para cristalizar, em parcela da população brasileira, a convicção de que a emissora de Roberto Marinho era sinônimo de qualidade.

5. O programa global de telecursos

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Oficialmente, o projeto tinha o nome de Educação Continuada por Multimeios e envolvia um convênio entre a Secretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (Subin) da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, o BID, a Fundação Roberto Marinho (FRM) e a Fundação Universidade de Brasília (FUB). Aparentemente, o seu objetivo era nobre: “O atendimento à educação de população de baixa renda do país, mediante a utilização e métodos não tradicionais de ensino”.

Na versão inicial, o convênio tinha 15 cláusulas, com a FRM assumindo a condição de entidade executora e a FUB a de sua coexecutora. Na prática, o convênio ficou conhecido como Programa Global de Telecursos e atendia exclusivamente aos interesses da FRM. Através dele, a FRM pretendia, sem qualquer custo, apoderar-se do milionário “negócio” da teleducação no Brasil. Para tanto, esperava contar com recursos nacionais e internacionais inicialmente da ordem de US$ 5 milhões embutidos em um pacote de U$S 20 milhões solicitados pela Subin ao BID, no início de 1982.

A parceria com a FUB era importante por ela ser uma entidade voltada para o ensino público e estar isenta de impostos para a importação dos equipamentos necessários à montagem de um centro de produção televisiva a custo zero. Em outras palavras, a FRM pretendia tornar-se a administradora da verba (nacional e internacional) destinada às televisões educativas no Brasil, geridas pela Funtevê, entidade governamental. Imediatamente, a Funtevê deixou nítido que o convênio exorbitava as competências da FRM e da própria UnB. É importante assinalar que pela UnB um dos raros entusiastas deste convênio era o seu então reitor, capitão de mar-e-guerra José Carlos Azevedo.

A discussão em torno deste convênio e da tentativa das Organizações Globo de apropriarem-se dos recursos destinados às TVs educativas brasileiras ganham a imprensa nacional no final de 1982 e início de 1983. Matéria publicada pelo jornal Folha de S.Paulo (17/04/1983), sob o título de “Globo poderá monopolizar teleducação”, tratava o assunto em forma de denúncia. O “tiroteio” entre os jornais Globo e Folha de S.Paulo durou vários meses e o convênio, que acabou não sendo assinado, só foi sepultado três anos depois, com o fim do regime militar. Sem muita cerimônia, o então secretário-executivo da FRM, José Carlos Magaldi, chegou a admitir que “é óbvio que não fazemos teleducação por patriotismo”.

Esta não foi a primeira e nem a última tentativa das Organizações Globo de se apoderarem da teleducação no Brasil. Aliás, a FRM tem, nos dias atuais, representado o Brasil em vários fóruns internacionais sobre educação e teleducação. O MEC sabe disso?

6. O caso Proconsult e o combate a Leonel Brizola

Brizola Globo

Antes dos petistas, Leonel Brizola foi um dos políticos brasileiros mais combatidos pela TV Globo e por seu fundador, Roberto Marinho. Marinho nunca o perdoou pelo fato de ter comandado a Rede da Legalidade, nome que receberam as emissoras de rádio que, quando da renúncia de Jânio Quadros à presidência da República, em 1961, passaram a defender a posse de seu vice, João Goulart. Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, era cunhado de Goulart.

Com a vitória do golpe civil-militar de 1964, Brizola foi para o exílio e só pode retornar ao Brasil com a anistia, em 1979. Político com fortes compromissos populares, em 1982 disputou o governo do Rio de Janeiro, pelo PDT, partido criado por ele.

O caso Proconsult foi uma tentativa de fraude nas eleições de 1982 para impossibilitar a vitória de Brizola. Consistia em um sistema informatizado de apuração dos votos, feito pela empresa Proconsult, associada a antigos colaboradores do regime militar. A mecânica da fraude consistia em transferir votos nulos ou em branco para que fossem contabilizados para o candidato apoiado pelas forças situacionistas, Moreira Franco, do então PDS.

As regras da eleição de 1982 impunham que todos os votos (de vereador a presidente da República) fossem em um mesmo partido. Portanto, estimava-se um alto índice de votos nulos. Os indícios de que os resultados seriam fraudados surgiram da apuração paralela contratada pelo PDT à empresa Sysin Sistemas e Serviços de Informática, que divergiam completamente do resultado oficial. Outra fonte que obtinha resultados diferentes dos oficiais foi a Rádio Jornal do Brasil. Roberto Marinho foi acusado de participar no caso.

A fraude foi extensamente denunciada pelo Jornal do Brasil, na época o principal concorrente de O Globo no Rio e relatada posteriormente pelos jornalistas Paulo Henrique Amorim, Maria Helena Passos e Eliakim Araújo no livro Plim Plim, a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral (Conrad Editores, 2005). Devido à participação de Marinho no caso, a tentativa de fraude é analisada no documentário britânico Beyond Citizen Kane, de 1993. A TV Globo, por sua vez, defendeu-se argumentando que não havia contratado a Proconsult e que baseava a totalização dos votos daquela eleição na totalização própria que O Globo estava fazendo.

Em 1994, Brizola venceu novamente Roberto Marinho e a TV Globo ao obter, na Justiça, direito de resposta na emissora. Em 15 de março, um constrangido Cid Moreira (que por 27 anos esteve à frente da bancada do Jornal Nacional) leu texto de 440 palavras que a Justiça obrigou a TV Globo a divulgar em seu telejornal mais nobre.

Foram cerca de três minutos nos quais Cid Moreira, a cara do JN, incorporou Leonel Brizola, então governador do Rio de Janeiro, no mais célebre e então inédito direito de resposta, que abriu caminho para que outros cidadãos buscassem amparo legal contra barbaridades cometidas pela mídia brasileira.

7. Ignorou as Diretas-Já

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O PMDB lançou, em dezembro de 1983, uma campanha nacional em apoio à emenda do seu deputado Dante de Oliveira (MT) que restabelecia as eleições diretas no país com o slogan “Diretas-Já”. O primeiro grande comício aconteceu em São Paulo, em 25 de janeiro do ano seguinte, e coincidiu com o 430º aniversário da cidade. A TV Globo ignorou o comício que reuniu milhares de pessoas na Praça da Sé. Reportagem do Fantástico sobre o assunto falava apenas em comemorações do aniversário de São Paulo. Omissões semelhantes aconteceram em relação a outros comícios pelas Diretas-Já em cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador.

De acordo com o ex-vice-presidente das Organizações Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, em entrevista ao jornalista Roberto Dávila, na TV Cultura, em dezembro de 2005, foi o próprio Roberto Marinho quem determinou a censura ao primeiro grande comício da campanha pelas Diretas-Já. Segundo Boni, àquela altura “o doutor Roberto não queria que se falasse em Diretas-Já” e decidiu que o evento da Praça da Sé fosse transmitido “sem nenhuma participação de nenhum dos discursantes”. Para Boni, aliás, no caso das Diretas-Já houve uma censura dupla na Globo: “Primeiro, uma censura da censura; depois, uma censura do doutor Roberto”.

A versão de Boni é diferente da que aparece no livro Jornal Nacional – A Notícia Faz História, publicado pela Jorge Zahar em 2004, e que representa a versão da própria Globo para a história de seu jornalismo. O texto não faz referência alguma a uma intervenção direta de censura por parte de Roberto Marinho. Aliás, a Globo vem tentando reescrever a sua história e, ao mesmo tempo, reescrever a própria história brasileira. Isto fica nítido, por exemplo, quando se compara a história brasileira com a versão que é publicada pela Globo através dos verbetes do Memória Globo. Pelo visto, a emissora aposta na falta de memória e na pouca leitura da maioria dos brasileiros para emplacar a sua versão dos fatos. Foi a partir da campanha das Diretas-Já que teve início a utilização, pelos diversos movimentos populares, do bordão “O povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo”.

8. Manipulação do debate Collor x Lula

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Na eleição de 1989, a primeira pelo voto direto para presidente da República desde 1964, a TV Globo manipulou o debate entre o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva e o do PRN, Fernando Collor. O debate era o último e decisivo antes da eleição. No telejornal da hora do almoço, a TV Globo fez uma edição equilibrada do debate. Para o Jornal Nacional, houve instruções para mudar tudo e detonar Lula. Foram escolhidos os piores momentos de Lula e os melhores de Collor. Ainda foram divulgadas pesquisas feitas por telefone segundo as quais Collor havia vencido. Além disso, o jornalista Alexandre Garcia leu um editorial nitidamente contra Lula e o PT.

Desde então, pesquisas e estudos sobre este “caso clássico de manipulação da mídia” têm sido feitas no Brasil, destacando-se as realizadas pelo sociólogo, jornalista e professor aposentado da UnB Venício A. Lima.

Apesar dos esforços da TV Globo para manter a versão de que a edição deste debate foi equilibrada, novamente seu ex-diretor José Bonifácio Sobrinho contribuiu para derrubá-la. Depois de abordar o assunto em entrevistas à imprensa, por ocasião do lançamento de seu livro de memórias, o ex-dirigente global deu entrevista à própria GloboNews, canal pago da emissora, na qual admitiu, para o jornalista Geneton Moraes Neto, que, durante os debates da campanha presidencial transmitidos pela Globo em 1989, tentou ajudar o candidato alagoano. Para muitos, Boni só fez esta “revelação bombástica”, que quase todos já sabiam, para tentar promover seu livro.

9. Contra a democratização da mídia

monopólio mídia globo

Todos os países democráticos possuem regulação para rádio e televisão. Na Grã-Bretanha, por exemplo, a mídia e sua regulação caminharam juntas. O mesmo pode ser dito em relação aos Estados Unidos, França, Itália e Japão. Nestes países, tão admirados pelas elites brasileiras, nunca ninguém fez qualquer vínculo entre regulação e censura, simplesmente porque ele não existe. No Brasil, onde a mídia em geral e a audiovisual em particular vive numa espécie de paraíso desregulamentado, toda vez que um governo tenta implementar o que existe no resto do mundo é acusado de ditatorial e de querer implantar a censura.

Quando, em 2004, o governo do presidente Lula enviou ao Congresso Nacional projeto de lei criando o Conselho Nacional de Jornalismo, uma espécie de primeiro passo para esta regulação, foi duramente criticado pela mídia comercial, TV Globo à frente. Desde sempre, as Organizações Globo foram contrárias a qualquer legislação que restringisse o poder absoluto que desfruta a mídia no Brasil. Prova disso é que os dispositivos do Capítulo V da Constituição brasileira, que trata da Comunicação Social, continuam até hoje sem regulamentação.

Entre outros aspectos, o Capítulo V proíbe monopólios e oligopólios por parte dos meios de comunicação, determina que a programação das emissoras de rádio e TV deva dar preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. O capítulo enfatiza, ainda, que as emissoras e rádio e TV devem promover a cultura nacional e regional, além de estimularem a produção independente. Todos esses aspectos mostram como a TV Globo está na contramão de tudo o que significa uma comunicação democrática e plural.

Aliás, os compromissos dos mais diversos movimentos sociais brasileiros com a regulação da mídia foram reafirmados durante o 2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação, promovido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, de 10 a 12 de abril, em Belo Horizonte. O evento reuniu 682 participantes entre ativistas, estudantes, militantes, jornalistas, estudiosos, pesquisadores, representantes de entidades e coletivos de todo o Brasil. Presente ao encontro esteve também o canadense Toby Mendel, consultor da Unesco e diretor-executivo do Centro de Direitos e Democracia.

A carta final do encontro, intitulada “Regula Já! Por mais democracia e mais direitos”, disponível na página da entidade (www.fndc.org.br), reafirma “a luta pela democratização da comunicação como pauta aglutinadora e transversal, além de conclamar as entidades e ativistas a unirem forças para pressionar o governo a abrir diálogo com a sociedade sobre a necessidade de regular democraticamente o setor de comunicação do país”.

10. Golpismo

globo jango

Para vários pesquisadores e estudiosos sobre movimentos sociais no Brasil, a mídia, em especial a TV Globo, tem tido um papel protagonista nas manifestações contra a presidente Dilma Rousseff e o PT. Alguns chegam mesmo a afirmar que dificilmente essas manifestações teriam repercussão se não fosse a Rede Globo.

Em outras palavras, a Rede Globo, tão avessa à cobertura de qualquer movimento popular, entrou de cabeça na transmissão destas manifestações e, no domingo 15 de março, por exemplo, mobilizou, como há muito não se via, toda a sua estrutura com o objetivo de ampliar a dar visibilidade a esses atos. Quase 100% de seus jornalistas estiveram de plantão. Durante o programa Esporte Espetacular, exibido tradicionalmente nas manhãs de domingo, o esporte deu lugar para chamadas ao vivo sobre os protestos, que, em tom de convocação, passaram a ocupar a maior parte do tempo.

Nas entradas ao vivo em todas as cidades onde aconteciam mobilizações, os microfones da emissora captaram gritos de guerra contra o atual governo e xingamentos contra a presidente. Em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, foi possível ouvir inclusive palavrões. A título de comparação, as manifestações de 13 de março, que também aconteceram em todo o Brasil e defenderam a reforma política, não mereceram cobertura tão dedicada do maior conglomerado midiático da América Latina.

Erick Bretas, diretor da Rede Globo que há poucas semanas defendeu abertamente o impeachment da presidente Dilma nas redes sociais, voltou a se pronunciar sobre os atos do dia 15, utilizando uma frase de Bob Marley para convocar, através de sua página no Facebook, o povo às ruas: “Get up, stand up”.

Não se sabe se Bob Marley apoiaria a postura de Bretas, mas, sem dúvida, é fato que entre os princípios editoriais da TV Globo não consta nem a “isenção” e muito menos o equilíbrio que tanto prega. Por isso, talvez o melhor resumo sobre a realidade desses protestos e a empolgação da transmissão feita pela TV Globo seja a do professor Gilberto Maringoni, ex-candidato do PSOL ao governo de São Paulo. Segundo Maringoni, “a manifestação principal não está nas ruas. Está na TV”.

Nas redes sociais, internautas repudiaram a cobertura feita pela TV Globo e alcançaram, durante 48 horas ininterruptas, para a hastag#Globogolpista, a primeira posição entre os assuntos mais comentados do Twitter. Novos protestos estão previstos para o dia 26/4. Razão pelo qual este promete ser o pior aniversário da TV Globo em toda a sua história.

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Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG. Este artigo foi publicado no blog Estação Liberdade

Tv Globo

Venezuela, Mercosur y el acoso mediático: el imperio de la mentira ataca de nuevo

por Aram Aharonian

 

 Sponholz

Sponholz

El acoso a Venezuela reverdece, en el marco de un prolongado proceso de golpe continuo que ya tiene casi 14 años y donde destaca el papel estelar que juegan los medios de comunicación hegemónicos, con su libreto cartelizado de mentiras y manipulaciones, repetido en diferentes idiomas.

Hoy la derecha trata de imponer el imaginario que Venezuela es una dictadura y que, por ende, debe ser expulsada del Mercado Común del Sur (Mercosur).

Es consciente que no lograrán lo que se proponen, pero su estrategia es la de crear ese imaginario. El 26 de febrero, el diario venezolano El Nacional anunciaba que los parlamentarios derechistas argentinos Roberto Pradines, Mario Negri, Patricia Bullrich y Sergio Bergman todos miembros de la Comisión del Mercosur, expresaron que la detención del alcalde Antonio Ledesma, “afecta la democracia en el país”, y en consecuencia solicitarán la activación del Protocolo de Ushuaia sobre compromiso democrático

Y pedían la presencia en Venezuela de una Comisión del Observatorio de la Democracia del Parlamento del Mercosur (Parlasur), con el objeto suspender su participación en el bloque regional. A este coro se sumaron algunos parlamentarios de la derecha uruguaya.

Cabe recordar que el Protocolo de Ushuaia establece como único supuesto para su aplicación la ruptura del orden democrático en alguno de países del Mercosur, y prevé que, una vez agotada la instancia de consultas de los Estados entre sí y con el Estado afectado y en caso de que éstas resulten infructuosas, podrá acordarse la aplicación de medidas sancionatorias.
Pero tanto el período de consultas como las eventuales sanciones deben ser decididas por los presidentes, por consenso (no por vociferantes legisladores, minoritarios en los parlamentos de sus países).

Es más, no existe en Venezuela la ruptura del orden democrático y la gran mayoría de los países latinoamericanos y caribeños han expresado muestras de apoyo al gobierno de Nicolás Maduro.

Las instituciones democráticas venezolanas, es decir todos sus poderes públicos se encuentran legitimados y en pleno ejercicio de sus funciones, en especial la Asamblea Nacional.

Por otra parte, el Observatorio de la Democracia del Parlasur, desde su creación en 2008, ha limitado su actuación al seguimiento de los procesos electorales en los países del Mercosur y los estados asociados. Involucrar al observatorio en procesos que impliquen la evaluación (o supervisión) política lo convertiría en un instrumento de injerencia y abriría una senda peligrosa para la integración que se caracteriza por lograr la unidad de la diversidad.

El reglamento del observatorio establece que tendrá un Consejo de Representantes (con tres parlamentarios por país), y coordinado por el presidente del Parlasur. Actualmente, la Presidencia del Parlasur la ejerce Venezuela. Pero cualquier decisión obre eventuales sanciones depende de la voluntad consensuada de los presidentes, no de la vociferación de algunos parlamentarios con intentenciones desestablizadoras y atentatorias contra la integración.

Las razones

Toda esta ofensiva tiene su razón: la derecha nunca estuvo tan débil en nuestra región y demostración de ello es que pierde sucesivamente elecciones en países como Brasil, Argentina, Uruguay, Bolivia, Ecuador, Venezuela, El Salvador. Ha sido desalojada de gobiernos que creían su propiedad. Y siguen sin entender las transformaciones sociales, la recuperación del rol del estado, la activa participación en los procesos integradores, su independencia de los dictados de Washington.

Es clara la debilidad de las derechas: sus iconos están en crisis institucional y de legitimidad. Chile con las consecuencias de la privatización; México, como ejemplo de cómo un TLC disuelve el Estado; Colombia con la legitimación paramilitar; Perú que termina ofreciendo su territorio como base naval estadounidense…

Estas derechas no se resigna a que sean gobiernos populares los que rescaten a sus pueblos de los desastres producidos por las dictaduras cívico-militares y los gobiernos neoliberales.

No solo han venido de fracaso en fracaso los gobiernos neoliberales, sino que manifiestan una patética incapacidad de formular propuestas alternativas, dedicándose a sabotear los procesos de estos países, desestabilizar los gobiernos, apostar al caos e, incluso, servir –como excelsos cipayos- a los propósitos e intereses antinacionales de la banca trasnacional, de las empresas trasnacionales, la geopolítica estadounidense en la región.

Emir Sader señala que las derechas argentina y brasileña tienen enormes similitudes, porque ambas se han reorganizado alrededor de los dos más importantes gobiernos populares que han tenido esos países en el siglo XX: los de Perón y de Getulio Vargas. Por ello son derechas elitistas, oligárquicas, racistas, antinacionales. Es la derecha la que intentó tumbar a Vargas en 1954 y lo llevó al suicidio. Es la que tumbó a Perón en 1955 y llevó Argentina a iniciar el ciclo de las acciones militares gorilas en la región.

Es la derecha la que dio finalmente el golpe en Brasil en 1964 e instauró la más larga dictadura militar en la región. Es la misma derecha que intentó hacer lo mismo en 1966 en Argentina, pero vio frustrado su golpe. Tuvo que volver a la carga en 1976, para cerrar el círculo de terror de las dictaduras en el Cono Sur, añade Sader.

Hablan del peligro de caos económico, de corrupción, de respeto a los derechos humanos, aquellos que han sido cómplices y copartícipes de desapariciones, torturas, asesinatos y la mayor corrupción en las historia de los países, especialmente en los procesos de privatización de los bienes y empresas públicos. Amenazan con golpes: duros, blancos, mediáticos.

Ya no necesitan tanques ni fuerzas armadas. Usan su nuevo armamento, el terror mediático cartelizado regional e internacional.

A propina na Petrobras durante o governo FHC fica longe das manchetes…

por Altamiro Borges

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Desde quinta-feira (5), os jornalões e as emissoras de rádio e tevê não param de bater bumbo sobre a suposta “propina de R$ 200 milhões” do PT.

O bombardeio se baseia nas denúncias de Pedro Barusco, ex-diretor da Petrobras envolvido no esquema de corrupção da estatal. Tentando gozar das benesses da chamada delação premiada, ele “teria dito” – em mais um vazamento seletivo e criminoso – que o partido recebeu “aproximadamente” este montante. Não apresenta qualquer prova e nem precisava.

A mídia já julgou, condenou e fuzilou o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari. Ela só deixou de dar destaque para outro “pequeno detalhe” do depoimento de Pedro Barusco: “O ex-gerente da Petrobras diz ter recebido propina desde 1997”, relatam os jornalistas Fausto Macedo e Mateus Coutinho, do Estadão. Mas este fato – que envolve diretamente o “ético” FHC e outros tucanos de alta plumagem, não mereceu manchetes. O Jornal Nacional, da TV Globo, nem sequer mencionou este trecho do suspeito depoimento.

Segundo o Estadão, “o ex-gerente Executivo de Engenharia da Petrobrás, Pedro Barusco, afirmou em sua delação premiada que o esquema de propinas da estatal começou com o primeiro contrato de navio-plataforma com a holandesa SBM Offshore, em 1997, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O delator admitiu que, naquela época, recebeu propinas mensalmente em valores que variavam entre US$ 25 e US$ 50 mil, e que teria recebido um total de US$ 22 milhões em propinas da empresa holandesa até 2010. Entre 1995 e 2003, Barusco, que era funcionário de carreira da estatal, ocupou o cargo de gerente de Tecnologia de Instalações, no âmbito da diretoria de Exploração e Produção. Ele admitiu que começou a receber propina em ‘1997 ou 1998’, ‘por conta de dois contratos de FPSO (navios-plataforma) firmados mediante sua (de Barusco) participação técnica e ‘fundamental’, uma vez que era o coordenador da área técnica’, diz a delação”.

Ainda de acordo com a reportagem, “o ex-gerente relata que foi o responsável pelo primeiro contrato do tipo na estatal, que foi ‘peça fundamental’ dos contratos seguintes de navios-plataforma da Petrobrás, pelos quais ele também admite ter recebido propina. ‘Por conta de relacionamento bastante próximo que o declarante (Barusco) desenvolveu com o representante da SBM, Julio Faerman, tanto o declarante solicitou quanto Julio ofertou o pagamento de propina, sendo uma iniciativa que surgiu de ambos os lados e se tornou sistemática a partir do segundo contrato de FPSO firmado entre a SBM e a Petrobrás’, relata a delação de Barusco. Em seu extenso depoimento, o executivo detalhou as contas por onde o dinheiro das propinas da SBM passou, sendo guardado na Suíça”.

“Barusco explicou que os acordos eram de longa duração e que, por isso ‘o pagamento de propinas perdurou por longos anos’ enquanto ele ocupou o cargo na Diretoria de Exploração e Produção. Além disso, ele admitiu ter recebido propina ‘por ocasião de outro contrato firmado entre a empresa Progress, representada por Julio Faerman e a Transpetro’, em ‘1997 ou 1998’. Ainda segundo Barusco, as propinas acertadas entre ele e Julio Faerman continuaram nos anos seguintes, quando ele já havia ocupado o cargo de gerente-executivo de Engenharia, na diretoria de Abastecimento de Paulo Roberto Costa. Ele admitiu, por exemplo ter recebido propina de Faerman por um contrato de 2007, já no governo Lula, da plataforma P57. O valor total do contrato, segundo o ex-gerente, era de R$ 1,2 bi, do qual ele admitiu ter recebido 1% de propina entre 2007 e 2010. Investigada na Holanda, a SBM Offshore, empresa de locação de navios-plataforma a petroleiras, é acusada de pagar US$ 250 milhões em propinas em todo mundo”.

Sangrar Dilma e destruir a Petrobras

Se confirmado este trecho da sinistra “delação premiada”, ficaria confirmado que o esquema de corrupção na Petrobras é antigo. Que ele começou durante o reinado de FHC – que inclusive abrandou as regras de licitação e facilitou o desvio de grana para a corrupção. Ficaria ainda provado que várias empresas – que agora tentam posar de vítimas – há muito se utilizam de mecanismos ilícitos para obter privilégios.

O esquema de pagamento de propina é internacional. Não afeta apenas o Brasil. Tais fatos abalariam a campanha denuncista da mídia tucana, que explora o vazamento ilegal dos depoimentos para desgastar a imagem do governo Dilma e para atacar a Petrobras.

A mídia privada e entreguista, com destaque para o próprio Estadão, sempre fez campanhas visando destruir a Petrobras, privatizá-la e entregá-la às multinacionais do petróleo.

No que se refere às denúncias de corrupção contra o PT, a legenda imediatamente reagiu. “A assessoria de imprensa do PT reitera que o partido recebe apenas doações legais e que são declaradas à Justiça Eleitoral. As novas declarações de um ex-gerente da Petrobras, divulgadas hoje (5), seguem a mesma linha de outras feitas em processos de ‘delação premiada’ e que têm como principal característica a tentativa de envolver o partido em acusações, mas não apresentam provas ou sequer indícios de irregularidades e, portanto, não merecem crédito. Os acusadores serão obrigados a responder na Justiça pelas mentiras proferidas contra o PT”, afirma a nota oficial.

Já o tesoureiro da sigla, João Vaccari – que foi vítima de um circo midiático da “condução coercitiva” montado em sua residência – também divulgou nota em que afirma que, “por sua defesa, vem a público para dizer que há muito ansiava pela oportunidade de prestar os esclarecimentos que nesta data foram apresentados à Polícia Federal, para de forma cabal, demonstrar as inúmeras impropriedades publicadas pela imprensa nos últimos meses, envolvendo seu nome. Reitera, mais uma vez, que o PT não tem caixa dois, nem conta no exterior, que não recebe doações em dinheiro e somente recebe contribuições legais ao partido, em absoluta conformidade com a Lei, sempre prestando as respectivas contas às autoridades competentes. Sua defesa registra ainda, que o Sr. Vaccari permanece à disposição das autoridades, para prestar todos e quaisquer esclarecimentos, e que sua condução coercitiva, desta data, entendeu-se desnecessária, pois bastaria intimá-lo”.

A matriz de todos os escândalos

por Luciano Martins Costa

pode imprensa elite

 

O noticiário de sexta-feira (6/2) marca a culminância da escalada de denúncias no escândalo da Petrobras. O ponto alto é a declaração de um dos acusadores, o ex-gerente executivo Pedro Barusco, segundo o qual o Partido dos Trabalhadores recebeu, ao longo de dez anos, um total que pode chegar a US$ 200 milhões de empresas que detinham os maiores contratos com a estatal. A denúncia produz o fenômeno das manchetes trigêmeas, que já se tornou rotina na imprensa brasileira.

Como basicamente tudo que se tem publicado até aqui tem a mesma fonte, ou seja, confissões feitas por operadores do esquema que negociam penas mais brandas, a verdade aparente é apenas aquela que os jornais definem como tal. No entanto, o cruzamento das denúncias permite prever uma mudança importante na direção do escândalo, pelo simples fato de que a pista que leva ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, também conduz à direção do PSDB.

Entre as confissões de Barusco, cujo ponto central, na escolha dos editores, é sua suposta relação com o tesoureiro do PT, oculta-se uma informação crucial para colocar em novo contexto o escândalo da Petrobras: o autor da delação premiada informa que o esquema de desvios começou em 1997, o ano em que o monopólio da Petrobras, instituído por Getúlio Vargas em 1953, foi revogado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. O esquema que agora sitia a presidente Dilma Rousseff foi consolidado e institucionalizado na empresa no ano 2000, segundo o denunciante.

O que não está dito nas reportagens é que o governo do PSDB havia se empenhado durante anos em desmontar a estrutura de poder da Petrobras, acusada publicamente pelo falecido ministro das Comunicações, Sérgio Motta, de ser “o último esqueleto da República”, que precisaria ser desmontado “osso a osso”. Ele se referia à estrutura de mando da estatal, que se mantinha fechada em um complexo sistema corporativo virtualmente impermeável à ação do Estado.

O esquema de corrupção nasceu associado ao processo de desmanche do corporativismo, consolidou-se com o fim do monopólio e, pelo que revela a “Operação Lava Jato”, já dominava a empresa no ano 2000. Mas a imprensa determinou que só é importante descobrir o que aconteceu a partir de 2003.

Vazamentos seletivos

O único dos três grandes diários de circulação nacional que dá algum destaque a esse “pormenor” das confissões de Pedro Barusco é a Folha de S.Paulo, em reportagem com o seguinte título: “Ex-gerente diz que começou a receber propina na era FHC”. O Globo faz apenas uma breve referência, num perfil do acusado, e o Estado de S.Paulo ignora a informação.

O critério da Folha aponta para a conveniência de determinar o ponto inicial do esquema de corrupção, mas os outros jornais não consideram isso importante. Se tivesse o interesse autêntico de investigar com profundidade e revelar a extensão do escândalo que abala a Petrobras, a imprensa teria mergulhado há muito tempo no histórico da empresa a partir do fim do monopólio, fato que marca a tomada do controle por agentes públicos.

Desde o final dos anos 1990, a estatal viveu fracionada entre dois mundos: o dos gerentes executivos formados na empresa e o dos executivos impostos pelo sistema de partilha de cargos que sustenta o poder de Brasília. Pelo que se pode depreender das denúncias, a corrupção se instalou quando os dois grupos se entenderam.

Como no caso chamado de “mensalão”, o sistema foi montado sob os governos do PSDB e passado aos sucessores em praticamente todos os escalões da República. Mas, como na Ação Penal 470, há um recorte seleto em tudo que vaza ou, do que vaza, em tudo que se publica. Uma evidência desse cuidado seletivo é o fato de que a declaração publicada nas edições de sexta-feira (6/2) foi feita no dia 20 de novembro do ano passado.

Apesar de a maior parte do noticiário ter como origem declarações de réus que fazem denúncias em troca de benefícios da Justiça, e a despeito das muitas contradições quanto aos valores que teriam sido desviados nos acordos com grandes empreiteiras, é incontestável que a corrupção se tornou endêmica, como declarou o denunciante que ganhou as manchetes na sexta-feira (6).

O interesse do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em apontar o dedo para a presidente Dilma Rousseff, com sua tentativa de inspirar um processo de impeachment, pode esconder uma manobra para impedir que a investigação coloque uma lente na biografia de seu antigo ministro das Comunicações.

Só se vai chegar ao esclarecimento completo do escândalo da Petrobras se a Justiça e a imprensa vasculharem suas origens. Observatório da Imprensa

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Nós, leitores, e a Petrobras

por Carlos Castilho

medo imprensa jornalismo terror

O público brasileiro está sendo submetido a um verdadeiro massacre informativo envolvendo a corrupção na Petrobras. A intensidade do noticiário já deixou de ser uma opção questão meramente jornalística para se transformar num caso típico de campanha movida pelos principais órgãos de imprensa do país.

Os fatos passaram a ser menos importantes do que as versões e o que era inicialmente a cobertura de um escândalo de corrupção desdobrou-se numa trama de problemas que no seu conjunto procura transmitir aos consumidores de notícias a percepção de que o país caminha para o caos.

O caso das propinas na Petrobras acabou vinculado pela imprensa à crise energética quando o uso de combustíveis para amenizar os efeitos da redução da capacidade de geração hidrelétrica do país provocou uma disparada nos preços ao consumidor. O link entre Petrobras e a crise hídrica permitiu criar a sensação de instabilidade e insegurança econômica entre as pessoas que já não sabem mais quando e como começará o racionamento de energia e se a inflação vai disparar ou não.

A análise da estratégia noticiosa adotada pela imprensa aponta claramente na direção de um acúmulo, intencional ou não, de problemas. Os casos Petrobras e crise hídrica serviram de pretexto para que instituições internacionais de credibilidade duvidosa, como a agência Moody’s, rebaixassem o Brasil nos mercados financeiros internacionais, o que provocou um efeito cascata da desvalorização do real e o fantasma da fuga de investidores externos.

Esse conjunto entrelaçado de notícias sem a devida contextualização tende a aumentar a orfandade do público, e há duas alternativas possíveis: uma é o cansaço e exaustão do público em relação a repetição exaustiva no noticiário de depoimentos, documentos, acusações, explicações canhestras envolvendo tanto o caso da Petrobras como o da crise hídrica. O desdobramento seria a perda de interesse.

A outra alternativa é o fim da paciência dos leitores, que passariam a exigir medidas drásticas – o que criaria o ambiente adequado para mudanças institucionais tanto na estatal petrolífera como no próprio governo. A imprensa, obviamente, nega esta intenção mas sua estratégia na produção e veiculação de notícias envolvendo a crescente associação entre a corrupção na Petrobras e a crise hídrica torna quase inevitável uma radicalização política que pode vir tanto pelas ruas como por maquinações legislativas ou judiciais.

O que nós, leitores, ouvintes, telespectadores ou internautas estamos perdendo é a noção de onde estão os fatos reais. O caso da Operação Lava Jato tende a transmitir para a população a ideia de que a Petrobras está quebrada por conta das estimativas bilionárias da corrupção interna, mas o respeitado comentarias da Folha de S.Paulo Janio de Freitas aponta, com dados, justamente o contrário (ver “Reino do ‘nonsense’”). Janio tem um histórico de integridade profissional intocável e não arriscaria seu prestígio numa informação sem fundamento.

O mesmo acontece com a crise de falta d’água, onde a avalancha de dados a favor e contra o racionamento se avolumam com um claro predomínio das percepções pessimistas. A gente só descobre que há um outro lado na questão hídrica quando vai para as redes sociais, blogs e páginas web alternativas. Nenhum lado chega a ser 100% convincente porque a crise hídrica é tão complexa quanto as investigações do escândalo de Petrobras.

A confusão informativa cresce na proporção direta da intensificação do bombardeio noticioso que funciona como uma espécie de preparação do estado de espírito do público em relação a medidas futuras mais radicais. Referências à privatização da Petrobras e ao impeachment da presidente Dilma Rousseff já circulam nas redações e lobbies político-empresariais.

Não há dúvida de que sempre existiu corrupção na Petrobras porque o superfaturamento e as propinas são instrumentos institucionais na política brasileira há décadas e sem eles a maioria esmagadora dos políticos com mandato não teria sido eleita. Também não há dúvida de que a falta de chuvas agravou o problema energético do país. São questões recorrentes que foram transformadas pelo noticiário da imprensa em crises terminais da politica energética vigente no país.

A solução para ambas teria que surgir num ambiente tranquilo de reflexão, debate e experimentação, envolvendo uma participação crescente da sociedade brasileira que, no fundo, é a principal e maior interessada. Mas o que a imprensa e os políticos estão fazendo é criar um clima de agitação, instabilidade, insegurança e imprevisibilidade para dissimular a luta pelo poder. Nós, leitores, somos as principais vítimas desse processo, porque não sabemos o que está acontecendo. Os porta-vozes do governo estão desacreditados por sua insistência numa visão rósea da realidade nacional, enquanto a oposição e os interesses corporativos adotam o discurso pessimista.

A conjuntura atual está claramente vinculada ao início da batalha eleitoral para a sucessão de Dilma. Depois que o escândalo do mensalão cortou um dos mananciais de financiamento ilegal de campanhas eleitorais do PT e aliados, a Petrobras passou a ser a grande torneira para irrigar a o projeto da volta de Lula ao poder. A Operação Lava Jato está fechando também esta fonte de recursos para o caixa 2 eleitoral, com o claro objetivo de asfixiar financeiramente o Partido dos Trabalhadores. É uma estratégia editorial vinculada a uma estratégia eleitoral, só que a imprensa procura induzir o público a achar que o objetivo é exclusivamente moralizador. Observatório da Imprensa

Por quem os sinos dobram

por Ângela Carrato

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Depois de terem participado ativamente das eleições em apoio ao candidato oposicionista Aécio Neves (PSDB), os principais jornais mineiros dão início a uma espécie de “caça às bruxas” assediando, constrangendo, ameaçando e demitindo jornalistas que não rezam pela cartilha tucana. Desta vez, as ameaças não partiram da irmã do candidato e antes todo-poderosa controladora da mídia no estado, Andrea Neves, mas das próprias empresas. Aliás, estas empresas vivem um “drama” inédito nas últimas seis administrações: continuar apoiando o governo ou partir para a oposição?

A dúvida deve ser mesmo um tormento para elas. O maior grupo de mídia no estado, Diários Associados (Estado de Minas, TV Alterosa, rádio Guarani e portal Uai) em seus mais de 70 anos, uma única vez esteve na oposição, durante o governo Newton Cardoso (1987-1991), mesmo assim porque o governador cortou uma série de regalias e apoios que a empresa recebia por debaixo do pano.

Se o jornal Estado de Minas manteve a posição de apoio total às administrações de Hélio Garcia, Itamar Franco e Eduardo Azeredo, foi a partir do tucano Aécio Neves (2003) que este apoio transformou-se em adesão incondicional. Além de possuir ações da S/A Estado de Minas herdadas do avô, Tancredo Neves, Aécio tornou-se íntimo do principal executivo do grupo, Álvaro Teixeira da Costa que, nas últimas eleições, extrapolou todas as medidas para respaldar o amigo e candidato.

Enquanto o jornal Estado de Minas denunciava o suposto “aparelhamento” promovido pelo PT, considerava “natural” que seu dirigente subisse no palanque de Aécio Neves, abrisse, nas dependências da TV Alterosa, um comitê de campanha do tucano e, como se isso não fosse suficiente, ainda “convidasse” os funcionários para participar de ato público em apoio à candidatura de Aécio, na Praça da Liberdade. Detalhe: para demonstrar apoio, esses funcionários deveriam comparecer trajando azul e amarelo, as cores tucanas.

Novos “cortes”

O convite circulou na empresa em forma de comunicação interna enviada pelo setor de recursos humanos, mas comparecer tornou-se condição sine qua non para continuar gozando da “confiança” do patrão. Pressionados pela sobrevivência, ninguém reclamou, mas o absurdo chegou ao Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (SJPMG) que, em nota, esclareceu que nenhum jornalista ou profissional é obrigado a participar deste tipo de atividade.

O editor de Cultura do Estado de Minas, João Paulo Cunha, era um dos poucos a conseguir manter, em seu trabalho, posição equidistante da militância tucana preconizada pela direção da empresa. Tanto que o suplemento “Pensar”, que circula aos sábados, junto com a edição regular do jornal, tornou-se uma espécie de “oásis”: reunia colaboradores de tendências, gostos e credos diversos, publicando artigos e promovendo discussões sintonizadas com o que de melhor acontecia no país e no mundo em matéria de cultura, arte, psicanálise, meio ambiente, comportamento e, naturalmente, política.

Na segunda-feira (15/12), João Paulo foi “convidado” a deixar o jornal. Sua permanência ficaria condicionada a não mais abordar assuntos “políticos” na coluna que assinava no suplemento. Pelo visto, a direção dos Associados não gostou do artigo dele publicado em 6 de dezembro, intitulado “Síndrome de Capitu“, no qual afirmava que o Brasil já definiu, nas urnas, quem é situação nos próximos quatro anos, mencionando que faltava ao país, agora, ter uma oposição consequente. A referência, óbvia, era às posições golpistas estimuladas e assumidas por Aécio Neves, inconformado com o resultado das urnas (ver, neste Observatório, “Campo minado para pensar“).

Jornalista e intelectual brilhante, João Paulo deixou o jornal. As demissões no Estado de Minas, pelo que se sabe, não vão parar aí. A empresa estaria esperando apenas vencer os três meses de estabilidade que constam da última convenção de trabalho dos jornalistas. Em outras palavras, a partir de janeiro novos “cortes” devem acontecer.

A maior tiragem

A situação financeira do Estado de Minas e dos Diários Associadas não é nada tranquila. Carro-chefe do condomínio até pouco tempo, o Estado de Minas tem visto sua receita minguar de forma tão acelerada quanto a perda de leitores. Para uma publicação que alardeava ser “o grande jornal dos mineiros”, de uma tiragem oficial de 75 mil exemplares diários, atualmente 60% encalham nas bancas. De acordo com a pesquisa “Democratização da Mídia”, realizada pela Fundação Perseu Abramo, do Partido dos Trabalhadores (PT), divulgada em agosto de 2013 e confirmada por pesquisa do Ibope realizada no mesmo ano, o jornal alcança 1,3% dos leitores brasileiros, concentrados na região Sudeste, mais precisamente na capital mineira e Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Mas se a questão é cortar custos, o Estado de Minas poderia reduzir a tiragem e investir em jornalismo de qualidade, disponibilizando o conteúdo em suportes diversos. Certo? A empresa não pensa assim. Tanto que prefere manter a perda diária de 60% para sustentar artificialmente os preços que cobra dos anunciantes.

De olho nos erros do concorrente, o jornal O Tempo tem avançado no que antes era considerado “propriedade” do Estado de Minas: os anúncios classificados. O encolhimento dos classificados do EM contrasta com o vigor dos pequenos anúncios no tabloide sensacionalista Super e no semanário Jornal da Pampulha, ambos da Sempre Editora, que publica O Tempo.

Criado em meados da década de 1990 pelo empresário e político Vittorio Medioli – na época, deputado federal pelo PSDB – O Tempo nunca escondeu a pretensão de desbancar os Associados. Disposição acentuada depois de Medioli ter sido alvo de campanha dos Associados contra seus negócios (entre outras atividades, é dono da poderosa Sada, que faz transportes de veículos para a Fiat, Volkswagen, General Motors, Peugeot e Citroën). O carro-chefe da Sempre Editora, no entanto, é o Super, a publicação com maior tiragem no país, tendo superado os tradicionais O Globo e Folha de S.Paulo, com mais de 270 mil exemplares diários.

Pauta dirigida

Por uma questão de marketing, os veículos da Sempre Editora depois de anos fazendo campanha contra as administrações petistas em municípios mineiros e no Estado, agora parecem dispostos a manter certa equidistância do oposicionismo. Prova disso é que, na última campanha eleitoral, essas publicações foram as únicas a mencionar, com um mínimo de equilíbrio, as atividades de todos os postulantes à presidência da República e ao governo de Minas. Para os profissionais que lá trabalham, no entanto, o maior problema é que os dirigentes da Sempre sonham em fazer jornal sem jornalista, com os “enxugamentos” sendo frequentes. Lá também, novos “cortes” devem acontecer a partir de janeiro.

Dos grupos de mídia em Minas, a Sempre é a única que possui sólida saúde financeira. Aliás, apenas 6% da receita dos negócios de Medioli provêm da editora, o que lhe garante considerável autonomia frente a governos.

Dos três principais jornais mineiros, o Hoje Em Dia é, sem duvida, o que mais oscilações têm experimentado. Criado por Newton Cardoso em 1989, para enfrentar os Associados, a publicação foi vendida para o empresário Edir Macedo, da Igreja Universal em 1991, pouco depois de deixar o governo. De lá para cá, o jornal passou por sucessivas crises, com reflexos na linha editorial e na tiragem. Crises que abalaram o interesse de Macedo pela publicação que acabou sendo vendida para o Grupo Bel, do empresário Marco Aurélio Jarjour e filhos.

Jarjour possui sete emissoras de rádio, a concessão de dois canais fechados de TV, atua no setor de diversões (boate Na Sala) e no de grandes shows, disposto a ampliar a aprofundar seus negócios em mídia. Para tanto, contava com a vitória de Aécio Neves para a presidência da República e não mediu esforços para ajudar o tucano.

Estes esforços redundaram em exemplos do que de pior pode ser feito por um jornal. Na tentativa de desmoralizar a presidente Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, o comitê tucano divulgou denúncia de que o que o irmão dela teria sido funcionário fantasma da Prefeitura de Belo Horizonte, entre 2003 e 2009. Imediatamente, o Hoje Em Dia enviou repórter à pequena cidade de Passa Tempo (oito mil habitantes), no interior de Minas, para apurar a denúncia.

Até aí, tudo certo. O papel da mídia é apurar. O problema é que o repórter verificou que Igor Rousseff, o único irmão da presidente, não foi funcionário fantasma. No período em questão, trabalhava durante a semana na capital mineira e ia aos sábados e domingos para Passa Tempo, onde fixou residência depois da aposentadoria.

Manchete desmentida

A história de Igor foi confirmada por todos na cidade. Do dono da mercearia ao motorista da linha de ônibus que faz o trajeto entre a capital mineira. Ao invés de ver a matéria publicada tal como foi apurada, o repórter foi surpreendido ao ver seu texto alterado, nele incluída e destacada a fala de um vereador tucano, o único a “confirmar” que Igor não morava lá. A desmoralização maior para o HD veio com a publicação de reportagens sobre o assunto pela Folha de S.Paulo e Estado de S.Paulo que literalmente desmentiam a publicação.

Assinada pelo repórter Diego Zanchetta e datada de 27 de outubro, a reportagem do ESP, por exemplo, apresenta Igor como ex-hippie, adepto do budismo e pessoa desprendida das coisas materiais. Avesso a qualquer tipo de badalação e residindo em uma casa simples, com um fusca verde na garagem, ele tenta, no momento iniciar uma criação de tilápia. Advogado por formação, é graduado também em Jornalismo e História e fala fluentemente inglês e francês. Igor faz questão de manter uma prudente distância da irmã e de todos que tentam se aproximar dele para chegar à presidente.

Como se este desmentido nacional não bastasse, a direção do HD ainda tentou outra cartada em prol da candidatura de Aécio. Foi o único jornal a divulgar o resultado da pesquisa de um tal Instituto Veritas, que colocava, às vésperas do segundo turno, o candidato tucano à frente de Dilma. Em manchete, o HD destacava: Aécio 57% e Dilma 43%. Menos de 24 horas depois, era desmentido pelos, insuspeitos de serem petistas, institutos Ibope e Datafolha, que concordavam que os dois candidatos estavam tecnicamente empatados: Aécio com 51% e Dilma com 49%. Empate detectado, também, pelo tracking diário de campanha dos dois candidatos. Detalhe: a manchete do HD foi explorada à exaustão pelo comitê tucano nos programas do horário eleitoral de rádio e TV, com tudo indicando que tenha sido feita com este objetivo. O próprio senador Aécio Neves se valeu delas para, nos debates, “mostrar” para Dilma que estava ganhando em Minas e no Brasil.

“Erros ortográficos” inexistentes

No segundo turno, o HD superou-se. Publicou resultado de pesquisa do Instituto Sensus, contratado pelo PSDB, dando vantagem de 17 pontos para o tucano sobre Dilma Rousseff. Em menos de 48 horas, voltou a ser desmentido pelo Datafolha e pelo Ibope. O assunto repercutiu na imprensa nacional, mas foi praticamente ignorado pela mídia mineira. Blogs como o Diário do Centro do Mundo, do jornalista Paulo Nogueira, e da Cidadania, de Eduardo Guimarães, frisaram que se tratou de “crime eleitoral, sujeito às punições legais”. Como o PT não entrou na Justiça, o assunto parecia fadado ao esquecimento, exceto pela tentativa da direção do HD de aproveitar a ocasião e demitir um de seus mais antigos funcionários, o editor e dirigente sindical, Aloísio Morais Martins, na empresa desde sua fundação, há 27 anos.

No dia 30 de outubro, Morais recebeu advertência da direção do HD por ter compartilhado, em sua página pessoal no Facebook, matéria crítica ao resultado das pesquisas dos institutos Veritas e Sensus divulgadas pelo jornal. A alegação era que a sua publicação havia “prejudicado” os negócios da empresa. Alegação no mínimo curiosa. Se havia comentários críticos ao HD na página de Morais, os comentários eram leves se comparados aos da própria página do jornal no Facebook. Em outras palavras, se o próprio jornal compartilhou a matéria, por que um cidadão, que no caso é também funcionário da empresa, não poderia fazer o mesmo? Afinal, as redes sociais são fontes e instrumentos de pesquisa e informação para jornalistas e não jornalistas.

Suspenso e sem vencimentos desde o final de outubro, o caso de Morais foi parar na Justiça do Trabalho, onde a direção do HD pediu a abertura de inquérito para a sua demissão “por justa causa”. Uma audiência estava prevista para 11 de dezembro, mas acabou adiada por solicitação do jornal. Nova data está marcada para maio. Até lá o jornalista permanecerá afastado do trabalho e sem salário. Um dos mais competentes e conhecidos jornalistas mineiros, Morais integra a diretoria na atual gestão do sindicato e na Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Some-se a isso que foi, por duas vezes, presidente do sindicato em Minas. Razão pela qual a avaliação que o atual dirigente da entidade, Kerisson Lopes, faz é de que se trata de “perseguição por parte da empresa”, que tenta encontrar uma forma de se livrar de um profissional sério e ético, que incomoda quem não tem compromisso com a liberdade de expressão.

Antes deste episódio, Morais vinha sendo alvo de permanente assédio, com a direção do HD tentando imputar-lhe advertências por “erros ortográficos” que, comprovadamente, não cometeu. Sem falar que suas funções e turno eram alterados sem quaisquer justificativas. Morais só não foi demitido até agora por gozar de imunidade sindical.

As chaves do cofre

A exemplo dos demais jornais mineiros, o HD passou recentemente por mais um novo enxugamento e outros cortes estão previstos. Nos próximos meses, o jornal deve mudar de endereço, trocando o prédio de quatro andares que ocupa no bairro Santa Efigênia, próximo ao centro, por instalações menores, na saída para o Rio de Janeiro. Na redação e direção do jornal, a dança das cadeiras continua, buscando-se privilegiar apenas os “confiáveis”.

Estado de Minas e Hoje em Dia têm até março (os clássicos 100 primeiros dias de uma administração) para decidir sobre a “linha editorial” a ser adotada. Permanecem na oposição sistemática ao PT, agora incluindo o governador Fernando Pimentel, como sempre fizeram em relação aos dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva e ao primeiro de Dilma Rousseff, ou tentam outro caminho?

Uma coisa é certa: como o ramal minimamente independente já está ocupado por O Tempo, a disputa acirrada vai acontecer entre Estado de Minas e Hoje em Dia para ver quem será o porta-voz da oposição tucana em Minas. Aécio precisará de visibilidade e os dois jornais poderiam garantir-lhe espaço, mas o problema é que os tucanos não têm mais as chaves do cofre das Alterosas e nem da presidência da República e compromisso com o jornalismo não é o forte destas empresas.

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Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG; o presente texto foi publicado no blog Estação Liberdade. E no Observatório da Imprensa

“Los medios instalaron un clima golpista”

JOÃO FERES JUNIOR, DEL LABORATORIO DE ESTUDIOS DE MEDIOS Y ESFERA PUBLICA DE LA UNIVERSIDAD FEDERAL DE RIO DE JANEIRO

 

El investigador fundamenta el diagnóstico en su seguimiento sistemático de la cadena Globo y otras empresas periodísticas durante y después de las elecciones del 26 de octubre. “La revista Veja realizó una maniobra desestabilizadora”, denunció.

indignados globo

 

Por Darío Pignotti/ Página 12

 

A partir del jueves, cuando comienza su segundo mandato presidencial, Dilma Rou-sseff “tendrá una agenda con varios problemas importantes, como el escándalo de Petrobras (del que ayer hubo nuevas revelaciones) y la posición golpista de los grandes medios”, resume João Feres Júnior.

El investigador de la Universidad Federal de Río de Janeiro fundamenta el diagnóstico en su seguimiento sistemático de la cadena Globo y otras empresas periodísticas durante y después de las elecciones del 26 de octubre en las que Dilma fue reelecta.

“El 23 de octubre, tres días antes de la votación, la revista Veja realizó una maniobra desestabilizadora, digamos directamente golpista, publicando un artículo destinado a confundir a los electores y evitar que ganara Dilma. Globo y los demás medios se acoplaron a esa noticia malintencionada. Al final esa trampa no surtió efecto, el candidato opositor, Aécio Neves, perdió por poco, pero perdió. La peculiaridad es que después del ballottage del 26 de octubre, el 27 los medios retomaron la campaña anti-Dilma buscando instalar un clima de ingobernabilidad que sigue hasta hoy”, sostiene, en diálogo con Página/12, João Feres Júnior.

Es el coordinador del “titulómetro” del Laboratorio de Estudios de Medios y Esfera Pública, a través del cual se realiza el análisis diario de una cobertura informativa “bastante envenada” contra el gobierno.

Desde el triunfo de la candidata del PT se respira un aire pesado en Brasilia, la capital política, y en San Pablo, el centro económico del país. El gobierno parece arrinconado ante la presión del capital financiero que impuso al neoliberal Joaquim Levy como ministro de Hacienda mientras el ex candidato Aécio Neves, avalado por su correligionario Fernando Henrique Cardoso, sugería un juicio político contra Rousseff por integrar una “asociación ilícita”.

En la principal avenida de San Pablo se repiten casi semanalmente las movilizaciones de ciudadanos bien vestidos y aseados pidiendo el retorno de las fuerzas armadas a lo que se suman “los titulares casi siempre exagerados sobre el escándalo por corrupción en Petrobras, que es un problema serio, pero que se instrumenta buscando que toda revelación nueva sirva para desgastar a la presidenta”, aseguró ayer a este diario el profesor Laurindo Leal Filho, de la Universidad de San Pablo.

Los diarios del sábado publicaron que Rousseff fue citada, no acusada, por un estudio de abogados norteamericano representante de inversores de la ciudad de Providence, que se dicen afectados por la depreciación de los papeles debido a las denuncias de irregularidades. Esta causa, promovida ante un tribunal de Nueva York, se agrega a otras impulsadas en esa ciudad por tenedores de títulos de la petrolera estatal, de capital abierto, que cotiza en Wall Street y San Pablo.

“Esta obsesión de la prensa contra la corrupción es algo reciente, es el discurso empleado para atacar a los gobiernos populares de Dilma y del ex presidente Lula. Antes los medios se comportaban de una forma diferente, durante el gobierno de Fernando Henrique Cardoso (cuando se demostraron los sobornos para reformar la Constitución y permitir su reelección) las denuncias de corrupción eran encajonadas”, compara Laurindo Leal Filho.

Y luego coincidió con su colega João Feres Júnior en la preocupación frente a las embestidas conservadoras en estos días previos a la toma de posesión de Dilma para un mandato que se prolongará hasta el 31 de diciembre de 2018.

En ese contexto de noticias y comentarios de alto impacto, Veja pronosticó ayer que el PT acabará disolviéndose. El análisis soslaya un dato que sólo un psicótico ignoraría: la agrupación de Dilma y Lula acaba de conquistar su cuarta presidencia consecutiva desde 2002 y una encuesta de este mes indica que a pesar del desgaste, tiene el 16 por ciento de respaldo, cuadruplicando el del Partido de la Socialdemocracia Brasileña, de Neves y Cardoso.

Los medios tradicionales son todos opositores y se comportan cada vez con mayor irresponsabilidad. La Asociación Nacional de Diarios dijo claramente que dado que los partidos opositores son débiles, esas empresas tienen que ocupar el papel de la oposición. Un papel casi golpista”, apunta Laurindo Leal Filho. “Lo que sucede hoy en Brasil no es igual al golpe de 2002 contra el presidente Hugo Chávez. La estrategia desestabilizadora contra Dilma se parece más al proceso que desembocó en los golpes institucionales que hubo en Honduras (derrocamiento de Manuel Zelaya 2009) y en Paraguay (contra Fernando Lugo en 2012). Y dado que conozco muy bien el comportamiento de la prensa brasileña me animo a decir que ese clima golpista va a continuar durante los próximos cuatro años de Dilma en el Palacio del Planalto.”

Leal Filho y José Feres Júnior participaron en el Fórum 21, donde decenas de intelectuales y académicos coincidieron en la urgencia de contener la espiral conservadora y disputar la “hegemonía” ideológica detentada por los oligopolios de la información y el entretenimiento.

“No tengo dudas de que la espina dorsal pasa por democratizar la comunicación, como ya lo hicieron los gobiernos de Argentina, Ecuador, sin olvidar que el pionero de este proceso fue Chávez”, planteó Joaquim Palhares, editor del sitio Carta Maior y coordinador del debate en el Forum 21 realizado hace 13 días. “El ex presidente Lula, el PT y las fuerzas progresistas están convencidos de que no puede postergarse la reforma de los medios”, redondeó Palhares.

Entre tanto, la semana pasada hubo una reunión de los movimientos sociales con los trabajadores urbanos sin techo a la cabeza (grupo que ha ganado protagonismo especialmente en San Pablo), además de sindicatos y partidos de izquierda, en la que se aprobó un plan de movilizaciones unitario para recuperar el terreno perdido ante el bloque conservador.

En el encuentro hubo cuestionamientos al ajuste fiscal que aplicará el nuevo titular de Hacienda, Joaquim Levy, se acordó defender los programas sociales e impulsar una asamblea constituyente por la reforma política en la que se anule el financiamiento empresarial de las campañas electorales. A pesar de los cuestionamientos a las políticas que se aplicarán a partir de enero, el tono del cónclave no fue hostil al gobierno y hubo comentarios de reconocimiento hacia Lula, impulsor de un frente para que “el gobierno de Dilma sea exitoso”, según planteó días atrás.

Para ello es necesario “reorganizar la base de alianzas que apoyan al gobierno, sumando a los sectores sociales ubicados más a la izquierda”, dijo Lula luego de conversar con el líder de la Central Unica de los Trabajadores, Vagner Freitas, y el referente de los Trabajadores Sin Techo, el joven psicólogo Guilherme Boulous.

Desde la reelección de su compañera Rousseff, Lula prefirió permanecer en San Pablo para aceitar el diálogo con las organizaciones populares y el PT. No se privó de cuestionar severamente el discurso desestabilizador de los medios (que distorsionan sus declaraciones diciendo que quiere implantar la censura a la prensa privada) y levantar la bandera de la reforma de las comunicaciones, a coro con la dirección del PT que acaba de saludar la nueva ley antimonopólica aprobada por el congreso uruguayo.

Las posiciones de Lula y el PT seguramente no caerán en saco roto: según trascendidos publicados este fin de semana, la presidenta designaría como ministro de Comunicaciones a Ricardo Berzoini, importante dirigente petista. Laurindo Leal Filho, ex auditor de la radio y televisión públicas, considera positiva la eventual nominación de Berzoini. “Es una persona que ha demostrado tener posiciones bastante claras sobre la democratización de los medios, es alguien con una larga actuación dentro del PT, que está completamente identificado con el ideario y los principios del partido.”

Cuando se le pregunta si Dilma llevará adelante cambios en el mapa de las comunicaciones, Leal Filho responde que no puede dar ninguna respuesta segura. Recuerda que al inicio de su gobierno, en 2010, Dilma quiso mantener una convivencia pacífica con Globo, le hizo concesiones, y descartó impulsar una ley para encuadrar a los grupos concentrados. “En esa época ella decía que el único control para los medios es el control remoto.”

Cuatro años después, la presidenta comprobó la ingratitud de la dinastía Marinho, dueña de Globo, responsable de la campaña desestabilizadora en curso que promete ser de largo aliento. “Ahora Dilma habla de la regulación económica de los medios. Esto fue un avance extraordinario, ella evolucionó, comprendió que eso del control remoto es una zoncera porque en Brasil el control remoto sólo sirve para ver la misma ideología repetida en varios canales con escenografías distintas”, cierra Laurindo Leal Filho.

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