Réfugiés. Un “mur de la honte”, pour la journaliste hongroise

video-une-cameraman-viree-apres-un-croche-pied-un-enfant

une-journaliste-renvoyee-pour-avoir-fait-trebucher-des-migrants

un-mur-de-la-honte-pour-la-journaliste-hongroise

La journaliste hongroise, qui a volontairement fait tomber et donné des coups de pieds à des migrants, fait l’objet d’un “mur de la honte” sur Facebook.

Les images d’une opératrice de télévision hongroise donnant des coups de pied à des migrants qui venaient de franchir la frontière de son pays ont suscité de vives réactions en Hongrie, alors que le pays est déjà critiqué pour son attitude à l’égard des migrants.

Un « mur de la honte » sur une page Facebook, incluant des photos, vidéos et des commentaires sur l’incident, avait recueilli le soutien de 16 000 internautes ce mercredi après-midi.

« Vous êtes la honte de votre profession »

Les images, apparues mardi soir sur les réseaux sociaux, montrent cette jeune femme, Petra Laszlo, caméra à l’épaule, faisant tomber d’un croc-en-jambe un homme qui courait avec un enfant dans les bras, et donnant, dans un incident distinct, un coup de pied à une fillette. La journaliste travaillait pour une chaîne en ligne proche de l’extrême droit. « Vous êtes la honte de votre profession » a écrit un internaute.

La vidéo a montré la journaliste « donnant des coups aux étrangers et à personne d’autre, y compris un enfant qui était clairement un demandeur d’asile », a souligné Aniko Bakonyi, du Comité Helsinki hongrois. « Ce sont des images choquantes », a-t-elle ajouté, « puisqu’elle était là pour filmer, elle savait très bien qui elle frappait ».

Employée par une chaîne d’extrême-droite

Deux petits partis d’opposition hongrois ont porté plainte contre la journaliste, mais la police n’a pas indiqué dans l’immédiat si elle allait ouvrir une enquête. La chaîne proche de l’extrême droite qui employait la journaliste, N1TV, a indiqué dès mardi soir qu’elle était licenciée sur-le-champ pour son comportement « inacceptable ». Petra Laszlo n’avait elle-même pas réagi publiquement ce mercredi après-midi.

L’incident s’était produit à Roszke, près de la frontière serbe dans le sud de la Hongrie, où des centaines de migrants ont forcé mardi un cordon policier. La Hongrie s’est trouvée ces dernières semaines en première ligne dans la crise des migrants, comme point d’entrée dans l’UE de dizaines de milliers de personnes majoritairement originaires de Syrie. Ce pays a été critiqué pour la construction d’une clôture de barbelés tout au long de sa frontière avec la Serbie, et pour sa gestion de l’arrivée des migrants sur son sol.

Son Premier ministre, le populiste Viktor Orban, a pris le contre-pied des pays d’Europe occidentale et du nord, et en particulier de la chancelière allemande Angela Merkel en soulignant la menace que constituent selon lui les migrants musulmans pour l’identité chrétienne de l’Europe.

Lire nos articles sur la crise des migrants en Hongrie

Carta Aberta de Alexis Tsipras aos cidadãos alemães

A 13 de janeiro deste ano, Alexis Tsipras dirigiu a todos os cidadãos alemães uma carta aberta, publicada no jornal económico Handelsblatt, em que explica a posição do Syriza sobre a dívida grega e defende que a atual tática “adiar e fingir” aplicada pela Europa será muito onerosa para o contribuinte alemão e condenará uma orgulhosa nação europeia à indignidade permanente. 

Tsipras: está a nascer na Grécia uma grande oportunidade para a Europa. Foto de FrangiscoDer

Tsipras: está a nascer na Grécia uma grande oportunidade para a Europa. Foto de FrangiscoDer

A maior parte de vós, caros leitores do Handelsblatt, terá já uma ideia preconcebida acerca do tema deste artigo, mesmo antes da leitura. Rogo que não cedais a preconceitos. O preconceito nunca foi bom conselheiro, principalmente durante períodos em que uma crise económica reforça estereótipos e gera fanatismo, nacionalismos e até violência.

Em 2010, a Grécia deixou de conseguir pagar os juros da sua dívida. Infelizmente, as autoridades europeias decidiram fingir que o problema poderia ser ultrapassado através do maior empréstimo de sempre, sob condição de austeridade orçamental, que iria, com uma precisão matemática, diminuir drasticamente o rendimento nacional, que serve para pagar empréstimos novos e antigos. Um problema de insolvência foi tratado como se fosse um problema de falta de liquidez.

Dito de outro modo, a Europa adoptou a táctica dos banqueiros com pior reputação, que não reconhecem maus empréstimos, preferindo conceder novos empréstimos à entidade insolvente, tentando fingir que o empréstimo original está a obter bons resultados, adiando a bancarrota. Bastava bom senso para se perceber que a adopção da táctica “adiar e fingir” levaria o meu país a uma situação trágica. Em vez da estabilização da Grécia, a Europa estava a criar as condições para uma crise auto-sustentada que põe em causa as fundações da própria Europa.

O meu partido e eu próprio discordamos veementemente do acordo de Maio de 2010 sobre o empréstimo, não por vós, cidadãos alemães, nos terdes dado pouco dinheiro, mas por nos terdes dado dinheiro em demasia, muito mais do que devíeis ter dado e do que o nosso governo devia ter aceitado, muito mais do que aquilo a que tinha direito. Dinheiro que não iria, fosse como fosse, nem ajudar o povo grego (pois estava a ser atirado para o buraco negro de uma dívida insustentável), nem sequer evitar o drástico aumento da dívida do governo grego, às custas dos contribuintes gregos e alemães.

Efectivamente, passado menos de um ano, a partir de 2011, as nossas previsões confirmaram-se. A combinação de novos empréstimos gigantescos e rigorosos cortes na despesa governamental diminuíram drasticamente os rendimentos e, não só não conseguiram conter a dívida, como também castigaram os cidadãos mais frágeis, transformando pessoas que, até então, haviam tido uma vida comedida e modesta em pobres e mendigos, negando-lhes, acima de tudo, a dignidade. O colapso nos rendimentos conduziu milhares de empresas à falência, dando um impulso ao poder oligopolista das grandes empresas sobreviventes. Assim, os preços têm caído, mas mais lentamente do que ordenados e salários, reduzindo a procura global de bens e serviços e esmagando rendimentos nominais, enquanto as dívidas continuam a sua ascensão inexorável. Neste contexto, o défice de esperança acelerou de forma descontrolada e, antes que déssemos por ela, o “ovo da serpente” chocou – consequentemente, os neo-nazis começaram a patrulhar a vizinhança, disseminando a sua mensagem de ódio.

Grécia nazismo

A lógica “adiar e fingir” continua a ser aplicada, apesar do seu evidente fracasso. O segundo “resgate” grego, executado na Primavera de 2012, sobrecarregou com um novo empréstimo os frágeis ombros dos contribuintes gregos, acrescentou uma margem de avaliação aos nossos fundos de segurança social e financiou uma nova cleptocracia implacável.

Recentemente, comentadores respeitados têm mencionado a estabilização da Grécia e até sinais de crescimento. Infelizmente, a ‘recuperação grega’ é tão-somente uma miragem que devemos ignorar o mais rapidamente possível. O recente e modesto aumento do PIB real, ao ritmo de 0,7%, não indica (como tem sido aventado) o fim da recessão, mas a sua continuação. Pensai nisto: as mesmas fontes oficiais comunicam, para o mesmo trimestre, uma taxa de inflação de -1,80%, i.e., deflação. Isto significa que o aumento de 0,7% do PIB real se deveu a uma taxa de crescimento negativo do PIB nominal! Dito de outro modo, aquilo que aconteceu foi uma redução mais rápida dos preços do que do rendimento nacional nominal. Não é exactamente motivo para anunciar o fim de seis anos de recessão!

Permiti-me dizer-vos que esta lamentável tentativa de apresentar uma nova versão das “estatísticas gregas”, para declarar que a crise grega acabou, é um insulto a todos os europeus que, há muito, merecem conhecer a verdade sobre a Grécia e sobre a Europa. Com toda a frontalidade: actualmente, a dívida grega é insustentável e os juros não conseguirão ser pagos, principalmente enquanto a Grécia continua a ser sujeita a um contínuo afogamento simulado orçamental. A insistência nestas políticas de beco sem saída, e em negação relativamente a simples operações aritméticas, é muito onerosa para o contribuinte alemão e, simultaneamente, condena uma orgulhosa nação europeia a indignidade permanente. Pior ainda: desta forma, em breve, os alemães virar-se-ão contra os gregos, os gregos contra os alemães e, obviamente, o ideal europeu sofrerá perdas catastróficas.

Quanto a uma vitória do SYRIZA, a Alemanha e, em particular, os diligentes trabalhadores alemães nada têm a temer. A nossa tarefa não é a de criar conflitos com os nossos parceiros. Nem sequer a de assegurar maiores empréstimos ou, o equivalente, o direito a défices mais elevados. Pelo contrário, o nosso objectivo é conseguir a estabilização do país, orçamentos equilibrados e, evidentemente, o fim do grande aperto dos contribuintes gregos mais frágeis, no contexto de um acordo de empréstimo pura e simplesmente inexequível. Estamos empenhados em acabar com a lógica “adiar e fingir”, não contra os cidadãos alemães, mas pretendendo vantagens mútuas para todos os europeus.

Caros leitores, percebo que, subjacente à vossa “exigência” de que o nosso governo honre todas as suas “obrigações contratuais” se esconda o medo de que, se nos derem espaço para respirar, iremos regressar aos nossos maus e velhos hábitos. Compreendo essa ansiedade. Contudo, devo dizer-vos que não foi o SYRIZA que incubou a cleptocracia que hoje finge lutar por ‘reformas’, desde que estas ‘reformas’ não afectem os seus privilégios ilicitamente obtidos. Estamos dispostos a introduzir reformas importantes e, para tal, procuramos um mandato do povo grego e, claro, a cooperação dos nossos parceiros europeus, para podermos executá-las.

A nossa tarefa é a de obter um New Deal europeu, através do qual o nosso povo possa respirar, criar e viver com dignidade.

No dia 25 de Janeiro, estará a nascer na Grécia uma grande oportunidade para a Europa. Uma oportunidade que a Europa não poderá dar-se ao luxo de perder.

Publicado em Esquerda.Net

Tradução Aventar

VENCEU O DIREITO DA FORÇA

por Gilberto Prado

.


Prefiro seguir quem sabe. Quem tem algo a me ensinar. Por isso, acompanho Abraão Lincoln estimulando-me a “(…) lutar contra todos, se achar que tenho razão”. Obedeço minha consciência e faço o que ela manda.
Com certeza ela me absolverá.
Daí insistir na tragédia envolvendo a publicação francesa “Charlie Hebdo” e religiosos em geral, com destaque para os muçulmanos, moralmente as maiores vítimas do triste episódio.
Enquanto tratarmos a execução de doze integrantes da revista julgados condenados à morte pela “lei do talião” como simples caso de terrorismo e atentado à liberdade de expressão, não chegaremos a lugar nenhum.
Principalmente quando o acontecido está carregado de exemplos a ser observados ou mesmo seguidos.
Apesar de milenar, fundada Antes de Cristo, a “lei do talião” sequer ganhou o direito de ser grafada com letras maiúsculas. Jamais chegou a ter o direito de ser promovida a nome próprio.
Porém seu poder ameaçador supostamente irracional, ditado no foco do fanatismo religioso, está além de tudo quanto for “Vade Mecum”.
É “olho por olho, dente por dente”.
E foi justamente esse tipo de fórum cujas leis são abstratas e, conforme seus mentores, “ditadas por Alá” que a revista “Charlie Hebdo” resolveu desafiar. E de forma indigna utilizando um jornalismo indecente encontrou um espaço nojento para alcançar a popularidade.
Para isso juntou a torpeza à solércia.
Muitos desconhecem a existência de “duas Franças”. Uma delas atraente, carregada de culturas históricas, alegre, ideal para o turismo, até mesmo o sexual, principalmente em Paris, com bairros especializados, como Pigalle.
Também a França hilária, onde visitantes – alguns “novos ricos” ou “metidos a ricos” – chegam com um único objetivo de tirar três fotografias.
Uma na Tour Eiffel, mesmo sem saber pra que fizeram aquele “troço tão alto”. Outra no Arco do Triunfo, acreditando tratar-de “de um enfeite” e, finalmente no Museu do Louvre, ao lado do quadro de “uma mulher um tanto sem graça” chamada “Gionunseiquê”.
A outra França, por sua vez, fora do cartão-postal e maioria absoluta, é preconceituosa, carregada de ódio. Sempre pronta a descarregar esse sentimento não para os lucrativos visitantes, mas aos estrangeiros que procuram espaço de sobrevivência no país. Entre os quais “incômodos” latinos do outro lado do Atlântico (brasileiros inclusos) e muçulmanos.
Esses últimos, assim denominados por serem seguidores do Islamismo, são os mais perseguidos, a partir dos nascidos – ou descentes – na Argélia, pais da África do Norte pertencente à França até 1962. Seus habitantes, vindos ao mundo antes da independência, são oficialmente franceses.
O “francês real”, termo preconceituoso oriundo do “galicismo” – também “idiotismo” – para separar o patriota cujas “raízes genealógicas” são francesas, não admite essa realidade. Abomina essa minoria “invasora”.
Uma minoria, é verdade, mas juntando-se aos muçulmanos vindos de outros países, formam uma “grande minoria” de seis milhões de almas.
São perseguidos, vítimas da “islamisfobia”. Seus rituais religiosos incomodam. Pesquisas, inclusive da conceituada Universidade de Stanford, indicam a dificuldade de empregos. Sobrevivem quase sempre da solidariedade.
Mas são temidos.
Os franceses “puro sangue” não os enfrentam de forma direta. Deliciam-se como lenitivo em vê-los ridicularizados principalmente pela forma exótica de encarar o mundo.
E é aí que entra a revista “Charlie Hebdo”. Aproveita-se de um “mercado espúrio” para ganhar popularidade. Em expediente canalha fez dos preconceitos social, étnico e religioso uma forma arrivista de sucesso. De alcançar a notoriedade. Cometeu, no entanto, um erro gravíssimo.
Mexeu com tudo quanto é sagrado. Com a crença alheia, ignorando as consequências.
Divertiu franceses intolerantes com ignóbeis charges. Não pouparam sequer os cristãos.
Ridicularizaram a imagem de Deus, colocando de forma grotesca a dúvida sobre a criação do homem; desenharam uma mulher, supostamente a virgem Maria, parindo o “menino Jesus”; um coito anal entre as três pessoas da Santíssima Trindade, “Pai, Filho e Espírito Santo”.

Charlie Hebdo Jesus Natal terrorismo imprensa
Com relação aos islâmicos, desenharam a figura de Maomé dando um beijo homossexual; a caricatura de um Maomé ameaçador, prometendo “12 chibatadas em quem não “morresse de rir”; publicaram o profeta em situação embaraçosa; nu.
Essa última publicação gerou sérios problemas diplomáticos, principalmente porque o Islã considera blasfêmia qualquer insulto ao seu idealizador. Daí, a resposta insolente do “finado” Stéphanne Charbonnie, executado na redação por ele transformada em “quartel general”:
“Maomé não é sagrado para mim. Eu vivo pela lei francesa e não sob a lei do Corão”.
Em seguida publicou uma charge de um judeu ortodoxo sendo fuzilado, com as balas perfurando o livro do Corão, com a seguinte legenda: “O Corão é uma merda”!
Queria o quê?
Mentem os desvairados comunicadores brasileiros quando associam a ação justiceira diferente à decantada Liberdade de Expressão. Essa liberdade não foi ferida. Mas é bom lembrar que ela tem limites. Encerra-se diante de outras “liberdades”. Entre elas a de opção religiosa.
Quem duvidar que enfrente as conseqüências, como foi o caso da “Charlie Hebdo” que a trocou pela licenciosidade. O jargão centenário dizendo que “quando se encerra a força do direito entra o direito da força”, prevaleceu.
A “lei do talião” mandou para o “outro mundo” quem não se comportou com a necessária dignidade quando entre nós.
Venceu o direito da força.

“Sólo pedimos que se nos considere franceses”

“La discriminación no nos volvió inhumanos”, asegura Mourad, un joven del barrio de Amedy Coulibaly. No fue a la manifestación. Su rechazo a la violencia es proporcional a la ofensa que siente ante las caricaturas del semanario.

Un grupo de musulmanes reza durante Ramadán en la vereda de una calle de París. Imagen: Corbis

Un grupo de musulmanes reza durante Ramadán en la vereda de una calle de París.
Imagen: Corbis

 

Por Eduardo Febbro/ Página 12
Desde París

La frase, ya borrosa, “Yo no soy Charlie”, pintada sobre una pared de Grigny traza el territorio de la fractura social. “Aquí estamos aterrados, llenos de tristeza, solidarios con las víctimas del atentado contra Charlie Hebdo pero en total desacuerdo con las caricaturas y más aún con ciertas falsedades que se escriben en la prensa”, dice Mustafá, un joven habitante de esta zona suburbana de París que se ha convertido en el blanco de retratos abusivos y desacertados publicados en la prensa porque aquí, en el barrio de la Grande Borne, junto a sus padres oriundos de Mali y sus nueve hermanas, creció Amedy Coulibaly, el cómplice de los hermanos Kouachi que asesinó a cuatro personas en un supermercado judío del este de París y a una mujer de la Policía Municipal. Entre ser Charlie y no serlo, dos mundos en cuyos intersticios caben un montón de fantasmas. Hastiados de las mentiras y las aproximaciones, unos 30 jóvenes de estos barrios, donde muchos crecieron en las mismas condiciones que los hermanos Kouachi o Amedy Coulibaly, publicaron un video en YouTube donde se defienden. Agrupados en la asociación Jóvenes Reporteros ciudadanos de Grigny, los jóvenes explican: “Rehusamos la amalgama que dice: ‘jóvenes, negros, árabes, musulmanes igual a terroristas, a antisemitas, a delincuentes incultos, a antirrepublicanos y antifranceses’”. El video abarca todo el abanico con el cual, a menudo, estos jóvenes son vistos por una parte de la sociedad: “Terroristas en potencia”, “franceses de segunda categoría”, “malas hierbas”, “vagos”.

terror terrorismo morte

La Francia multicultural tiene un rostro muy distinto de la imagen escabrosa que los atentados del 7 de enero pudieron insinuar. Es una Francia bella, joven, musical, potente y marginada. En uno de sus editoriales, el matutino Libération escribe: “Si no lo habíamos entendido hasta ahora, está claro que en adelante una buena cantidad de franceses, a menudo en los suburbios, está en disidencia moral y social en su propio país”.

Esa disidencia se siente en la piel, sobre todo ahora que decenas de periodistas venidos del mundo entero aterrizaron aquí y “nos trataron como si fuéramos un zoológico”, asegura, molesto y desconfiado, un maliense de la Grande Borne. Los vecinos están horrorizados, sean o no sean Charlie. “La discriminación no nos volvió inhumanos”, asegura Mourad, un joven del barrio de Amedy Coulibaly. Como muchos otros habitantes de este barrio, Mourad no fue a la gran manifestación del domingo 11 de enero. No es lo que se puede decir un “Yo no soy Charlie”. Su rechazo a la violencia es proporcional a la ofensa que siente ante las caricaturas del semanario. “El profeta es sagrado, ese humor no entra en los valores de los musulmanes. Hubiese ido a manifestar, pero siendo solidario con las víctimas habría sido también, de alguna manera, como una forma de aprobar el sentido de esas caricaturas. No podía.” Las palabras se mueven aquí en un delgado pasadizo de sentidos. Ser francés y no ser tratado como tal. Ser musulmán en una de las grandes culturas de Occidente. Grigny está en el departamento de L’Essone, el número 91. En los departamentos contiguos, 92 –Hauts-de-Seine–, 93 –Seine-Saint-Denis–, o 94 –Val-de Marne– durante los días posteriores a los atentados y al de la manifestación se vivieron escenas similares. La gente se juntaba en los barrios sin sumarse al gran movimiento de unión nacional. La discriminación deja huellas profundas que poco tienen que ver con los principios religiosos. “De nada sirve que Mammadou o Abdallá tengan un bachillerato y cinco años de estudios universitarios si después no pueden encontrar trabajo porque tienen un nombre árabe”, explica Nordine Iznasni, consejero municipal de la localidad de Nanterre (departamento Hauts-de-Seine) y figura histórica de las marchas por la igualdad de los años ’80. Mohamed Mechmach, copresidente de la coordinadora Pas Sans Nous (No sin nosotros) es también un emblema de la lucha por la igualdad en los barrios populares. “Sólo pedimos una cosa: que se nos considere plenamente como franceses, y no como franceses aparte”, exige. Su lectura de los atentados es amplia, dolorosa, entre la lucidez, el temor y la esperanza. “Al matar a Charlie Hebdo también nos mataron a nosotros”, explica. Se trata, ahora, de salir de la trampa que los hermanos Kouachi y Amedy Coulibaly le tendieron a todo el mundo. Como arenas movedizas, como esas miradas esquivas de Grigny y ese temor a hablar sin sentirse desigual. “Uno puede llamarse Pierre, Mohamed o Daniel, los habitantes de los barrios populares son las primeras víctimas de lo que ocurrió. Llamarse Mohamed y vivir en un suburbio era complicado, ahora lo va a ser todavía más. Pero los suburbios no son un depósito de culpables, son lugares de solidaridad con las familias de las víctimas. Los suburbios son una parte de la solución. Nos hace falta un debate de fondo para restaurar la justicia social”, asegura Mohamed Mechmach.

Esa pulsión colectiva, ese deseo de volver a empezar de nuevo, esa sensación de que de este drama que sobrecogió al mundo algo nuevo va a salir, se incrustó en el clima como una canción de cuna. La prensa de este fin de semana testimonia ese clamor, a menudo con títulos que se repiten. “Siete días que cambiaron a Francia”, escribe el diario Le Monde en su primera plana. “Los 5 días que nos cambiaron”, anota Le Parisien mientras que Libération titula: “A los actos ciudadanos”. Bajo este titular, el matutino francés ofrece a sus lectores “5 pistas para una renovación republicana”. El mismo presidente francés, François Hollande, llama al país a “un sobresalto nacional”. Son, por ahora, tiempos de refundación, de solidaridad, de recuperación de ese espacio imaginario y colectivo de identificación. Pero también están los excluidos y las consecuencias sociales, culturales y económicas de la exclusión.

diferente homofobia

 

Hay dos países en uno y la reconexión es un trabajo mutuo. Nordine Iznasni es consciente de que ese clima de desconfianza entre los excluidos no desaparecerá con una gran manifestación: “La tentación del repliegue sobre sí mismo es fuerte, tanto más cuanto que mucha gente se siente rechazada y lleva cierto tiempo escuchando insultos contra los musulmanes. El entorno se vuelve un enemigo y así nace la cultura de encerrarse en sí mismo”. De esa exclusión se nutre la Jihad. En esos barrios desconectados y al desamparo deambulan los promotores de la guerra. Aunque se reivindican de movimientos jihadistas adversos, Al Qaida en la Península Arábiga (AQPA) para los hermanos Kouachi y el Estado Islámico para Amedy Coulibaly, sus trayectorias son idénticas, guiadas por las mismas fracturas sociales que caracterizan lo que la prensa llama “la Jihad francesa”: la pobreza, la dificultosa integración escolar, las trabas para acceder al mercado del trabajo, la pequeña delincuencia, la cárcel, la deriva social y una voz oportunista, la de cierto Islam sunnita, que captó su atención en un punto de ruptura del destino. Una palabra siempre vuelve como una piedra filosofal para explicar el fenómeno: la integración. El sociólogo y politólogo Tarik Yildiz, especialista de la integración social y el Islam, destaca que esos “jóvenes radicalizados son la cima más visible de la crisis de integración”. Frente a ellos, también, otra cima: el repetido espectáculo de las injusticias coloniales modernas: la guerra de Irak, el conflicto israelí-palestino, la guerra en Siria, la cruzada mundial contra el Islam que los neoconservadores norteamericanos incrustaron en la agenda política y que tarda en diluirse. “Somos una identidad castigada por las bombas de Occidente y en perpetua relegación”, dice, de forma provocativa, Ahmed, un joven de 19 años de uno de los suburbios con peor fama de Francia: la Cité des 4000, en la localidad de la Courneuve (Seine-Saint-Denis). Gilles Kepel, el gran especialista francés del Islam, ahonda esa idea según la cual la fractura social es el mejor territorio de los radicales: “Cuando se produce una ruptura con los valores de la República francesa ahí hay un terreno muy fértil para el Islam radical”. La “ruptura” no es solamente con los valores, sino, también, con los medios. “Mire a su alrededor, cruce el boulevard periférico que divide París de las afueras, dé una vuelta por esas grandes ciudades dormitorio construidas en los años ’60, ’70 y todo se explica más rápido”, dicen los Jóvenes Reporteros ciudadanos de Grigny. Se explica en una sucesión de imágenes contrastadas: esta no es la Francia de París, sino una orbe distinta dentro de otra. El Estado ha activado medios para desactivar esa tentación salafista que se difunde en ciertos barrios populares. La Maison de la Prévention et de la Famille tiene una brigada especial compuesta por juristas, psicólogos, educadores, criminólogos y victiminólogos que atiende a los jóvenes seducidos por la Jihad. La tarea es polifónica, de una complejidad social inmensa. Exclusión, redes sociales, cárceles superpobladas, cultura tradicional y modernidad, dos religiones diferentes, guerras y fracturas que se prolongan, que se vuelven zonas de existencia complicada, los atentados perpetrados por los hermanos Kouachi y Amedy Coulibaly desmontaron con el horror un escenario fallido. La sabiduría colectiva y los valores de una República se superpusieron por ahora a los enconos comunitarios. Parieron un eco, un eco que circula en estos suburbios y se mezcla con insistencia a la defensa de la libertad: “¿Cuánto durará esa conciencia de que hay que volver a empezarlo todo de nuevo? ¿Cuánto tiempo más estará presente y adónde nos llevará? Para Moussa Boudour, un educador social de Mantes-la-Jolie que usa el deporte como “objeto de diálogo, inserción y transición”, una vez que pase la gran emoción sólo una deuda quedará pendiente: “En realidad, ser Charlie o no ser Charlie es, a esta altura, anecdótico. Lo único que cuenta es cómo vamos a ser franceses, todos por igual”.

 

charge censura humor