Grécia: uma oportunidade para a Europa acordar

por Slavoj Žižek

europa letargia

1.
Lançado numa situação desesperada o “não” inesperadamente forte no referendo Grego foi um voto histórico. No meu trabalho uso muitas vez uma piada bem conhecida da última década da União Soviética sobre Rabinovitch, um Judeu que queria emigrar. No gabinete de emigração, um burocrata pergunta-lhe porquê e Rabinovitch responde: “Há duas razões. A primeira é porque tenho medo que os Comunistas percam o poder na União Soviética e o novo poder atire toda a culpa dos crimes comunistas sobre nós, os Judeus – havendo outra vez os pogroms anti-judeus…” “Mas”, interrompe o burocrata, “isto não faz qualquer sentido. Nada pode mudar na União Soviética, o poder dos Comunistas durará para sempre!”“Bem”, responde Rabinovitch calmamente, “Essa é a minha segunda razão”.

.
Informaram-me que uma nova versão desta piada circula agora em Atenas. Um grego visita o consulado Australiano em Atenas e pede um visto de trabalho. “Porque é que quer sair da Grécia”, pergunta o responsável. “Por duas razões”, responde o Grego. “Primeiro, estou preocupado que a Grécia deixe a União Europeia, o que levaria a mais pobreza e caos no país….”. “Mas”, interrompe o responsável, “isso não faz qualquer sentido: a Grécia continuará na União Europeia e submeter-se-á a disciplina financeira” “Bem, responde calmamente o Grego, “essa é a minha segunda razão”.

.
São, então, ambas as escolhas piores, parafraseando Estaline?

.
Chegou o momento de ir para além dos debates irrelevantes sobre os possíveis erros do governo grego. As apostas estão agora demasiado altas. Que uma solução de compromisso pareça sempre falhar no último momento nas negociações entre a Grécia e os administradores da União Europeia é em si mesmo profundamente sintomático, já que não se tratam definitivamente de questões financeiras – a esse nível, a diferença é mínima. A UE acusa geralmente a Grécia de falar em termos genéricos, fazendo promessas vagas sem pormenores específicos, enquanto os Gregos acusam a UE de tentar controlar o mais ínfimo dos detalhes e impor à Grécia condições que são mais duras que aquelas impostas ao governo anterior. Mas o que está por detrás dessas acusações é um outro conflito, bem mais profundo. O primeiro-ministro Grego, Aléxis Tsípras, assinalou recentemente que se tivesse a oportunidade de se encontrar com Angela Merkel para jantar, estes chegariam a uma solução em duas horas. O que Tsípras pretende dizer é que ele e Merkel, enquanto políticos, tratariam a divergência como questão política, ao contrário dos outros administradores tecnocráticos como o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem. Se há um emblemático tipo mau nesta história toda é Dijsselbloem cujo lema é :“Se eu entrar no lado ideológico das coisas. Não conseguirei nada”.

.
Isto leva-nos ao ponto crucial: Tsípras e Yanis Varoufakis (o ex-ministro das finanças que se demitiu a 6 de Julho) falam como se fizessem parte de um processo político aberto onde as decisões são sempre ideológicas (baseadas em preferências normativas), enquanto os tecnocratas da UE falam como se fosse tudo uma questão de pequenas medidas regulatórias. Quando os gregos levantaram questões políticas importantes e rejeitaram essa estratégia, foram acusados de mentir e de evitarem soluções concretas. Mas a verdade aqui está do lado Grego: a negação do “lado ideológico” defendido por Dijsselbloem é a ideologia no seu estado mais puro. Medidas regulatórias aparecem mascaradas (apresentam-se falsamente) como sendo puramente técnicas, quando na verdade são baseadas em decisões politico-ideológicas.

__________
Mas a verdade aqui está do lado Grego: a negação do “lado ideológico” defendido por Dijsselbloem é a ideologia no seu estado mais puro. Medidas regulatórias aparecem mascaradas (apresentam-se falsamente) como sendo puramente técnicas, quando na verdade são baseadas em decisões politico-ideológicas.
__________

Um exemplo dessa assimetria é o “diálogo” de Tsípras e Varoufakis com os seus parceiros Europeus, que aparece constantemente como um diálogo entre um jovem estudante que quer um debate sério sobre questões básicas e um professor arrogante que, nas suas respostas, humilhantemente ignora a questão central e bombardeia o aluno com reparos técnicos (“Não formulaste isso de forma correcta! Não levaste em conta essa regra”). Ou mesmo o diálogo entre uma vítima de violação que tenta desesperadamente relatar o que lhe aconteceu e um polícia que continuamente a interrompe para pedir pormenores burocráticos. Esta passagem da política propriamente dita para a administração especializada neutra caracteriza todo o nosso processo político actual: decisões estratégicas baseadas no poder são cada vez mais mascaradas como regulações administrativas baseadas num conhecimento especializado neutro, e são cada vez mais negociadas em segredo e impostas sem qualquer consulta democrática. A luta que está em causa é a luta pela leitkultur (cultura dominante) política e económica europeia. Os poderes da UE defendem o status quo tecnocrático que tem deixado a Europa em inércia absoluta durante décadas. Nas suas Notas para a Definição da Cultura, o grande conservador T.S. Eliot assinalava que há momentos onde a única escolha é aquela entre a heresia e a descrença, isto é, quando a única maneira de manter uma religião viva implica realizar uma fractura sectária no corpo principal. Esta é a nossa posição hoje relativamente à Europa: apenas uma nova “heresia” (representada neste momento pelo Syriza) pode salvar o que vale a pena salvar do legado Europeu: a democracia, a confiança, a solidariedade igualitária. A Europa que irá ganhar se o Syriza for derrubado é a “Europa de valores Asiáticos” (que, claro, não tem nada a ver com a Asia, mas com a actual e clara tendência do capitalismo contemporâneo de suspender a democracia)

.
2.

.
Na Europa Ocidental gostamos de ver a Grécia como se fôssemos observadores distanciados que seguem com compaixão e simpatia o alívio da uma nação empobrecida. Essa perspectiva decididamente confortável assenta numa ilusão fatídica – o que tem vindo a acontecer na Grécia nas últimas semanas diz respeito a todos nós: é o futuro da Europa que está em jogo. Assim, quando lemos alguma coisa acerca da Grécia deveríamos sempre ter em conta, como diz o velho ditado, de te fabula narrator (o nome mudou, é de ti que trata esta história).

.
Um ideal tem vindo a emergir gradualmente da reacção do establishment europeu ao referendo grego, uma ideia bem patente no título de um artigo recente de Gideon Rachman no Financial Times: “Eurozone’s weakest link is the voters.” [“O elo mais fraco da Zona Euro são os eleitores”].

.
Neste mundo ideal, a Europa livra-se deste “elo mais fraco” e os especialistas ganham o poder de impor directamente medidas económicas necessárias – se as eleições acontecem ainda, a sua função é apenas a de confirmar o consenso de especialistas. O problema é que esta politica de especialistas é baseada numa ficção, a ficção do “estende e finge” (estender o período de pagamento, mas fingindo que todas as dívidas serão eventualmente pagas).

.
Porque é que esta ficção é tão obstinada e teimosa? Não é apenas pelo facto de ela tornar a extensão da dívida mais aceitável para os eleitores alemães; nem é apenas pelo facto da reestruturação da dívida grega poder acender o rastilho de exigências semelhantes por parte de Portugal, Irlanda ou Espanha. Mas porque aqueles que estão no poder não querem ver a dívida totalmente paga. Os credores e zeladores da dívida acusam os países endividados de não se sentirem suficientemente culpados – são mesmo acusados de se sentirem inocentes. Esta pressão cabe perfeitamente dentro daquilo que os psicanalistas chamam o superego: como viu Freud, o paradoxo do superego é que quanto mais obedecemos, mais nos sentimos culpados.

.
Imagine-se um professor perverso que dá aos seus alunos tarefas impossíveis, regozijando-se sadisticamente enquanto os observa em ansiedade e pânico. O verdadeiro objectivo de emprestar dinheiro não é ver a dívida paga com juros, mas o seu prolongamento indefinido que mantém o devedor em permanente estado de dependência e subordinação. Para a maior parte dos devedores, claro, pois há devedores e devedores. Tanto a Grécia como os EUA não serão capazes teoricamente de pagar a sua dívida, como agora se reconhece publicamente. Assim há devedores que podem chantagear os seus credores porque não podem falir (os grandes bancos), devedores que podem controlar as condições do pagamento da sua dívida (Governo Americano), e, finalmente, devedores que podem ser humilhados (Grécia).

.
Os credores acusam o governo do Syriza de não se sentir suficientemente culpado – eles são acusados de se sentirem inocentes. É isso que é tão perturbador para o establishment da UE: o governo do Syriza admite a dívida, mas sem culpa. Livram-se da pressão do superego. Varoufakis personifica esta posição nas suas negociações com Bruxelas: ele reconhece plenamente o peso da dívida, mas tendo em conta que a política da UE obviamente não funcionou, defende de forma bastante racional que uma outra opção deve ser encontrada.

.
Paradoxalmente, o argumento que Varoufakis e Tsípras repetem constantemente é que o governo do Syriza é a única hipótese que os credores têm de recuperarem pelo menos parte do seu dinheiro. O próprio Varoufakis pergunta como é que os bancos emprestaram dinheiro à Grécia e colaboraram com um Estado clientelar sabendo muito bem como as coisas estavam – a Grécia nunca se teria endividado a este nível sem a conivência do establishment ocidental. O governo do Syriza sabe bem que a ameaça principal não vem de Bruxelas – mas está na própria Grécia, um Estado corrupto e clientelista se é que alguma vez houve algum Estado. Aquilo que deve ser apontado à burocracia da UE é o facto de criticar a Grécia pela sua corrupção e ineficiência ao mesmo tempo que suportou a força politica (a Nova Democracia) que incorporou essa corrupção e ineficiência.

.
O governo do Syriza pretende precisamente quebrar este impasse – veja-se a declaração programática de Varoufakis que apresenta o objectivo final estratégico do governo do Syriza:

.
“Uma saída Grega ou Portuguesa ou Italiana da zona euro levaria rapidamente a uma fragmentação do capitalismo europeu, produzindo uma região recessiva a leste do Reno e a norte dos Alpes, enquanto o resto da Europa seria palco de uma Estagflação. Quem seria o grande beneficiado com este processo? Uma esquerda progressiva, que se ergueria como uma fénix renascida das cinzas das instituições públicas da Europa? Ou os nazis da Aurora Dourada, neofascistas, xenófobos e vigaristas? Não tenho nenhuma dúvida quem fará mais pela desintegração da zona euro. Eu, pelo contrário, não estou preparado para alimentar essa versão pós-moderna dos anos 30. Se isto significa que somos nós, os erráticos Marxistas, que devem tentar salvar o capitalismo europeu de si próprio, assim seja. Não por amor ao Capitalismo Europeu, pela zona euro, por Bruxelas, ou pelo Banco Central Europeu, mas precisamente porque queremos minimizar o custo humano desnecessário desta crise.”

.
A política financeira do governo do Syriza seguiu de perto estas indicações: défice zero, disciplina apertada, dinheiro obtido através de impostos. Alguns jornais na Alemanha caracterizaram Varoufakis como um psicótico que vive no seu próprio universo, diferente do nosso – mas será ele assim tão radical?

.
Aquilo que se revela tão irritante em Varoufakis não é o seu radicalismo mas a sua humildade pragmática racional – se olharmos de perto as propostas do Syriza, não podemos deixar de reparar que foram em tempos parte do modelo de uma qualquer agenda social-democrata (na Suécia nos anos 60, o programa de governo era bem mais radical). É um triste sinal dos nossos tempos que hoje em dia seja necessário pertencer à esquerda radical para defender essas mesmas medidas – um sinal dos tempos escuros, mas também uma oportunidade para a esquerda ocupar o espaço, que durante décadas, foi do centro-esquerda.

.
Mas a repetição infatigável da ideia que os políticos humildes do Syriza são afinal de contas velhos simpáticos sociais-democratas, talvez esteja longe da verdade – como se, à custa de repetir tantas vezes, os eurocratas finalmente compreendessem que não somos assim tão perigosos, ajudando-nos decididamente. O Syriza é efectivamente perigoso, coloca de facto uma ameaça à orientação actual da UE – o capitalismo global actual não pode dar-se ao luxo de voltar ao velho Estado social.

.
__________
O Syriza é efectivamente perigoso, coloca de facto uma ameaça à orientação actual da UE – o capitalismo global actual não pode dar-se ao luxo de voltar ao velho Estado social.
__________

.

Existe, então, qualquer coisa de hipócrita nas garantias de humildade dos propósitos do Syriza: este quer efectivamente algo que não é possível dentro das coordenadas do actual sistema global. Uma escolha estratégica séria terá de ser feita: e se chegou o momento de deixar cair a máscara da humildade e defender abertamente uma mudança muito mais radical, necessária nem que seja para assegurar uma conquista modesta?

.
Muitos críticos do referendo grego invocaram que este não passava de uma estratégia demagógica, afirmando ironicamente que nem sequer era claro o seu propósito. O referendo não era sobre o euro ou o dracma, sobre a Grécia na UE ou fora dela: o governo grego repetiu enfaticamente o seu desejo de permanecer na UE e na zona Euro. De novo, os críticos transformaram a questão política chave colocada pelo referendo numa mera decisão administrativa sobre medidas económicas específicas

.
3.

.
Numa entrevista de 2 de Julho, Varoufakis deixou bem claro o que estava em jogo no referendo. A escolha era entre a continuação da política que a UE seguiu nos últimos anos e que deixou a Grécia à beira da ruína – a ficção do “estende e finge” – e um novo começo realista fora dessas ficções, que forneceria um plano concreto capaz de iniciar a recuperação da economia grega.
Sem esse plano, a crise irá continuar a reproduzir-se outra vez e outra vez. No mesmo dia, o próprio FMI assumiu que a Grécia precisa de uma reestruturação da dívida capaz de criar um “espaço de respiração” e de por a economia a mexer (propõe uma moratória de 20 anos sobre a dívida).

.
O Não no referendo da Grécia foi assim muito mais que uma simples escolha entre duas estratégias diferentes à crise económica. O povo grego resistiu heroicamente à vergonhosa campanha de medo que mobilizou os instintos mais baixos de auto-preservação. Foram capazes de ver através da manipulação brutal dos seus adversários que falsamente apresentaram o referendo como uma escolha entre o euro e o dracma, entre a Grécia na Europa e o “Grexit”.

.
Este Não foi um Não aos eurocratas que provam diariamente que são incapazes de arrastar a Europa para fora da sua inércia. Foi um Não à continuação do “business as usual”; um grito desesperado que nos diz que as coisas não podem continuar como estão. Foi uma decisão para uma autêntica visão politica contra essa estranha combinação de tecnocracia fria e clichés racistas quentes acerca dos preguiçosos e esbanjadores gregos. Foi uma vitória rara de princípios contra o egoísmo e oportunismo autodestrutivo. O Não que ganhou foi um Sim à plena consciência da crise da Europa; um Sim à necessidade de iniciar um novo começo.

.
Cabe agora à UE agir. Conseguirá ser capaz de acordar da sua inércia auto-satisfatória e compreender o sinal de esperança dado pelo povo grego? Ou soltará a sua ira sobre a Grécia de forma a conseguir continuar o seu sonho dogmático?

.
___
Nota de edição
Artigo publicado originalmente no NewStatesman a 6 de Julho de 2015: “Slavoj Žižek on Greece: This is a chance for Europe to awaken”. Tradução realizada por Punkto. Imagem: Atenas, Agosto de 2013, Pedro Levi Bismarck.
___

.
Slavoj Žižek
Nasceu na cidade de Liubliana, Eslovénia, em 1949. É filósofo, psicanalista e um dos principais teóricos contemporâneos. Transita por diversas áreas do conhecimento e, sob influência principalmente de Karl Marx e Jacques Lacan, efectua uma inovadora crítica cultural e política da pós-modernidade. Professor da European Graduate School e do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana, Žižek preside a Society for Theoretical Psychoanalysis, de Liubliana, e é um dos directores do centro de humanidades da University of London.

Data de publicação: 7 de Julho 2015

Las perspectivas de un Frente contra el Euro

Entrevista al economista francés Jacques Sapir para De Groene Amsterdammer

Arcadio Esquivel

Arcadio Esquivel

La salida del euro, si es ordenada o caótica , implica medidas que son naturalmente de izquierda. Estamos frente a una situación que, como en la Resistencia y la Liberación, exigirá que los franceses se unan, pero en torno a un programa claro.
En un artículo publicado en el sitio web de Le Monde Diplomatique, el economista francés Frédéric Lordon exige una estrategia de “liquidación y reconstrucción” de la izquierda europea con respecto a la cuestión de el euro?

En el proceso que la izquierda europea debe vivir estoy totalmente de acuerdo con Frédéric Lordon. La izquierda europea no emerge intacto de la crisis griega. Está claro que vamos a caminar a través de un triple proceso.

Este proceso incluirá una “liquidación” porque una fracción de la “izquierda” abandonará sus principios y objetivos y será, como en Francia ,una derecha moderada.

Habrá también un proceso de “reconstrucción” con el surgimiento de nuevas fuerzas de izquierda, que no serán necesariamente del área política de la hoy llamada “izquierda” . Podría venir desde el espacio que hoy ocupa el populismo.

Por último, vamos a experimentar un proceso evolutivo para la “izquierda radical”. Ya está ocurriendo en Francia con el Partido de Izquierda, que ha radicalizado su posición sobre el euro [1] , en Alemania, por las posiciones adoptadas en Die Linke [2] y también en Italia y España.

Esta recomposición de la izquierda será tan importante como la que hemos conocido en Francia entre 1939 y 1945, cuando los actuales “cristianos” comenzaron a inclinarse hacia la izquierda, o el proceso que tuvo lugar en los gaullistas históricos (1958- 1969) con el fin de la SFIO y el nacimiento del Partido Socialista actual. Esta reorganización, sin embargo, es un proceso relativamente largo. No se debe esperar que crezcan, en cuestión de meses nuevos partidos o asociaciones.

¿Está de acuerdo con el proceso de “salida ordenada ” propuesto por Lordon, o usted prefiere un Lexit radical?

En este caso el análisis de Frédéric Lordon, que opone una “salida ordenada ” a una salida de “izquierda” (o “Lexit”) no coincide con la realidad. O, más precisamente, no plantea la cuestión que realmente va a ser la característica de la época. De hecho, un proceso desordenado, caótico, o una Salida del Euro como un proceso más ordenado, llevaría igualmente a la disolución de la zona euro.

A continuación, es claro que, cualquiera que sea la solución que prevalezca, requerirá de una unidad grande, combinando ambas corrientes de izquierda.

La construcción de los movimientos para la salida del Euro se puede complementar, especialmente en Francia con programas de empleo y de crecimiento. Usted debe saber que el europeísmo de “izquierda” y el derechista se opondrá con una feroz resistencia, y jugarán – probablemente – la peor política.

No se puede excluir, de alguien como Hollande o como Alain Juppé, ponga en practica la política de “tierra arrasada” con una campaña del miedo que atemorice con el fantasma que la salida del euro podría causar un desastre. Por lo tanto será muy importante lograr la mayor unidad posible a fin de desarmarlos.

Por eso, creo que la salida del euro, si es ordenada o caótica , implica medidas que son naturalmente de izquierda. Estamos frente a una situación que, como en la Resistencia y la Liberación, exigirá que los franceses se unan, pero en torno a un programa claro. La unidad nacional por la unidad nacional no tiene sentido. Por tanto, hay que darle contenido. Este programa. cualquiera que sea el gobierno que lo implemente, será un programa de izquierda.

Necesitamos que la Salida del Euro permita a los países del sur de Europa recuperar un crecimiento fuerte y el pleno empleo, esto es un programa económico que debe considerarse de izquierda.

¿ Porqué razones los europeos tomaron una posición tan fuertemente europeísta sobre la cuestión del monetarismo?

En la Unión Europea, una parte muy importante de la “izquierda” accedió a un compromiso que le llevó a aceptar lo que se llama un “monetarismo Europeo” y que yo lo describiría como la política monetaria que en realidad es una financiarización de nuestras economías y que favorece a una pequeña minoría a expensas de la mayoría.

Este política se refiere en primer lugar a la historia de amor entre una parte de la “izquierda” europea y Europa. Tiene sus raíces en la Guerra Fría. Estaba en el “proyecto” social demócrata que nació para oponerse al proyecto soviético. Esta es la razón por que la socialdemocracia fue, con la Democracia Cristiana, uno de los padres de la Comunidad Económica Europea y la Unión Europea. Además, esa idea de Europa fue estimulada y resguardada estratégicamente por el paraguas estadounidense, la OTAN

Esta idea de Europa impidió una verdadera reflexión sobre la naturaleza de la Nación, los imperativos de la defensa, y una verdadera estrategia de inserción internacional que sea compatible con el progreso social . La idea de Europa era de hecho un sustituto de estas reflexiones. Sirvió como una hoja de parra que la faltó una reflexión programática.

Sin embargo, otros factores juegan un papel importante. En la socialdemocracia también se pensó en un proyecto de tipo “federal”, como una estrategia para oponerse a las “fuerzas de la reacción”, que en la década de los 80 fueron identificados con el Reino Unido y el thatcherismo.

La socialdemocracia estaba convencida, sobre todo en Francia y en Italia, de la imposibilidad de “otra política económica” en el contexto nacional. Por lo tanto, invirtió sus esperanzas en una política de toda Europa. A esta política se sumaron los partidos comunistas , que sobreviven en sus actuales versiones “eurocomunistas”, después de la disolución de la Unión Soviética. Para estas corrientes también, la idea de Europa ha funcionado como un sustituto de una utopía cuya forma particular de realización se había derrumbado [3] .

En este contexto, el proyecto de la “moneda única” apareció como una palanca que aceleraría la realización de este federalismo europeo

Es interesante observar que esta “izquierda” nunca se planteo la cuestión de las implicaciones económicas, y sobre todo financieras, de este “federalismo europeo”. Así es, como que se mantuvo durante casi veinte años un discurso sobre la necesidad de “más Europa”, de “Europa mejor”, Y repito, nunca se produjo una verdadera reflexión sobre la manera de avanzar en esta dirección y enfrentar seriamente las contradicciones reales entre los distintos países de la Unión Europea.

El hecho que la moneda única no haya producido la convergencia, sino al revés la divergencia entre los estados de la zona euro no ha sido aceptada o incluso no ha sido reconocida.

Esto es porque el proyecto de la moneda única era esencialmente político generando una creencia casi religiosa en los “beneficios” de la eurozona. Y, como cualquier creencia religiosa, produjo sus fundamentalistas y fanáticos.

Una gran parte de la socialdemocracia europea, y sus aliados electorales, han vivido este fundamentalismo y fanatismo, que ahora les hace aceptar lo inaceptable. Cuando nos resistimos a este dogma religioso, estamos sujetos a juicio por brujería, acusados de ser de derechas y otras cosas.

Un estudio alemán estima que alrededor del 53% de los votantes del partido Die Linke alemán están a favor de la estrategia desplegada por Merkel durante las negociaciones. ¿ Que piensa?

Esto no es realmente sorprendente. En primer lugar, hay que decir que los beneficios de la zona euro, en gran parte van a Alemania. (Sin el euro, si Alemania hubiera conservado la DM, esta moneda evaluada frente al euro, del 20% al 25%) Los alemanes se sienten bien. Ellos entienden intuitivamente que parte de su riqueza proviene de la Euro. También entienden que cualquier estrategia distinta de la seguida por Merkel implicaría una tasa sobre esa riqueza.

Esto es, lo que en teoría, es la propuesta de federalismo europeo que impondría gobierno francés. Este federalismo, necesario para el buen funcionamiento de la zona euro, implica transferencias entre países ricos y pobres de la zona. Esto es lo que sucede en todos los Estados-Naciones , ya sea en Alemania, Francia o Estados Unidos.

Esta es una de las condiciones necesarias para la existencia de una moneda única. Pero esto implicaría que el federalismo se toma de la riqueza de Alemania del 8% al 12% del PIB alemán de cada año, y esto durante un período de al menos diez años.

La estrategia de Merkel es perfectamente lógica. Así Alemania disfruta de la Eurocopa y no pagan el precio.

Por otra parte, el Partido de Izquierda nunca quiso – hasta ahora – abordar frontalmente el problema del euro, al contrario de lo que hizo su fundador Oskar Lafontaine. No hubo aprendizaje en este partido acerca de la cuestión del euro, y de la asimetría fundamental que produce sus efectos entre los países de la zona euro.

En un texto publicado en el blog de ​​la griega ex ministro Yanis Varoufakis, el eurodiputado italiano Stefano Fassina manifiesta la necesidad de “una alianza de frentes de liberación europeos”, constituyendo una coalición soberanista con los movimientos sociales y la izquierda . ¿Cree usted que esta estrategia es necesaria, y más importante, es factible a nivel pan-europeo contemporáneo?

Ese artículo fue escrito por Stefano Fassina, miembro del Parlamento italiano, perteneciente al partido de centro-izquierda . Fue ex viceministro de Finanzas Públicas de Enrico Letta, el premier que precedió a Matteo Renzi, después fue el líder nacional de su partido en el área de economía y el empleo [4] . También fue columnista de L`Unita, el antiguo periódico PCI. Así que podemos decir que no es una figura marginal de la política italiana. Tenemos que tomar su llamamiento en serio. Lo que dijo Fassina en esencia es; “Tenemos que reconocer que el euro ha sido un error político. Debemos admitir que en la jaula neoliberal del euro, la izquierda pierde su función histórica y muere como una fuerza para de la dignidad , el trabajo y como instrumento de una democracia genuina ” [5] . Por último, concluye: “Para gestionar la desintegración de la moneda única, tenemos que construir una amplia alianza de frentes de liberación nacional” [6]

Desde el momento que se tiene como prioridad el desmantelamiento de la zona euro, una estrategia más amplia, incluyendo a algunas fuerzas de derecha, aparece no sólo lógico sino necesario. Querer ocultar esto llevara a un callejón sin salida. La verdadera pregunta, por tanto es: ¿que hacer para que el desmantelamiento del euro sea una prioridad?

Las razones dadas por Fassina en su artículo son muy claras y convincentes. El euro se ha convertido en un obstáculo no solo para la democracia (lo hemos visto en Grecia), sino también para una política a favor del trabajo y contra la financiarización. Pero, esto no agota el tema. El euro ha acentuado y generalizado el proceso de financiarización [7] . Esto se debe que los bancos europeos son de un alto riesgo en los Estados Unidos, con las consecuencias que conocemos desde el año 2008. Por lo tanto, no sólo la zona euro ha llevado a una parte de Europa a un muy débil crecimiento [8] , sino que no nos ha protegido de la crisis financiera de 2007-2009.

El resultado es claro, las políticas adversas para el ahorro implican políticas perjudiciales para la gente. De hecho, no hay otra política económica posible cuando uno está en el euro. Es una de las lecciones de la crisis griega. Esto significa que , el desmantelamiento de la zona euro aparece como una tarea prioritaria.

Sin embargo, debemos ser consciente que el establecimiento de “Frentes de Liberación Nacional” plantea problemas formidables. Si se constituyen en torno al objetivo de desmantelar el euro, deberían también incluir un programa real de “salvación pública” . Los gobiernos de estos “frentes” deben trabajar no sólo para desmantelar el euro, sino también para organizar la economía en lo que se llama el “día después”.

De hecho, no se puede considerar el objetivo de desmantelar el euro, o salir del Euro, sin poner a la orden del día de un programa para el “día después” .

Este programa no solo implica un esfuerzo especial en el campo de la inversión, sino también una nueva forma en el manejo del dinero. También implica nuevas reglas para la acción del Estado en la economía, un nuevo diseño de la Unión Europea y, en el caso de Francia, en particular, una reforma general del sistema tributario.

Con el desmantelamiento del euro se requerirá una reorganización de la economía. Tal cambio es inevitable, y tenemos un gran precedente histórico, el programa CNR durante la segunda guerra mundial. La resistencia no surgió solamente con el objetivo de expulsar al ejército alemán. Era consciente de que iba a reconstruir el país.

La idea de Frentes de Liberación Nacional es sin duda una idea muy poderosa, ya sea en Francia o en Italia, donde esta idea tiene precedentes históricos de gran poder simbólico, sino también tiene gran potencia en España, Grecia y Portugal .

Sin embargo, tenemos entender esta idea como una meta. Las formas, tanto políticos como de organización, de estos frentes pueden ser muy diferentes de un país a otro, debido a los diferentes contextos políticos.

Notas

[1] http://www.marianne.net/alexis-corbiere-au-pg-notre-plan-b-envisage-sortie-euro-100235722.html

[2] Véase el artículo de Nicole Gohlke y Janine Wissler, dos miembros del Bundestag Partido de Izquierda propiedad y publicados en la revista jacobino,https://www.jacobinmag.com/2015/07/germany-greece-austerity- Grexit /

[3] J. Sapir, La economía movilizado. Ensayo sobre las economías de tipo soviético, La Découverte, París, enero de 1990; Fluctuaciones mismos, Económicas en la URSS – 1941-1985, Editions de l’Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, París, noviembre de 1989.

[4] Véase, Stefano Fassina, prima di tutto Il lavoro. La economia, la sinistra, i diritti, Donzelli, Roma, 2014

[5] S. Fassina, “Por una alianza de liberationfronts nacionales”, artículo publicado en el blog de ​​Yanis Varoufakis por Stefano Fassina, Miembro del Parlamento (PD), 27 de julio 2015,http://yanisvaroufakis.eu/2015/07/27/for-an-alliance-of-national-liberation-fronts-by-stefano-fassina-mp/

“Tenemos que entrar admitió que el neo-liberal en la jaula del euro, la izquierda pierde ictos función histórica y ha muerto como un compromiso fuerza comprometida con la relevancia política y la dignidad del trabajo y la ciudadanía social como a un vehículo de la democracia efectiva.”

[6] Idem, “Para una des-integración gestionado de la moneda única, tenemos que construir una amplia alianza de frentes de liberación nacional”.

[7] J. Sapir, debe salir del Euro ?, París, Le Seuil, 2012.

[8] Bibow,? Londres J., “los desequilibrios mundiales, Bretton Woods II, y el papel de la zona euro en todo esto.” Bibow en J. y A. Terzi (ediciones.), la zona euro y la economía mundial, Drag oro Global Global Player Palgrave, 2007.

Golpe de Estado en Grecia

Josetxo Ezcurra

Josetxo Ezcurra

por Clara Serrano García

En Grecia ganó las últimas elecciones Syriza con un programa que pretendía sacar a la economía griega de la crisis en la que estaba sumida con una receta distinta a la de la austeridad, que es la que se ha venido aplicando en todos los países de la UE. La austeridad -en forma de privatizaciones, recortes salariales, y desregularización del mercado de trabajo- se ha mostrado como una vía completamente ineficaz para resolver los problemas que amenazan a la población europea (el creciente paro, la desigualdad social, la deuda), problemas que están teniendo consecuencias catastróficas inmediatas sobre la vida de las personas. Los gobiernos anteriores al de Syriza aplicaron disciplinadamente las recetas dictadas por la Troika, (BCE, FMI y CE), una alianza de organismos que se encuentra fuera del control democrático, y que vela por los intereses de los llamados mercados -los poderes económicos y financieros. La Troika pone una serie de condiciones a los gobiernos a cambio de recibir los rescates financieros que impiden que la banca pierda liquidez y evitando que la economía del país llegue a una situación de bancarrota. Así ha sucedido en Grecia durante los últimos años. Pero, hay que tener muy en cuenta que no se trata de rescates que favorezcan a la población, por mucho que nuestros dirigentes políticos estén intentando vender la idea de que los países de la UE hemos sido muy solidarios con Grecia, un país, al parecer, lleno de vagos y de funcionarios multimillonarios, que han estado viviendo a costa de los trabajadores europeos. Lo que se ha rescatado en Grecia ha sido a las entidades financieras, y en realidad, a los bancos alemanes y franceses, principales tenedores de deuda pública griega. Así lo ha reconocido en una carta Olivier Blanchard, principal economista del FMI, quien dice expresamente que la mayor parte de los rescates ha ido a parar a bancos con sede en Francia y Alemania. La increíblemente grande deuda griega tiene su origen no en el gasto público, sino en la transformación en deuda pública de la deuda privada generada por la banca. El problema de la deuda es una especie de espiral infinita, pues para impedir la quiebra de la economía se acude a nuevos rescates financieros, cuyos intereses se suman a la deuda ya existente, deuda que tiene que pagar el Estado, es decir, la gente. Sin duda, la deuda funciona como un eficaz instrumento de chantaje político: tu economía se está hundiendo y estás en peligro de dejar de ser solvente. Te puedo prestar dinero para salvar tu sistema financiero, pero a cambio tienes que hacer lo que yo te ordene, con independencia de lo que quieran tus electores. Así funciona en este momento la UE.

¿Cómo salir de la espiral? Syriza ganó las elecciones con un programa en el que se comprometía a emprender un camino distinto. Para solucionar los problemas de la economía griega Syriza planteaba la necesidad de llevar a cabo una serie de reformas en la economía que favorecieran los intereses del pueblo griego, obedeciendo así el mandato principal de todo gobierno democrático. Para ello es imprescindible buscar una solución al problema de la deuda pública, que actualmente representa el 180 % del PIB. La solución pasa por una reestructuración de la deuda, que puede llevarse a cabo de distintas maneras: en forma de quita, a través de moratorias o a través de una rebaja de los tipos de interés. Que la solución pasa por la reestructuración lo han dicho muchos economistas, e incluso el FMI ha hablado de la necesidad de una quita. Lo que el gobierno de Syriza ha planteado desde el principio es, pues, algo de sentido común, como han declarado muchos economistas, algunos de ellos premios nobel en economía, y no la ocurrencia de unos fanáticos, como quieren hacer pensar a la opinión pública las elites europeas, empresa a la que están contribuyendo eficazmente los medios de comunicación, y algunos intelectuales, como por ejemplo en nuestro país Fernando Savater que ha escrito hace unos días un repugnante artículo en El Pais en el que acusa a Syriza de haber apelado a la “bestia sarnosa del nacionalismo” por haber convocado un referendum democrático. La única salida posible pasa por una reestructuración de la deuda griega, porque el pago de la deuda y de los intereses mantienen a la economía griega completamente ahogada. Para poder llevar a cabo reformas en la economía e incentivar el crecimiento económico, el Estado tiene que poder invertir en gasto público, pero si todos sus ingresos se dedican al pago de los intereses de la deuda difícilmente va a poder hacerlo. La solución económica existe. Porque ante lo que estamos no es ante un problema técnico o económico, sino ante un problema de orden político, en el que se está jugando, nada menos que la posibilidad de la democracia. Y es un problema que no sólo afecta a Grecia, sino que afecta a toda la UE.

El Eurogrupo, que en un momento de las negociaciones llegó a expulsar al anterior ministro de finanzas griego Yannis Varoufakis de una reunión, comportándose como un verdadero cártel mafioso, ha estado jugando con la amenaza de la expulsión de la zona euro a Grecia si su gobierno no capitulaba y cumplía obediente las condiciones impuestas por Alemania, condiciones que de ser aceptadas suponen renunciar a las medidas con las que ganó las elecciones. Ante el chantaje el gobierno griego convocó un referendum -algo insólito en la UE, donde los gobiernos nos tienen acostumbrados a una disciplina militar frente a los mandatos de la Troika- para preguntar a su pueblo sobre el acuerdo que en aquel momento estaba sobre la mesa. El No ganó de manera rotunda, a pesar de que desde el anuncio del referendum se emprendió la guerra mediática más salvaje que se pueda imaginar a favor del Sí. De nuevo hemos visto a los medios de comunicación, a los políticos y a los intelectuales menospreciar, insultar y acusar de falta de responsabilidad al primer ministro griego Alexis Tsipras. Por poner tan sólo un ejemplo, la que fuera ministra de sanidad del último gobierno del PSOE, Trinidad Jiménez, en el programa de Ana Pastor en el que se analizaban los resultados del referendum griego, se permitió decir públicamente, en la televisión, que lo que había que exigir a Tsipras para que se llegara a un acuerdo era sentido de la responsabilidad, y enterarse de cómo funciona la maquinaria europea.

¿Y cómo funciona la maquinaria europea? ¿A base de golpes de estado encubiertos, como lo fue la reforma del artículo 135 de la Constitución española que acordaron el PP y el PSOE, y que obliga al Estado a priorizar el pago de los intereses de la deuda frente al gasto social? Trinidad Jiménez insinuaba que la celebración del referendum no iba a resolver el problema de Grecia, y que más bien iba a servir para tensar aun más la situación. Desde luego ella sí sabe como funciona la maquinaria europea: como una mafia. Pero entonces en lugar de exigir responsabilidad a Tsipras lo que debería hacer es denunciar con todas sus fuerzas que en la UE nos gobierna una banda de mafiosos, y que no es posible, por mucho que se ganen unas elecciones o un referendum, desobedecer a los mercados. Hace poco en una entrevista Varoufakis contaba que cuando se le ocurrió preguntar por el funcionamiento del Eurogrupo, por la vigencia de la norma de la unanimidad en la toma de decisiones, la respuesta que recibió fue que el Eurogrupo no existe. Aunque es el organismo que toma las más importantes decisiones dentro de la UE que afectan a la vida de todas personas que viven dentro de la UE, el Eurogrupo no existe. Y como no existe no tiene reglamentos de funcionamiento interno, no tiene normas, ni mucho menos actas. Pues bien, un organismo inexistente es la institución con mayor poder de toda la UE. 

Tenía razón Trinidad Jiménez al augurar que el resultado del referéndum no iba a ayudar a Grecia. Eso sólo podría pasar en una UE en la que se respetara la soberanía de los Estados y la democracia. El “acuerdo” al que se ha llegado entre Grecia y Alemania, o más bien el resultado de un chantaje despiadado tras 17 horas de negociación supone asumir unas condiciones absolutamente inaceptables, mucho peores que las que se planteaban en un principio. Es indudable que lo que se está buscando es humillar al pueblo griego, y hundir al gobierno de Syriza, el primer gobierno de toda la UE que se ha atrevido a enfrentarse a la Troika y decir No. Entre las durísimas condiciones imprescindibles para que se recupere la “confianza” perdida por la irresponsabilidad del gobierno griego se incluye entre otras la financiación de la deuda a través de la privatización masiva, y recortes en las pensiones. Pero además se obliga a dar marcha atrás en las reformas emprendidas en estos meses de gobierno, y la imposibilidad de emprender reformas sin el visto bueno de las instituciones europeas: “Para normalizar completamente los métodos de trabajo con las instituciones, el Gobierno deberá consultar y acordar con las instituciones –la Troika- cualquier iniciativa legislativa en áreas relevantes y con la debida antelación en consultas públicas o parlamentarias”.

alemanha
Lo que tenemos delante por tanto es, como correctamente se ha nombrado desde las redes sociales, un golpe de estado (en Twitter ha sido TT el hastag “ThisIsaCoup”), porque se está quitando a Grecia -y a todos los países de la UE la capacidad de legislar. Cuando se le arrebata a una nación el poder de legislarse a sí misma, se le ha arrebatado la soberanía. A Grecia se le están imponiendo unas condiciones para el rescate que suponen no sólo incumplir su programa electoral, sino anular la capacidad legislativa del Parlamento. Se trata de un golpe de estado en toda regla, y no sólo en Grecia, sino a toda la UE. El mensaje que están enviando los poderes financieros a la población europea es que aquí no hay alternativa, que las decisiones no se toman en los Parlamentos, que no hay democracia que valga. Lo que se puede o no se puede hacer no lo decide el poder político. Lo que nos están diciendo es que no seamos ingenuas, que los mecanismos democráticos europeos, en realidad, son una farsa, porque las decisiones importantes no se toman ahí. Y es que si realmente se tomaran en los parlamentos sería un desastre, porque al pueblo, ignorante y pobre, a veces le da por votar a opciones políticas como Syriza, un partido de ignorantes y de pobres, que no saben nada de economía y que pretenden poner por encima de los intereses de los ricos y de los poderosos los intereses de los pobres e ignorantes. A Syriza se le ha olvidado que cada uno ocupa el lugar que le corresponde, y que los pobres e ignorantes – y aquí pueden entrar países enteros como Grecia, como España o como Portugal – lo vienen siendo históricamente. El único gesto político que los mercados están dispuestos a aceptar es de ponerse de rodillas frente a Alemania, y si pretendes no arrodillarte y mantenerte en pie, reclamando tu soberanía, entonces te vas a enterar de lo que vale un peine: no sabes con quien estás hablando. Te van a retorcer el brazo hasta que grites de dolor y hasta que te arrepientas de haber pronunciado en algún momento que no eras una colonia de Alemania. Y van a seguir retorciéndole el brazo a Grecia mientras el resto de países miran cómo se lo retuercen, para que olviden definitivamente, si es que alguna vez se les pasó por la cabeza, votar de manera equivocada, es decir, votar a una opción que no esté dispuesta a aceptar los chantajes de una banda de gangsters.

Lo que se está jugando en este momento es nada menos que la soberanía de los pueblos europeos, y no es la primera vez que sucede en Europa. Lo que se está disputando es que la democracia y el Estado de Derecho tengan alguna posibilidad, o que por el contrario sean los intereses de los poderes económicos, por encima de los intereses de las personas, los que dictaminen el funcionamiento de las instituciones. Como lleva diciendo desde hace muchos años el filósofo Carlos Fernández Liria, cuando las reglas del juego las ponen los mercados, los Parlamentos sólo tienen una posibilidad de existir: siempre y cuando no sirvan para nada. En cuanto un Parlamento pretende cambiar mínimamente las reglas del juego, entonces se da un golpe de estado, más o menos encubierto, para poner los puntos sobre las íes, y así se le enseña al electorado lo que tiene que votar.

O combate que o Syriza está a fazer é o combate das nossas vidas. O combate pela democracia, pelo direito a decidir

Uma União credores que exclui a democracia
Capa de um semanário alemão, fevereiro de 2010, de propaganda contra os gregos

Capa de um semanário alemão, fevereiro de 2010, de propaganda contra os gregos

por Ricardo Moreira


Sempre soubemos que a União Europeia era um projeto imperialista que representava a resposta da burguesia à II Guerra Mundial, mas hoje já não se trata de uma União de Estados soberanos. Em vez de Estados membros há credores, como muito bem explicou Passos Coelho afirmando que é preciso não esquecer que há países europeus que “emprestaram muito dinheiro” à Grécia. E em vez de União há exclusão, como enunciou Cavaco Silva dizendo que “se a Grécia sair ficam 18”.

O Estado social, pilar deste projeto europeu original, é o alvo do ataque, assim como o valor do trabalho, porque é preciso aumentar a taxa de lucro e, portanto, mudar o contrato social. A longa e intermitente “integração europeia” foi retirando aos Estados capacidade de decisão, de intervenção, de atuação, nos mais diversos níveis: orçamental, legislativo e, finalmente com a introdução do euro depois de Maastricht, monetário. Em paralelo foram-se construindo poderes de facto não eleitos, como o Banco Central Europeu. O voto de cada cidadão/ã de cada país da União perdeu valor.

Com o mercado único e a introdução do euro os países periféricos começaram a ver as suas exportações esmagadas (ver aqui produção industrial de quem ganhou e perdeu com a introdução do euro) e as suas dívidas a crescer, beneficiando o centro da União, nomeadamente a Alemanha (ver aqui)

A crise das dívidas soberanas, que foi criada para salvar a banca francesa e alemã, não expôs a União Europeia como o colete de forças que é, mas, pelo contrário criou uma nova ferramenta para acelerar a desvalorização do trabalho, a privatização dos bens comuns e a destruição do Estado social: a combinação dívida/austeridade. A criação das troikas foi instrumental para responder ao início da crise, mas já antes o Tratado Orçamental, com a sua regra de chumbo, criava um novo paradigma, ilegalizando qualquer política expansionista na União Europeia. A austeridade é o alfa e ómega da União e todas as suas instituições e tratados são construídos em torno dessa política.

“Onde estão os membros da Internacional Socialista?” – perguntava há dias Freitas do Amaral (ver aqui) numa iniciativa unitária de solidariedade com a Grécia. Aqui estão eles: Martin Schulz ameaçou os gregos com a expulsão do euro caso o “não” ganhasse e depois de se confirmar a rejeição de mais austeridade por parte do povo grego Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, dizia que a escolha tinha sido “muito lamentável”. Onde está a Internacional Socialista? Onde estão os Sociais Democratas da Europa? Ao lado do Partido Popular Europeu, com a mesma política, sem tirar nem pôr. Da mesma forma que é impossível distinguir no essencial a política de António Costa da de Passos Coelho.

Se alguma vez se pensou que a União, os seus tratados e o euro eram reformáveis hoje esse caminho encontra-se fechado nesta Europa de partido único.

E se a austeridade como resposta à crise não denunciou a política da União e o colete de forças do Euro, desde a vitória do Syriza em janeiro deste ano caiu a máscara. Um governo de um Estado membro não tem nenhuma margem para nenhuma outra política que não seja a austeridade, como se verificou com o corte de liquidez a que o Estado grego foi sujeito para forçar um acordo que mostrasse que “não há alternativa”. Mais, sempre que parecia existir um avanço nas negociações fez-se ouvir a voz de Merkel ou de Schäuble, mostrando quem manda na União e ainda não se tinha tocado no ponto central: a dívida. A convocação de um referendo à austeridade, que chocou todos os eurocratas por devolver a palavra ao povo, foi uma aposta política tão arriscada como vitoriosa, que pôs a nu o medo que a UE tem da Democracia. Há quanto tempo não eram os/as cidadãos/ãs europeus ouvidos sobre as propostas que os afetam?

Aliás, a questão é mesmo essa, a União Europeia tem-se construído de maneira a que, mais e mais, possa garantir a acumulação de capital sem ser escrutinada pelo soberano, pelo povo. Essa tem sido, constantemente, a fuga para a frente das instituições europeias, pelo que não é de estranhar que Juncker tenha respondido a Tsipras no Parlamento Europeu esta semana que a solução para esta crise “é o aprofundamento da união económica e monetária”, que se tem visto ser feita à custa da soberania dos povos.

Como já há muito tempo não víamos na Europa, este domingo termina o prazo de um Ultimato da UE à Grécia. Claro que tinha de ser assim numa União de credores que é antidemocrática e que exclui a democracia e a palavra dos povos.

.

Democracia Ateniense vs. Deuses Neoliberais

Pepe Escobar/ SputnikNews

Eneko

Eneko

O primeiro-ministro Alexis Tsipras dá ao povo grego a oportunidade para decidir o próprio destino via um referendum democrático. É o que basta para pôr atroika – Banco Central Europeu (BCE), Comissão Europeia (CE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) – em surto de fúria. Adiante, resumidamente, tudo que se precisa saber sobre o “sonho” de UE.

Tsipras, claro, está certo; teve de convocar um referendumporque a troika dera “um ultimatum à democracia grega e ao povo grego”. De fato, “ultimatum que contraria os princípios fundadores e os valores da Europa”.

Mas por quê? Porque a aparentemente tão sofisticada rede político-econômica das “instituições” europeias – o CE, o Eurogrupo, o BCE – teve de enfrentar uma séria decisão política; e essencialmente por causa da sua sórdida mistura de ganância e incompetência, não conseguiram tomar nenhuma decisão política. Agora, afinal, os cidadãos da UE começam a poder ver com mais clareza quem são os inimigos deles: as tais “instituições” nada transparentes que, supostamente, os representam.

Os – até aqui – 240 bilhões de euros do resgate da Grécia (que mostrou a Grécia sendo usada como lavanderia do dinheiro dos ‘resgates’ de bancos franceses e alemães) já fizeram a economia nacional encolher mais de 25%; o desemprego é gigante; e miséria cresce a níveis sem precedentes. E para as “instituições” da UE – plus o FMI – jamais houve qualquer Plano B; foi sempre à moda do euro-arrocho – uma espécie de Choque e Pavor econômico – ou caiam fora (e mergulhem no desespero). O pretexto sempre foi “salvar o euro”. E o que torna tudo mais absurdo é que a Alemanha não dá importância alguma a se a Grécia quebra, e se a saída da Grécia da Eurozona (“Grexit”) é inevitável.

E ainda que a UE opere, na prática como um monstrengo simulado e reacionário, o que mais intriga é ver intelectuais até aqui respeitáveis, como Jurgen Habermas, a denunciar o Syriza como partido “nacionalista” e elogiando o ex-e-eterno office-boy de Goldman Sachs e hoje presidente do BCE, Mario Draghi.

À espera de Diógenes

O Referendum de 5 de julho vai muito além de os gregos responderem se aceitam ou rejeitam mais gigantescos aumentos de impostos e cortes em aposentadorias (que afetam pessoas que já vivem abaixo da linha oficial de pobreza); é o sine qua non que a troika tenta impor – qualificado como “medidas bárbaras” por vários ministros gregos – para desbloquear mais um resgate.

Pode-se argumentar que dia 5 de julho outro referendo, mais pertinente, estará respondendo à seguinte pergunta: “Qual é a linha vermelha para que a Grécia mantenha-se na Eurozona?”

O primeiro-ministro Tsipras e o ministro das Finanças Varoufakis derrubaram os rumores de que aceitariam qualquer humilhação para permanecer na Eurozona. Só serviu para radicalizar ainda mais a elite político-econômica alemã – da Dama de Ferro Merkel ao ministro das Finanças Schauble. O “segredo” mal escondido deles é que agora eles querem a Grécia fora do euro.

E isso está levando não poucos gregos – dos que ainda acreditavam nos benefícios de uma casa financeira comum de todos – a aos poucos começarem a aceitar uma Grexit. E de cabeça erguida.

O Banco Central Europeu ainda não detonou a bomba atômica – de esmagar todo o setor bancário grego. Mas de fato, com o encerramento do processo de Assistência de Emergência à Liquidez (orig. Emergency Liquidity Assistance, ELA) no fim de semana passado, o mundo desabará se milhões de gregos decidirem sacar seu dinheiro na abertura dos bancos, antes do referendum.

O Banco da Grécia, “como membro do sistema-euro”, como se lia num comunicado, “tomará todas as medidas necessárias para garantir estabilidade financeira aos cidadãos gregos nessas difíceis circunstâncias.” Implica limitar fortemente os saques nos bancos – o que garantirá sobrevida à Grécia até o dia do referendum.

Verdade é que ninguém sabe o que acontecerá depois de 5 de julho. A Grexit é possibilidade muito clara. Projetando além disso e colhendo uma folha do “Anel” [dos Nibelungos] de Wagner, também parece claro que as “instituições” do euro, elas mesmas, estão jogando gasolina ao fogo que pode eventualmente consumir a Eurozona – consequência direta do empenho delas para imolar os gregos, como Brunnhilde.

O que a Grécia – berço da civilização ocidental – já mostrou ao mundo deve ser motivo de orgulho para os gregos; nada como um tiro de democracia, para fazer os Deuses do Neoliberalismo perderem as estribeiras.

Fica-se tentado a invocar um Diógenes pós-moderno, o primeiro filósofo homeless, só com sua lanterna, à procura de um homem honesto (em Bruxelas? Berlim? Frankfurt?) e sem jamais encontrar. Mas em vez de ele cruzar com a maior celebridade daquele tempo -Alexandre o Grande -, imaginemos outro encontro, quando nosso Diógenes pós-moderno toma sol numa praça ateniense.

– “Sou Wolfgang Schauble, Senhor da Finança Alemã.”
– “Sou Diógenes, Cínico.”
– “Posso oferecer-lhe tudo que você deseja.”
– “Desejo que caia fora do meu sol. Está fazendo sombra.”

A crise grega é outra prova de que são os cidadãos e não os credores que devem decidir sobre o futuro

O governo dos banqueiros

por JÜRGEN HABERMAS

A última sentença do Tribunal de Justiça Europeu [que permite ao Banco Central Europeu (BCE) comprar dívida soberana para combater a crise do euro] lança uma luz prejudicial sobre a falida construção de uma união monetária sem união política. No verão de 2012, todos os cidadãos tiveram que agradecer a Mario Draghi, presidente do BCE, que com uma só frase [“farei o necessário para sustentar o euro”] salvou a moeda das desastrosas consequências de um colapso que parecia iminente. Ele tirou do sufoco o Eurogrupo ao anunciar que, caso fosse preciso, compraria dívida pública em quantidade ilimitada. Draghi teve que dar um passo à frente porque os chefes de Governo eram incapazes de agir pelo interesse comum da Europa; todos estavam hipnotizados, prisioneiros de seus respectivos interesses nacionais. Naquele momento, os mercados financeiros reagiram – diminuindo a tensão – diante de uma única frase, a frase com a qual o presidente do BCE simulou uma soberania fiscal que absolutamente não possuía. Porque agora, assim como antes, são os bancos centrais dos países-membros os que aprovam os créditos, em última instância. O Tribunal Europeu não pode referendar essa competição contrária ao texto literal dos tratados europeus; mas as consequências de sua sentença deixam implícito que o BCE, com escassas limitações, pode cumprir o papel de credor de última instância.

O tribunal abençoou um ato salvador que não obedece em nada à Constituição, e o Tribunal Constitucional alemão apoiará essa sentença acrescentando as sutilezas às quais estamos acostumados. Alguém poderia estar tentado a afirmar que os guardiões do direito dos tratados europeus se veem obrigados a aplicá-lo, ainda que indiretamente, para mitigar, caso a caso, as consequências indesejadas das falhas de construção da união monetária. Defeitos que só podem ser corrigidos mediante uma reforma das instituições, conforme juristas, cientistas políticos e economistas vêm demonstrando há anos. A união monetária continuará sendo instável enquanto não for complementada pela união bancária, fiscal e econômica. Mas isso significa – se não quisermos declarar abertamente que a democracia é um mero objeto decorativo – que a união monetária deve se desenvolver para se transformar em uma união política. Aqueles acontecimentos dramáticos de 2012 explicam por que Draghi nada contra a corrente de uma política míope – até mesmo insensata, eu diria.

Estamos outra vez em crise com Atenas porque, já em maio de 2010, a chanceler alemã se importava mais com os interesses dos investidores do que com quitar a dívida para sanar a economia grega. Neste momento, evidencia-se outro déficit institucional. O resultado das eleições gregas representa o voto de uma nação que se defende com uma maioria clara contra a tão humilhante e deprimente miséria social da política de austeridade imposta ao país. O próprio sentido do voto não se presta a especulações: a população rejeita a continuação de uma política cujo fracasso as pessoas já sentiram de forma drástica em suas próprias peles. De posse dessa legitimação democrática, o Governo grego tentou induzir uma mudança de políticas na zona do euro. E tropeçou em Bruxelas com os representantes de outros 18 Governos, que justificam sua recusa remetendo friamente a seu próprio mandato democrático. Recordemos os primeiros encontros, quando os novatos – que se apresentavam de maneira prepotente motivados por sua vitória arrebatadora – ofereciam um grotesco espetáculo de troca de golpes com os residentes, que reagiam em parte de forma paternalista, em parte de forma desdenhosa e rotineira. Ambas as partes insistiam como papagaios que tinham sido autorizadas cada uma por seu respectivo “povo”. A comicidade involuntária desse estreito pensamento nacional-estatal expôs com grande eloquência, diante da opinião pública europeia, aquilo que realmente é necessário: formar uma vontade política comum entre os cidadãos em relação com as transcendentais fraquezas políticas no núcleo europeu.

Manifestação contra a ‘troika’ e de apoio à Grécia, no dia 20 de junho, em Paris. / KENZO TRIBOUILLARD (AFP)

Manifestação contra a ‘troika’ e de apoio à Grécia, no dia 20 de junho, em Paris. / KENZO TRIBOUILLARD (AFP)

As negociações para se chegar a um acordo em Bruxelas travam porque ambas as partes culpam a esterilidade de suas conversas não às falhas de construção de procedimentos e instituições, mas sim à má conduta de seus membros. O acordo não está fracassando por causa de alguns bilhões a mais ou a menos, nem por causa de um ou outro imposto, mas unicamente porque os gregos exigem que a economia e a população explorada pelas elites corruptas tenham a possibilidade de voltar a funcionar através da quitação da dívida ou uma medida equivalente, como, por exemplo, uma moratória dos pagamentos vinculada ao crescimento. Os credores, por outro lado, não cedem no empenho para que se reconheça uma montanha de dívidas que a economia grega jamais poderá saldar. É indiscutível que a quitação da dívida será irremediável, a curto ou a longo prazo. No entanto, os credores insistem no reconhecimento formal de uma carga que, de fato, é impossível de ser paga. Até pouco tempo atrás, eles mantinham inclusive a exigência, literalmente fantástica, de um superávit primário superior a 4%. É verdade que essa demanda foi baixada para 1%, que tampouco é realista. Mas, até o momento, a tentativa de se chegar a um acordo, do qual depende o destino da União Europeia, fracassou por causa da exigência dos credores de sustentar uma ficção.

Yanis Varoufakis

Yanis Varoufakis

Naturalmente, os países doadores têm razões políticas para sustentá-la, já que no curto prazo isso permite adiar uma decisão desagradável. Temem, por exemplo, um efeito dominó em outros países devedores. E Angela Merkel também não está segura de sua própria maioria no Bundestag. Mas não há nenhuma dúvida quanto à necessidade de rever uma política equivocada à luz de suas consequências contraproducentes. Por outro lado, também não se pode culpar apenas uma das partes pelo desastre. Não posso julgar se há uma estratégia meditada por trás das manobras táticas do Governo grego, nem o que deve ser atribuído a imposições políticas, à inexperiência ou à incompetência dos negociadores. Essas circunstâncias difíceis não permitem explicar por que o Governo grego faz com que seja difícil até mesmo para seus simpatizantes discernir um rumo em seu comportamento errático.

Não se vê nenhuma tentativa razoável de construir coalizões; não se sabe se os nacionalistas de esquerda têm uma ideia um tanto etnocêntrica da solidariedade e impulsionam a permanência na zona do euro apenas por razões de astúcia, ou se sua perspectiva vai além do Estado-nação. A exigência de quitação da dívida não basta para despertar na parte contrária a confiança de que o novo Governo vá ser diferente, de que atuará com mais energia e responsabilidade do que os Executivos clientelistas aos quais substituiu. Tsipras e o Syriza poderiam ter desenvolvido o programa reformista de um Governo de esquerda e apresentá-lo a seus parceiros de negociação em Bruxelas e Berlim.

unplugged__arcadio_esquivel grécia
A discutível atuação do Governo grego não ameniza nem um pouco o escândalo de que os políticos de Bruxelas e Berlim se negam a tratar seus colegas de Atenas como políticos. Embora tenham a aparência de políticos, eles só falam em sua condição econômica de credores. Essa transformação em zumbis visa a apresentar a prolongada situação de insolvência de um Estado como um caso apolítico próprio do direito civil, algo que poderia levar à apresentação de ações ante um tribunal. Dessa forma, é muito mais fácil negar uma corresponsabilidade política.

Merkel fez o Fundo Monetário Internacional (FMI) embarcar desde o início em suas duvidosas manobras de resgate. O FMI não tem competência sobre as disfunções do sistema financeiro internacional; como terapeuta, vela por sua estabilidade e, portanto, atua no interesse conjunto dos investidores, principalmente dos investidores institucionais. Como integrantes da troika, as instituições europeias também se fundem com esse ator, de tal forma que os políticos, na medida em que atuem nessa função, podem se restringir ao papel de agentes que se regem estritamente por normas e dos quais não se podem exigir responsabilidades. Essa dissolução da política na conformidade com os mercados pode explicar a falta de vergonha com a qual os representantes do Governo federal alemão, todos eles pessoas sem mácula moral, negam sua corresponsabilidade política nas devastadoras consequências sociais que aceitaram, como líderes de opinião no Conselho Europeu, por causa da imposição de um programa neoliberal de austeridade. O escândalo dentro do escândalo é a cegueira com que o Governo alemão percebe seu papel de liderança. A Alemanha deve o impulso inicial para sua decolagem econômica, do qual ainda se alimenta hoje, à generosidade dos países credores que no Tratado de Londres, de 1954, perdoaram mais ou menos a metade de suas dívidas.

Mas não se trata de um escrúpulo moral, e sim do núcleo político: as elites políticas da Europa não podem continuar se escondendo de seus eleitores, ocultando até mesmo as alternativas ante as quais nos coloca uma união monetária politicamente incompleta. São os cidadãos, não os banqueiros, que têm de dizer a última palavra sobre as questões que afetam o destino europeu.

Jürgen Habermas é filósofo e escritor alemão. Texto transcrito do El País/ Es

Contra la austeridad: ruptura

por Nikos Loudos

Grecia | Romper con la austeridad pasa por no pagar la deuda, romper con la UE y el euro y aplicar medidas anticapitalistas

 

Eneko

Eneko

El chantaje que está en marcha contra el gobierno de Syriza en Grecia tiene que ser una lección para todos y todas, especialmente aquí en el Estado español. En muy pocos días, nos han dejado claro que la Unión Europea (UE) y la zona euro no se pueden cambiar. No puede existir una UE benévola ni una eurozona buena. Ambas son instituciones del sistema capitalista y funcionan sólo a favor de los capitalistas y contra las trabajadoras. No se pueden reformar. Su esencia es imponer chantajes contra cualquiera que quiera salir de la ortodoxia de la austeridad.

Estos argumentos son más que necesarios en el Estado español porque hay fuerzas políticas de izquierdas que siguen pensando que el camino hacia el cambio pasa por la transformación de la Unión Europea. Tanto Podemos como Izquierda Unida tienen sus programas llenos de “propuestas” hacia la Unión Europea. Propuestas sobre cómo las cosas podrían ser mejor, cómo la UE o el Banco Central Europeo (BCE) podrían hacer política de otra manera. Entre ellas, la reestructuración de la deuda, el cambio de los presupuestos a favor de los más débiles, el control político y ciudadano sobre el BCE, las políticas de inversión pública y el abandono de la austeridad.

Estas propuestas no son solamente un error, son un peligro. Reproducen la falsa ilusión de que la Unión Europea es un club democrático donde puedes exponer tu opinión y cambiar las cosas. La única solución, de verdad, es salir de estas instituciones. No simplemente salir con un “divorcio” pacífico, sino mediante el enfrentamiento y la ruptura.

El capitalismo tiene una estrategia

Veamos más en concreto el ejemplo griego para sacar conclusiones. Syriza ganó el gobierno con un programa electoral de reformas progresistas. No era un programa especialmente radical, pero incluía medidas que, según la dirección de Syriza, podrían enfrentarse a la crisis humanitaria que sufre el país. Por ejemplo, parar los desahucios de familias con una vivienda o no dejar familias pobres sin luz y agua.

Durante el período electoral, cuando se preguntaba a la dirección y a los economistas de Syriza, “¿Cómo vais a hacer todo esto, si la Troika no permite este tipo de medidas?”, la respuesta era que no había razón de preocupación, porque un gobierno democráticamente recién elegido puede ir a las instituciones europeas y renegociar las condiciones de los acuerdos que habían firmado los gobiernos anteriores. Por lo menos, decían, incluso no estando de acuerdo con nosotros, nos van a dar un poco de tiempo para respirar. Lo que se necesitaba, según Syriza, eran seis meses de descanso de esta austeridad ininterrumpida.

El resultado es que el nuevo gobierno ha ido a las instituciones, pero la renegociación ni siquiera ha empezado. Lo que ha recibido Syriza ha sido un claro “No”. Ninguna de las medidas del gobierno se puede aplicar, si no tiene la ratificación de la Troika y si no se asegura que no habrá coste sobre el presupuesto. Si no, no habrá más financiación para las “necesidades” de Grecia.

“Irracional”

El nuevo ministro de Finanzas, Yanis Varufakis, tenía la impresión de que no sólo la Troika iba a darles tiempo, sino que además los gobiernos europeos se iban a convencer con la propuesta de Syriza. Su argumentación decía que la estabilidad en Grecia juega a favor de todos, o sea a favor del euro, a favor del capitalismo. ¿Por qué no respetar al nuevo gobierno, si dice que quiere salvar el capitalismo? Muchos comentaristas keynesianos ya habían aceptado este análisis como si fuera una idea impresionante.

Pero, como nos explica el economista marxista Michael Roberts:

“Hay muchos comentaristas, incluso en la izquierda keynesiana, que se quejan porque los alemanes son irracionales y estúpidos. Dar a los griegos un poco de libertad de acción para hacer inversiones públicas y reducir la carga de la deuda ayudaría a restaurar la economía griega y a sacar adelante el proyecto europeo contra el aumentado escepticismo del electorado europeo y una economía de la Eurozona que está en estancamiento y deflación. ¿Lo veis? La austeridad no funciona. Así va el argumento.”

“Pero, los alemanes no son ‘irracionales’ desde el punto de vista del capital. Los partidarios de la austeridad estiman que el capitalismo europeo no se puede recuperar, a menos que el sector capitalista recupere su rentabilidad y se reduzca la carga de la deuda. Esto significa reformas neoliberales ‘estructurales’, básicamente, diezmar el poder laboral a través de leyes antisindicales, aumento de los derechos a despedir, recorte de las prestaciones de desempleo y de las pensiones, y más privatizaciones. Junto a esto, se deben hacer recortes en los gastos públicos y en la deuda para que se permitan recortes en la fiscalidad de las grandes empresas y así aumente la rentabilidad. Reducir los costes laborales, estimular la rentabilidad —esta es la salida de esta depresión. Esta es una estrategia racional por parte del capital.”

Rajoy y de Guindos han estado en la mesa de negociaciones y han jugado el papel más sucio. Han estado al lado de las fuerzas de la peor austeridad y contra toda discusión de cambio. Lo que tiene claro la Unión Europea, y Rajoy también, es que el Estado español va a recibir una presión enorme durante los próximos meses, especialmente tras las elecciones generales, para imponer más austeridad y muchos más recortes. Y presionando a Syriza quieren dejarlo claro a Podemos que no habrá ninguna oportunidad de modificaciones.

Nuestra salida: la ruptura

La única manera de comportarse con estas “instituciones” chantajistas es la ruptura. La ruptura con el euro es un arma contra la austeridad. Porque romper con el euro significa la posibilidad de no pagar la deuda. Para imponer una gran fiscalidad a los beneficios de las grandes empresas, para nacionalizar los bancos y para parar la huida de dinero al extranjero, se necesita ruptura no sólo con el euro sino también con la UE y todos sus tratados.

En el momento que se está escribiendo este artículo, miles de millones de euros siguen saliendo de la banca griega. Syriza lo único que hace es intentar que se calmen los capitalistas para que no saquen su dinero fuera. Calmar a los capitalistas significa prometer que no habrá nacionalizaciones ni cambios en la fiscalidad.

Contrariamente, implementando medidas anticapitalistas se podría controlar todo ese dinero acumulado. Pero medidas anticapitalistas no se pueden aplicar dentro de las instituciones del capital. Tenemos que abrir más el debate sobre el euro y la UE, para no enfrentarnos a sorpresas frustrantes como las que ahora sufre el gobierno de Syriza.

“En Grecia, los jóvenes en paro, se han convertido en un actor político clave”

SvitalskyBros

SvitalskyBros

 

Juan Agulló entrevista al analista político Dimitris Pantoulas

Dimitris Pantoulas (Ioannina, 1979) es un analista político griego, de formación británica, que ha contemplado los recientes cambios acaecidos en su país con un pie dentro y otro fuera de su tierra. Es la posición justa para aportar una mirada crítica y aguda que, Pantoulas, desglosa en un castellano fluido, aprendido entre Sevilla y América Latina…

Juan Agulló (JA) – Me gustaría comenzar esta conversación con una pregunta que nos ayude a enfocar el tema: ¿hasta qué punto cree usted que hay tergiversación u ocultación sobre Grecia y sobre el Gobierno de Syriza en la prensa internacional y muy especialmente, en la europea?

Dimitris Pantoulas (DP) – Los grandes medios internacionales transmiten, en general, las ideas dominantes en cada país, que muchas veces son promovidas por Gobiernos y grupos de interés y aceptadas por unas opiniones públicas que, a su vez, retroalimentan el proceso. En el caso de Grecia, por ejemplo, la prensa alemana ha sido bastante hostil contra el nuevo Gobierno: como el Gobierno alemán. La prensa financiera internacional, por su parte, ha estado defendiendo la posibilidad de que Grecia llegue a un acuerdo con sus acreedores (incluso si eso perjudica a amplios sectores sociales). En paralelo, es justo reconocer que en periódicos prestigiosos como The Guardian o The New York Times ha habido voces discordantes que han tendido a preocuparse, más por el pueblo griego, que por la ‘estabilidad del sistema’. En definitiva, tanto Syriza como la propia Grecia, se están moviendo en un ambiente mediático internacional hosco.

JA – Syriza llegó al Gobierno hace mes y pico con la bandera del fin de la austeridad. La reciente firma de una pró rroga del Rescate ¿cómo debe ser interpretada?

DP – Cuando Syriza llegó al Gobierno se dio de bruces con una realidad que no esperaba… y eso que había tenido dos años para prepararse. De todos modos, la Unión Europea (UE) nunca mostró voluntad de compromiso y en cuanto al Banco Central Europeo (BCE), como dijo Alexis Tsipras, le ha puesto “la soga al cuello” al país. La clave radica en la relación de fuerzas en el seno de la UE, que no beneficia al actual Gobierno griego porque en estos momentos es el único de izquierda en la UE (por ejemplo, cuando negoció la prórroga tuvo que enfrentarse, él solo, a los otros 18 Gobiernos de la Eurozona). Ahora, con la prórroga, se han conseguido cuatro meses adicionales para negociar aunque, en realidad, cuesta imaginar qué se negociará puesto que, si la voluntad es no salir de la Eurozona, las opciones son mínimas.

JA – ¿Y por qué, Syriza, no se plantea salir de la Eurozona? Hace no mucho la idea todavía era esa y los que defendían lo que ahora defiende Syriza eran otros que, ahora en las elecciones de enero, no llegaron ni al 1% de los votos…

DP – La gran paradoja de la Grecia actual es que la mayoría de la gente (casi el 80%, según las encuestas) no quiere que el país salga de la Eurozona pero, al mismo tiempo, el 70%, aplaude la firmeza del Gobierno frente a los acreedores. Es decir que, salvo los comunistas, un sector minoritario de Syriza y un pequeño partido (llamado ANTARSYA) los griegos no quieren austeridad pero tampoco quieren salir del Euro. El verdadero problema de fondo es que ese juego de contradicciones lo conoce el actual Gobierno pero, también, los acreedores.

JA – ¿Syriza tiene un riesgo de desgaste político si incumple algunas promesas electorales básicas ? ¿Cree usted que posible que, el Viejo Régimen – o al menos, parte del mismo – se restaure? De hecho, ahora mismo ¿cuál es la alternativa política real en Grecia: Nueva Democracia (ND) o est á en formación?

DP – Vayamos por partes. Syriza fue siempre un partido político muy democrático y plural y durante mucho tiempo esa fue su fortaleza en el marco de un sistema de partidos muy rígido y poco democrático. En el contexto actual, sin embargo, quizá ese rasgo le pueda pasar factura. Ahora mismo, por ejemplo, el ala izquierda del partido está en contra de la prórroga al Rescate: lo ha hecho público y eso ha colocado a Tsipras en una situación incómoda. Por otra parte hay quien piensa que el margen político de Syriza, al menos en el frente interno (y más concretamente en el ámbito de las políticas públicas, sobre todo, sociales) sigue siendo grande, pero también hay quien arguye que los griegos votaron a Syriza para que les sacara de la crisis y no solo para que les gestionaran mejor y con mayor sensibilidad…

Por su parte, lo de ND, también es complejo: la derecha perdió las elecciones por un 8% de diferencia pero no ha cambiado a su dirigencia, como hasta ahora solía ser costumbre en casos así, porque mucha gente piensa que el Gobierno de Syriza va a ser breve y que ND va a recuperar, rápidamente, el poder. Pero el problema, también, es que los griegos quieren salir de la crisis y que les gestionen mejor y ND no promete nada diferente a lo que le hizo perder… La alternativa a todo esto mucho me temo que puede implicar incluso a [la neonazi] Aurora Dorada (AD).

JA – ¿Realmente AD tiene posibilidades? ¿Hasta qué punto, agitar el fantasma neo-nazi en Grecia puede ser un señuelo? ¿A qué sectores sociales representa AD y por qué cree que podría tener potencial de crecimiento, no solo político sino sociológico? En definitiva ¿no cree posibles otras salidas a la crisis orgánica que usted describe?

DP – La dirigencia de AD lleva 18 meses en prisión, acusada de ser una banda criminal. Pese a ello y a toda la propaganda en su contra, AD ha logrado convertirse en la tercera fuerza política del país, aunque con un porcentaje electoral menor que en elecciones previas. La agenda de AD es anti-austeridad, nacionalista y xenófoba. Su base electoral son hombres jóvenes en paro que viven en zonas urbanas marginales. Mi impresión es que, como Syriza decepcione y la gente se sienta humillada por la UE, puede haber un voto de protesta masivo (en defensa del ‘orgullo griego’, muy malherido en los últimos tiempos) y AD es un símbolo de ese voto/protesta.

JA – Ya que hablamos de malestares y protestas ¿usted cuál cree que es, realmente, el componente político más débil de la alianza social que aupó a la izquierda no socialdemócrata al Gobierno?

DP – Sin duda, los jóvenes desempleados que están contra de los programas de austeridad.

JA – ¿Y no una clase social en concreto, una zona del país o un sector de la población? ¿Así de simple, “los jóvenes desempleados que están contra la austeridad”?

DP – Cuesta, en un país con un 25% de paro como Grecia, atenerse a categorías del tipo obreros/capitalistas. Por otra parte, en Grecia, la cuestión territorial no es tan importante como en otros países… Más bien, la juventud empobrecida o con pésimas expectativas es la que se ha convertido en un actor político clave que quiere cambio y que está demostrando ser capaz de poner y quitar Gobiernos. De momento ha ayudado a Syriza. A partir de ahora, veremos…

JA – Miremos ahora hacia los aliados institucionales de Syriza ¿quiénes son los Griegos Independientes (ANEL)? Mucha gente, fuera de Grecia, se lo pregunta… ¿Son un aliado de conveniencia o un rival potencial cauterizado? Socialmente hablando ¿a qué electorado representan?

DP – ANEL es un partido anti-austeridad que nació en 2012, cuando Grecia estaba negociando su segundo y más desastroso Rescate. Básicamente es un partido conservador y nacionalista; no neoliberal, eso sí, que fue creado por ex miembros de ND decepcionados por el viraje del partido que, de ganar las elecciones de 2012 con un mensaje anti-austeridad, pasó a negociar rescates aún más desastrosos que los anteriores y a aplicar políticas de austeridad extrema.

Su alianza con Syriza se explica, en parte por la coincidencia anti-Rescate y en parte, también, por realismo de Syriza: sus votos fueron fundamentales para hacer caer, el pasado mes de enero, al Gobierno de Andonis Samaras (ND) y provocar las elecciones que ganó Tsipras (Syriza).

JA – ¿Y usted piensa que, en un escenario crítico, el electorado de ANEL podría regresar a ND o más bien emigrar hacia posiciones más cercanas a las de AD? Otra pregunta que se relaciona con otro partido, sociológicamente de derecha: ¿se parece el electorado del de To Potami al de ANEL? ¿En un escenario crítico, cabría esperar una evolución parecida de ambos actores?

DP – Es difícil predecir en política. En el caso de ANEL, después de las elecciones, se les presentó una oportunidad de oro para entrar al Gobierno. Simplemente, la aprovecharon. Más adelante, quién sabe…

Potami es otra cosa. Su electorado tiene una extracción social diferente: son clases medias urbanas más preocupadas por cambiar las estructuras institucionales griegas que por las relaciones de clase o incluso, por las negociaciones con la UE.

JA – Es decir que, si no le estoy entendiendo mal, los mecanismos tradicionales de dominación y las alianzas de poder en los que éstos se sustentan han saltado por los aires… No solo han sido los partidos tradicionales…

DP – No, claro. En la sociedad griega, como consecuencia de la crisis, está produciéndose un cambio de valores significativo. De hecho, muchas de las tendencias sociales que hasta hace poco eran hegemónicas (consumismo, hedonismo, materialismo, sueño americano, etc.) están revirtiéndose. Las clases medias están muy golpeadas. La gente empieza a ser consciente de las relaciones de dominación y a cuestionar el periodo anterior… pero todo eso convive con el deseo, todavía mayoritario, de mantenerse en la Eurozona lo cual demuestra que tampoco puede hablarse, como hacen algunos, de un periodo ‘post-neoliberal’ o mucho menos, ‘post-capitalista’… Más bien estamos en la post-austeridad y de todos modos, todavía queda mucho para saber qué quiere decir eso.

JA – Movámonos ahora, para terminar con este repaso a la sociedad griega contemporánea, hacia sus márgenes, que no parecen ser menores ¿Qué perfil tiene ese tercio del electorado que, en unos comicios tan polarizados y hasta cierto punto, tan rupturistas como las del pasado 25 de enero, decidió abstenerse?

DP – Es difícil responder a esta pregunta sobre todo porque me parece que, hasta ahora, nadie ha hecho un estudio en profundidad de la abstención. Sin embargo, hay algo que evidente: el sistema electoral griego, las leyes que lo regulan y el contexto socioeconómico no incentivaron la participación en enero pasado. De hecho la emigración, interna y externa, ha crecido muchísimo como consecuencia de la crisis. Por eso, muchos de los inscritos en el censo electoral, o bien están en el extranjero o bien, aunque están en Grecia, ahora viven en grandes ciudades (principalmente, en Atenas) y debido al escasísimo tiempo transcurrido entre la convocatoria y la elección, a la mayoría, no le dio tiempo a cambiar formalmente su lugar residencia y en cuanto a viajar a sus lugares de origen para votar, para muchos, es un lujo.

JA – Eso de que viajar al lugar de origen pueda ser un lujo en Europa, en pleno 2015, interpela… pero también es una de las consecuencias clásicas de las políticas de austeridad. En ese terreno ¿qué margen real de maniobra tiene Syriza para recuperar políticas redistributivas que, no sólo combatan la exclusión, sino que redefinan las relaciones de poder? ¿No cree usted que el riesgo de defraudar en este ámbito es enorme?

DP – Syriza ha prometido implementar políticas redistributivas que alivien la emergencia social que, actualmente, padece el país. En ese sentido, una de las medidas estrella de Tsipras consiste en proporcionar electricidad gratuita a unas 300 mil familias pobres o que coquetean con la pobreza. Además de eso hay programas alimenticios para niños, un incremento del salario mínimo y un encarecimiento del despido que va a contracorriente de lo que llevaba ocurriendo hace muchos años. A grandes rasgos hay una voluntad evidente por parte de Syriza de cambiar las relaciones de fuerza. Ahí, el gran problema es el margen de maniobra político real que quede después de la negociación del Rescate… En cuanto al riesgo de defraudar, las cosas van más bien por el lado de no caer en tentaciones dañinas como el clientelismo, la corrupción, etc.

JA – Ya que usted menciona categorías como esas ¿es posible pensar en una reconfiguración del clientelismo (o al menos, de cierto grado de clientelismo) en el contexto de la que usted define como ‘post-austeridad’?

DP – Seamos claros: a menudo, el término clientelismo, se utiliza como arma arrojadiza contra los grupos organizados que demandan mejoras en su nivel de vida. Pero clientelismo no es eso. Es, más bien, una relación social en la que los intereses privados se anteponen a lo público y en la que, el mérito, es sustituido por relaciones de vasallaje.

A partir de ahí, como es probable que en los próximos años, Syrirza, tome medidas a favor de los empleados públicos y privados (que se orientarán a la recuperación de un mercado interno) es muy factible que determinados sectores políticos y sociales aprovechen para identificar esas medidas con prácticas clientelares clásicas. Pero, en principio, no lo serían. Clientelismo sería que se le siguieran haciendo favores a grandes grupos de interés o dándole privilegios a particulares a costa de la mayoría: si las cosas fueran así no habría ruptura y eso, muy probablemente, el electorado no lo perdonaría.

JA – Alejémonos ahora un poco, para ir terminando, de la política interior griega ¿Cómo se percibe en su país el cruce polí tico, in édito, al que estamos asistiendo entre Grecia y España? El Primer Ministro español, Mariano Rajoy, haciendo campaña en Atenas a favor de Samaras y el opositor Pablo Iglesias, haciendo lo mismo, pero a favor de Tsipras; Madrid maniobrando en Bruselas contra Grecia; Tsipras atacando a Rajoy que se defiende con una contundencia poco habitual y muy poco diplomática… ¿Qué ocurre?

DP – Hay quien sostiene que una “Marea Rosa” (Pink Tide en inglés) podría cernirse sobre Europa como ocurrió en America Latina en los 2000. Muchos gobiernos que no son de izquierda temen esa posibilidad y temen que la victoria de Syriza pueda provocar un efecto dominó. Creo que esa es la razón de tanta agresividad por parte de Rajoy, a pesar de que lo que defiende Tsipras, en el fondo, beneficiaría a España. Personalmente, yo no le veo mucho sentido a la actitud de Rajoy porque tampoco me parece que un eventual fracaso de Syriza pudiera favorecer, automáticamente, al PP: demasiado lineal.

JA – ¿Y usted ve a Podemos en España, a Beppe Grillo en Italia o al Livre portugués como exponentes de la misma Marea Rosa que Syriza?

DP – Cada país tiene características propias e historias diferentes. Italia, por ejemplo, es difícilmente comparable con Grecia. Sin embargo, lo que iguala a casi todos es que las sociedades europeas están cansadas de tanta austeridad. Por eso es muy posible que, en los próximos años, haya partidos y coaliciones que canalicen ese malestar. Lo deseable es que lo hagan a partir de propuestas progresistas porque sí no – y el caso de Marine Le Pen, en Francia, es preocupante – Europa podría volver a vivir sus días más negros…

JA – Terminemos, ahora sí, dando un pequeño vistazo al exterior. ¿Usted cree que hay posibilidades de que, si a la Grecia de Syriza se le cierran todas las puertas en la UE, empiece a mirar hacia Moscú o hacia Pekín? Otra cosa ¿cree usted posible que, durante el mandato de Tsipras, se redefinan las relaciones de Grecia con Turquía?

DP – Empiezo por Rusia. Grecia, lleva 70 años de relaciones fluidas con Europa Occidental y aunque tradicionalmente, Rusia, siempre ha sido un aliado (fundamentalmente, por motivos religiosos) veo difícil que, Grecia, termine sustituyendo a Rusia por la UE (Rusia, de hecho, tiene ahora mismo muchos problemas: Ucrania, crisis económica, etc.).

China, por su parte, podría ser una opción estratégica pero eso podría molestar mucho a la UE así que lo veo improbable…

Para terminar, lo de Turquía: actualmente, tanto Grecia como Turquía, pasan por situaciones políticas complicadas por lo que, como se trata de un tema sensible para ambos países, no me parece que vaya a haber grandes cambios, al menos a corto plazo.

Syriza: “Para nós, ‘reformas estruturais’ são o combate à corrupção e à fraude fiscal”

Examining the National Debt of Greece    Spiros Derveniotis, by Spiros Derveniotis

Examining the National Debt of Greece Spiros Derveniotis, by Spiros Derveniotis

 

Yiannis Bournous, dirigente do Syriza, falou ao esquerda.net sobre o acordo alcançado no Eurogrupo e a mudança política que o Syriza trouxe à Europa. Entrevistado por Catarina Príncipe

Que avaliação fazes do acordo saído da reunião de sexta-feira no Eurogrupo?

O documento adotado no Eurogrupo dá à Grécia um período extra de quatro meses para apresentar um plano desenvolvido de reformas estruturais. O documento dá-nos espaço para respirar, tanto em termos de tempo como de condições económicas. Mesmo se algumas das considerações do documento possam ser apelidadas de ambíguas, politica e tecnicamente, o importante é que conseguimos cancelar o acordo dado pelo governo anterior em impor novas medidas de austeridade – nomeadamente, nova redução das pensões de reforma, mais aumentos de impostos para as classes populares e a classe média, liberalização dos despedimentos e da confiscação de habitações.

Esta é a primeira vez que um país sobrendividado recebe uma folga financeira e temporal que lhe permite respirar, graças ao que Varoufakis chamou a “ambiguidade criativa” da sua formulação. Por outro lado, fracassou o plano do sr. Schäuble para asfixiar a Grécia no dia 28 de fevereiro – que era o prazo final do memorando – e assim levar o país a um beco sem saída com a falta de liquidez e impor nessa altura as condições que quisesse ao novo governo. Felizmente isso falhou e temos uma nova fase de discussão que levará quatro meses.

Isso quer dizer que as promessas eleitorais não ficaram para trás?

Esta segunda-feira apresentaremos um plano de reformas estruturais aos nossos parceiros. Mas não entendemos a expressão “reformas estruturais” como o faziam os anteriores governos. Para nós elas significam que não haverá mais despedimentos, cortes e austeridade. As nossas reformas estruturais são para combater o clientelismo, a corrupção e a fuga ao fisco. Devo dizer-vos que hoje mesmo foi anunciada a conclusão de uma investigação judicial feita a pedido do ministro anti-corrupção. Ela levou ao congelamento de 404 milhões de euros encontrados em contas bancárias de grandes investidores e depositantes que não conseguiram provar a origem lícita desse dinheiro. Este é o primeiro sinal prático da nossa determinação em lutar contra a fraude fiscal, que para além de ser uma reforma que não tem custos, permite obter grandes receitas ao Estado. Claro que para além destas reformas estruturais, também proporemos medidas de baixo ou nenhum custo para combater a crise humanitária. As primeiras medidas estão a ser ultimadas e serão apresentadas nos próximos dias. Têm a ver por exemplo com a restruturação da dívida privada dos agregados familiares sobrendividados, pequenas e médias empresas e empresários em nome individual. Isto é um bom sinal de que a parte do nosso programa que pode ser aplicada desde já, irá mesmo ser aplicada desde já.

Toda a gente sabe que num processo negocial há dois lados da mesa que têm de recuar nas suas posições. Não desvalorizamos o facto de que no início das negociações estávamos sozinhos contra 18 governos da zona euro. O documento aprovado na sexta-feira não reflete um isolamento. O que estas negociações provaram é que de facto existe um espaço para negociação quando a política é posta em cima da mesa. Antes não havia discussão política, discutiam assuntos técnicos porque todos concordavam com a linha da austeridade para a Europa.

Hoje o cenário é diferente: uns dias antes houve uma declaração de cinquenta (não dois ou três, mas cinquenta) deputados socialistas franceses a defenderem que a Grécia devia ter espaço para respirar e que devíamos pensar num plano de crescimento para a Europa e o fim da austeridade. Também no partido de Renzi – e lembremos que a dívida pública italiana é de 2,3 biliões de euros – ouviram-se vozes nesse sentido. Creio que eles também tirarão partido da nova situação, uma vez que uma dívida dessa dimensão é uma bomba prestes a explodir e Renzi não quer ser destruído politicamente. Eu espero que estes acontecimentos sirvam para motivar as forças que se opõem à austeridade a lutar e a reclamar de forma concreta um plano alternativo.

E sobre a posição dos governos de Portugal e Espanha, que têm sofrido com a austeridade e foram os mais ferozes opositores do acordo?

A política regressou à mesa da União Europeia. Não por causa de uma vitória temporária – como aconteceu há dez anos com a rejeição da Constituição Europeia em referendos na França e Holanda – mas porque finalmente apareceu um governo que diz coisas diferentes.

É natural haver divergências fortes, políticas e ideológicas, com os governos da direita portuguesa e espanhola. Mas respeitamos as opiniões de todos. É mais do que evidente que a estratégia da super-austeridade foi um fracasso histórico para a Europa. Creio que todos os passos que sejam dados agora através da intervenção política do lado grego, todos os passos que dermos em direção ao crescimento e à melhoria das condições de vida dos povos dos países europeus, irão levar a uma reavaliação das prioridades políticas de alguns países.

Não nos esqueçamos que Rajoy e Passos Coelho enfrentam os seus eleitores em novembro e setembro, respetivamente. O sr. Rajoy até deve ter problemas em dormir com o “tic-tac” da contagem decrescente, graças ao que chama a “ameaça” do Podemos. Não acreditamos que o Podemos seja uma ameaça, ele é mesmo o próximo grande passo da esperança num novo plano social sustentado para a Europa.

Se esse “espaço para respirar” que a Grécia conseguiu pode ser benéfico para Portugal ou Espanha, a oposição destes governos deveu-se apenas ao cálculo político?

É verdade, embora saibamos à partida que eles servem interesses de classe e interesses económicos diferentes dos nossos. Por exemplo, a imprensa grega diz que o sr. Rajoy estava tão preocupado com a possibilidade de um acordo que foi dizer aos alemães que se estes cedessem às exigências de Alexis Tsipras, não iria conseguir alcançar mais de 7% nas eleições espanholas. Eles insistem na continuidade destas políticas não porque acreditem que elas tenham trazido resultados positivos, mas sim porque não querem – especialmente antes das suas eleições – que esta alternativa que representamos seja vista como um projeto concreto que avance na Europa.

As sondagens na Grécia davam o apoio de 4 em cada 5 cidadãos ao governo nas negociações. Por toda a Europa houve manifestações e solidariedade. Que impacto teve e como devem prosseguir?

Devo confessar que mesmo para nós, militantes organizados da esquerda, foi uma grande surpresa ver tanta gente organizar-se nas redes sociais e saírem à rua, não contra mas a favor das políticas de um governo! Uma das sondagens publicadas esta semana dava 47% de intenção de voto no Syriza.

Recebemos inúmeras mensagens de solidariedade de múltiplas iniciativas e organizações – tanto as que já existiam durante a crise como as que nasceram agora depois da vitória do Syriza. Foi maravilhoso ver fotografias e vídeos das mobilizações não apenas na Europa mas até nos Estados Unidos ou da América Latina. Foi impressionante e veio confirmar o que dizíamos antes das eleições: que uma vitória do Syriza teria impacto político e mesmo social em toda a Europa.

Agora há cada vez mais cidadãos europeus a perceberem que afinal se pode negociar com a Europa um futuro melhor para o seu país. Acredito que estas iniciativas se vão fortalecer à medida que o governo grego prossiga o seu papel dinâmico e decisivo nas negociações. Há um espaço político em aberto que pode baralhar o jogo político de cada país. Com as suas diferenças, há uma janela de esperança que com uma ação eficaz das forças de esquerda em cada país, isso se possa transformar a prazo em êxitos políticos concretos, eleitoralmente e não só. Estou muito otimista quanto a isso.

Para terminar, qual é a razão para o Syriza ter proposto um antigo ministro da Nova Democracia para Presidente da República?

Houve vários fatores que tivemos de considerar antes de tomar a decisão sobre quem nomear. Não nos podemos esquecer que o Syriza não obteve a maioria absoluta, que tem um parceiro de coligação e sobretudo que vivemos um período histórico, não apenas para a Grécia mas para o conjunto da Europa. Isso significa que precisamos de criar a mais ampla unidade em promover uma alternativa contra a austeridade. Foram essas as principais razões para a escolha de Prokopis Pavlopoulos para a presidência da República.

Para além de fazer parte da Nova Democracia, Pavlopoulos também é conhecido pelo seu mérito académico na área do Direito e por se ter distanciado em muitas ocasiões das medidas e discursos extremistas, como o imposto sobre imóveis introduzido pelo governo Samarás. Também é importante perceber que atualmente no espaço político da direita há uma divisão entre os políticos mais moderados de centro-direita, que foram céticos em relação à super-austeridade do governo Samarás, e o setor mais extremista da Nova Democracia, liderado pelo próprio Samarás. A escolha de Pavlopoulos serviu então para mostrar que estamos dispostos a cooperar com todas as forças que reconhecem a necessidade de uma mudança drástica de políticas.

 

Novo governo grego quer encabeçar uma aliança de forças de esquerda na Europa

A linha do “euro bom” confronta-se com a realidade

 

Artigo do economista e deputado do Syriza Costas Lapavitsas, publicado no Guardian

Costas Lapavitsas. Foto Left.gr

Costas Lapavitsas. Foto Left.gr

A primeira semana do novo governo da Grécia já trouxe um abalo considerável à política da UE, mas há muito mais a caminho. Primeiro, é preciso lidar com o boato amplamente espalhado de que a coligação de governo entre o Syriza, partido que represento no parlamento, e os Gregos Independentes (Anel) significa uma diabólica aliança “vermelho-acastanhada”. O Anel não é uma versão suave dos fascistas da Aurora Dourada. É um partido nacionalista que representa amplos setores de base conservadora, e têm sido consistentes na oposição às desastrosas políticas de austeridade. No que respeita à dívida pública grega, a sua posição até pode ser considerada à esquerda do Syriza.

Escusado será dizer que o Syriza teria preferido formar governo sozinho, mas os resultados eleitorais não o permitiram. Para sua vergonha, o Partido Comunista Grego recusou entrar ou até apoiar um governo do Syriza. Não há outro partido com um historial anti-memorandos no parlamento grego. O dilema para o Syriza, então, era o de formar um governo com o Anel e aplicar o programa anti-memorando, ou deixar o país ir de novo a eleições, o que seria desastroso tanto para a economia como para a sociedade.

Fizemos a escolha acertada.

A realidade do Syriza no poder apareceu mal o governo se formou. Vários ministros fizeram anúncios notáveis após tomarem posse: suspensão das privatizações da eletricidade e do petróleo, readmissão dos funcionários públicos despedidos, revogação da desregulamentação laboral, aumento do salário mínimo, entre outras. Entretanto, o novo ministro das Finanças declarou que o país não negociará mais com a troika da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional. A Grécia não se submeterá à avaliação prevista do seu programa de resgate, mesmo que isso signifique deixar de receber este ano a fatia de 7.200 milhões de euros do empréstimo da troika. De facto, o país já não considera que a troika tenha um estatuto institucional válido. E para rematar, a Grécia pareceu distanciar-se da política da UE no que respeita às sanções à Rússia.

A reação da bolsa de Atenas foi imediata: os preços das ações caíram, em especial os da banca. É provável que a pressão financeira regresse esta semana, uma vez que os bancos estão a perder liquidez e os investidores internacionais andam muito irrequietos. A reação dos responsáveis políticos europeus tem sido de descrença incrédula, mal disfarçada pelas subtilezas diplomáticas. Sem dúvida que houve telefonemas muito irritados para Atenas nos últimos dias.

O governo Syriza é inexperiente, mas seria um erro pensar que se trata de um grupo de agitadores a arranjar brigas com tudo e todos. O que está a fazer é a aplicar a “linha” – para usar um termo da esquerda à moda antiga – com que ganhou o poder. Concretamente, está a aplicar a linha do “euro bom”, ao dizer que a União Económica e Monetária (UEM) e a própria UE podem ser radicalmente transformadas a partir de dentro. A direção do Syriza não tem nenhuma intenção de tirar a Grécia da UEM. Além disso, acredita que o preço da “Grexit” seria tão alto que a Europa não iria empurrar a Grécia para fora do euro. Por isso, acredita que a emergência de uma aliança poderosa das forças de esquerda por toda a Europa poderia terminar com o pesadelo da austeridade, o fardo da dívida podia ser amenizado em todo o continente, poderiam ser aplicadas políticas de criação de emprego e reforçar o Estado-Providência. A Europa seria transformada.

Não admira que as ações do governo Syriza tenham provocado uma enorme onda de apoio na Grécia. Há a sensação palpável de alívio e de orgulho nacional entre os cidadãos comuns, a sensação de recuperar alguma dignidade ao fim de anos a serem tratados de forma revoltante. Outros desenvolvimentos encorajantes são as vozes poderosas que surgem em apoio do Syriza a nível internacional, incluindo a do presidente Obama.

No entanto, a prova de fogo do “euro bom” só virá quando Berlim e Angela Merkel começarem a mostrar o seu jogo.

A dura realidade é que a UE tem uma enorme capacidade de influência sobre a Grécia. O país tem agendados os maiores reembolsos de dívida no próximo período, o maior dos quais no início do verão, que será impossível de cumprir sem novo financiamento. O financiamento das medidas inscritas no programa do Syriza na frente doméstica não é seguro, mesmo que o governo tenha por objetivo simplesmente um orçamento equilibrado. A receita fiscal tem caído, em parte pela enorme pressão dos impostos imposta pela troika e em parte pela perturbação eleitoral. Será necessária uma enorme e rápida reorganização da coleta fiscal para assegurar o financiamento das medidas previstas para aliviar as principais vítimas da crise. E os bancos prosseguem a sua dependência absoluta da liquidez fornecida pelo BCE, estando suscetíveis à fuga de depósitos.

A pressão para o Syriza diluir as suas reivindicações e cumprir com os requisitos base do programa de resgate será provavelmente feroz. Se a liderança do Syriza não se dispuser a ceder à pressão, será fundamental que receba forte apoio internacional, incluindo boas propostas práticas sobre como lidar com as enormes dificuldades que tem pela frente. É necessária mais discussão, por exemplo sobre se a Grécia deve pagar por inteiro a parte da dívida detida pelo BCE e o FMI (cerca de 70 mil milhões de um total de 320 mil milhões de euros). A base legal e moral dessa dívida é seguramente contestável.

A linha do “euro bom” começa a confrontar-se com a realidade e há dois aspetos da maior importância: primeiro, não se pode deixar que as forças da austeridade, que atualmente estrangulam a Europa, esmaguem a experiência do Syriza, ou a transformem num compromisso comido pelas traças; em segundo lugar, o Syriza deve preparar-se de forma sólida e meticulosa para todas as eventualidades, uma questão que é bem compreendida por muitos dos seus membros. O resto é politiquice.

Costas Lapavitsas é professor de Economia na Universidade de Londres e deputado do Syriza. Artigo publicado no Guardian a 2/2/2015, traduzido por Luís Branco para o esquerda.net.