GRÉCIA. A luta contra o fascismo e as suas forças

O Aurora Dourada e o movimento antifascista

 

por Ricardo Cabral Fernandes

Em período de estabilidade e legitimidade do sistema político e de crescimento económico as forças políticas de extrema-direita costumam situar-se à margem da competição eleitoral, pois os seus discursos de ódio e de violência afastam o eleitorado. No entanto, perante uma situação de instabilidade e deslegitimação do sistema político e confrontados com uma severa crise económico-financeira e social estes partidos têm um terreno fértil para crescerem por se assumirem como forças anti-sistema e capitalizarem o descontentamento, principalmente entre o eleitorado de direita e de centro-esquerda. As causas económicas não explicam por si só a ascensão da extrema-direita, tendo também de ser contempladas as causas políticas sistémicas.

À medida que a crise económico-financeira e social grega se foi acentuando depois dos Memorandos com a troika, o Aurora Dourada, um partido que se inspira claramente na ideologia nacional-socialista, obteve um crescimento eleitoral que surpreendeu, ao mesmo tempo que consolidava a sua implantação na sociedade grega, principalmente nos bairros mais atingidos pela pobreza e desemprego. A sua ascensão eleitoral começou com a eleição do seu líder, Nicos Michaloliakos, para o Conselho Municipal de Atenas nas eleições autárquicas de 2010 com 5,29% dos votos. Nas eleições seguintes o partido continuou a sua ascensão, tendo-a consolidado. Nas eleições legislativas de Maio de 2012 elegeu 21 deputados (6,97% dos votos) e nas de Junho do mesmo ano elegeu 18 deputados (6,92%), fortalecendo a sua posição eleitoral e parlamentar mesmo que tenha perdido três deputados. Pela primeira vez desde o pós-guerra um partido de extrema-direita tinha entrado num parlamento nacional europeu, afirmando-se como a terceira maior força política parlamentar do sistema político grego. Ao mesmo tempo o bipartidarismo grego, entre o Nova Democracia e o PASOK, colapsava, originando novos fenómenos políticos, como a ascensão do Syriza como segunda maior força parlamentar. Nas eleições autárquicas de 2014 o Aurora Dourada conseguiu eleger deputados municipais para todas as autarquias em que apresentou listas eleitorais, o que demonstra o seu avanço em quatro anos: de apenas um lugar no Conselho de Atenas passou a ter deputados municipais em quase todas as autarquias. Nas eleições europeias e legislativas de Janeiro e Setembro de 2015, o Aurora Dourada continuou a consolidar-se eleitoralmente, mesmo sendo alvo de processos criminais após a morte do rapper antifascista Pavlo Fyssas em Setembro de 2013. Leia mais

O movimento antifascista: história, organização e estratégia

Se analisarmos as práticas do movimento antifascista conseguimos delinear quatro eixos estratégicos orientadores que todas as organizações e colectivos cumprem de forma independente (e dependendo das suas capacidades), que são: 1) criação de colectivos de bairro antifascistas para impedir a expansão das forças fascistas e dos seus eventos pela cidade, organizando manifestações; 2) disputa de influência através da produção de propaganda (flyers, jornais e cartazes), de debates e de grandes eventos antifascistas, como o Festival Antifascista, que todos os anos se dá em Salónica em Junho, ou o Torneio de Kickboxing Antifascista, que se realiza há dois anos consecutivos e que recebeu atletas da Alemanha, Espanha, Itália, Polónia, Holanda, Suíça e, claro, gregos de todo o país, e, por fim, a criação de websites de monitorização das actividades do Aurora Dourada e de call-centers onde as pessoas podem ligar para pedirem ajuda ou comunicar actividades que tenham presenciado ou que saibam que irão acontecer; 3) criação de colectivos de solidariedade para os mais pobres, desempregados e imigrantes, tentando minimizar as suas carências materiais e disputando esta área com os neonazis, que também organizam os seus centros de assistência só para “gregos”; 4) apresentação de alternativas ao fascismo com o aprofundamento de práticas de democracia directa, de auto-gestão, de igualdade e de solidariedade, principalmente nos colectivos de bairro, nos centros de solidariedade e nas assembleias antifascistas. Todos estes quatro eixos se inter-relacionam de forma profunda, compondo uma estratégia transversal perante a sociedade grega. Uma estratégia ofensiva contra as forças fascistas, mas também construtiva, de prevenção, sob as condições que permeiam o avanço social do fascismo.

Durante a sua ascensão o Aurora Dourada espancou e assasinou imigrantes, levando o movimento antifascista a intensificar a sua luta de forma cada vez mais agressiva, enquanto o poder político nada fazia. No entanto, com o assassinato do conhecido rapper antifascista Pavlo Fyssas, em Setembro de 2013, o poder político foi obrigado a tomar medidas contra o partido nazi em consequência de uma enorme pressão da sociedade e de alguns meios de comunicação social. A partir desse momento alguns dos seus altos dirigentes foram acusados de terem montado uma organização criminosa, o que poderá levar à ilegalização do partido como a constituição grega estipula. Tanto o mediatismo como os processos judiciais levaram ao fortalecimento do movimento antifascista, ao mesmo tempo que o Aurora Dourada decidiu acalmar as suas actividades violentas para se poder afirmar como vítima de uma conspiração, publicando vários comunicados de imprensa em que denunciavam o processo judicial e se afirmavam como mártires da sua luta e ideologia. O Aurora Dourada passou à defensiva, quando antes estava à ofensiva. Com o avanço do movimento antifascista e a enorme pressão mediática começou a não poder agir como antes, tendo deixado de controlar vários bairros. Em Salónica, por exemplo, o Aurora Dourada está confinado à sua sede, mas em Atenas a situação é mais complicada, pois é aí que o epicentro da acção do partido se encontra. No entanto, se nas ruas o Aurora Dourada recuou imenso, tal já não se pode afirmar no que concerne à sua actividade parlamentar, como demonstram os resultados das eleições de 20 de Setembro de 2015: 18 deputados conquistados, 6,95% dos votos, mesmo que a abstenção tenha sido a maior de sempre. A sua manutenção como terceira maior força política parlamentar no sistema político grego demonstra que possui um eleitorado fiel e não volátil, o que é uma enorme preocupação.

Perspectivas

A situação actual não nos permite de forma alguma afirmar que uma eventual progressão eleitoral, e mesmo nas ruas, do Aurora Dourada se encontra fora de questão. Mesmo que o partido seja ilegalizado, em consequência do acordão do processo criminal, nada leva a crer que não escolha a via da violência, nomeadamente nas ruas, ou que os seus militantes criem outro partido similar, mesmo que a sua liderança esteja na prisão. Na luta contra o fascismo não basta a via legal, é preciso também impedir o seu avanço político nas várias áreas urbanas e rurais e combater as condições políticas, económicas e sociais que lhe permitem conquistar apoiantes. A luta tem de ser global e não apenas legalista.

Com a assinatura do Terceiro Memorando de Entendimento por parte do Governo Syriza-ANEL, a 13 de Julho de 2015, a situação política, económica e social irá agravar-se, podendo facilitar a expansão do Aurora Dourada ou de outro partido similar. Um provável colapso do Syriza, a grande esperança da maioria dos gregos na luta contra a austeridade e na regeneração de um sistema político deslegitimado, e à medida que for aplicando o terceiro memorando, poderá levar muitos desapontados a escolherem o partido nazi. Perante a instabilidade política e a desordem do dia-a-dia, o discurso autoritário e de ordem do fascismo pode vir a colher frutos. É neste contexto que se considera fundamental a reorganização das forças de Esquerda gregas, nomeadamente da Unidade Popular, para apresentarem propostas políticas que se afirmem como alternativas concretas e reais aos estudantes, trabalhadores, pensionistas e reformados gregos. Uma proposta que tenha em conta os erros da estratégia encetada pelo Syriza nos primeiros sete meses da sua governação, mas mais profunda.

Os próximos meses serão terrivelmente desafiadores para o movimento antifascista, um movimento que até agora mostrou estar à altura, mesmo que sozinho, mas também para toda a Esquerda grega. Perante a ascensão de forças de extrema e direita-radical no continente europeu temos muito a aprender com o movimento antifascista grego. Transcrevi trechos

Grécia. O nazismo e o movimento antifascista

O crescimento da Aurora Dourada

por Ricardo Cabral Fernandes

Manos Symeonakis

Manos Symeonakis

Em período de estabilidade e legitimidade do sistema político e de crescimento económico as forças políticas de extrema-direita costumam situar-se à margem da competição eleitoral, pois os seus discursos de ódio e de violência afastam o eleitorado. No entanto, perante uma situação de instabilidade e deslegitimação do sistema político e confrontados com uma severa crise económico-financeira e social estes partidos têm um terreno fértil para crescerem por se assumirem como forças anti-sistema e capitalizarem o descontentamento, principalmente entre o eleitorado de direita e de centro-esquerda. As causas económicas não explicam por si só a ascensão da extrema-direita, tendo também de ser contempladas as causas políticas sistémicas.

À medida que a crise económico-financeira e social grega se foi acentuando depois dos Memorandos com a troika, o Aurora Dourada, um partido que se inspira claramente na ideologia nacional-socialista, obteve um crescimento eleitoral que surpreendeu, ao mesmo tempo que consolidava a sua implantação na sociedade grega, principalmente nos bairros mais atingidos pela pobreza e desemprego. A sua ascensão eleitoral começou com a eleição do seu líder, Nicos Michaloliakos, para o Conselho Municipal de Atenas nas eleições autárquicas de 2010 com 5,29% dos votos. Nas eleições seguintes o partido continuou a sua ascensão, tendo-a consolidado. Nas eleições legislativas de Maio de 2012 elegeu 21 deputados (6,97% dos votos) e nas de Junho do mesmo ano elegeu 18 deputados (6,92%), fortalecendo a sua posição eleitoral e parlamentar mesmo que tenha perdido três deputados. Pela primeira vez desde o pós-guerra um partido de extrema-direita tinha entrado num parlamento nacional europeu, afirmando-se como a terceira maior força política parlamentar do sistema político grego. Ao mesmo tempo o bipartidarismo grego, entre o Nova Democracia e o PASOK, colapsava, originando novos fenómenos políticos, como a ascensão do Syriza como segunda maior força parlamentar. Nas eleições autárquicas de 2014 o Aurora Dourada conseguiu eleger deputados municipais para todas as autarquias em que apresentou listas eleitorais, o que demonstra o seu avanço em quatro anos: de apenas um lugar no Conselho de Atenas passou a ter deputados municipais em quase todas as autarquias. Nas eleições europeias e legislativas de Janeiro e Setembro de 2015, o Aurora Dourada continuou a consolidar-se eleitoralmente, mesmo sendo alvo de processos criminais após a morte do rapper antifascista Pavlo Fyssas em Setembro de 2013. Nas eleições europeias elegeu três eurodeputados (9,4%), nas legislativas de Janeiro elegeu 17 deputados (6,28%) e nas de Setembro de 2015 18 (6,95%). Estes resultados demonstram que o Aurora Dourada conseguiu consolidar o seu sucesso eleitoral apesar do assassinato de Pavlo Fyssas, dos respectivos processos criminais que alguns dos seus dirigentes de topo são acusados, incluindo o seu líder, por criarem uma organização criminal e pelas declarações de responsabilidade política no assassinato de Fyssas dois dias antes das eleições de Setembro de 2015. Os resultados eleitorais do partido apesar de todos estes acontecimentos são deveras preocupantes, pois demonstram possuir um eleitorado fiel e não volátil.

Aurora Dourada: nascimento, ideologia e actividades
Símbolo oficial da Aurora Dourada grega

Símbolo oficial da Aurora Dourada grega

É importante referir que o Aurora Dourada recupera a cultura autoritária que caracteriza certos períodos da História contemporânea grega: a brutal ditadura do general Ioannis Metaxas (1936-41), a ocupação nazi e o colaboracionismo de certos sectores da direita grega com os ocupantes (1941-44) e a ditadura dos Coronéis (1967-74). As forças fascistas, mesmo tendo sido durante muito tempo residuais e desagregadas, sempre estiveram presentes na política grega, sendo que muitos dos seus apoiantes se encontravam no principal partido de direita, o Nova Democracia. No entanto, com a questão da Macedónia, os discursos nacionalistas ganharam novo ímpeto e com eles as forças de extrema e direita-radical. É na década de 90 que se começa a assistir a um fortalecimento, ainda que residual, das forças fascistas na Grécia. E foi precisamente neste período que o movimento antifascista começou a assumir uma posição cada vez mais essencial na contenção destas forças, mesmo que o próprio movimento não possuísse tanta força como actualmente.

Em Setembro de 2000, com a cisão de uma parte da ala mais radical do Nova Democracia, encabeçada por Georgios Karatzaferis, e a criação de um novo partido de direita radical, o LAOS, a convergência das forças de extrema e direita-radical deu um grande passo. Entre 2000 e 2010 era comum membros do Aurora Dourada integrarem listas eleitorais do LAOS. No entanto, a crescente ascensão do Aurora Dourada e o apoio do LAOS ao Memorando de Entendimento (2010) e ao governo tecnocrata de Lucas Papademos, em 2011, criaram divergências entre os seus militantes e prejudicaram este último em termos eleitorais, enquanto o primeiro crescia, ao mesmo tempo que absorvia alguns dos membros do primeiro. A extrema e direita-radical gregas foram-se concentrando no Aurora Dourada, mesmo com o aparecimento do ANEL de Panos Kammenos em 2010, após a cisão da sua ala com o Nova Democracia, após este ter apoiado e aplicado políticas de austeridade.

O Aurora Dourada nasceu nos ínicios da década de 80, assumindo-se como uma fractura do movimento neo-nazi 4 de Agosto. No início os seus membros apenas publicavam um boletim de ideologia nacional-socialista com pouco sucesso, mas rapidamente começaram a praticar acções violentas, comportando-se mais como um gangue do que como um grupo político, o que caracteriza em parte os neonazis. Foi então que decidiram criar a Associação Popular – Aurora Dourada em 1983, concorrendo pela primeira vez em eleições mais de dez anos depois, em 1994, e tendo obtido um resultado muito marginal na ordem dos 0,11% (7242 votos). Entre o período da sua fundação até às eleições de 2010 o Aurora Dourada oscilou frequentemente entre actividades de violência nas ruas e a disputa de eleições, sem nunca se conseguir impor em ambas as vertentes. No entanto, o despoletar da crise internacional e os seus efeitos na Grécia criaram novas oportunidades ao partido à medida que a deslegitimação do sistema político grego aumentava a par da crise social, ao mesmo tempo que foi consolidando a sua posição política face a outros partidos e militantes, albergando estes últimos. A forte imigração que a Grécia tem acolhido nos últimos anos foi também um factor importante de conquista do seu eleitorado. Como qualquer partido de extrema-direita, o Aurora Dourada culpabiliza a imigração pela crise, pela perda de postos de trabalho e pela severa situação social que a sociedade atravessa, originando um efeito spill-over aos restantes partidos da direita, como é o caso da Nova Democracia, que intensificou o seu discurso e políticas anti-imigração para não perder eleitorado para o Aurora Dourada. Este último conseguiu obter algum controlo sobre a agenda política grega, obrigando os partidos de direita a assumirem posições próximas das suas.

Nas mais de três décadas de bipartidarismo entre o Nova Democracia e o PASOK, os armadores e os empresários da construção civil (e o poder financeiro) financiaram continuamente as suas campanhas eleitorais com o objectivo de influenciar (ou controlar) os governos para se protegerem contra o pagamento de impostos. Historicamente os armadores são um dos poderes privados mais poderosos na Grécia por causa da importância da posição geopolítica do país, possuindo a segunda maior frota mercante do mundo. Já os empresários da construção civil expandiram os seus negócios no país, principalmente após a entrada da Grécia na União Europeia e, mais tarde, com a entrada na zona euro e as respectivas taxas de juro baixas, criando uma bolha imobiliária. Mas com a crise económico-financeira, a aplicação das políticas de austeridade, o acentuar das manifestações dos movimentos operário e social, o colapso do bipartidarismo e a ascensão do Syriza, os armadores e os empresários começaram a financiar o Aurora Dourada para fazer pela via da violência o que os partidos do “arco da governação” não conseguiam. O Aurora Dourada começou a reprimir especificamente os trabalhadores grevistas, os sindicalistas e os militantes de Esquerda de forma violenta com os seus Esquadrões de Ataque, quer de dia quer de noite, sem o poder político reagir. Se os partidos tradicionais não conseguiam travar o movimento operário e a ascensão de uma força política de Esquerda Radical, então os armadores e empresários decidiram apoiar o Aurora Dourada para salvaguardaram a sua taxa de acumulação e os seus privilégios, o seu poder na sociedade grega. Todas as ditaduras na Grécia contaram com o apoio dos armadores, bem como da banca grega.

Com mais dinheiro o partido pôde intensificar a sua propaganda e estruturas locais, dando-se a conhecer às camadas mais desfavorecidas da sociedade grega. À medida que se foi consolidando e os partidos de direita-radical, como o LAOS, foram perdendo eleitores em seu favor, foram ganhando eleitorado, entrando primeiro no Conselho de Atenas e depois no parlamento grego. Com os financiamentos parlamentares fortaleceram ainda mais a sua máquina partidária e propagandística, criando distribuições de roupas e alimentos e uma rede de “solidariedade” chamada “Médicos Gregos” – mas apenas para os “gregos” que o provem ser – e um site on-line, onde todos os dias publicam notícias sobre as suas actividades. Uma das alterações do partido em termos propagandísticos foi o investimento na propagação das suas ideias racistas, nacionalistas, homofóbicas, xenófobas, entre outras, através das redes sociais e das novas tecnologias para chegarem aos jovens, principalmente aos estudantes. No entanto, desde que alguns dos dirigentes superiores, e o partido no geral, se confrontam com processos criminais que as verbas de financiamento do parlamento foram cortadas, o que lhes dificultou o financiamento e, por inerência, a realização de actividades.

As principais características do partido são: grande concentração de poder no líder, o fuhrer Nicos Michaloliakos; forte inspiração no nacional-socialismo; a defesa da superioridade da nação helénica e na separação entre pessoas por meio de identidades étnicas, como raça, sangue e credo religioso; um severo discurso anti-política e sistema; e a rejeição da democracia substantiva. Todas estas características permitem, de acordo com a constituição grega, ilegalizar este partido, acção que os anteriores partidos do “arco da governação” decidiram não encetar. No entanto, podemos ainda acrescentar uma outra característica que poderá, eventualmente, colocar em risco a democracia-liberal grega: a influência que o Aurora Dourada possui entre o aparelho repressivo do Estado, as forças políciais e armadas. São comuns os relatos de o partido e as forças policiais se comportarem de uma forma que parece que trabalham de forma algo coordenada ou, no mínimo, permissiva. É comum as forças de extrema-direita, que possuem um discurso e práticas militarizadas, terem influência nas forças policiais e armadas, principalmente nestas últimas se no passado intervieram na política através de golpes de Estado, como é o caso da Grécia. Um dado concreto é o facto de nas eleições as forças policiais votarem em locais distintos dos restantes eleitores, o que permite apurar directamente o número de votos que vão para a Aurora Dourada no seio da polícia. De acordo com um militante antifascista, se naquele distrito os votos no partido se situam entre os 4%na generalidade dos eleitores, então entre a polícia serão aproximadamente 8%. Ou seja, a polícia vota o dobro no Aurora Dourada que os restantes eleitores dos vários distritos, principalmente entre as forças de intervenção. A permeabilidade das forças policiais aos ideais nacionais-socialistas do Aurora Dourada é uma questão a ter em conta.

Perante uma situação de instabilidade e deslegitimação do sistema político, uma severa crise económico-financeira e social comparável à da Alemanha pós-guerra e a ascensão de um partido neonazi como o Aurora Dourada, são cada vez maiores as especulações sobre se estaremos, ou não, a assistir à “Weimarização” da Grécia.

Escrito a partir de Salónica, Grécia

O DEBOCHE DA PAN GERMANIA

por Nei Duclós

alemanha nazismo

Alemães debocham do Brasil num painel em Frankfurt. Nos representam como traficantes violentos corruptos que levam de 7 a 1.

Deveríamos pedir esmolas para os alemães. Vamos estender um capacete nazista para que eles coloquem lá alguns euros da especulação.

Em retribuição, vamos depositar em Berlim os resíduos da bosta do programa nuclear que eles acertaram com a ditadura brasileira.

Quem sabe vamos representar a Alemanha de bigodinho de Hitler e com as fotos das vítímas do Holocausto?

Quando o governo corrupto brasileiro subornou a opinião publica internacional posando de extintores da miséria escancarando as pernas para a indústria especulativa, que abriu um rombo de gerações em nossas finanças, todos celebravam, inclusive os alemães.

Éramos os fenômenos que tinham erradicado a miséria e merecíamos o Nobel da Paz.

Agora que tudo foi desmascarado e se descobre que a ascensão da miséria à classe média foi um truque político de marketing para os chacais se perpetuarem no poder, são os primeiros a posar de vestais.

Eles devem nos identificar com as massas indignadas que vão às ruas contra a corrupção e a violência e não colocar o perfil da nação no rosto dos criminosos.

O pior é notar brasileiros engolindo a patranha como se todos fôssemos culpados da situação onde estamos. Fomos ludibriados, espoliados, explorados. O sistema político saqueou a nação enquanto falava em democracia.

Temos nossas responsabilidades, fazemos autocrítica, lutamos, mas não podemos ser identificados com a poeira humana.

A campanha alemã contra o Brasil tem algo oculto, sacana. Centenas de cidades brasileiras adotam o alemão como segunda língua. Daqui a pouco serão a primeira? Penetram surdamente no tecido nacional investidos de novos centuriões de um império de moral. Que moral? Espoliam países com seu poder bancário e chafurdam na riqueza enquanto a miséria bate em suas portas.

A ideia nazista da Pan Germania (a Alemanha fora da Alemanha), de domínio, está mais ativa do que nunca. Eles nos querem submissos, escravos e por isso fazem campanha da sua superioridade. Enfeixam todas as virtudes mas esquecem que tem as mãos branquelas sujas de sangue. Para sempre. Nada apagará esse crime hediondo.

Respeito é bom e eu gosto. Ninguém está aqui tentando tapar o sol com a peneira. Somos transparentes. Mas enxerguem o país na sua inteireza e não selecionem o lixo, deixando de lado o que multidões fazem diariamente, trabalhando para manter o país, enquanto os aproveitadores, nativos e estrangeiros, jogam pesado levando tudo para o ralo.

Nei Duclós

Graças ao conluio destas religiões pentecostais, que só servem para encher os bolsos dos pastores, com os grupos mafiomidiáticos estamos retornoando, em ritmo acelerado ao início do século passado

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O fanatismo mafiomidiático empurra o Brasil para trás

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por Gilmar Crestani

Veja o que pode acontecer quando uma concessão pública cai nas mãos de pessoas desonestas. Os meios de comunicação são concessões públicas. No entanto, os donos destas concessões têm usado as concessões públicas para patrocinar golpes de estado, ditaduras e toda sorte de sinecuras. Por não existir uma lei de médios, quem detém a concessão pode sublocar para fundamentalistas de todas as religiões. Ve-se que não se trata de liberdade de expressão, mas dinheiro. Se a Igreja paga, tem espaço. Graças a este sistema mafioso, elementos como Silas Malafaia, Marco Feliciano e Eduardo CUnha passam a ditar os rumos da nossa sociedade. Quando um sujeito que usa o dinheiro público para construir aeroportos particulares nas terras da família ou quando somem do noticiário helicópteros pegos com 450 kg de cocaína como se fosse um assunto banal, é porque estamos diante de um sistema viciado, comandado por viciados, cuja condução é aceita por uma sociedade que mais parece uma manada de bovinos tangidos em direção às charqueadas.

Quando Ali Kamel escreveu “Não somos racistas”, foram poucas as vozes isoladas, geralmente associadas aos movimentos de negros, que se manifestaram. O livro, escrito para combater as cotas raciais, acabou fazendo parte do receituário que hoje leva a menoridade penal. As reações às manifestações medievalistas dos meios de comunicação foram tímidas. Agora que o estrago está por se consumar, a sociedade murmura. Pior, até pessoas pretensamente inteligentes pensam que, em pleno século XXI, as leis devem voltar a serem o que foram 100 anos atrás. A falta de embate político, e este foi o principal erro do PT, está legando uma sociedade fascista.

Graças ao conluio destas religiões pentecostais, que só servem para encher os bolsos dos pastores, com os grupos mafiomidiáticos estamos retornoando, em ritmo acelerado ao início do século passado. Ao contrário dos tempos do JK, estamos regredindo 100 anos em cinco.

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Joaquim Nabuco e os linchamentos no Brasil

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Nabuco não foi ouvido e não falta muito para termos no mercado Cigarros Bolsonaro

Nabuco não foi ouvido e não falta muito para termos no mercado Cigarros Bolsonaro


por Márcio Sotelo Felippe

Joaquim Nabuco começou sua trajetória, ainda quintanista de Direito, defendendo um escravo acusado de matar o policial que o mandara açoitar, e depois um guarda para escapar da prisão. Um negro que matou dois funcionários brancos. Nabuco saiu vitorioso porque evitou a pena de morte.

A corajosa defesa de Nabuco foi construída a partir do seguinte raciocínio: o negro defendera-se de dois crimes anteriores, crimes da ordem jurídica e social do Império: um, a própria escravidão; outro, a pena de morte iminente.

Nesta última semana, em São Luís, um jovem negro, favelado, morreu linchado amarrado a um poste por ter, segundo a notícia, assaltado um bar.

O jornal Extra publicou a notícia com duas ilustrações, incrivelmente idênticas. Uma mostrava um escravo acorrentado a um tronco, submetido a açoites. Outra, o negro de São Luís, morto, cabeça pendendo amarrado a um poste de luz. É como se a foto fosse uma reprodução deliberada da primeira, uma cópia feita por um cineasta ou um fotógrafo. Nas duas cenas, pessoas olham inertes, passivas, curiosas. Profético Nabuco.

Se o jovem negro saísse vivo, sua defesa deveria ser feita com a coragem de Nabuco: ele cometeu um crime que tem a ver com crimes anteriores, os crimes da ordem social e jurídica que degradaram toda sua existência. Porque óbvio que jovens brancos de classe média não roubam botecos. Cometem outros delitos, e quando o fazem não são amarrados a um poste e linchados.

Anos mais tarde, Nabuco, já herói do abolicionismo, era célebre a ponto de ter sua figura estampada em rótulo de cigarro (Cigarros Nabuco). Um dos intelectuais mais extraordinários da história do Brasil, escreveu a frase que explica o linchamento do jovem negro favelado de São Luís e que explica muito do Brasil dos séculos seguintes. Em citação livre: a escravidão havia de tal forma pervertido e contaminado a sociedade brasileira que a moldaria ainda por muito tempo. E que não bastaria libertar escravos, mas reeducar a sociedade.

A abolição foi um ato apenas jurídico e formal. O Brasil então seguiu impávido colosso ignorando o povo negro, como se nada devêssemos a eles, como se não tivéssemos um débito social derivado de um tenebroso passado de séculos de miséria e degradação escravizando seres humanos. O Brasil segue impávido colosso ignorando as gerações seguintes do povo negro, e assim o jovem negro de São Luís era livre segundo a lei. A lei que em sua majestática grandeza dá a todos o direito de jantar no Ritz e dormir embaixo da ponte, como disse Anatole France.

Anatole France disse literariamente o que críticos do Capitalismo desde sempre apontaram: a condição de sujeito de direito do trabalhador que produz a riqueza da sociedade por força de um contrato “livremente” assinado não o liberta. O constrangimento econômico difuso o faz escravo de outra forma. Então, ele é perfeitamente livre para dormir embaixo da ponte ou ir a Paris jantar no Ritz.

A opressão do povo negro é múltipla. Há o débito social histórico, essa miséria transmitida de geração a geração sem que a sociedade brasileira lembre-se de resgatá-lo. Há o preconceito. Há a exploração da estrutura capitalista, que aí é, portanto, uma sobre opressão.

Em artigo publicado nesta coluna Contracorrentes, Marcelo Semer, apoiado em levantamento da Secretaria Nacional da Juventude (trabalho coordenado por Jaqueline Sinhoreto), traz, nessa ordem de considerações, um dado irrespondível: “mais de 60% dos presos são negros (prende-se 1,5 vez o número de brancos) e uma parcela próxima a essa é composta por jovens. Quanto mais se prende, mais jovens e mais negros lotam as cadeias”.

“Puta africana”, “macaca”, “vagabunda” foram algumas das frases dirigidas a Maju, a apresentadora negra do Jornal Nacional, no Facebook. A página do Extra que estampava as duas ilustrações teve, entre 1817 comentadores, 71% favoráveis ao linchamento.

Billie Holiday cantava uma canção chamada Strange Fruit. Falava dos negros enforcados em árvores nos sul dos EUA: “árvores do sul produzem uma fruta estranha/sangue nas folhas e sangue na raiz/corpos negros balançando/fruta estranha pendurada nos álamos/pastoril cena do valente sul/os olhos inchados e a boca torcida/perfume de magnólias, doce e fresca/Depois o repentino cheiro de carne queimada/Aqui está a fruta para os corvos arrancarem/Para a chuva recolher, para o vento sugar/Para o sol apodrecer, para as árvores deixarem cair/Aqui está a estranha e amarga colheita”.[i]

Aqui não são árvores, são postes de luz. Há neles uma estranha lâmpada.

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Maioridade penal foi fixada após estupro de menor na prisão, em 1927

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bernardino menino estupro menoridade penal


por Mariana Serafini

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Em 1927, menor estuprado na prisão levou Brasil a fixar idade penal

A maioridade penal foi fixada em 18 anos no Brasil em 1927, quando um crime brutal chocou o país e levou as pessoas a questionarem a violência contra as crianças. Desde então, esta é a primeira vez que existe uma proposta de redução.

A história ficou conhecida como “O menino Bernardino”. A criança, de apenas 12 anos, era engraxate, ao terminar um serviço o cliente saiu sem pagar. A reação de Bernardino foi jogar tinta no senhor que prontamente acionou a polícia. Quando os policiais chegaram o pequeno não soube explicar o que aconteceu e foi preso numa cela com 20 adultos.

Mesmo inocente, Bernardino permaneceu na prisão e foi estuprado e espancado pelos detentos adultos. De lá, jogado na rua. Ao ser resgatado e levado ao hospital, os médicos ficaram horrorizados com a história e a imprensa da época deu um grande destaque ao caso, que chocou a população. Apesar de haver uma violência generalizada contra as crianças pobres, além de uma exploração exacerbada do trabalho infantil, a população questionou os cuidados com a infância e exigiu medidas de proteção.

Pressionado pela opinião pública, um ano mais tarde o presidente Washington Luiz assinou o Código de Menores, um sistema de proteção à criança que fixava em 18 anos a idade para os adolescentes serem punidos como adultos. Este Código também protegia os menores de 14 anos abandonados, que não receberiam nenhum tipo de punição e a partir desta idade poderiam ser submetidos a medidas socioeducativas.

Para a professora de História da Educação da Uerj, Sônia Câmara, o Código dividiu as crianças “em dois grandes setores, o setor das crianças de elite, brancas e ricas e a grande maioria das crianças brasileiras: pobres, negras, abandonadas e delinquentes, que recebem o nome pejorativo de ‘menor’”. Mas ainda assim, ela vê com bons olhos esta que foi a primeira tentativa efetiva de regular e proteger a infância.

Mas havia uma “divisão social” que independia da idade porque eram considerados “menores”, as crianças abandonadas e que estavam sob a tutela do Código, ou seja, os “vadios”, ou “delinquentes”. Normalmente as crianças com estrutura familiar não se encaixavam nos pré-requisitos do Código.
A partir disso surge o SAM “Serviço de Assistência ao Menor”, que seria uma primeira tentativa do que conhecemos hoje como Fundação Casa. Porém, o aparelho funcionava, de acordo com a professora de História da USP, Maria Luiza Marcilio, como uma ferramenta de tortura e violência contra as crianças, e não como um mecanismo educativo.

Depois do fracasso da ditadura militar com a Funabem (que daria origem à Febem), em 1990 surge o Estatuto da Criança e do Adolescente, considerado até hoje avançado. O ECA prevê a proteção à criança e ao adolescente baseado em leis internacionais e estabelece punições socioeducativas aos menores de 18 anos responsabilizados por crimes.

Um crime que chocou a sociedade brasileira em 1927, ou seja, quase 90 anos atrás, pode se tornar realidade novamente, caso as crianças e adolescentes sejam expostas à punição com adultos. É isso que propõe a PEC da redução, aprovada pela Câmara dos Deputados.

A história de Bernardino faz parte de uma série de arquivos resgatados pelo Senado Federal no Arquivo S.

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estamos regredindo 100 anos em cinco.

Grèce : la droite veut sa revanche sur l’histoire

por MARIA MALAGARDIS ENVOYÉE SPÉCIALE À ATHÈNES/ LIBÉRATION

Manifestation des proeuropéens pour le oui au référendum, le 30 juin. Pour la droite, la victoire du non signiferait la fin de l’avenir européen de la Grèce. (Photo Christian Hartmann. Reuters)

Manifestation des proeuropéens pour le oui au référendum, le 30 juin. Pour la droite, la victoire du non signiferait la fin de l’avenir européen de la Grèce. (Photo Christian Hartmann. Reuters)

REPORTAGE A Athènes, les conservateurs profitent des divisions au sein de la population pour jouer un remake de la guerre civile qui vit la défaite des communistes après l’occupation nazie.


C’est un murmure qui parcourt Athènes. Les mêmes mots qui surgissent des conversations qu’on surprend dans la rue : «Argent», «euros»… Comme en grec, les mots lefta («argent») et lepta («minutes») se ressemblent, difficile parfois de discerner si les préoccupations concernent le manque de liquidités qui asphyxient depuis quelques jours les banques grecques ou bien la peur du compte à rebours jusqu’au référendum de dimanche, alors qu’un nouvel «ultime» Eurogroupe était convoqué mercredi soir. Mais il aura suffi de l’annonce d’un référendum en fin de semaine pour faire valider ou non les dernières propositions de réformes des créanciers, pour que l’étau monétaire se resserre soudain, imposant au pays un compte à rebours tendu jusqu’au scrutin. «La Grèce votera dimanche», a confirmé mercredi après-midi le Premier ministre grec, Aléxis Tsípras, faisant ainsi taire les rumeurs sur un éventuel renoncement au référendum.
Il aura lieu avec des banques fermées et des retraits réduits. A 120 euros par semaine pour les retraités sans carte de crédit et à 60 euros par jour pour tous les autres. «C’est déjà une somme énorme pour certains», souligne Maria Genissopoulou, une sociologue qui travaille aussi comme bénévole dans un centre d’accès aux soins pour les plus démunis, juste derrière la mairie d’Athènes. Devant la porte d’entrée, trois silhouettes décharnées évoquent les risques d’une faillite ou d’une sortie de l’euro en cas de victoire du non au référendum. «L’argent, nous, on a plus de toute façon. Alors, qu’est-ce qu’on aurait à perdre ?» raille une femme très maigre aux dents abîmées. En avoir ou pas ? Le clivage entre le oui et le non se jouera en grande partie sur la ligne qui partage ceux qui ont encore des économies et ceux qui n’ont plus rien. Mais certains voudraient ranimer aussi d’autres clivages. Et notamment ce «eux» contre «nous» de la sanglante guerre civile, qui a suivi l’occupation nazie et s’est achevée par la défaite de la résistance communiste, effacée alors de l’histoire, jusqu’en… 1981.

Peur des «staliniens». En Grèce, un mot a fait sa réapparition ces jours-ci : dichazmos, «la division». C’est un mot lourd de sens en Grèce, qui renvoie à bien des batailles du passé. Du megalo dichazmos, la confrontation historique de l’entre-deux-guerres, entre les républicains du Premier ministre Eleftherios Venizelos et les monarchistes, jusqu’au dichazmos de la guerre civile dont les blessures mirent plus longtemps à se cicatriser que celles de la dictature des colonels entre 1967 et 1974. La peur des «staliniens» était justement sur toutes les lèvres lors des trois manifestations organisées ces dix derniers jours par la droite «pro-européenne», qui pense tenir là sa revanche sur la victoire de Syriza (le parti de Tsípras) aux élections du 25 janvier. Des dames de Kolonaki, le quartier de la bourgeoisie athénienne, multipliaient les coups de fil en début de semaine pour mobiliser contre les «gauchistes». Certaines n’avaient pas peur d’affirmer que les membres du gouvernement Tsípras «parlent russe entre eux», confortées par la visite du Premier ministre grec à Moscou en avril. «C’est une véritable manipulation historique s’insurge l’historienne Maria Spinatopoulou. Ça peut marcher avec les plus vieux, mais les jeunes nés après le retour de la démocratie en 1974 ne gobent pas cette rhétorique, très ancien régime.»

Certes, au lendemain de sa victoire, le 25 janvier, le premier geste d’Aléxis Tsípras a été de se rendre au mont Valérien grec dans le quartier de Kessariani à Athènes pour se recueillir devant le Mur des fusillés : résistants à l’occupation nazie mais aussi combattants de gauche pendant la guerre civile. Un geste inédit, mais qui n’avait pas suscité de réelle polémique. Il est vrai aussi qu’un grand nombre de cadres de Syriza, comme la présidente du Parlement, Zoe Konstantopoulou, ou le bras droit de Tsípras, Nikos Pappas, sont des enfants d’opposants à la dictature des colonels. «Mais en réalité les plus proches conseillers de Tsípras, à commencer par Nikos Pappas, sont de centre gauche», rappelle Yanis Androulidakis, un journaliste proche de Syriza. «Aujourd’hui on assiste au retour de la vieille droite anticommuniste. Des réflexes qu’on pensait oubliés, alors que ces vingt dernières années, la Grèce se sentait plus moderne, moins balkanique et plus en phase avec l’Europe. Du moins jusqu’à ce que l’austérité fasse plonger le pays», déplore le journaliste Dimitris Psarras, spécialiste de l’extrême droite grecque.

Tiers-monde. La Grèce peut-elle tomber encore plus bas qu’aujourd’hui, après cinq ans d’austérité ? Somalie, Soudan, Zimbabwe : les mêmes mots accusateurs revenaient mardi sur les chaînes de télé privées, très hostiles au gouvernement, et qui actaient ainsi l’annonce mardi soir du défaut de paiement au Fonds monétaire international (FMI), «le premier d’un pays développé». La Grèce, boutée hors d’Europe, sera-t-elle ramenée au rang d’un pays du tiers-monde ? «Mon petit Tsípras, à toi de choisir : soit tu capitules, soit les créanciers vont nous détruire en même temps que toi», susurrait mardi la voix caverneuse de Giorgos Tragas, animateur populiste de la radio Skai. «C’est désormais une évidence : le seul but des créanciers, c’est la tête de Tsípras. Sinon pourquoi auraient-ils accepté ses propositions lundi comme de “bonnes bases” avant de les rejeter mardi ? s’interroge Maria Spiritopolou. Lorsque le représentant bulgare à Bruxelles avance que le salaire minimum est à 200 euros dans son pays, j’ai envie de lui montrer toutes les prostituées et femmes de ménage bulgares qui ont envahi Athènes. Ce qui se joue en Grèce, ce n’est pas le retour de la guerre civile, c’est une bataille sociale qui concerne toute l’Europe. Car ailleurs aussi, l’austérité fait des ravages et pourrait être remise en cause par des élections.»

«Reste que le gouvernement de Tsípras a pêché par manque d’anticipation : il aurait dû s’attendre à cette hostilité et garder du cash de côté, au lieu de mettre un point d’honneur à rembourser ses prêts depuis cinq mois. La guerre, ça se prépare», rétorque Dimitris Psarras qui, comme beaucoup, redoute la chute du gouvernement et «une austérité encore plus dure imposée alors à un pays sonné». La tête de Tsípras ? La droite grecque en rêve, à voix haute. «On trouvera toujours, pour le remplacer, un homme providentiel. Au besoin, on l’inventera», confiait un député conservateur de Nouvelle Démocratie, samedi dans les couloirs du Parlement alors que les députés adoptaient le projet de référendum. La guerre civile est peut-être finie, mais l’avenir paraît bien sombre sous un ciel athénien, curieusement lourd et moite, en ce début d’été, décidément pas comme les autres.

Maria MALAGARDIS Envoyée spéciale à Athènes

El terrorismo financiero contra Grecia

Este artículo hace una llamada a la ciudadanía de los distintos pueblos y naciones de España para que se movilicen en defensa del gobierno Syriza en Grecia, cuya causa (la defensa de la democracia y la justicia social) es la misma que la que motivó a los luchadores republicanos españoles en los años treinta.

Spiros Derveniotis

Spiros Derveniotis

Por Vicenç Navarro

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Estamos hoy viendo un ataque frontal del capital financiero, hegemonizado por el alemán, y vehiculado primordialmente a través del Banco Central Europeo (BCE), en contra del pueblo griego, ataque que intenta evitar cualquier atisbo de rebelión frente a las políticas de austeridad que están destruyendo el bienestar de las clases populares de todos los países de la Eurozona y muy en particular de Grecia, cuyo gobierno Syriza ha sido el primero en decir “BASTA YA” frente a lo que no hay otra manera de llamarlo como terrorismo financiero (ver el libro del Profesor Juan Torres y yo, titulado Los amos del mundo, las armas del terrorismo financiero). Es en estos momentos cuando hay que entender el contexto político e histórico de lo que está ocurriendo, comenzando por las semejanzas existentes entre lo acontecido en Grecia ahora con lo que sucedió en España en el año 1936.

España 1936, Grecia 2015

Existen momentos en la historia de Europa en los que la lucha por la justicia social y por la democracia en un país es también la lucha por la justicia y por la democracia para todos los países del continente europeo. La lucha, mal llamada Guerra Civil en España (entre 1936 y 1939), fue un ejemplo de ello. En el territorio español, un golpe militar en nombre de las minorías que controlaban el país, tuvo lugar el 18 de julio del año 1936, con el apoyo de las tropas nazis alemanas y fascistas italianas, frente a la gran mayoría de las clases populares de los distintos pueblos y naciones de España, que resistieron tal golpe heroicamente durante más de tres años, con escasa ayuda militar de los países gobernados por partidos que se autodefinieron como demócratas, mostrando una gran traición a los principios democráticos que decían sostener.

La derrota de las fuerzas democráticas españolas significó también la derrota de la democracia en la Europa Occidental con la victoria del nazismo y del fascismo en muchos países de aquella Europa, iniciándose la II Guerra Mundial. Y en España, aquella victoria significó el inicio de un régimen dictatorial que se caracterizó por su enorme brutalidad (por cada asesinato político que cometió Mussolini, el dictador Franco cometió 10.000, según el mayor experto en el fascismo europeo, el profesor Malefakis, de la Universidad de Columbia en la ciudad de Nueva York) y que impuso un enorme retraso económico, político, social y cultural en España. En 1936, España e Italia tenían semejante nivel de desarrollo económico. En 1978, fecha en la que terminó aquel horrible régimen dictatorial, el PIB per cápita español era solo el 62% del italiano. Este fue el coste económico de tal régimen.

¿Qué está pasando en Grecia?

Salvando las diferencias que existen en cada hecho histórico, lo cierto es que en Grecia hemos estado viendo una situación semejante, en que la lucha por la justicia social y por la democracia en aquel país es la lucha por la justicia social y por la democracia en todos los países de la Europa Occidental. La pervivencia de la justicia social y de la democracia en los países de la Unión Europea se está jugando hoy en aquel país. Su derrota limitará enormemente, hasta anularlas, tanto la una como la otra, completando un proceso que se inició hace años con la construcción de un sistema de gobierno de la Eurozona, dominado por el capital financiero (hegemonizado por el alemán), que, en una coalición de las minorías gobernantes en cada país, han estado agrediendo al pueblo griego, destruyendo el 25% de su riqueza nacional o PIB, con el desmantelamiento de su ya escaso Estado del Bienestar, saqueándolo, robándole sus propiedades y atacando a sus clases populares, y muy en particular a su clase trabajadora, asalto que se ha estado realizando en colaboración con las élites corruptas y antidemocráticas que han gobernado Grecia durante muchísimos años. Este ataque (y no hay otra manera de definirlo) se ha llevado a cabo en alianza con las minorías que representan a las clases dominantes de los países miembros de la Unión Europea, siendo un aliado importante en esta lucha de clases que está teniendo lugar a nivel continental, las élites corruptas gobernantes del Estado español, herederas de las que dominaron la dictadura fascista en España.

La rama política de este capital financiero –los partidos conservadores y liberales, con la inestimable ayuda de los partidos socioliberales- (que todavía tienen la osadía de autotitularse socialdemócratas, tras haber abandonado cualquier atisbo de parecerse a tal tradición política), han establecido una dictadura en la Unión Europea que ha estado imponiendo políticas sumamente impopulares que carecían de mandato popular (pues no estaban en sus programas electorales), alcanzando su máximo desarrollo en Grecia. Hoy, la riqueza destruida en aquel país, todavía pobre en Europa, es mayor que la riqueza destruida en Francia y en Alemania durante la I Guerra Mundial. Sus pensiones y sus servicios públicos del Estado del Bienestar están siendo diezmados, y los convenios colectivos que defienden al mundo del trabajo están siendo enormemente debilitados, todo ello como consecuencia de las políticas neoliberales impuestas por el establishment neoliberal europeo que controla el gobierno de la Unión Europea y de la Eurozona, con la asistencia del Fondo Monetario Internacional. Es un ejemplo más del terrorismo financiero que es tan dañino como el terrorismo militar, y que es mucho más extenso.

El objetivo político del establishment europeo es destruir cualquier rebelión frente a esta d¡ctadura financiera

Lo que está ocurriendo hoy es el intento de destruir a Syriza, el primer gobierno que, representando los intereses de las clases populares, ha intentado parar tanta barbarie, rebelándose frente a las políticas públicas de austeridad, tal como le mandó el pueblo griego. Como he indicado en artículos anteriores, lo que la dictadura financiera quiere es no expulsar a Grecia del euro, sino expulsar a Syriza del gobierno. Y cuenta para ello con la clase política griega, corrupta hasta la médula, que controla la gran mayoría de los medios de información y persuasión de aquel país, como también ocurre en España.

Grecia ha sido la mayor víctima de este sistema terrorista que se está aplicando en la Eurozona, causando el mayor desastre social que se conoce en la Europa Occidental desde 1945. De ahí la urgencia y necesidad de ayudar a las fuerzas democráticas griegas, saliendo a la calle, enfrente de las delegaciones de la UE en España, para mostrar el rechazo hacia este terrorismo. La Europa que era el sueño de la resistencia antifascista durante los años de clandestinidad es ahora, una pesadilla, como consecuencia del deterioro tan marcado de la democracia y de la solidaridad, resultado de aquel terrorismo financiero que domina hoy este continente.

¿Qué está pasando en estos momentos?

Como era de esperar, la mayoría de los medios de gran difusión en España, altamente financiados por el capital financiero, han responsabilizado de lo que está ocurriendo nada menos que a la víctima de tal terrorismo. Frente a tanta mentira, es importante señalar:

1. La enorme necesidad y urgencia de responder a tanta falsedad, denunciando a los medios por falsificar la realidad, tanto de lo que ha estado ocurriendo como de lo que ha pasado estos días.

2. Que el Banco Central Europeo (BCE), que ya mostró su hostilidad hacia el gobierno Syriza solo dos días después de ser elegido, ha amenazado con destruir el sistema bancario griego cerrando toda transferencia a sus entidades bancarias.

3. Que las exigencias de las Instituciones Europeas (formado por, además de lo que se había llamado la Troika –el BCE, la Comisión Europea y el FMI-, el Eurogrupo), que incluyen el pago de la deuda, son un ataque frontal a la supervivencia de Grecia, pues es imposible que se pague tal deuda y a la vez reactivar la economía griega. Tales demandas han llegado a niveles escandalosos, como exigir que haya una reducción de las pensiones públicas que signifique un recorte equivalente a un 1% del PIB, a la vez que las mismas instituciones se oponen a la demanda de Syriza de aumentar los impuestos a las clases más pudientes, vetando también un gravamen a los grandes yates de tales clases.

4. Que la aplicación de las políticas de austeridad ha causado un auténtico desastre social y económico, generando a la vez un aumento y no una disminución de la deuda pública, de la cual solo se han beneficiado los bancos extranjeros, y muy en particular los alemanes y franceses, pero también los españoles.

5. Que cuando estos bancos estuvieron en riesgo de perder sus enormes beneficios generados por los intereses que Grecia estaba forzada a pagar, y que no podría pagar, fueron los gobiernos de la Eurozona los que les rescataron, bajo la falsa excusa de que intentaban ayudar a Grecia.

6. Que han sido las instituciones del establishment europeo, que desde el primer día del gobierno Syriza mostraron una enorme rigidez, las que han ignorado las demandas de este gobierno, que no eran ni más ni menos las que se habían permitido al Estado alemán cuando su deuda le estaba ahogando. En estas condiciones se hizo una quita de un 50% de la deuda pública alemana y se condicionó el pago del resto de la deuda al crecimiento de la economía alemana. Las instituciones del establishment europeo sistemáticamente se opusieron, e incluso se negaron, a considerar esta alternativa que había señalado el gobierno Syriza.

7. Que el BCE, en alianza con la clase corrupta dominante en Grecia, que controla la mayoría de los medios de información, está intentando que estos días, antes del referéndum del próximo fin de semana, haya un caos en la situación financiera griega, a fin de movilizar la oposición al gobierno Syriza en el referéndum, con la intención de conseguir lo que siempre desearon, echar a Syriza del gobierno.

8. Que la derrota de Syriza será una derrota de la lucha contra la austeridad en la Eurozona. Syriza no tenía ninguna otra alternativa a hacer lo que ha hecho, pedir la opinión del electorado griego, pues Syriza fue escogido para terminar con las políticas de austeridad. Si las instituciones europeas no le dejan hacer lo que prometió es una muestra más de su compromiso y coherencia democráticos el que Syriza considere necesario pedirle al pueblo griego que decida si acepta los cambios sugeridos por el establishment europeo o si desea que el gobierno desobedezca tales propuestas.

9. Que todo lo que está pasando en Grecia afecta directamente a las clases populares de todos los pueblos y naciones de España. De ahí que el gobierno Rajoy haya sido el mayor aliado en el Eurogrupo, del Ministro de finanzas alemán -el halcón del Eurogrupo-, pues dicho gobierno español ha sido de los que han llevado a cabo tales políticas de austeridad con mayor dureza, presentándose como el modelo a seguir en la Eurozona. El tsunami político ocurrido en este país en las últimas elecciones municipales ha asustado a ese establishment neoliberal que gobierna la Eurozona, contribuyendo a aumentar su rigidez negociadora, pues quieren, por todos los medios, que Syriza fracase. Intentan así asustar a la población española, cada vez más asqueada con las políticas neoliberales promovidas por el establishment español (y aquí en Cataluña, por el establishment catalán) y sus medios de información y persuasión. El miedo es, una vez más, la estrategia seguida por la estructura de poder ante el número creciente de ciudadanos que quieren tomar el control de su presente y futuro. De ahí el enorme temor de que la ciudadanía sea consciente de que se pueden cambiar las realidades que le oprimen si se organiza para ello. Y esto es lo que el establishment neoliberal europeo no puede permitir. Así de claro.

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Gregorio Duvivier: “O Congresso está cheio de fiscais de cu”

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Em entrevista exclusiva, o ator fala sobre a falta de representatividade da população no Legislativo, os recentes protestos contra o governo, o conservadorismo da imprensa brasileira, as contradições do capitalismo e o humor como ferramenta de transformação social; confira

Por Maíra Streit

Gregorio Duvivier é ator, escritor, roteirista, empresário, faz cinema, TV e teatro, mantém uma coluna na Folha de S. Paulo e há anos conquistou sucesso com o grupo Porta dos Fundos, que ajudou a criar. É apontado como um dos grandes talentos de sua geração, mas tem – mesmo que involuntariamente – colecionado polêmicas desde que passou a falar sobre sua visão diante do cenário político do país.

Nessa entrevista, ele comenta a falta de representatividade da população no Legislativo, os recentes protestos contra o governo, o conservadorismo da imprensa brasileira, as contradições do capitalismo e o humor como ferramenta de transformação social. “O pior perigo é infantilizar o público, torná-lo bobo, vazio, ingênuo. Para mim, o maior atrativo e a força de uma piada residem na irreverência”, afirma.

Confira abaixo.

Fórum – Gregorio, você faz parte de uma geração nascida nos anos 1980, que foi uma década importante para o país do ponto de visto sociopolítico, com o fim da ditadura militar, a redemocratização, Diretas Já, uma nova Constituição. Como você avalia o momento em que vivemos hoje?

Gregorio Duvivier – Temos uma democracia jovem, que nasceu junto com a gente. Nascemos com um presidente que nem tinha sido eleito diretamente. Acho que isso é muito sintomático. Temos uma democracia muito verde. Então, as pessoas, sobretudo as mais velhas, não estão acostumadas a discutir. A geração dos meus pais está muito traumatizada com a política. Meus pais acham política um nojo, apesar de serem de esquerda. E com razão.

Quando eles eram jovens, era Arena ou MDB. Não tinha muita alternativa. Essa é a primeira geração que viu que consegue eleger representantes e consegue acreditar que política pode fazer a diferença. Ao mesmo tempo, a gente precisa entender que a política é diferente do futebol. Às vezes a gente tenta transportar a mesma rivalidade. No futebol, você é aquilo para o resto da vida e vai defender o seu time para sempre. Na política, não existe uma verdade absoluta.

A democracia ainda é frágil. Nunca o Brasil ficou tanto tempo quanto agora, nunca teve mais de 30 anos de democracia. Nossa história não é de paz, é de extrema violência. Qualquer levante popular era reprimido com muita violência. Não somos um povo pacífico, mas um povo apassivado.

“Temos uma democracia muito verde. Então, as pessoas, sobretudo as mais velhas, não estão acostumadas a discutir (Foto: Maíra Streit)”

“Temos uma democracia muito verde. Então, as pessoas, sobretudo as mais velhas, não estão acostumadas a discutir (Foto: Maíra Streit)”

Fórum – Isso explica algumas reações de intolerância que temos visto? Você mesmo foi vítima de constrangimentos por colocar suas opiniões políticas. Ainda há muita imaturidade nesse aspecto?

Duvivier – A gente é muito imaturo, não sabe lidar com as discordâncias. Não sabe ler e discernir opiniões. A mídia no Brasil tem uma ligação muito forte com o poder, sobretudo a impressa. Algumas têm ligação com o governo, outras com a oposição. Parece que não interessa problematizar a questão. Falam da regulamentação da mídia e isso vira “censura”. É esse conflito de interesses. A relação público-privada no Brasil é o nosso câncer. Como o privado financia e manda no público! E, no caso dos jornais, é o público financiando o privado.

“O Congresso Nacional reflete muito mais o interesse privado do que o público. As empresas elegem os seus representantes (Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados)”

“O Congresso Nacional reflete muito mais o interesse privado do que o público. As empresas elegem os seus representantes (Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados)”

Fórum – Essa questão de o privado financiar o público também lembra muito a formação do nosso Congresso.

Duvivier – O Congresso Nacional reflete muito mais o interesse privado do que o público. As empresas elegem os seus representantes. Empresa não faz doação, faz investimento. E tem retorno, senão elas não iriam continuar. O Congresso funciona para quem paga. É muito louco que isso seja permitido. Tem claramente o nome de cada deputado que votou pelo financiamento privado [de campanhas eleitorais]. Você vê quem está interessado em perpetuar o poder.

As pessoas não estão interessadas. É uma fonte segura, oficial, está lá o nome daqueles que votaram, com uma manobra totalmente espertalhona do Eduardo Cunha. A gente tem essa dificuldade de saber contra quem está lutando. É importante relativizar e entender que as opiniões do jornal são muitas vezes incentivadas por seus investidores.

Fórum – A impressão que dá é que a população tem ido mais às ruas, mas com uma pauta ainda muito difusa. Você acha que, mais do que promover protestos esporádicos, é importante que os cidadãos se preocupem em acompanhar a política, as discussões do Congresso e incluir essas questões no seu cotidiano?

Duvivier – Exatamente! Muita gente foi às ruas de São Paulo contra a terceirização e contra o PT, mas o PT é contra a terceirização. E só você ver que a pessoa contra quem você está lutando está ao seu lado. O PT é contra o financiamento privado. É você ir às ruas pelas razões certas. Sou crítico ao PT, mas acho que temos que bater pela esquerda. E os direitos LGBT? E os direitos indígenas? E o meio ambiente? Bater por esse lado. É muito mais importante a gente bater do lado certo, até porque é importante lembrar que o PT e a Dilma são oposição, não têm maioria no Congresso. Temos uma presidenta que é oposição dentro do próprio governo.

Fórum – Você é bastante procurado para falar sobre política. Como foi se transformar no cara que a direita ama odiar (em especial, os colunistas da Veja)?

Duvivier – (Risos) A primeira palavra que eu li na minha vida foi “Veja” – nunca falei isso. A revista tinha uma importância muito grande e, por um tempo, achei que fosse investigativa, como todo jornalismo deve ser. Eu achava que a Veja era, até começar a ligar os pontos e ver que todos os colunistas falam a mesma coisa, todos escrevem a mesma coluna. Isso para mim é uma vantagem da Folha, que tem o [Luiz Felipe] Pondé, o [Vladimir] Safatle, o Reinaldo Azevedo, o [Guilherme] Boulos. A pessoa tem o direito de achar o que quiser. Mas lá são travestidos de articulistas, e até mesmo de cronistas, quando na verdade são replicadores.

Fórum – E por que eles parecem ter uma fixação pela sua figura?

Duvivier – Consciência social incomoda, e vem esse rótulo de “esquerda caviar”. Incomoda muito a eles que uma pessoa possa ter um conceito social. Se o vegetariano incomoda o carnívoro, incomoda porque o faz pensar, ele se sente culpado e ataca. Da mesma maneira, a pessoa que tem consciência social exacerba a culpa daquele que não tem.

Como a esquerda teoricamente está no poder, eles se acham oposição, mas o poder no Brasil nunca trocou, de fato, de mãos. Eles não são oposição, são governistas no sentido de que são a favor da perpetuação, não querem a mudança, por isso são reacionários. Eles são pela continuação do que sempre foi. O Brasil nunca alternou o poder de fato.

Tivemos uma tímida tentativa com o Lula e a distribuição de renda, mas não podemos chamar de alternância de poder, com o PMDB mandando. É bom a gente lembrar que o PT, que é tão atacado, não é quem está mandando. Eduardo Cunha tira e põe qualquer ministro, aprova e desaprova qualquer emenda. É importante a gente lembrar disso.

“O problema dos capitalistas é que as mesmas pessoas que prezam pela independência do mercado não prezam pela independência do ser humano (Foto: Reprodução/Facebook)”

“O problema dos capitalistas é que as mesmas pessoas que prezam pela independência do mercado não prezam pela independência do ser humano”

Fórum – E sobre a onda conservadora que tem tomado o país… O que você pensa quando se dá conta de que, em pleno século XXI, a gente ainda discute se o conceito de família pode ir além de homem, mulher e filhos? Tem, inclusive, uma enquete da Câmara sobre isso.
Duvivier – Essa simples pergunta [proposta pela enquete] é criminosa. O fato de estar sendo feita já é criminoso. É a mesma coisa de perguntar se os índios são seres humanos. Já está equivocado só de fazê-la. E é feita de uma maneira totalmente indutiva. Você acha que todo ser humano tem o direito de ter uma família, independentemente da orientação sexual? Tinha que ser assim.

É triste, além do resultado, saber que isso está em pauta no Brasil. Isso para qualquer país minimamente civilizado. Parece uma discussão da escravidão, para saber se os negros tinham alma. É a mesma coisa, o mesmo nível. O brasileiro ainda está no século XVII, é muito triste que a direita seja tão conservadora.

O problema dos capitalistas é que as mesmas pessoas que prezam pela independência do mercado não prezam pela independência do ser humano. O mercado tem que ser livre, mas o ser humano tem que ser regulado. Regulamentação para o ser humano, mas liberdade para as empreiteiras. O mínimo de coerência tem que ser necessária. O Congresso está cheio de fiscais de cu.

Liberdade para os bancos, as empreiteiras e o poder de modo geral, mas a mulher e o transexual, esses eu quero regulamentar tudo o que fazem na vida privada. Aí entra o aborto, que é uma questão de saúde pública e da mulher, está longe de ser uma discussão ética ou religiosa. Mas ainda baseiam as argumentações no aspecto religioso.

Fórum – Falando um pouco sobre isso, o humor pode ser uma ferramenta importante de transgressão, mas às vezes acaba reforçando estereótipos. O Porta dos Fundos vem na contramão. Há quem diga que o mundo está ficando mais chato por causa do “politicamente correto”. Mas talvez esteja ficando chato para os machistas, racistas e homofóbicos que sempre puderam agir sem serem incomodados, né?

Duvivier – Eu nunca vi um negro dizendo que tem saudade da época que faziam piadas racistas. Ou um homossexual. Em geral, quem tem saudade é aquele que fazia as piadas e não aqueles que sofriam. O humor pode ser usado para tudo. Pode ser para libertar ou para oprimir. É como a pólvora, que pode servir para uma chacina ou para fogos de artifício. Você pode matar ou pode salvar gente.

O que me incomoda é quando o humorista diz que é só uma piada. É o meu ganha-pão, é o que dá sentido à minha vida. Não é só uma piada. O médico não diz “É só uma cirurgia; se morrer, não tem problema”. Tem que levar mais a sério. Os humoristas que eu mais admiro levam muito a sério. Como o Chaplin, que fez um filme sobre Hitler quando as pessoas ainda não entendiam direito aquele sujeito.

Ele foi um dos responsáveis pela adesão dos Aliados contra o Nazismo. Ele mostrou o ridículo do Nazismo quando ninguém estava vendo. É menos engraçado por isso? Não, é muito mais. Agora, as charges antissemitas daquela época, ninguém lembra delas. O humor não é sempre libertário, não é. Assim como tem hoje o humor homofóbico e racista. Ele pode ser uma ferramenta de opressão, mas ele é muito poderoso quando é usado como ferramenta de libertação.

Temos O Pasquim, que batia na ditadura, em uma tradição de humor político. Foi muito representativo, um humor que está à frente de muitas coisas que fazemos até hoje e eles faziam em plena ditadura, foi muito ousado. É a prova de que o humor não perde a graça quando ele é consciente. O humor não é necessariamente ingênuo ou ignorante. Diziam que o que faz sucesso na internet é o tosco, diziam isso quando começamos no Porta dos Fundos. E a gente acreditava que não. O público da internet não é mais burro que o da televisão, muito pelo contrário.

Temos a TV Pirata, O Pasquim, Chico Anysio, Jô Soares. A gente tem uma tradição de humor responsável, inteligente, crítico. É importante a gente resgatar essa função para o humor e mostrar que é viável. O pior perigo é infantilizar o público, torná-lo bobo, vazio, ingênuo. Para mim, o maior atrativo e a força de uma piada residem na irreverência dela. Humor não é chutar o mendigo, é passar a mão na bunda do guarda. Aí é engraçado. O combustível, para mim, é esse. É o risco.

Sobre Chaplin: “Ele mostrou o ridículo do Nazismo quando ninguém estava vendo. É menos engraçado por isso? Não, é muito mais

Sobre Chaplin: “Ele mostrou o ridículo do Nazismo quando ninguém estava vendo. É menos engraçado por isso? Não, é muito mais”

A traição da Força Sindical, uma central de trabalhadores que defende o emprego terceirizado

OLIVEIRA terceirização apatia povo

A Força Sindical é uma central de trabalhadores, que conta com 445 entidades associadas, e 4.215.927 trabalhadores na base. Esses trabalhadores estão sendo traídos por pelegos sindicais nazi-fascistas.

A Força Sindical tem como presidente o deputado direitista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, um dos fundadores e presidente do partido Solidariedade, que apresentou o pedido de urgência para votação da lei da terceirização na Câmara dos Deputados.

E junto com o PMDB, liderado por Eduardo Cunha, e com o PSDB e outros partidos da direita e da extrema direita, aprovaram o emprego terceirizado, isto é, a terceirização geral, ampla e irrestrita, criando um novo tipo de escravidão do trabalhador brasileiro.

Aroeira

Aroeira

O apoio da Força Sindical vem sendo explorado pela imprensa conservadora. Diz o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, na sua primeira página: “Terceirização vira temas de palanques no Dia do Trabalho.

Em eventos da Força Sindical, em São Paulo, oposição ataca Planalto e defende projeto da terceirização”.

Oposição representada pelo Paulinho da Força e do Solidariedade, e pela presença de Aécio Neves do PSDB.

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1º de Maio, terceirização e compromisso com os trabalhadores e com o Brasil

por Jacy Afonso de Melo

A evolução das relações sociais apontam que a terceirização adequa a força de trabalho, fonte de criação de riquezas, aos interesses do mercado e ao fomento da lucratividade das empresas. Potencializa a desigualdade social e

Aprovado pela Câmara dos Deputados com truculência, apesar da resistência de organizações sociais e de trabalhadores lideradas pela CUT, ao retirar os freios colocados para a contratação de terceirizados, o PL 4330 libera-a também para as atividades fins, mercantilizando ainda mais o trabalho humano e fragmentando profundamente os rotos laços de solidariedade do processo civilizatório. A ampliação da terceirização é mais um item do retrocesso social escancarado no Brasil após as eleições de 2014, quando o conservadorismo fez crescer suas garras na sociedade brasileira.

O debate sobre a terceirização tem sido apresentado somente como uma disputa entre trabalhadores e empresários. Evidentemente que é fundamental o destaque de que a terceirização ampla e sem critério implica em maior degradação do nível de relacionamento entre empregado e empregador, desestruturando as categorias e enfraquecendo o movimento sindical. O terceirizado, além de receber salários inferiores, é o maior afetado por doenças e acidentes de trabalho, não se identifica com as categorias profissionais da empresa tomadora de serviços e tampouco com os da empresa empregadora, que nem sempre tem um ramo de especialidade, simplesmente fornecendo mão-de-obra. Essa situação mercantiliza o trabalho e desconsidera as relações do processo civilizatório jogando a todos na selva do salve-se quem puder.

A maioria das pessoas assiste ao debate, como se não lhe dissesse respeito. Parece que não se sente desconfortável com o fato de que uma parcela significativa de trabalhadores e trabalhadoras está à mercê de explorações descabidas. Aparentemente, nem sequer percebe a possibilidade de ser atingido pelo processo terceirizador.

Infelizmente, a maior parte da população que exerce seu direito de voto não se vê como coautora do processo desrespeitoso e abusivo estabelecido na Câmara dos Deputados. É comum que ainda hoje muitos votem em pessoas e por outras motivações outras que não o compromisso solidário de escolher represenantes que defendem o interesse da maioria e não os de grupos específicos que, em geral, não veem os iguais seres humanos como merecedores de direitos. Achamos absurda a escravização de trabalhadoras e trabalhadores, mas não conseguimos associar que aqueles que defendem a terceirização representam segmentos que tiveram suas campanhas eleitorais financiadas por empresas que mantêm trabalho escravo. Coincidência? Claro que não! Pesquisas do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp apontam que 90% dos trabalhadores resgatados do trabalho escravo eram terceirizados.

Consequências da terceirização atingem toda a sociedade

As consequências da terceirização sem limites também serão sentidas em todo o lastro social.

Na economia, a diminuição do poder aquisitivo de um número muito maior de trabalhadores terceirizados, reduz a capacidade de compra e provoca a contração no ciclo econômico, o fechamento de postos de trabalho e o desemprego. O aumento dos acidentes de trabalho impulsiona o número de benefícios previdenciários que são resultados solidários da contribuição de todos nós.

Os direitos sociais serão atingidos frontalmente. Com a diminuição da massa salarial e os possíveis impactos nos programas sociais, as desigualdades e a discriminação serão aprofundadas, violando os direitos fundamentais e o princípio constitucional de que todos somos iguais.

No âmbito sindical, longe de resolver a questão da sua estrutura, a terceirização sem controle levará ao esfacelamento das representações. Afinal, a atividade da empregadora é fornecer mão-de-obra e os trabalhadores podem estar cada dia em uma tomadora de serviços diferente, inseridos em locais de trabalho distintos, convivendo com categorias diferenciadas e, portanto, sem identificação com o segmento econômico da empresa-cliente.

No campo público, terceirizar a atividade fim impacta na alocação de servidores, ampliando as possibilidades da contratação sem concurso público, conquista da cidadania contra o clientelismo e o nepotismo. Retira significativamente a transparência da gestão da administração pública.

Na educação, os efeitos da terceirização são sentidos há algum tempo. À medida que serviços como segurança, limpeza e alimentação passaram a ser realizados por terceiros, as preocupações aumentaram. A educação é responsabilidade de todos os que fazem parte do ambiente escolar. As relações estabelecidas com merendeiras, com o pessoal da limpeza e com os vigilantes também educam. A inclusão de empresas terceirizadas, com constante rotatividade de trabalhadores e trabalhadoras, não permite a criação de vínculos com os estudantes e gera insegurança, pois pessoas desconhecidas das crianças e que as desconhecem entram e saem constantemente do ambiente escolar. Pergunta-se: com a possibilidade de terceirizar todos os setores, os professores e professoras também serão substituídos sempre que for do interesse das empresas? Como fica o processo educativo diante de tantas incertezas?

A terceirização de atividades com finalidade pública causa estragos incalculáveis. Empresas como as de água e energia, originalmente públicas, passaram a vender suas ações a entes privados, abrindo espaço para que os acionistas contratem trabalhadores terceirizados, provocando intensa rotatividade dos profissionais especializados. Essa forma de trabalho não estabelece comprometimento contínuo com o local e a atividade e inviabiliza estudos sequenciais e aprofundados. Em consequência a avaliação das dificuldades, o planejamento ao longo prazo e a propositura de soluções para problemas atuais e futuros fica prejudicada. Exemplo concreto é o da Sabesp, que com 49% de suas ações nas mãos de grupos privados, não conseguiu estabelecer ações que inviabilizassem a crise hídrica enfrentada pelo Estado de São Paulo. Mesmo com o serviço público de distribuição de água comprometido, os acionistas não permitiram investimentos em obras, provocando o colapso da água. Mas a crise não inviabilizou que continuassem a receber seus dividendos independentemente de a população ter ou não acesso à água.

Está evidente que a terceirização, por exemplo de engenheiros, que são trabalhadores que exercem atividades-fim em empresas públicas de saneamento, água e energia elétrica, deixará essas instituições vulneráveis ao descompromisso social da iniciativa privada e sem condições de atender com qualidade as necessidades da população, que novamente pagará a conta.

Esses e outros exemplos apontam que a terceirização diz respeito efetivamente a toda sociedade, pois seus impactos nocivos se espraiarão por todos os aspectos de nossas vidas. Isso sinaliza que o modelo proposto no Projeto de Lei 4330 não é adequado à chamada “modernização” das relações de trabalho, não condiz com mudanças positivas na estrutura sindical e não considera os interesses fundamentais da sociedade brasileira.

A Plataforma da Classe Trabalhadora e o protagonismo da CUT

A CUT tem assumido a defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores. Na luta contra ao PL 4330 capitaneou as negociações do projeto desde 2004, quando apresentado à Câmara dos Deputados. Costurando acordos na mesa quadripartite formada por representantes dos trabalhadores, empresários, legislativo e do governo federal, instalada em 2013, elaborou uma proposta sobre a regulamentação da terceirização no Brasil.

Para além do PL da terceirização, a CUT tem assumido o protagonismo no enfrentamento dos grandes temas nacionais, como o da reforma política, passo fundamental para pavimentar o caminho para outras como a tributária e a agrária. E não perde de vista a urgência da democratização dos meios de comunicação.

Essas mudanças são determinantes para a consolidação de um projeto de desenvolvimento capaz de ampliar a capacidade do Estado em investir em infraestrutura e em políticas públicas, especialmente as de educação, saúde, mobilidade urbana, segurança e proteção social. Atua ainda para a garanta e ampliação dos direitos conquistados e para o fortalecimento dos processos de democracia direta e participativa.

A CUT não aceita retrocessos. Por isso, além das lutas imediatas, a intensificação da estratégia organizativa e de lutas, construindo propostas e diretrizes para um projeto nacional de desenvolvimento é imperativa. A Plataforma da Classe Trabalhadora, lançada pela CUT em 2014, aponta ações fundamentais para construir um estado democrático com desenvolvimento sustentável, igualdade e inclusão social, e valorização do trabalho.

Conforme diz a apresentação do documento (que pode ser acessado aqui), “Convictos de que o pleno exercício da cidadania é essencial na formação da consciência crítica e da caminhada para uma nova sociedade, arregacemos novamente as mangas para mais uma árdua tarefa: disputar os rumos do Brasil”.

1º de Maio: A luta continua e se fortalece

Em 1886, realizou-se uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago, com finalidade de reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, pois já naquele tempo se trabalhava até doze horas por dia. Jornada próxima à realizada hoje pelos trabalhadores terceirizados. Esse ato teve a participação de milhares de pessoas e deu início uma greve geral nos Estados Unidos. Três dias depois ocorreram conflitos com a polícia que resultaram na morte de três manifestantes. Em 4 de maio uma nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores. O lançamento de uma bomba por desconhecidos para o meio dos polícias que tentavam dispersar os manifestantes matou um agente. A polícia então abriu fogo sobre a multidão, matando dezenove e ferindo dezenas de manifestantes.

Três anos mais tarde, no dia 20 de junho de 1889, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu convocar anualmente uma manifestação para lutar pelas 8 horas diárias de trabalho. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. Em 1º de maio de 1891 uma manifestação no norte de França é dispersada pela polícia e resulta na morte de dez pessoas. Esse novo drama serve para reforçar o dia como um dia de luta dos trabalhadores. Meses depois a Internacional Socialista de Bruxelas proclama 1º de Maio dia como o dia internacional de reivindicação po condições dignas de trabalho.

Passados 129 anos do primeiro embate, a exploração capitalista se repete e se renova com o nome de reestruturação produtiva. Este tipo de organização do trabalho é pai da terceirização, do aprofundamento da exploração e da desqualificação dos serviços públicos. O modelo de sociedade em que estamos inseridos está organizado para fazer girar a engrenagem da economia e do lucro, atropelando, adoecendo e matando pessoas.

As reivindicações da luta daqueles trabalhadores do século XIX, por incrível que possa parecer, ainda persistem. Exigem maior comprometimento e solidariedade de classe, especialmente a partir da aprovação do Projeto da Terceirização. Mais do que nunca nosso papel de sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, é o de coordenar a resistência. A discriminação nos locais de trabalho e a diferenciação de tratamento, de salários e de benefícios, isolam pessoas de uma mesma classe, rompem os laços que os podem unificar. Estimula a acomodação e o desânimo, desencorajando trabalhadoras e trabalhadores para a luta por vida digna.

E cabe perguntar: A sociedade brasileira está disposta a lutar para que se cumpram os preceitos da “Constituição Cidadã” de 1988 que determina “construir uma sociedade livre, justa e solidária; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”? Ou os interesses econômicos particulares, as conveniências político-partidárias e as lógicas corporativas continuarão ditando nossos comportamentos e nos isolando mutuamente?

As respostas precisam ser imediatas e levando em consideração o que Kafka nos ensina: “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”. A consciência de classe é o que nos agrega, fortalece nossas lutas e nos faz avançar. Este 1º de Maio nos chama às ruas para construir a resistência e fortalecer a luta contra a terceirização e todas as outras formas de exploração. Mais que isso, a unificação da classe trabalhadora é imprescindível para ampliar direitos e conquistas para todas e todos.

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“En Grecia, los jóvenes en paro, se han convertido en un actor político clave”

SvitalskyBros

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Juan Agulló entrevista al analista político Dimitris Pantoulas

Dimitris Pantoulas (Ioannina, 1979) es un analista político griego, de formación británica, que ha contemplado los recientes cambios acaecidos en su país con un pie dentro y otro fuera de su tierra. Es la posición justa para aportar una mirada crítica y aguda que, Pantoulas, desglosa en un castellano fluido, aprendido entre Sevilla y América Latina…

Juan Agulló (JA) – Me gustaría comenzar esta conversación con una pregunta que nos ayude a enfocar el tema: ¿hasta qué punto cree usted que hay tergiversación u ocultación sobre Grecia y sobre el Gobierno de Syriza en la prensa internacional y muy especialmente, en la europea?

Dimitris Pantoulas (DP) – Los grandes medios internacionales transmiten, en general, las ideas dominantes en cada país, que muchas veces son promovidas por Gobiernos y grupos de interés y aceptadas por unas opiniones públicas que, a su vez, retroalimentan el proceso. En el caso de Grecia, por ejemplo, la prensa alemana ha sido bastante hostil contra el nuevo Gobierno: como el Gobierno alemán. La prensa financiera internacional, por su parte, ha estado defendiendo la posibilidad de que Grecia llegue a un acuerdo con sus acreedores (incluso si eso perjudica a amplios sectores sociales). En paralelo, es justo reconocer que en periódicos prestigiosos como The Guardian o The New York Times ha habido voces discordantes que han tendido a preocuparse, más por el pueblo griego, que por la ‘estabilidad del sistema’. En definitiva, tanto Syriza como la propia Grecia, se están moviendo en un ambiente mediático internacional hosco.

JA – Syriza llegó al Gobierno hace mes y pico con la bandera del fin de la austeridad. La reciente firma de una pró rroga del Rescate ¿cómo debe ser interpretada?

DP – Cuando Syriza llegó al Gobierno se dio de bruces con una realidad que no esperaba… y eso que había tenido dos años para prepararse. De todos modos, la Unión Europea (UE) nunca mostró voluntad de compromiso y en cuanto al Banco Central Europeo (BCE), como dijo Alexis Tsipras, le ha puesto “la soga al cuello” al país. La clave radica en la relación de fuerzas en el seno de la UE, que no beneficia al actual Gobierno griego porque en estos momentos es el único de izquierda en la UE (por ejemplo, cuando negoció la prórroga tuvo que enfrentarse, él solo, a los otros 18 Gobiernos de la Eurozona). Ahora, con la prórroga, se han conseguido cuatro meses adicionales para negociar aunque, en realidad, cuesta imaginar qué se negociará puesto que, si la voluntad es no salir de la Eurozona, las opciones son mínimas.

JA – ¿Y por qué, Syriza, no se plantea salir de la Eurozona? Hace no mucho la idea todavía era esa y los que defendían lo que ahora defiende Syriza eran otros que, ahora en las elecciones de enero, no llegaron ni al 1% de los votos…

DP – La gran paradoja de la Grecia actual es que la mayoría de la gente (casi el 80%, según las encuestas) no quiere que el país salga de la Eurozona pero, al mismo tiempo, el 70%, aplaude la firmeza del Gobierno frente a los acreedores. Es decir que, salvo los comunistas, un sector minoritario de Syriza y un pequeño partido (llamado ANTARSYA) los griegos no quieren austeridad pero tampoco quieren salir del Euro. El verdadero problema de fondo es que ese juego de contradicciones lo conoce el actual Gobierno pero, también, los acreedores.

JA – ¿Syriza tiene un riesgo de desgaste político si incumple algunas promesas electorales básicas ? ¿Cree usted que posible que, el Viejo Régimen – o al menos, parte del mismo – se restaure? De hecho, ahora mismo ¿cuál es la alternativa política real en Grecia: Nueva Democracia (ND) o est á en formación?

DP – Vayamos por partes. Syriza fue siempre un partido político muy democrático y plural y durante mucho tiempo esa fue su fortaleza en el marco de un sistema de partidos muy rígido y poco democrático. En el contexto actual, sin embargo, quizá ese rasgo le pueda pasar factura. Ahora mismo, por ejemplo, el ala izquierda del partido está en contra de la prórroga al Rescate: lo ha hecho público y eso ha colocado a Tsipras en una situación incómoda. Por otra parte hay quien piensa que el margen político de Syriza, al menos en el frente interno (y más concretamente en el ámbito de las políticas públicas, sobre todo, sociales) sigue siendo grande, pero también hay quien arguye que los griegos votaron a Syriza para que les sacara de la crisis y no solo para que les gestionaran mejor y con mayor sensibilidad…

Por su parte, lo de ND, también es complejo: la derecha perdió las elecciones por un 8% de diferencia pero no ha cambiado a su dirigencia, como hasta ahora solía ser costumbre en casos así, porque mucha gente piensa que el Gobierno de Syriza va a ser breve y que ND va a recuperar, rápidamente, el poder. Pero el problema, también, es que los griegos quieren salir de la crisis y que les gestionen mejor y ND no promete nada diferente a lo que le hizo perder… La alternativa a todo esto mucho me temo que puede implicar incluso a [la neonazi] Aurora Dorada (AD).

JA – ¿Realmente AD tiene posibilidades? ¿Hasta qué punto, agitar el fantasma neo-nazi en Grecia puede ser un señuelo? ¿A qué sectores sociales representa AD y por qué cree que podría tener potencial de crecimiento, no solo político sino sociológico? En definitiva ¿no cree posibles otras salidas a la crisis orgánica que usted describe?

DP – La dirigencia de AD lleva 18 meses en prisión, acusada de ser una banda criminal. Pese a ello y a toda la propaganda en su contra, AD ha logrado convertirse en la tercera fuerza política del país, aunque con un porcentaje electoral menor que en elecciones previas. La agenda de AD es anti-austeridad, nacionalista y xenófoba. Su base electoral son hombres jóvenes en paro que viven en zonas urbanas marginales. Mi impresión es que, como Syriza decepcione y la gente se sienta humillada por la UE, puede haber un voto de protesta masivo (en defensa del ‘orgullo griego’, muy malherido en los últimos tiempos) y AD es un símbolo de ese voto/protesta.

JA – Ya que hablamos de malestares y protestas ¿usted cuál cree que es, realmente, el componente político más débil de la alianza social que aupó a la izquierda no socialdemócrata al Gobierno?

DP – Sin duda, los jóvenes desempleados que están contra de los programas de austeridad.

JA – ¿Y no una clase social en concreto, una zona del país o un sector de la población? ¿Así de simple, “los jóvenes desempleados que están contra la austeridad”?

DP – Cuesta, en un país con un 25% de paro como Grecia, atenerse a categorías del tipo obreros/capitalistas. Por otra parte, en Grecia, la cuestión territorial no es tan importante como en otros países… Más bien, la juventud empobrecida o con pésimas expectativas es la que se ha convertido en un actor político clave que quiere cambio y que está demostrando ser capaz de poner y quitar Gobiernos. De momento ha ayudado a Syriza. A partir de ahora, veremos…

JA – Miremos ahora hacia los aliados institucionales de Syriza ¿quiénes son los Griegos Independientes (ANEL)? Mucha gente, fuera de Grecia, se lo pregunta… ¿Son un aliado de conveniencia o un rival potencial cauterizado? Socialmente hablando ¿a qué electorado representan?

DP – ANEL es un partido anti-austeridad que nació en 2012, cuando Grecia estaba negociando su segundo y más desastroso Rescate. Básicamente es un partido conservador y nacionalista; no neoliberal, eso sí, que fue creado por ex miembros de ND decepcionados por el viraje del partido que, de ganar las elecciones de 2012 con un mensaje anti-austeridad, pasó a negociar rescates aún más desastrosos que los anteriores y a aplicar políticas de austeridad extrema.

Su alianza con Syriza se explica, en parte por la coincidencia anti-Rescate y en parte, también, por realismo de Syriza: sus votos fueron fundamentales para hacer caer, el pasado mes de enero, al Gobierno de Andonis Samaras (ND) y provocar las elecciones que ganó Tsipras (Syriza).

JA – ¿Y usted piensa que, en un escenario crítico, el electorado de ANEL podría regresar a ND o más bien emigrar hacia posiciones más cercanas a las de AD? Otra pregunta que se relaciona con otro partido, sociológicamente de derecha: ¿se parece el electorado del de To Potami al de ANEL? ¿En un escenario crítico, cabría esperar una evolución parecida de ambos actores?

DP – Es difícil predecir en política. En el caso de ANEL, después de las elecciones, se les presentó una oportunidad de oro para entrar al Gobierno. Simplemente, la aprovecharon. Más adelante, quién sabe…

Potami es otra cosa. Su electorado tiene una extracción social diferente: son clases medias urbanas más preocupadas por cambiar las estructuras institucionales griegas que por las relaciones de clase o incluso, por las negociaciones con la UE.

JA – Es decir que, si no le estoy entendiendo mal, los mecanismos tradicionales de dominación y las alianzas de poder en los que éstos se sustentan han saltado por los aires… No solo han sido los partidos tradicionales…

DP – No, claro. En la sociedad griega, como consecuencia de la crisis, está produciéndose un cambio de valores significativo. De hecho, muchas de las tendencias sociales que hasta hace poco eran hegemónicas (consumismo, hedonismo, materialismo, sueño americano, etc.) están revirtiéndose. Las clases medias están muy golpeadas. La gente empieza a ser consciente de las relaciones de dominación y a cuestionar el periodo anterior… pero todo eso convive con el deseo, todavía mayoritario, de mantenerse en la Eurozona lo cual demuestra que tampoco puede hablarse, como hacen algunos, de un periodo ‘post-neoliberal’ o mucho menos, ‘post-capitalista’… Más bien estamos en la post-austeridad y de todos modos, todavía queda mucho para saber qué quiere decir eso.

JA – Movámonos ahora, para terminar con este repaso a la sociedad griega contemporánea, hacia sus márgenes, que no parecen ser menores ¿Qué perfil tiene ese tercio del electorado que, en unos comicios tan polarizados y hasta cierto punto, tan rupturistas como las del pasado 25 de enero, decidió abstenerse?

DP – Es difícil responder a esta pregunta sobre todo porque me parece que, hasta ahora, nadie ha hecho un estudio en profundidad de la abstención. Sin embargo, hay algo que evidente: el sistema electoral griego, las leyes que lo regulan y el contexto socioeconómico no incentivaron la participación en enero pasado. De hecho la emigración, interna y externa, ha crecido muchísimo como consecuencia de la crisis. Por eso, muchos de los inscritos en el censo electoral, o bien están en el extranjero o bien, aunque están en Grecia, ahora viven en grandes ciudades (principalmente, en Atenas) y debido al escasísimo tiempo transcurrido entre la convocatoria y la elección, a la mayoría, no le dio tiempo a cambiar formalmente su lugar residencia y en cuanto a viajar a sus lugares de origen para votar, para muchos, es un lujo.

JA – Eso de que viajar al lugar de origen pueda ser un lujo en Europa, en pleno 2015, interpela… pero también es una de las consecuencias clásicas de las políticas de austeridad. En ese terreno ¿qué margen real de maniobra tiene Syriza para recuperar políticas redistributivas que, no sólo combatan la exclusión, sino que redefinan las relaciones de poder? ¿No cree usted que el riesgo de defraudar en este ámbito es enorme?

DP – Syriza ha prometido implementar políticas redistributivas que alivien la emergencia social que, actualmente, padece el país. En ese sentido, una de las medidas estrella de Tsipras consiste en proporcionar electricidad gratuita a unas 300 mil familias pobres o que coquetean con la pobreza. Además de eso hay programas alimenticios para niños, un incremento del salario mínimo y un encarecimiento del despido que va a contracorriente de lo que llevaba ocurriendo hace muchos años. A grandes rasgos hay una voluntad evidente por parte de Syriza de cambiar las relaciones de fuerza. Ahí, el gran problema es el margen de maniobra político real que quede después de la negociación del Rescate… En cuanto al riesgo de defraudar, las cosas van más bien por el lado de no caer en tentaciones dañinas como el clientelismo, la corrupción, etc.

JA – Ya que usted menciona categorías como esas ¿es posible pensar en una reconfiguración del clientelismo (o al menos, de cierto grado de clientelismo) en el contexto de la que usted define como ‘post-austeridad’?

DP – Seamos claros: a menudo, el término clientelismo, se utiliza como arma arrojadiza contra los grupos organizados que demandan mejoras en su nivel de vida. Pero clientelismo no es eso. Es, más bien, una relación social en la que los intereses privados se anteponen a lo público y en la que, el mérito, es sustituido por relaciones de vasallaje.

A partir de ahí, como es probable que en los próximos años, Syrirza, tome medidas a favor de los empleados públicos y privados (que se orientarán a la recuperación de un mercado interno) es muy factible que determinados sectores políticos y sociales aprovechen para identificar esas medidas con prácticas clientelares clásicas. Pero, en principio, no lo serían. Clientelismo sería que se le siguieran haciendo favores a grandes grupos de interés o dándole privilegios a particulares a costa de la mayoría: si las cosas fueran así no habría ruptura y eso, muy probablemente, el electorado no lo perdonaría.

JA – Alejémonos ahora un poco, para ir terminando, de la política interior griega ¿Cómo se percibe en su país el cruce polí tico, in édito, al que estamos asistiendo entre Grecia y España? El Primer Ministro español, Mariano Rajoy, haciendo campaña en Atenas a favor de Samaras y el opositor Pablo Iglesias, haciendo lo mismo, pero a favor de Tsipras; Madrid maniobrando en Bruselas contra Grecia; Tsipras atacando a Rajoy que se defiende con una contundencia poco habitual y muy poco diplomática… ¿Qué ocurre?

DP – Hay quien sostiene que una “Marea Rosa” (Pink Tide en inglés) podría cernirse sobre Europa como ocurrió en America Latina en los 2000. Muchos gobiernos que no son de izquierda temen esa posibilidad y temen que la victoria de Syriza pueda provocar un efecto dominó. Creo que esa es la razón de tanta agresividad por parte de Rajoy, a pesar de que lo que defiende Tsipras, en el fondo, beneficiaría a España. Personalmente, yo no le veo mucho sentido a la actitud de Rajoy porque tampoco me parece que un eventual fracaso de Syriza pudiera favorecer, automáticamente, al PP: demasiado lineal.

JA – ¿Y usted ve a Podemos en España, a Beppe Grillo en Italia o al Livre portugués como exponentes de la misma Marea Rosa que Syriza?

DP – Cada país tiene características propias e historias diferentes. Italia, por ejemplo, es difícilmente comparable con Grecia. Sin embargo, lo que iguala a casi todos es que las sociedades europeas están cansadas de tanta austeridad. Por eso es muy posible que, en los próximos años, haya partidos y coaliciones que canalicen ese malestar. Lo deseable es que lo hagan a partir de propuestas progresistas porque sí no – y el caso de Marine Le Pen, en Francia, es preocupante – Europa podría volver a vivir sus días más negros…

JA – Terminemos, ahora sí, dando un pequeño vistazo al exterior. ¿Usted cree que hay posibilidades de que, si a la Grecia de Syriza se le cierran todas las puertas en la UE, empiece a mirar hacia Moscú o hacia Pekín? Otra cosa ¿cree usted posible que, durante el mandato de Tsipras, se redefinan las relaciones de Grecia con Turquía?

DP – Empiezo por Rusia. Grecia, lleva 70 años de relaciones fluidas con Europa Occidental y aunque tradicionalmente, Rusia, siempre ha sido un aliado (fundamentalmente, por motivos religiosos) veo difícil que, Grecia, termine sustituyendo a Rusia por la UE (Rusia, de hecho, tiene ahora mismo muchos problemas: Ucrania, crisis económica, etc.).

China, por su parte, podría ser una opción estratégica pero eso podría molestar mucho a la UE así que lo veo improbable…

Para terminar, lo de Turquía: actualmente, tanto Grecia como Turquía, pasan por situaciones políticas complicadas por lo que, como se trata de un tema sensible para ambos países, no me parece que vaya a haber grandes cambios, al menos a corto plazo.

Carta Aberta de Alexis Tsipras aos cidadãos alemães

A 13 de janeiro deste ano, Alexis Tsipras dirigiu a todos os cidadãos alemães uma carta aberta, publicada no jornal económico Handelsblatt, em que explica a posição do Syriza sobre a dívida grega e defende que a atual tática “adiar e fingir” aplicada pela Europa será muito onerosa para o contribuinte alemão e condenará uma orgulhosa nação europeia à indignidade permanente. 

Tsipras: está a nascer na Grécia uma grande oportunidade para a Europa. Foto de FrangiscoDer

Tsipras: está a nascer na Grécia uma grande oportunidade para a Europa. Foto de FrangiscoDer

A maior parte de vós, caros leitores do Handelsblatt, terá já uma ideia preconcebida acerca do tema deste artigo, mesmo antes da leitura. Rogo que não cedais a preconceitos. O preconceito nunca foi bom conselheiro, principalmente durante períodos em que uma crise económica reforça estereótipos e gera fanatismo, nacionalismos e até violência.

Em 2010, a Grécia deixou de conseguir pagar os juros da sua dívida. Infelizmente, as autoridades europeias decidiram fingir que o problema poderia ser ultrapassado através do maior empréstimo de sempre, sob condição de austeridade orçamental, que iria, com uma precisão matemática, diminuir drasticamente o rendimento nacional, que serve para pagar empréstimos novos e antigos. Um problema de insolvência foi tratado como se fosse um problema de falta de liquidez.

Dito de outro modo, a Europa adoptou a táctica dos banqueiros com pior reputação, que não reconhecem maus empréstimos, preferindo conceder novos empréstimos à entidade insolvente, tentando fingir que o empréstimo original está a obter bons resultados, adiando a bancarrota. Bastava bom senso para se perceber que a adopção da táctica “adiar e fingir” levaria o meu país a uma situação trágica. Em vez da estabilização da Grécia, a Europa estava a criar as condições para uma crise auto-sustentada que põe em causa as fundações da própria Europa.

O meu partido e eu próprio discordamos veementemente do acordo de Maio de 2010 sobre o empréstimo, não por vós, cidadãos alemães, nos terdes dado pouco dinheiro, mas por nos terdes dado dinheiro em demasia, muito mais do que devíeis ter dado e do que o nosso governo devia ter aceitado, muito mais do que aquilo a que tinha direito. Dinheiro que não iria, fosse como fosse, nem ajudar o povo grego (pois estava a ser atirado para o buraco negro de uma dívida insustentável), nem sequer evitar o drástico aumento da dívida do governo grego, às custas dos contribuintes gregos e alemães.

Efectivamente, passado menos de um ano, a partir de 2011, as nossas previsões confirmaram-se. A combinação de novos empréstimos gigantescos e rigorosos cortes na despesa governamental diminuíram drasticamente os rendimentos e, não só não conseguiram conter a dívida, como também castigaram os cidadãos mais frágeis, transformando pessoas que, até então, haviam tido uma vida comedida e modesta em pobres e mendigos, negando-lhes, acima de tudo, a dignidade. O colapso nos rendimentos conduziu milhares de empresas à falência, dando um impulso ao poder oligopolista das grandes empresas sobreviventes. Assim, os preços têm caído, mas mais lentamente do que ordenados e salários, reduzindo a procura global de bens e serviços e esmagando rendimentos nominais, enquanto as dívidas continuam a sua ascensão inexorável. Neste contexto, o défice de esperança acelerou de forma descontrolada e, antes que déssemos por ela, o “ovo da serpente” chocou – consequentemente, os neo-nazis começaram a patrulhar a vizinhança, disseminando a sua mensagem de ódio.

Grécia nazismo

A lógica “adiar e fingir” continua a ser aplicada, apesar do seu evidente fracasso. O segundo “resgate” grego, executado na Primavera de 2012, sobrecarregou com um novo empréstimo os frágeis ombros dos contribuintes gregos, acrescentou uma margem de avaliação aos nossos fundos de segurança social e financiou uma nova cleptocracia implacável.

Recentemente, comentadores respeitados têm mencionado a estabilização da Grécia e até sinais de crescimento. Infelizmente, a ‘recuperação grega’ é tão-somente uma miragem que devemos ignorar o mais rapidamente possível. O recente e modesto aumento do PIB real, ao ritmo de 0,7%, não indica (como tem sido aventado) o fim da recessão, mas a sua continuação. Pensai nisto: as mesmas fontes oficiais comunicam, para o mesmo trimestre, uma taxa de inflação de -1,80%, i.e., deflação. Isto significa que o aumento de 0,7% do PIB real se deveu a uma taxa de crescimento negativo do PIB nominal! Dito de outro modo, aquilo que aconteceu foi uma redução mais rápida dos preços do que do rendimento nacional nominal. Não é exactamente motivo para anunciar o fim de seis anos de recessão!

Permiti-me dizer-vos que esta lamentável tentativa de apresentar uma nova versão das “estatísticas gregas”, para declarar que a crise grega acabou, é um insulto a todos os europeus que, há muito, merecem conhecer a verdade sobre a Grécia e sobre a Europa. Com toda a frontalidade: actualmente, a dívida grega é insustentável e os juros não conseguirão ser pagos, principalmente enquanto a Grécia continua a ser sujeita a um contínuo afogamento simulado orçamental. A insistência nestas políticas de beco sem saída, e em negação relativamente a simples operações aritméticas, é muito onerosa para o contribuinte alemão e, simultaneamente, condena uma orgulhosa nação europeia a indignidade permanente. Pior ainda: desta forma, em breve, os alemães virar-se-ão contra os gregos, os gregos contra os alemães e, obviamente, o ideal europeu sofrerá perdas catastróficas.

Quanto a uma vitória do SYRIZA, a Alemanha e, em particular, os diligentes trabalhadores alemães nada têm a temer. A nossa tarefa não é a de criar conflitos com os nossos parceiros. Nem sequer a de assegurar maiores empréstimos ou, o equivalente, o direito a défices mais elevados. Pelo contrário, o nosso objectivo é conseguir a estabilização do país, orçamentos equilibrados e, evidentemente, o fim do grande aperto dos contribuintes gregos mais frágeis, no contexto de um acordo de empréstimo pura e simplesmente inexequível. Estamos empenhados em acabar com a lógica “adiar e fingir”, não contra os cidadãos alemães, mas pretendendo vantagens mútuas para todos os europeus.

Caros leitores, percebo que, subjacente à vossa “exigência” de que o nosso governo honre todas as suas “obrigações contratuais” se esconda o medo de que, se nos derem espaço para respirar, iremos regressar aos nossos maus e velhos hábitos. Compreendo essa ansiedade. Contudo, devo dizer-vos que não foi o SYRIZA que incubou a cleptocracia que hoje finge lutar por ‘reformas’, desde que estas ‘reformas’ não afectem os seus privilégios ilicitamente obtidos. Estamos dispostos a introduzir reformas importantes e, para tal, procuramos um mandato do povo grego e, claro, a cooperação dos nossos parceiros europeus, para podermos executá-las.

A nossa tarefa é a de obter um New Deal europeu, através do qual o nosso povo possa respirar, criar e viver com dignidade.

No dia 25 de Janeiro, estará a nascer na Grécia uma grande oportunidade para a Europa. Uma oportunidade que a Europa não poderá dar-se ao luxo de perder.

Publicado em Esquerda.Net

Tradução Aventar