Para bien o para mal

Por Víctor Flores Olea

El intento de golpe de Estado en Brasil se inscribe también entre los duros golpes recibidos por un continente en renovación, luchando en distintos grados por construir y asentar medidas socializantes en favor de sus pueblos. Aparte de las peculiaridades que pueda tener cada caso, resulta evidente que vivimos un tiempo en que el capitalismo busca imponerse férreamente en todos los lugares y que lo hace recurriendo a todos los medios a su alcance, legales o ilegales. El hecho hecho práctico es que el continente corre el riesgo de caer otra vez en un tiempo de grandes contradicciones y tensiones internas, que no facilitarán para nada su desarrollo justo y equilibrado.

Refiriéndonos al subcontinente, resulta una pena grave, o una lástima grande, que después de desembarazarnos de las sangrientas dictaduras y que lo hace recurriendo a los pueblos que nos impusieron a lo largo de la última mitad del siglo pasado, en buena medida como consecuencia de la guerra fría, todavía hoy parece que se renueva nuestra condena a vivir otro trozo de historia en condiciones angustiosas, y no las más aptas para lograr por fin un desarrollo humano, político y económico digno de las necesidades y las aspiraciones de estos centenares de millones de seres humanos que exigen una vida mejor. ¿Es posible?

Desde luego que los holocaustos en el Medio Oriente son materia de todos los días. Eso no disminuye un ápice su horror, ya que la costumbre, cuando se desdobla en creencia u obligación religiosa, no encuentra límites ni excepciones. Y la mejor prueba son los recientísimos actos de terrorismo en Bruselas, que tienen a Europa bajo amenaza y que se han ido realizando sistemáticamente: recordemos el 11 de septiembre en Nueva York, Londres, Madrid, París. Ya buena parte de Europa, varias de sus principales capitales, sometidas al terror que sólo podemos ver como profundamente irracional, como una interpretación absolutamente errónea de la voz de otros profetas, pero también como el resultado de la explotación y muerte a que las grandes potencias han sometido desde hace siglos a los pueblos musulmanes. El hecho es que en el camino de la reconciliación no se ha avanzado un ápice y que las heridas por todas partes siguen ofreciendo sangre de inocentes. Porque la idea de la destrucción enemiga no es más que una pesadilla que origina otras pesadillas cada vez más sangrientas, y que confirma que la sangre y la violencia sólo llamas a más sangre y más violencia. ¿Hasta cuando?

Por lo que hace a la terrible violencia en México sus causas son seguramente menos complicadas pero igualmente difíciles de erradicar, o al menos no hemos tenido ni remotamente la capacidad de controlar. Pero evidentemente hemos fallado en su erradicación o al menos en su control. Eso sí, podemos decir con un alto grado de certeza que esa violencia está seguramente vinculada otra vez a la pobreza y a la explotación, a las profundas marcas que la miseria ha dejado en almas y cuerpos, y que mientras no vayamos saliendo de esa encrucijada adelantaremos muy poco en el control y disminución de esa violencia que parece se ha apoderado de buenas porciones del país.

Papa Francisco no Congresso dos Estados Unidos: “A atividade legislativa baseia-se sempre no cuidado das pessoas”

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Senhor Vice-Presidente,
Senhor Presidente da Câmara dos Representantes,
Distintos Membros do Congresso,
Queridos Amigos!

Sinto-me muito grato pelo convite para falar a esta Assembléia Plenária do Congresso «na terra dos livres e casa dos valorosos». Apraz-me pensar que o motivo para isso tenha sido o fato de também eu ser um filho deste grande continente, do qual muito recebemos todos nós e relativamente ao qual partilhamos uma responsabilidade comum.

Cada filho ou filha duma determinada nação tem uma missão, uma responsabilidade pessoal e social. A vossa responsabilidade própria de membros do Congresso é fazer com que este país, através da vossa atividade legislativa, cresça como nação. Vós sois o rosto deste povo, os seus representantes. Sois chamados a salvaguardar e garantir a dignidade dos vossos concidadãos na busca incansável e exigente do bem comum, que é o fim de toda a política.

Uma sociedade política dura no tempo quando, como uma vocação, se esforça por satisfazer as carências comuns, estimulando o crescimento de todos os seus membros, especialmente aqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade ou risco. A atividade legislativa baseia-se sempre no cuidado das pessoas. Para isso fostes convidados, chamados e convocados por aqueles que vos elegeram.

O vosso trabalho lembra-me, sob dois aspectos, a figura de Moisés. Por um lado, o patriarca e legislador do povo de Israel simboliza a necessidade que têm os povos de manter vivo o seu sentido de unidade com os instrumentos duma legislação justa. Por outro, a figura de Moisés leva-nos diretamente a Deus e, por consequência, à dignidade transcendente do ser humano. Moisés oferece-nos uma boa síntese do vosso trabalho: a vós, pede-se para proteger, com os instrumentos da lei, a imagem e semelhança moldadas por Deus em cada rosto humano.

Nesta perspectiva, hoje quereria dirigir-me não só a vós mas, através de vós, a todo o povo dos Estados Unidos. Aqui, juntamente com os seus representantes, quereria aproveitar esta oportunidade para dialogar com tantos milhares de homens e mulheres que se esforçam diariamente por cumprir uma honesta jornada de trabalho, por trazer para casa o pão de cada dia, por poupar qualquer dólar e – passo a passo – construir uma vida melhor para as suas famílias. São homens e mulheres que não se preocupam apenas com pagar os impostos, mas – na forma discreta que os caracteriza – sustentam a vida da sociedade. Geram solidariedade com as suas atividades e criam organizações que ajudam quem tem mais necessidade.

Quereria também entrar em diálogo com as numerosas pessoas idosas que são um depósito de sabedoria forjada pela experiência e que procuram de muito modos, especialmente através do voluntariado, partilhar as suas histórias e experiências. Sei que muitas delas estão aposentadas, mas ainda ativas e continuam a empenhar-se na construção deste país. Desejo também dialogar com todos os jovens que lutam por realizar as suas grandes e nobres aspirações, que não se deixam extraviar por propostas superficiais e que enfrentam situações difíceis, tantas vezes resultantes da imaturidade de muitos adultos. Quereria dialogar com todos vós, e desejo fazê-lo através da memória histórica do vosso povo.

A minha visita tem lugar num momento em que homens e mulheres de boa vontade estão a celebrar o aniversário de alguns americanos famosos. Apesar da complexidade da história e da realidade da fraqueza humana, estes homens e mulheres foram capazes, com todas as suas diferenças e limitações, de construir um futuro melhor com trabalho duro e sacrifício pessoal – alguns à custa da própria vida. Deram forma a valores fundamentais, que permanecerão para sempre no espírito do povo americano. Um povo com este espírito pode atravessar muitas crises, tensões e conflitos, já que sempre conseguirá encontrar a força para ir avante e fazê-lo com dignidade. Estes homens e mulheres dão-nos uma possibilidade de ver e interpretar a realidade. Ao honrar a sua memória, somos estimulados, mesmo no meio de conflitos, na vida concreta de cada dia, a haurir das nossas mais profundas reservas culturais.

Quereria mencionar quatro destes americanos: Abraham Lincoln, Martin Luther King, Dorothy Day e Thomas Merton.

Este ano completam-se cento e cinquenta anos do assassinato do Presidente Abraham Lincoln, o guardião da liberdade, que trabalhou incansavelmente para que «esta nação, com a protecção de Deus, pudesse ter um renascimento de liberdade». Construir um futuro de liberdade requer amor pelo bem comum e colaboração num espírito de subsidiariedade e solidariedade.

Todos estamos plenamente cientes e também profundamente preocupados com a situação social e política inquietante do mundo atual. O nosso mundo torna-se cada vez mais um lugar de conflitos violentos, ódios e atrocidade brutais, cometidos até mesmo em nome de Deus e da religião. Sabemos que nenhuma religião está imune de formas de engano individual ou de extremismo ideológico. Isto significa que devemos prestar especial atenção a qualquer forma de fundamentalismo, tanto religioso como de qualquer outro género. É necessário um delicado equilíbrio para se combater a violência perpetrada em nome duma religião, duma ideologia ou dum sistema econômico, enquanto, ao mesmo tempo, se salvaguarda a liberdade religiosa, a liberdade intelectual e as liberdades individuais. Mas há outra tentação de que devemos acautelar-nos: o reducionismo simplista que só vê bem ou mal, ou, se quiserdes, justos e pecadores. O mundo contemporâneo, com as suas feridas abertas que tocam muitos dos nossos irmãos e irmãs, exige que enfrentemos toda a forma de polarização que o possa dividir entre estes dois campos. Sabemos que, na ânsia de nos libertar do inimigo externo, podemos ser tentados a alimentar o inimigo interno. Imitar o ódio e a violência dos tiranos e dos assassinos é o modo melhor para ocupar o seu lugar. Isto é algo que vós, como povo, rejeitais.

Pelo contrário, a nossa resposta deve ser uma resposta de esperança e cura, de paz e justiça. É-nos pedido para fazermos apelo à coragem e à inteligência, a fim de se resolverem as muitas crises econômicas e geopolíticas de hoje. Até mesmo num mundo desenvolvido aparecem demasiado evidentes os efeitos de estruturas e ações injustas. Os nossos esforços devem concentrar-se em restaurar a paz, remediar os erros, manter os compromissos, e assim promover o bem-estar dos indivíduos e dos povos. Devemos avançar juntos, como um só, num renovado espírito de fraternidade e solidariedade, colaborando generosamente para o bem comum.

Os desafios, que hoje enfrentamos, requerem uma renovação deste espírito de colaboração, que produziu tantas coisas boas na história dos Estados Unidos. A complexidade, a gravidade e a urgência destes desafios exigem que ponhamos a render os nossos recursos e talentos e nos decidamos a apoiar-nos mutuamente, respeitando as diferenças e convicções de consciência.

Nesta terra, as várias denominações religiosas deram uma grande ajuda na construção e fortalecimento da sociedade. É importante que hoje, como no passado, a voz da fé continue a ser ouvida, porque é uma voz de fraternidade e de amor que procura fazer surgir o melhor em cada pessoa e em cada sociedade. Esta cooperação é um poderoso recurso na luta por eliminar as novas formas globais de escravidão, nascidas de graves injustiças que só podem ser superadas com novas políticas e novas formas de consenso social.

Penso aqui na história política dos Estados Unidos, onde a democracia está profundamente radicada no espírito do povo americano. Qualquer atividade política deve servir e promover o bem da pessoa humana e estar baseada no respeito pela dignidade de cada um. «Consideramos evidentes, por si mesmas, estas verdades: que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que, entre estes, estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade» (Declaração de Independência, 4 de Julho de 1776). Se a política deve estar verdadeiramente ao serviço da pessoa humana, segue-se que não pode estar submetida à economia e às finanças. É que a política é expressão da nossa insuprível necessidade de vivermos juntos em unidade, para podermos construir unidos o bem comum maior: uma comunidade que sacrifique os interesses particulares para poder partilhar, na justiça e na paz, os seus benefícios, os seus interesses, a sua vida social. Não subestimo as dificuldades que isto implica, mas encorajo-vos neste esforço.

Penso também na marcha que Martin Luther King guiou de Selma a Montgomery, há cinquenta anos, como parte da campanha para conseguir o seu «sonho» de plenos direitos civis e políticos para os afro-americanos. Aquele sonho continua a inspirar-nos. Alegro-me por a América continuar a ser, para muitos, uma terra de «sonhos»: sonhos que levam à ação, à participação, ao compromisso; sonhos que despertam o que há de mais profundo e verdadeiro na vida das pessoas. Nos últimos séculos, milhões de pessoas chegaram a esta terra perseguindo o sonho de construírem um futuro em liberdade. Nós, pessoas deste continente, não temos medo dos estrangeiros, porque outrora muitos de nós éramos estrangeiros. Digo-vos isto como filho de imigrantes, sabendo que também muitos de vós sois descendentes de imigrantes. Tragicamente, os direitos daqueles que estavam aqui, muito antes de nós, nem sempre foram respeitados. Por aqueles povos e as suas nações, desejo, a partir do coração da democracia americana, reafirmar a minha mais alta estima e consideração. Aqueles primeiros contatos foram muitas vezes tumultuosos e violentos, mas é difícil julgar o passado com os critérios do presente. Todavia, quando o estrangeiro no nosso meio nos interpela, não devemos repetir os pecados e os erros do passado. Devemos decidir viver agora o mais nobre e justamente possível e, de igual modo, formar as novas gerações para não virarem as costas ao seu «próximo» e a tudo aquilo que nos rodeia. Construir uma nação pede-nos para reconhecer que devemos constantemente relacionar-nos com os outros, rejeitando uma mentalidade de hostilidade para se adoptar uma subsidiariedade recíproca, num esforço constante de contribuir com o melhor de nós. Tenho confiança que o conseguiremos.

O nosso mundo está a enfrentar uma crise de refugiados de tais proporções que não se via desde os tempos da II Guerra Mundial. Esta realidade coloca-nos diante de grandes desafios e decisões difíceis. Também neste continente, milhares de pessoas sentem-se impelidas a viajar para o Norte à procura de melhores oportunidades. Porventura não é o que queríamos para os nossos filhos? Não devemos deixar-nos assustar pelo seu número, mas antes olhá-los como pessoas, fixando os seus rostos e ouvindo as suas histórias, procurando responder o melhor que pudermos às suas situações. Uma resposta que seja sempre humana, justa e fraterna. Devemos evitar uma tentação hoje comum: descartar quem quer que se demonstre problemático. Lembremo-nos da regra de ouro: «O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (Mt 7, 12).

Esta norma aponta-nos uma direção clara. Tratemos os outros com a mesma paixão e compaixão com que desejamos ser tratados. Procuremos para os outros as mesmas possibilidades que buscamos para nós mesmos. Ajudemos os outros a crescer, como quereríamos ser ajudados nós mesmos. Em suma, se queremos segurança, demos segurança; se queremos vida, demos vida; se queremos oportunidades, providenciemos oportunidades. A medida que usarmos para os outros será a medida que o tempo usará para connosco. A regra de ouro põe-nos diante também da nossa responsabilidade de proteger e defender a vida humana em todas as fases do seu desenvolvimento.

Esta convicção levou-me, desde o início do meu ministério, a sustentar a vários níveis a abolição global da pena de morte. Estou convencido de que esta seja a melhor via, já que cada vida é sagrada, cada pessoa humana está dotada duma dignidade inalienável, e a sociedade só pode beneficiar da reabilitação daqueles que são condenados por crimes.

Recentemente, os meus irmãos bispos aqui nos Estados Unidos renovaram o seu apelo pela abolição da pena de morte. Não só os apoio, mas encorajo também todos aqueles que estão convencidos de que uma punição justa e necessária nunca deve excluir a dimensão da esperança e o objetivo da reabilitação.

Nestes tempos em que as preocupações sociais são tão importantes, não posso deixar de mencionar a Serva de Deus Dorothy Day, que fundou o Catholic Worker Movement. O seu compromisso social, a sua paixão pela justiça e pela causa dos oprimidos estavam inspirados pelo Evangelho, pela sua fé e o exemplo dos Santos.

Quanto estrada percorrida neste campo em tantas partes do mundo! Quanto se fez nestes primeiros anos do terceiro milênio para fazer sair as pessoas da pobreza extrema! Sei que partilhais a minha convicção de que se tem de fazer ainda muito mais e de que, em tempos de crise e dificuldade econômica, não se deve perder o espírito de solidariedade global. Ao mesmo tempo, desejo encorajar-vos a não esquecer todas as pessoas à nossa volta encastradas nas espirais da pobreza. Há necessidade de dar esperança também a elas. A luta contra a pobreza e a fome deve ser travada com constância nas suas múltiplas frentes, especialmente nas suas causas. Sei que hoje, como no passado, muitos americanos estão a trabalhar para enfrentar este problema.

Naturalmente uma grande parte deste esforço situa-se na criação e distribuição de riqueza. A utilização correcta dos recursos naturais, a aplicação apropriada da tecnologia e a capacidade de orientar devidamente o espírito empresarial são elementos essenciais duma economia que procura ser moderna, inclusiva e sustentável. «A atividade empresarial, que é uma nobre vocação orientada para produzir riqueza e melhorar o mundo para todos, pode ser uma maneira muito fecunda de promover a região onde instala os seus empreendimentos, sobretudo se pensa que a criação de postos de trabalho é parte imprescindível do seu serviço ao bem comum» (Enc. Laudato si’, 129). Este bem comum inclui também a terra, tema central da Encíclica que escrevi, recentemente, para «entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum» (ibid., 3). «Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós» (ibid., 14).

Na encíclica Laudato si’, exorto a um esforço corajoso e responsável para «mudar de rumo» (ibid., 61) e evitar os efeitos mais sérios da degradação ambiental causada pela atividade humana. Estou convencido de que podemos fazer a diferença e não tenho dúvida alguma de que os Estados Unidos – e este Congresso – têm um papel importante a desempenhar. Agora é o momento de empreender ações corajosas e estratégias tendentes a implementar uma «cultura do cuidado» (ibid., 231) e «uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza» (ibid., 139). Temos a liberdade necessária para limitar e orientar a tecnologia (cf. ibid., 112), para individuar modos inteligentes de «orientar, cultivar e limitar o nosso poder» (ibid., 78) e colocar a tecnologia «ao serviço doutro tipo de progresso, mais saudável, mais humano, mais social, mais integral» (ibid., 112). A este respeito, confio que as instituições americanas de investigação e acadêmicas poderão dar um contributo vital nos próximos anos.

Um século atrás, no início da I Grande Guerra que o Papa Bento XV definiu «massacre inútil», nascia outro americano extraordinário: o monge cisterciense Thomas Merton. Ele continua a ser uma fonte de inspiração espiritual e um guia para muitas pessoas. Na sua autobiografia, deixou escrito: «Vim ao mundo livre por natureza, imagem de Deus; mas eu era prisioneiro da minha própria violência e do meu egoísmo, à imagem do mundo onde nascera. Aquele mundo era o retrato do Inferno, cheio de homens como eu, que amam a Deus e contudo odeiam-No; nascidos para O amar, mas vivem no medo de desejos desesperados e contraditórios». Merton era, acima de tudo, homem de oração, um pensador que desafiou as certezas do seu tempo e abriu novos horizontes para as almas e para a Igreja. Foi também homem de diálogo, um promotor de paz entre povos e religiões.

Nesta perspectiva de diálogo, gostaria de saudar os esforços que se fizeram nos últimos meses para procurar superar as diferenças históricas ligadas a episódios dolorosos do passado. É meu dever construir pontes e ajudar, por todos os modos possíveis, cada homem e cada mulher a fazerem o mesmo. Quando nações que estiveram em desavença retomam o caminho do diálogo – um diálogo que poderá ter sido interrompido pelas mais válidas razões –, abrem-se novas oportunidades para todos. Isto exigiu, e exige, coragem e audácia, o que não significa irresponsabilidade. Um bom líder político é aquele que, tendo em conta os interesses de todos, lê o momento presente com espírito de abertura e sentido prático. Um bom líder político não cessa de optar mais por «iniciar processos do que possuir espaços» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 222-223).

Estar ao serviço do diálogo e da paz significa também estar verdadeiramente determinado a reduzir e, a longo prazo, pôr termo a tantos conflitos armados em todo o mundo. Aqui devemos interrogar-nos: Por que motivo se vendem armas letais àqueles que têm em mente infligir sofrimentos inexprimíveis a indivíduos e sociedade? Infelizmente a resposta, como todos sabemos, é apenas esta: por dinheiro; dinheiro que está impregnado de sangue, e muitas vezes sangue inocente. Perante este silêncio vergonhoso e culpável, é nosso dever enfrentar o problema e deter o comércio de armas.

Três filhos e uma filha desta terra, quatro indivíduos e quatro sonhos: Lincoln, a liberdade; Martin Luther King, a liberdade na pluralidade e não-exclusão; Dorothy Day, a justiça social e os direitos das pessoas; e Thomas Merton, capacidade de diálogo e abertura a Deus.

Quatro representantes do povo americano.

Concluirei a minha visita ao vosso país em Filadélfia, onde participarei no Encontro Mundial das Famílias. É meu desejo que, durante toda a minha visita, a família seja um tema recorrente. Como foi essencial a família na construção deste país! E como merece ainda o nosso apoio e encorajamento! E todavia não posso esconder a minha preocupação pela família, que está ameaçada, talvez como nunca antes, de dentro e de fora. As relações fundamentais foram postas em discussão, bem como o próprio fundamento do matrimónio e da família. Posso apenas repropor a importância e sobretudo a riqueza e a beleza da vida familiar.

Em particular quereria chamar a atenção para os membros da família que são os mais vulneráveis: os jovens. Para muitos deles anuncia-se um futuro cheio de tantas possibilidades, mas muitos outros parecem desorientados e sem uma meta, encastrados num labirinto sem esperança, marcado por violências, abusos e desespero. Os seus problemas são os nossos problemas. Não podemos evitá-los. É necessário enfrentá-los juntos, falar deles e procurar soluções eficazes em vez de ficar empantanados nas discussões. Correndo o risco de simplificar, poderemos dizer que vivemos numa cultura que impele os jovens a não formarem uma família, porque lhes faltam possibilidades para o futuro. Mas esta mesma cultura apresenta a outros tantas opções que também eles são dissuadidos de formar uma família.

Uma nação pode ser considerada grande, quando defende a liberdade, como fez Lincoln; quando promove uma cultura que permita às pessoas «sonhar» com plenos direitos para todos os seus irmãos e irmãs, como procurou fazer Martin Luther King; quando luta pela justiça e pela causa dos oprimidos, como fez Dorothy Day com o seu trabalho incansável, fruto duma fé que se torna diálogo e semeia paz no estilo contemplativo de Thomas Merton.

Nestas notas, procurei apresentar algumas das riquezas do vosso património cultural, do espírito do povo americano. Faço votos de que este espírito continue a desenvolver-se e a crescer de tal modo que o maior número possível de jovens possa herdar e habitar numa terra que inspirou tantas pessoas a sonhar.

Deus abençoe a América!

Palavras pronunciadas pelo Papa, no terraço do Congresso

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Bom-dia a todos vós! Agradeço a vossa recepção e a vossa presença. Agradeço às personagens mais importantes que aqui estão: as crianças. Quero pedir a Deus que vos abençoe: «Senhor, Pai de todos nós, abençoai este povo, abençoai a cada um deles, abençoai as suas famílias, concedei-lhes aquilo de que mais necessitam». Peço-vos, por favor, que rezeis por mim. E, se houver entre vós alguém que não crê ou não pode rezar, peço-lhe, por favor, que me deseje coisas boas. Obrigado! Muito obrigado! Deus abençoe a América!

México. La inestabilidad social (video)

– No hay crecimiento económico neoliberal
– Amenaza EUA con su intervencionismo

 SvitalskyBros

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por Salvador González Briceño
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Otra tomadura de pelo, como tantas para los mexicanos. Por la banca internacional, los que responden a los intereses de Washington e imponen las condiciones cuando de reformas estructurales se trata, como el Banco Mundial (BM) y el Fondo Monetario Internacional (FMI).

Ahora resulta que la prospectiva de crecimiento de la economía en México para el presente año y hasta el 2020, elaborada por el FMI será de ¡3.5% del PIB!; eso sí, presunto respiro, muy superior al promedio del ¡2.3% de las últimas tres décadas!

Engaño total. México tiene años y felices días que no da una. Son los gobernantes que desde Miguel de la Madrid a la fecha solo copian las recetas dictadas primero por los Chicago Boy y luego la banca internacional. Quien controla la economía lo domina todo. Todavía peor, “El que controla los alimentos controla el mundo”, como diría uno de los mayores operadores del Departamento de Estado y las estrategias de la CIA en Latinoamérica, el exsecretario Henry Kissinger.

Pero con Carlos Salinas arreció la cosa. Si tuviésemos que responder solo con el nombre a la cuestión de quién ha sido, o han sido, los peores presidentes de México por el daño causado en las últimas tres décadas, dos se llevan el premio: Salinas y Calderón. Pésimos. El primero porque destruyó una economía que costó años articular y que desde la década de los 40 creció a tasas muy por arriba de los 2, 3 y 4%. El segundo, porque destruyó lo más preciado para la vida social de un país: su seguridad. Ambas acciones responden a la estrategia de Washington, de desestabilización de México.

Estados Unidos quiere a un país sometido al sur de su frontera. No a un país boyante. Quiere disponer en cuando lo requiera, de todos los recursos que el territorio todavía posee. Quiere el petróleo del golfo, el gas de los estados del norte, el uranio de Chiapas, el oro y la plata y todos los demás recursos del resto del país. Quiere intervenir cada que quiera, como la nueva ley de aguas acá para que las empresas del fraking dispongan de la materia prima de dicha técnica destructiva del medio ambiente. Todavía hace falta denunciar lo suficiente para la contención de este problema.

Incluso la amenaza de EUA hacia México es de alcance militar. Pero no saben cómo y busca pretextos. Por eso están arguyendo las peores ficciones, como lo han intentado tantas veces y por muchas vías. Lo último es, dizque por la presencia del estado islámico (¡que ni es Estado ni es islámico!) en la frontera norte de México listos para invadir territorio gringo (¡re contra sic!). Antes no faltó quien dijera que los terroristas se habían “asociado” a los carteles de la droga mexicanos, para amenazar a EU. Chapuzas de a dólar.

Con estas breves referencias solo quiero ejemplificar que la principal arma de un país (como EU) para controlar a otro (en el caso México), es imponiéndole los artilugios económicos que se filtran desde el gobierno hasta la población mediante las “políticas públicas”. Pero hay muchos métodos más. Y todo lo ha aplicado México como alumno ejemplar incluso más estricto que Chile, país en dónde los pupilos de Friedman aplicaron su estrategia de contención, mejor dicho, de choque militar.

Contención de todo, pero principalmente de los salarios, de la inflación, del trabajo, de los niveles de bienestar alcanzados en décadas atrás. México se distinguió por décadas porque su modelo de desarrollo “hacia adentro” le funcionó. Luego vino el modelo de desarrollo “hacia afuera” que todo se llevó con la globalización para el desarrollo. Dicho modelo se llevó la riqueza, el crecimiento, la salud, la educación (Chile también anda por las mismas, los estudiantes luchando por el rescate del sistema educativo; como acá los politécnicos, del IPN), se esfumó todo. Las cifras lo comprueban. Porque en cuanto dejó de funcionar el modelito llamado neoliberal, dejó de aplicarse en los propios países madre: EUA (Ronald Reagan) y la Gran Bretaña (Margaret Thatcher).

México sigue mal desde entonces a la fecha. Nada crece. Al contrario, todo se contrae. O aumenta pero al revés, como la pobreza y la pobreza extrema. La desaparición de la clase media, la educación, el empleo, los derechos históricos de los trabajadores, el abandono del campo, la caída de los salarios con su correspondiente pérdida de poder adquisitivo, etcétera. Por eso tenemos ahora un país con una tremenda inestabilidad social. Porque la estratagema del imperio apunta, insisto, hacia la desestabilización del país. Eso conlleva muchas aristas. Apunta directamente a las últimas políticas aplicadas en México, pero dictadas desde EUA.

Y de las últimas “reformas estructurales”, simple entreguismo del sector energético a las empresas extranjeras; con todo y algunos cuates también participen, como al magnate Carlos Slim que ya lo hace desde 2013 con Cicsa y ahora con la nueva empresa Carso Oil & Gas. Enrique Peña Nieto ha cerrado la pinza de las reformas iniciadas por Salinas; la mejor muestra de ello es que en el gabinete económico los funcionarios tienen línea salinista; en Hacienda, en Economía, en el Banco de México. Un Banxico totalmente al servicio no del peso frente al dólar sino de los especuladores monetarios extranjeros. Por todo Peña es felicitado en el extranjero, particularmente por el presidente Barack Obama.

En fin. El caso es que conforme a las propias estimaciones de Hacienda de que la economía mexicana tendría una mayor expansión “debido a la aprobación de las reformas estructurales”, entre 2013 y 2018, eso está por verse. No hay solidez para el crecimiento de México que también pregona el FMI. Por la contracción generalizada en todas las ramas y sectores, los únicos son aquellos como el automotriz que maquila a las matrices. México apunta hacia eso, a convertirse de plano en simple país maquilador.

Inestabilidad, desestabilización, injerencia extranjera y atentados permanentes contra la seguridad nacional de México son líneas del norte. Y los gobernantes mexicanos, diciendo que sí a todo. Estrategias van, estrategias vienen, y el deterioro se acelera. Ni con la barita mágica del FMI saldremos adelante, sin cambio de rumbo. Mucho menos cuando el país se está militarizando, comprando armas al norte.

Video prohibido

El Papa Francisco denuncia las lacras del mundo actual, presentes en el calvario de Cristo

Clama contra algunos problemas como la corrupción o la indiferencia de las personas ante quienes sufren

 

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El Papa Francisco presidió este viernes el Vía Crucis en el Coliseo de Roma y, a su término, denunció con firmeza las lacras o problemas que afligen al mundo en la actualidad, representadas todas ellas en «la crueldad» del calvario de Cristo.

El Pontífice siguió este acto desde la colina del Palatino, situada frente al Anfiteatro Flavio, y a sus pies se congregaron miles de personas que asistieron a esta sugestiva ceremonia que rememora el camino de Jesús de Nazaret hacia su ejecución y muerte. Al término de la misma, Bergoglio pronunció una breve alocución en la que denunció la «crueldad» de algunas situaciones actuales que se corresponden, a su juicio, con el calvario de Cristo, como la corrupción o la indiferencia de las personas ante quienes sufren.

«En la crueldad de tu Pasión, Señor, vemos la crueldad de nuestras acciones y a todos los abandonados por los familiares, por la sociedad. En tu cuerpo herido vemos a aquellos desfigurados por nuestra indiferencia», lamentó en tono sobrio.

También recordó a «nuestros hermanos cristianos» que «son perseguidos, decapitados y crucificados ante nuestros propios ojos y, a menudo, con nuestro silencio cómplice». Durante el Vía Crucis, de más de una hora de duración, el Papa permaneció sumido en un profundo recogimiento.

Mientras, la cruz fue pasando de unas personas a otras hasta completar su recorrido desde el Coliseo hasta el Palatino, pasando por cada una de las catorce estaciones que componen su tránsito. En cada una de estas etapas se leyó una de las catorce meditaciones redactadas, esta vez, por Renato Corti, obispo emérito de la ciudad septentrional italiana de Novara, y que hicieron referencia a problemas actuales como la corrupción de menores.

Los encargados de portar la cruz este año fueron representantes de diferentes circunstancias sociales, de tal modo que participaron en el acto enfermos, familias y personas procedentes de zonas en conflicto como Irak, Siria, Nigeria o Tierra Santa.El cardenal vicario de Roma, Agostino Vallini, fue el encargado de inaugurar y clausurar el Via Crucis, un acto que inició con la recomendación de fortalecer la fe mediante «la oración, la vigilancia, la sinceridad y la verdad».

En el año en el que la Santa Sede celebrará el Sínodo de la Familia –entre el 4 y el 25 de octubre–, esta célula de la sociedad estuvo muy presente en el Via Crucis. Así, durante las tres estaciones sucesivas portaron la cruz dos familias numerosas italianas y otra con hijos adoptivos naturales de Brasil.

Ponerse en lugar del otro

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En este sentido, Corti reseñó «los dramas familiares presentes en el mundo» que, a su juicio, «son fáciles de juzgar pero es más importante ponerse en el lugar de los otros y ayudarles en la medida de los posible». En este sugestivo recorrido también estuvieron representados los enfermos como Marzia De Michele, que portó la cruz acompañada por su hermana y su asistente.

También se abordó la presencia femenina en el mundo y, en esta ocasión, las mujeres estuvieron representadas por sor Sundus Qasmusa y sor Susan Sulaima, dos monjas dominicanas de Santa Catalina de Siena procedentes de Irak. También portaron la cruz dos hombres de nacionalidad siria, durante una estación en la que se meditó sobre fenómenos como la soledad, el abandono, la indiferencia o la pérdida de seres queridos.

«Inconmensurable es el sufrimiento de aquellos que se ven involucrados en acontecimientos crueles, en palabras de odio o de falsedad. Que se topan con corazones de piedra que provocan lágrimas y conducen a la desesperación», recordó Corti en su texto.

También participaron en este Via Crucis personas procedentes de Nigeria, Egipto o China, un país, este último, con el que el Vaticano no mantiene relaciones diplomáticas desde 1951 y con el que, en la actualidad, se estaría produciendo un acercamiento.

Los dos ciudadanos chinos portaron la cruz durante una estación en la que se recapacitó sobre «los acontecimientos que violan la dignidad del hombre» como el tráfico de personas, los niños soldado o «el trabajo que se convierte en esclavitud».

En este momento el autor denunció la situación de «los muchachos y los adolescentes que son ultrajados, vulnerados en su intimidad, bárbaramente profanados», en alusión a los jóvenes que padecen abusos sexuales. «Tú (Jesús) nos empujas a pedir perdón con humildad a quienes sufren estos ultrajes y a rezar para que finalmente se despierte la conciencia de quien ha oscurecido el cielo en la vida de las personas», dijo. ABC/ España

 

“La pobreza extrema también es una forma de violencia”

ENTREVISTA CECILIA VACA JONES

 

Giacomo Cardelli

Giacomo Cardelli

 

Una vez que Ecuador asumió la Presidencia pro témpore de la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños (Celac) el reto es cómo avanzar hacia la meta planteada por los mandatarios de los 33 países miembros: erradicar la pobreza extrema en 5 años.

La ministra coordinadora de Desarrollo Social, Cecilia Vaca, considera que es un momento histórico para demostrar cómo Latinoamérica y el Caribe abordan este tema crucial para el mundo. Mejorar los niveles de inversión en educación y en ciencia y tecnología serán el sostén de esa propuesta.

¿Cómo evalúa los compromisos alcanzados en la Celac, una vez que Ecuador asumió la Presidencia pro témpore y se ha fijado la meta de eliminar la pobreza extrema en los próximos 5 años?

Que asumamos la Presidencia de Celac nos coloca frente a un reto importante. Latinoamérica está en una etapa madura con capacidad de decirle al mundo cómo pensamos, cómo nos organizamos, cuáles son los intereses comunes que defendemos en la región y frente a eso cuál es la posibilidad de cumplir este reto.

El año pasado también asistí a la reunión de Celac en Cuba – fue simbólico tener a La Habana como sede – donde se declaró a Latinoamérica como territorio de paz, lo que nos convocó a pensar en una instancia distinta porque defendía un principio supremo frente a lo que la región busca consolidar. Y cuando nos planteamos el objetivo de erradicar la pobreza extrema va ligado a ese proceso de paz, el Presidente (Rafael Correa) lo ha dicho, no puedes hablar de paz sin justicia social. Y, en efecto, no podemos hablar de paz mientras 68 millones de latinoamericanos y caribeños estén en una situación de extrema pobreza porque eso también es un tipo de violencia.

¿Es un reto posible o todavía una meta idealista?

Es totalmente posible. Estoy convencida de que la pobreza en una región rica como la nuestra es un tema de voluntad política.

¿Por dónde empezar a trabajar ese reto?

Eso implica que los 33 estados miembros de Celac prioricemos una agenda social que asegure la inversión en ámbitos como salud, educación y que generemos fuentes de empleo digno. Aquello pasa por que los Estados seamos conscientes de que para erradicar la pobreza hay que priorizar esa inversión. Ecuador planteó erradicar la extrema pobreza, disminuir el 1,5% la tasa de pobreza en los próximos años para declararnos como zona libre de pobreza extrema, lo que es increíble porque si lo logramos estamos procurando que haya mayor equidad en la región; otro tema es inversión en educación, ciencia y tecnología, lo que va en la línea de lo que en Ecuador nos hemos planteado; así como la meta de tener 12 universidades latinoamericanas entre las mejores del mundo, es decir, apostar a la investigación.

¿Qué tan fácil será llegar a esos objetivos considerando que el debate alrededor de la pobreza está bastante politizado? El último informe de la Cepal coloca a Perú, Colombia y Paraguay entre los países que más redujeron la pobreza en el último año…

La Cepal también hace un análisis multidimensional de la pobreza porque medirla únicamente por ingresos ofrece una perspectiva muy limitada. Como Ministerio Coordinador de Desarrollo Social tenemos un índice donde consideramos más de 37 variables a fin de tener una perspectiva integral de la pobreza. Lo que puede pasar es que la pobreza por ingresos en Paraguay o Perú sea menor, pero eso no necesariamente implica que tengan mejores tasas en educación, analfabetismo o acceso a servicios básicos.

En ese contexto, ¿cómo consensuar la política latinoamericana para combatir la pobreza?

La Cepal ha hecho un gran análisis utilizando 18 indicadores que se pueden comparar a nivel regional. A veces, ponerse metas concretas en ciertos indicadores es un reto en sí mismo porque la forma en que se pueden medir, por ejemplo, los ingresos es más complejo por la cantidad de variables que comprende un índice. Por eso, la apuesta que hacemos desde la Presidencia de la Celac es luchar en contra de la pobreza extrema pensando en la lógica de la pobreza por ingresos, pero con la implicación que ello tiene desde distintos ámbitos: apostar por la educación, lograr que en la región se universalice en 10 años la educación básica, algo que en Ecuador casi hemos logrado, mientras que otros países de la región tienen brechas importantes.

Solo en el ámbito educativo se evidencian distintos modelos de gestión. La Constitución del Ecuador garantiza la gratuidad y aquello se aplica hasta el tercer nivel mientras que en otros países de la región la oferta es mayoritariamente privada. ¿Cómo consensuar posiciones al respecto?

La Celac es un espacio de concertación política más que de definición de política pública local. Hay un respeto soberano hacia la forma en que cada país alcanza su meta. Por eso, un espacio como Celac permite concertar ciertos objetivos y no hay ningún país que esté en contra de universalizar la educación general básica, lo que quizá antes no era posible, mientras que hoy existe un tema identitario de la región que le apuesta a generar una sociedad del conocimiento donde el aporte latinoamericano sea sustancial y para eso tenemos que invertir en educación. Hay un consenso al respecto, entonces cada país buscará la forma de lograrlo.

Quizá con una mirada más política, ¿cuánto pesa que muchos de los países de la región tengan una visión progresista, de izquierda?

Eso define que vivimos otro momento en Latinoamérica. Por eso hablaba de que Celac se constituye en un momento histórico en que esa línea progresista marca una agenda política distinta, donde cuestionamos otras instancias como la Organización de Estados Americanos y también estamos en capacidad de generar nuestro propio pensamiento. Eso convierte a la Celac en una instancia de concertación y diálogo político.

¿Cuál será la cualidad que Ecuador dará a ese proceso este año?

Mantener una identidad propia como Latinoamérica y el Caribe y que ese pensamiento se refleje en un paraguas institucional, en el que podamos resolver incluso mecanismos de cooperación distintos. El presidente Correa destacaba con el Presidente (Luis) Solís que Celac haya abierto el diálogo con China, eso marca un concepto de cooperación internacional distinto y el próximo año será la cumbre con los presidentes africanos.

 

Os meios mais modernos de hoje, irrenunciáveis sobretudo para os mais jovens, tanto podem dificultar como ajudar a comunicação em família e entre as famílias

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO
PARA O XLIX DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Comunicar a família:
ambiente privilegiado do encontro na gratuidade do amor

[17 de Maio de 2015]

 

A Visitação, Giotto

A Visitação, Giotto

 

O tema da família encontra-se no centro duma profunda reflexão eclesial e dum processo sinodal que prevê dois Sínodos, um extraordinário – acabado de celebrar – e outro ordinário, convocado para o próximo mês de Outubro. Neste contexto, considerei oportuno que o tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais tivesse como ponto de referência a família. Aliás, a família é o primeiro lugar onde aprendemos a comunicar. Voltar a este momento originário pode-nos ajudar quer a tornar mais autêntica e humana a comunicação, quer a ver a família dum novo ponto de vista.

Podemos deixar-nos inspirar pelo ícone evangélico da visita de Maria a Isabel (Lc 1, 39-56). «Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”» (vv. 41-42).

Este episódio mostra-nos, antes de mais nada, a comunicação como um diálogo que tece com a linguagem do corpo. Com efeito, a primeira resposta à saudação de Maria é dada pelo menino, que salta de alegria no ventre de Isabel. Exultar pela alegria do encontro é, em certo sentido, o arquétipo e o símbolo de qualquer outra comunicação, que aprendemos ainda antes de chegar ao mundo. O ventre que nos abriga é a primeira «escola» de comunicação, feita de escuta e contacto corporal, onde começamos a familiarizar-nos com o mundo exterior num ambiente protegido e ao som tranquilizador do pulsar do coração da mãe. Este encontro entre dois seres simultaneamente tão íntimos e ainda tão alheios um ao outro, um encontro cheio de promessas, é a nossa primeira experiência de comunicação. E é uma experiência que nos irmana a todos, pois cada um de nós nasceu de uma mãe.

Mesmo depois de termos chegado ao mundo, em certo sentido permanecemos num «ventre», que é a família. Um ventre feito de pessoas diferentes, interrelacionando-se: a família é «o espaço onde se aprende a conviver na diferença» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 66). Diferenças de géneros e de gerações, que comunicam, antes de mais nada, acolhendo-se mutuamente, porque existe um vínculo entre elas. E quanto mais amplo for o leque destas relações, tanto mais diversas são as idades e mais rico é o nosso ambiente de vida. O vínculo está na base da palavra, e esta, por sua vez, revigora o vínculo. Nós não inventamos as palavras: podemos usá-las, porque as recebemos. É em família que se aprende a falar na «língua materna», ou seja, a língua dos nossos antepassados (cf. 2 Mac 7, 21.27). Em família, apercebemo-nos de que outros nos precederam, nos colocaram em condições de poder existir e, por nossa vez, gerar vida e fazer algo de bom e belo. Podemos dar, porque recebemos; e este circuito virtuoso está no coração da capacidade da família de ser comunicada e de comunicar; e, mais em geral, é o paradigma de toda a comunicação.

A experiência do vínculo que nos «precede» faz com que a família seja também o contexto onde se transmite aquela forma fundamental de comunicação que é a oração. Muitas vezes, ao adormecerem os filhos recém-nascidos, a mãe e o pai entregam-nos a Deus, para que vele por eles; e, quando se tornam um pouco maiores, põem-se a recitar juntamente com eles orações simples, recordando carinhosamente outras pessoas: os avós, outros parentes, os doentes e atribulados, todos aqueles que mais precisam da ajuda de Deus. Assim a maioria de nós aprendeu, em família, a dimensão religiosa da comunicação, que, no cristianismo, é toda impregnada de amor, o amor de Deus que se dá a nós e que nós oferecemos aos outros.

Na família, é sobretudo a capacidade de se abraçar, apoiar, acompanhar, decifrar olhares e silêncios, rir e chorar juntos, entre pessoas que não se escolheram e todavia são tão importantes uma para a outra… é sobretudo esta capacidade que nos faz compreender o que é verdadeiramente a comunicação enquanto descoberta e construção de proximidade. Reduzir as distâncias, saindo mutuamente ao encontro e acolhendo-se, é motivo de gratidão e alegria: da saudação de Maria e do saltar de alegria do menino deriva a bênção de Isabel, seguindo-se-lhe o belíssimo cântico do Magnificat, no qual Maria louva o amoroso desígnio que Deus tem sobre Ela e o seu povo. De um «sim» pronunciado com fé, derivam consequências que se estendem muito para além de nós mesmos e se expandem no mundo. «Visitar» supõe abrir as portas, não encerrar-se no próprio apartamento, sair, ir ter com o outro. A própria família é viva, se respira abrindo-se para além de si mesma; e as famílias que assim procedem, podem comunicar a sua mensagem de vida e comunhão, podem dar conforto e esperança às famílias mais feridas, e fazer crescer a própria Igreja, que é uma família de famílias.

Mais do que em qualquer outro lugar, é na família que, vivendo juntos no dia-a-dia, se experimentam as limitações próprias e alheias, os pequenos e grandes problemas da coexistência e do pôr-se de acordo. Não existe a família perfeita, mas não é preciso ter medo da imperfeição, da fragilidade, nem mesmo dos conflitos; preciso é aprender a enfrentá-los de forma construtiva. Por isso, a família onde as pessoas, apesar das próprias limitações e pecados, se amam, torna-se uma escola de perdão. O perdão é uma dinâmica de comunicação: uma comunicação que definha e se quebra, mas, por meio do arrependimento expresso e acolhido, é possível reatá-la e fazê-la crescer. Uma criança que aprende, em família, a ouvir os outros, a falar de modo respeitoso, expressando o seu ponto de vista sem negar o dos outros, será um construtor de diálogo e reconciliação na sociedade.

Muito têm para nos ensinar, a propósito de limitações e comunicação, as famílias com filhos marcados por uma ou mais deficiências. A deficiência motora, sensorial ou intelectual sempre constitui uma tentação a fechar-se; mas pode tornar-se, graças ao amor dos pais, dos irmãos e doutras pessoas amigas, um estímulo para se abrir, compartilhar, comunicar de modo inclusivo; e pode ajudar a escola, a paróquia, as associações a tornarem-se mais acolhedoras para com todos, a não excluírem ninguém.

Além disso, num mundo onde frequentemente se amaldiçoa, insulta, semeia discórdia, polui com as murmurações o nosso ambiente humano, a família pode ser uma escola de comunicação feita de bênção. E isto, mesmo nos lugares onde parecem prevalecer como inevitáveis o ódio e a violência, quando as famílias estão separadas entre si por muros de pedras ou pelos muros mais impenetráveis do preconceito e do ressentimento, quando parece haver boas razões para dizer «agora basta»; na realidade, abençoar em vez de amaldiçoar, visitar em vez de repelir, acolher em vez de combater é a única forma de quebrar a espiral do mal, para testemunhar que o bem é sempre possível, para educar os filhos na fraternidade.

Os meios mais modernos de hoje, irrenunciáveis sobretudo para os mais jovens, tanto podem dificultar como ajudar a comunicação em família e entre as famílias. Podem-na dificultar, se se tornam uma forma de se subtrair à escuta, de se isolar apesar da presença física, de saturar todo o momento de silêncio e de espera, ignorando que «o silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras ricas de conteúdo» (Bento XVI, Mensagem do XLVI Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24/1/2012); e podem-na favorecer, se ajudam a narrar e compartilhar, a permanecer em contacto com os de longe, a agradecer e pedir perdão, a tornar possível sem cessar o encontro. Descobrindo diariamente este centro vital que é o encontro, este «início vivo», saberemos orientar o nosso relacionamento com as tecnologias, em vez de nos deixarmos arrastar por elas. Também neste campo, os primeiros educadores são os pais. Mas não devem ser deixados sozinhos; a comunidade cristã é chamada a colocar-se ao seu lado, para que saibam ensinar os filhos a viver, no ambiente da comunicação, segundo os critérios da dignidade da pessoa humana e do bem comum.

Assim o desafio que hoje se nos apresenta, é aprender de novo a narrar, não nos limitando a produzir e consumir informação, embora esta seja a direcção para a qual nos impelem os potentes e preciosos meios da comunicação contemporânea. A informação é importante, mas não é suficiente, porque muitas vezes simplifica, contrapõe as diferenças e as visões diversas, solicitando a tomar partido por uma ou pela outra, em vez de fornecer um olhar de conjunto.

No fim de contas, a própria família não é um objecto acerca do qual se comunicam opiniões nem um terreno onde se combatem batalhas ideológicas, mas um ambiente onde se aprende a comunicar na proximidade e um sujeito que comunica, uma «comunidade comunicadora». Uma comunidade que sabe acompanhar, festejar e frutificar. Neste sentido, é possível recuperar um olhar capaz de reconhecer que a família continua a ser um grande recurso, e não apenas um problema ou uma instituição em crise. Às vezes os meios de comunicação social tendem a apresentar a família como se fosse um modelo abstracto que se há-de aceitar ou rejeitar, defender ou atacar, em vez duma realidade concreta que se há-de viver; ou como se fosse uma ideologia de alguém contra outro, em vez de ser o lugar onde todos aprendemos o que significa comunicar no amor recebido e dado. Ao contrário, narrar significa compreender que as nossas vidas estão entrelaçadas numa trama unitária, que as vozes são múltiplas e cada uma é insubstituível.

A família mais bela, protagonista e não problema, é aquela que, partindo do testemunho, sabe comunicar a beleza e a riqueza do relacionamento entre o homem e a mulher, entre pais e filhos. Não lutemos para defender o passado, mas trabalhemos com paciência e confiança, em todos os ambientes onde diariamente nos encontramos, para construir o futuro.

Vaticano, 23 de Janeiro – Vigília da Festa de São Francisco de Sales – de 2015.

Francisco PP.

 

A Visitação de Maria à Isabel, por Mariotto Albertinelli

A Visitação de Maria à Isabel, por Mariotto Albertinelli

 

O Dia Mundial das Comunicações Sociais é celebrado no mundo inteiro, no Domingo da Ascensão do Senhor, portanto, o dia não é fixo. O tema para cada ano vem do Vaticano. A mensagem completa é publicada no dia de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas

 

 

Pinturas da Visitação de Maria à Isabel

Papa Francisco: A corrupção corrói as bases morais de uma comunidade, tirando recursos fundamentais aos pobres

A mensagem dos pobres esteve no centro da viagem papal ao Sri Lanka e às Filipinas. O Papa Francisco recordou-o no longo diálogo como os jornalistas durante o voo de Manila para Roma – onde chegou pouco depois das 17h30 de segunda-feira 19 de Janeiro – denunciando mais uma vez as trágicas consequências da «cultura do descarte» e convidando os cristãos a tornar-se por sua vez «mendigos» em relação a quem nada tem, porque «os pobres nos evangelizam». Numerosos os outros temas enfrentados pelo Pontífice, que voltou a admoestar contra a «colonização ideológica» que ameaça a cultura dos povos e realçou a importância da «paternidade responsável» já valorizada por Paulo VI. Do Papa Francisco chegou também um reiterado convite a usar a liberdade de expressão com prudência e uma nova advertência contra a corrupção. Que corrói as bases morais de uma comunidade, tirando recursos fundamentais aos pobres

 

Sri Lanka

Entrevista coletiva durante o voo de regresso das Filipinas

(Papa Francisco)

Antes de mais nada, quero saudar-vos. Bom dia, obrigado pelo vosso trabalho. A visita foi trabalhosa e, como se diz em espanhol, pasada por agua. Foi bom, e muito obrigado pelo fizestes.

(Kara David, grupo filipino)

Bom dia, Santo Padre. Desculpe, vou falar em inglês. Muito obrigado por ter visitado o nosso país e por dar tanta esperança aos filipinos. Gostaríamos que voltasse ao nosso país. A minha pergunta: Os filipinos aprenderam muito, ouvindo a sua mensagem. Há alguma coisa que o Santo Padre tenha aprendido dos filipinos, do seu encontro connosco?

(Papa Francisco)

Os gestos! Os gestos comoveram-me. Não são gestos protocolares… São gestos bons, gestos sentidos, gestos que vêm do coração. Alguns quase fazem chorar. Neles está tudo: a fé, o amor, a família, a esperança, o futuro… Aquele gesto dos pais, quando levantavam as crianças para que o Papa as abençoasse. O gesto dum pai… Havia tantos que levantavam as crianças, quando eu passava pela estrada. Um gesto que não se vê noutros lugares. Era como se dissessem: este é o meu tesouro, este é o meu futuro, este é o meu amor; por ele vale a pena trabalhar, por ele vale a pena sofrer. É um gesto original, mas nascido do coração.

O segundo gesto que me impressionou muito foi um entusiasmo sincero, o júbilo, a alegria; eram capazes de fazer festa mesmo sob a chuva. Dizia-me um dos cerimoniários que ficou edificado porque os acólitos em Tacloban, com toda aquela chuva, nunca perderam o sorriso. É a alegria, a alegria sincera. Não era um sorriso maquilhado, não; era um sorriso que vinha de dentro. E, por detrás daquele sorriso, há a vida normal, existem as tribulações, existem os problemas… Outro gesto: as mães que traziam os filhos doentes; e o modo como as mães os traziam. As mães não levantavam tanto os filhos… até aqui [até ao braço]. Sim, viam-se tantas crianças deficientes, com deficiência que fazia um pouco de impressão; mas não escondiam a criança, levavam-na ao Papa para que a abençoasse. Este é o meu filho: é assim, mas é meu. Todas as mães sabem isto e fazem-no; mas a maneira de o fazer é que me impressionou.

O gesto da paternidade, da maternidade, do entusiasmo, da alegria. E há uma palavra que é de difícil compreensão para nós porque foi demasiado vulgarizada, usada demasiado mal ou mal compreendida, mas é uma palavra que tem substância: a resignação. Um povo que sabe sofrer e que é capaz de se levantar e ir para diante. Ontem, no colóquio que tive com o pai de Krystel – a jovem voluntária que morreu em Tacloban – fiquei edificado [com aquilo que me disse]: «Morreu em serviço», e procurava palavras para se confortar, para aceitar aquilo. Um povo que sabe sofrer. Foi isto o que eu vi, segundo a minha interpretação dos gestos.

(Jean-Louis de la Vaissière, da France Presse, pelo grupo francês)

Santidade, já foi duas vezes à Ásia. Os católicos na África ainda não receberam a sua visita. O Santo Padre sabe que, desde a República Centro-Africana à Nigéria e ao Uganda, há muitos fiéis atribulados pela pobreza, a guerra, o fundamentalismo islâmico que esperam a sua visita este ano. Assim queria-lhe perguntar: Quando e aonde pensa ir?

(Papa Francisco)

A minha resposta é hipotética. O plano é ir à República Centro-Africana e ao Uganda; os dois, neste ano. Creio que será lá para o fim, por causa do tempo. Devem prever o estado do tempo, que não haja chuvas, que não haja mau tempo. Está um pouco atrasada esta viagem, porque houve o problema do ébola. É uma grave responsabilidade promover grandes encontros, por causa do contágio. Mas, nestes países, isso não é problema. Como hipótese, neste ano, serão os dois citados.

(Salvatore Izzo, da AGI – Agência Italiana de Informação, pelo grupo italiano)

Santo Padre, em Manila estávamos num albergue muito bom, eram todos muito gentis e comia-se muito bem. Mas, logo que se deixava o hotel, éramos – digamos assim – moralmente agredidos pela pobreza. Víamos crianças que vagavam no meio dos desperdícios; tratados, diria talvez Vossa Santidade, como desperdícios. Sabe?! Tenho um filho de seis anos e senti vergonha ao ver estes que estão tão mal. Mas o meu filho, que se chama Rocco, compreendeu muito bem aquilo que Vossa Santidade nos ensina quando diz para partilhar com os pobres. E assim, a caminho da escola, procura distribuir o lanche pelos mendigos da área. Para mim, porém, é muito mais difícil. E também para outras pessoas adultas é difícil. Um único Cardeal, há 40 anos, deixou tudo para ir estar com os leprosos (Léger). Bem, a minha pergunta é esta: Porque é tão difícil seguir aquele exemplo, mesmo para os Cardeais? Entretanto há outra coisa que lhe queria perguntar, mas diz respeito ao Sri Lanka. Lá vimos todas aquelas favelas, quando íamos para o aeroporto. São barracas apoiadas nas árvores; vivem praticamente debaixo das árvores. A maioria são tâmis, claramente discriminados. O Santo Padre, no dia a seguir ao massacre de Paris, talvez como primeira impressão, disse: «Há um terrorismo isolado e um terrorismo de Estado». Que queria dizer com a expressão «terrorismo de Estado»? Ocorreu-me aquela expressão ao ver o sofrimento e a discriminação daquelas pessoas.

(Papa Francisco)

Quando uma de vós me perguntava qual era a mensagem que levava para as Filipinas, eu disse: os pobres. É a mensagem que dá a Igreja hoje. Aquilo que o senhor diz do Sri Lanka, dos tâmis, da discriminação… Os pobres, as vítimas desta cultura do descarte. Isso é verdade. Hoje não se descarta apenas o papel, o que sobra. Descartam-se as pessoas. E a discriminação é um tipo de descarte. Descartam-se estas pessoas. Vem-me ao pensamento a imagem das castas… Isto não pode continuar. E o descarte hoje parece quase normal. O senhor falava do hotel de luxo ao lado das barracas. Na minha diocese de Buenos Aires, havia toda uma área nova, chamada Puerto Madero, até à estação ferroviária, e depois começa a «Villa Miseria», os pobres, uns atrás dos outros. Da parte de cá, existem 36 restaurantes de luxo, que, se lá fores comer, levam-te couro e cabelo; da parte de lá, temos a fome. Uma coisa pegada à outra; e nós temos tendência para nos habituar a isto. Sim, aqui estamos nós, e lá estão os descartados. Esta é a pobreza, e creio que a Igreja deve dar sempre maior exemplo nisto, deve rejeitar todo o mundanismo. Para nós, consagrados, bispos, padres, religiosas, leigos que acreditam verdadeiramente, o pecado mais grave, a ameaça mais grave é o mundanismo. É tão feio quando se vê um consagrado, um homem da Igreja, uma religiosa, mundanos. É feio. Este não é o caminho de Jesus. É o caminho duma ONG que se chama Igreja. Mas esta ONG não é a Igreja de Jesus. Porque a Igreja não é uma ONG, é outra coisa. Mas, quando uma parte da Igreja – estas pessoas – se torna mundana, transforma-se numa ONG e deixa de ser a Igreja. A Igreja é Cristo morto e ressuscitado para nossa salvação, é o testemunho dos cristãos que seguem a Cristo. Aquele escândalo de que falou é verdade: sim, muitas vezes nós escandalizamos os cristãos; escandalizamos quer sejamos padres quer leigos, porque é difícil o caminho de Jesus. É verdade; a Igreja deve despojar-se.

O senhor fez-me voltar com o pensamento àquela expressão terrorismo do Estado: que este descarte seja uma espécie de terrorismo. Verdadeiramente, eu nunca o tinha pensado; mas, deixa-me pensar. Não sei, de verdade, que lhe dizer; uma coisa é certa, não se trata de carícias; é como dizer: Não, tu não! Tu fora…

Ou aquilo que aconteceu aqui em Roma. Um sem-abrigo, coitado, tinha uma dor de barriga; e, quando tens uma dor de barriga e vais ao hospital, às Urgências, dão-te uma aspirina ou qualquer coisa do género, ou marcam-te consulta quinze dias depois: daqui a quinze dias volta cá. Então o homem foi ter com um padre, este viu-o, compadeceu-se e disse-lhe: «Levo-te ao hospital, mas tu faz-me um favor: quando eu começar a explicar aquilo que tens, finge que desmaias» E assim aconteceu: um artista, fê-lo bem. Era uma peritonite. Este homem estava descartado. Se fosse sozinho, era descartado e morria. Aquele pároco era sagaz e ajudou-o bem. Vivia longe do mundanismo. Isto será terrorismo? Bem… pode-se pensar que seja… pensá-lo com cautela. Obrigado! Os melhores votos para a Agência.

(Jan-Christoph Kitzler, da ARD, a rádio alemã, pelo grupo alemão)

Obrigado, Santo Padre. Eu gostaria de voltar brevemente ao encontro que teve com as famílias. Lá falou da «colonização ideológica». Poder-nos-ia explicar um pouco melhor a expressão? Depois, referiu-se ao Papa Paulo VI, falando dos casos particulares que são importantes na pastoral das famílias. Pode dar-nos alguns exemplos destes casos particulares e, quem sabe, dizer-nos mesmo se há necessidade de abrir as estradas, alargar o corredor destes casos particulares?

(Papa Francisco)

Quanto à colonização ideológica, direi apenas um exemplo que eu mesmo constatei. Vinte anos atrás, em 1995, uma Ministra da Educação pedira um grande empréstimo para construir escolas para os pobres. Deram-lhe o empréstimo com a condição de que, nas escolas, houvesse um livro para as crianças de certo grau de escolaridade. Era um livro escolar, um livro didacticamente bem preparado, onde se ensinava a teoria do gender. Esta senhora precisava do dinheiro do empréstimo, mas havia aquela condição. Sagaz, disse que sim e fez preparar outro livro, tendo dado os dois e assim resolveu o problema… Esta é a colonização ideológica: invadem um povo com uma ideia que não tem nada a ver com o povo: com grupos do povo, sim; mas não com o povo. E colonizam o povo com uma ideia que altera ou quer alterar uma mentalidade ou uma estrutura. Durante o Sínodo, os bispos africanos lamentavam-se disto mesmo: que, para certos empréstimos, se imponham determinadas condições. Limito-me a dizer este caso que vi. Porque falo de «colonização ideológica»? Porque agarram-se precisamente à necessidade dum povo: aproveitam-se das crianças para ali entrar e consolidar-se. Mas isto não é novo. Fizeram o mesmo as ditaduras do século passado; entraram com a sua doutrina. Pensai nos «Balilla», pensai na Juventude Hitleriana… Colonizaram o povo; queriam fazê-lo. Mas, quanto sofrimento! Os povos não devem perder a liberdade. O povo tem a sua cultura, a sua história; cada povo tem a sua cultura. Mas, quando chegam condições impostas pelos impérios colonizadores, procuram fazer com que os povos percam a sua identidade para se criar uniformidade. Esta é a globalização da esfera: todos os pontos são equidistantes do centro. Mas, a verdadeira globalização – como gosto de dizer – não é a da esfera. É importante globalizar, não como a esfera, mas como o poliedro, isto é, que cada povo, cada parte mantenha a sua identidade, o seu ser, sem acabar colonizada ideologicamente. Estas são as «colonizações ideológicas». Há um livro (desculpai, se faço publicidade!), há um livro intitulado Lord of the Worl [Senhor do Mundo]. Talvez inicialmente o estilo nos pareça um pouco pesado, porque foi escrito no ano 1907, em Londres; naquela época, o escritor viu este drama da colonização ideológica e descreve-o no livro. O autor é Benson; escreveu-o em 1907, recomendo-vos a sua leitura. Lendo-o, compreendereis bem o que quero dizer com «colonização ideológica».

Esta era a primeira questão. A segunda: Que queria eu dizer de Paulo VI? É certo que a abertura à vida é uma condição do sacramento do Matrimónio. Um homem não pode dar o sacramento à mulher nem a mulher ao homem, se ambos não estão de acordo sobre este ponto: estar abertos à vida. Tanto é assim que, se se puder provar que um tal ou uma tal se casou com a intenção de não estar aberto à vida, aquele matrimónio é nulo; a falta de abertura à vida é causa de nulidade matrimonial. Paulo VI estudou isto com uma comissão: como proceder para ajudar tantos casos, tantos problemas, problemas importantes que dificultam o amor da família. Problemas de todos os dias. Muitos, muitos… Mas era qualquer coisa de mais grave. A recusa de Paulo VI não incidia sobre os problemas pessoais, a propósito dos quais dirá depois aos confessores para serem misericordiosos e compreenderem as situações e perdoarem, isto é, serem misericordiosos, compreensivos. Mas, ele olhava para o neomalthusianismo universal em expansão. E como se reconhece este neomalthusianismo? É a natalidade abaixo de 1% na Itália; e o mesmo em Espanha. Aquele neomalthusianismo que visava o controle da humanidade pelas grandes potências. Isto não significa que o cristão deve fazer filhos em série. Há alguns meses, numa paróquia, censurei uma mulher porque estava grávida do oitavo depois de sete cesarianas. «Mas a senhora quer deixar sete órfãos?» Isto é tentar a Deus. Fala-se de paternidade responsável. Este é o caminho: a paternidade responsável. Mas aquilo que eu queria dizer era que Paulo VI não tivera uma visão antiquada, fechada. Não. Foi um profeta, que daquele modo nos disse: cuidado com o neomalthusianismo que está a chegar. Era isto que eu queria dizer. Obrigado.

(Padre Lombardi)

Entretanto, uma informação. Estamos de novo sobre a China. Até parece que estamos ganhando o hábito de fazer estas conferências com o Papa enquanto sobrevoamos a China, como já sucedeu ao regressar da Coreia.

(Valentina Alazraki, pelo grupo espanhol)

Santidade, no nosso voo para as Filipinas, usou uma determinada imagem e relativo gesto com o nosso bom Gasbarri, ou seja, que se ele insultasse sua mãe mereceria um soco. Esta frase criou um pouco de confusão e não foi bem compreendida por todos, no mundo, porque parecia dizer que, perante uma provocação, talvez se justificasse um pouco uma reacção violenta. Poder-nos-ia explicar um pouco melhor o que queria dizer?

(Papa Francisco)

Em teoria, podemos dizer que uma reacção violenta perante uma ofensa, uma provocação – em teoria, sim?! – não é uma coisa boa, não se deve fazer. Em teoria, podemos dizer o que diz o Evangelho, ou seja, que devemos apresentar a outra face. Em teoria, podemos dizer que temos a liberdade de exprimir e esta é importante. Em teoria, estamos todos de acordo. Mas somos humanos, e existe a prudência, que é uma virtude da convivência humana. Eu não posso insultar, provocar uma pessoa continuamente, porque arrisco-me de a irritar e receber uma reacção não justa, não justa. Mas é humano. Por isso, digo que a liberdade de expressão deve ter em conta a realidade humana, digo que se deve ser prudente. É um modo de dizer também que se deve ser educado. Prudente. A prudência é a virtude que regula as nossas relações humanas. Eu posso ir até este ponto; mais além, não. Era isto o que eu queria dizer: em teoria, todos estamos de acordo que há liberdade de expressão, que uma reacção violenta não é boa, que é sempre má. Todos estamos de acordo. Mas, na prática, contenhamo-nos um pouco, porque somos humanos e corremos o risco de provocar os outros e, por isso, a liberdade deve ser acompanhada pela prudência. Queria dizer isto.

(Nicole Winfield, da Associated Press dos Estados Unidos, pelo grupo inglês)

Santo Padre, pelo grupo inglês, queria de novo perguntar sobre as viagens deste ano. O Santo Padre disse-nos já que estava prevista a viagem à América. Mencionou três cidades: Nova Iorque, Washington e Filadélfia; mas, com a canonização de Serra, perguntamo-nos se não estará prevista também uma etapa na Califórnia ou nas fronteiras do México. E depois, na América do Sul, disse à nossa colega Isabel Piqué que estavam previstas três viagens ou uma viagem em três países da América do Sul. Quais são? E pensa beatificar pessoalmente o Arcebispo Romero, considerado recentemente mártir. Terminei.

(Papa Francisco)

Começo pelo último ponto. Aqui haverá uma guerra entre o Cardeal Amado e o Arcebispo Paglia; qual dos dois fará a beatificação? Não eu, pessoalmente: a cerimónia para os Beatos é normalmente celebrada pelo Cardeal do Dicastério ou outro.

Da última pergunta, passemos à primeira: os Estados Unidos. Sim, as três cidades são as indicadas: Filadélfia, para o Encontro das Famílias, Nova Iorque – tenho já a data, mas não me lembro dela – para a visita às Nações Unidas e Washington. São estas três. Gostaria de ir à Califórnia para a canonização de Junípero Serra, mas há o problema do tempo: são necessários mais dois dias. Penso fazer tal canonização no Santuário de Washington. É um acontecimento nacional. Em Washington (creio que no Capitólio), há mesmo uma estátua de Junípero. Penso que seja lá. Entrar nos Estados Unidos pela fronteira do México seria interessante, como sinal de fraternidade e ajuda aos emigrantes, mas o senhor sabe que ir ao México sem visitar Nossa Senhora seria um drama e poder-se-ia desencadear uma guerra! E também porque haveria necessidade de mais três dias. Enfim, ainda não está tudo definido. Penso que serão apenas estas três cidades. Haverá tempo depois para ir ao México. Esqueci-me de qualquer coisa? Ah, quanto aos países latino-americanos, estão previstos três para este ano (está tudo ainda em fase de estudo): Equador, Bolívia e Paraguai. Estes três. No próximo ano, se Deus quiser, desejava visitar (mas ainda não está nada resolvido) Chile, Argentina e Uruguai. E fazia falta incluir o Peru, que não sabemos onde colocá-lo… Mas é isto!

(Carla Lim, pelo grupo filipino)

Bom dia, Santo Padre. Agradeço-lhe por inspirar o meu país. Em nome do povo filipino, muito lhe agradeço. Perdoe-me por não poder falar italiano. O Santo Padre mencionou em alguns dos discursos nas Filipinas a corrupção, dizendo que esta tira recursos ao povo. Que se pode fazer, Santidade, para combater a corrupção, e não só no governo mas talvez na Igreja também?

(Papa Francisco)

Esta é forte! Hoje, no mundo, a corrupção é assunto de todos os dias e o comportamento corrupto encontra, rápida e facilmente, ninho nas instituições. Dado que uma instituição tem tantos sectores, aqui e além, tem tantos dirigentes e vice-dirigentes, é muito fácil que nela possa fazer ninho a corrupção. Toda a instituição pode cair nisto. A corrupção é tirar ao povo. A pessoa corrupta, que faz negócios corruptos, governa de forma corrupta ou se associa com outras para fazer um negócio corrupto, rouba ao povo. As vítimas são as pessoas que ele [aponta para Salvatore Izzo] viu perto do albergue de luxo: aquelas são as vítimas da corrupção. A corrupção não está fechada em si mesma: move-se. E mata, sabe? A corrupção, hoje, é um problema mundial. Uma vez, no ano 2001 mais ou menos, perguntei ao Chefe de Gabinete do Presidente de então (era um governo que pensávamos fosse menos corrupto; e era verdade: não era tão corrupto aquele governo): «Diga-me, as ajudas que enviais para o interior do país, em dinheiro ou coisas para comer, vestir… de tudo isso quanto chega ao destino?» Imediatamente aquele homem, que é um homem verdadeiro, com as mãos limpas, diz-me: «Cerca de 35%». Assim me disse ele. Ano 2001, na minha pátria.

E agora, a corrupção nas instituições eclesiais. Quando falo da Igreja, gosto de pensar nos fiéis, nos baptizados, na Igreja inteira. E é melhor falar de pecadores. Todos somos pecadores. Mas, quando falamos de corrupção, referimo-nos a pessoas corruptas ou a instituições da Igreja que caem na corrupção; e há casos, há. Recordo que uma vez, no ano de 1994 – tinha acabado de ser nomeado bispo do Bairro Flores, em Buenos Aires – vieram ter comigo dois trabalhadores ou funcionários dum Ministério, dizendo-me: «O senhor tem aqui tanta necessidade, com tantos pobres nas Villas Miséria». «Oh sim!» – retorqui; e contei. «Nós podemos ajudá-lo. Conseguimos, se quiser, uma ajuda de 400.000 pesos». Naquela altura, o peso e o dólar equivaliam-se: eram 400.000 dólares americanos. «E vós conseguis?» «Mas certamente». Eu ouvia-os, pois, «quando a esmola é demasiado grande, até o Santo desconfia» e eles continuaram: «Para isso, nós fazemos o depósito e depois o senhor dá-nos metade». Naquele momento, pensei: Que fazer? Ou insulto-os e dou-lhes um pontapé onde não bate o sol ou faço-me de desentendido. Fiz-me de desentendido. Disse-lhes (e era verdade!): «Os senhores sabem que nós, nas vigararias, não temos conta; os senhores devem fazer o depósito na arquidiocese com recibo». «Ah, não sabíamos… prazer…» E foram-se embora. Mas depois pensei: Se estes dois vieram directamente ter comigo, sem pedir autorização (é um pensamento mau!), é porque alguém já lhes disse que sim. Mas é um pensamento mau! A corrupção, é fácil de a fazer. Mas lembremo-nos disto: pecadores, sim; corruptos, não! Corruptos, nunca! Devemos pedir perdão pelos católicos, pelos cristãos que escandalizam com a sua corrupção. É uma praga, na Igreja; mas existem tantos santos… santos pecadores, mas não corruptos. Olhemos também para a outra parte, para a Igreja santa! Também há algum… Obrigado pela coragem de fazer esta pergunta.

(Anaïs Feuga, de «Radio France», pelo grupo francês)

Estamos a sobrevoar a China. Quando íamos para a Coreia, o Santo Padre disse-nos que estava pronto para ir à China já amanhã. À luz destas declarações, pode-nos explicar por que não recebeu o Dalai Lama, quando recentemente esteve em Roma, e como vão as relações com a China?

(Papa Francisco)

Obrigado por esta pergunta. Obrigado. É costume, no protocolo da Secretaria de Estado, não receber chefes de Estado ou pessoas desse nível, quando estão em Roma para uma reunião internacional. Por exemplo, por ocasião da reunião da FAO, não recebi ninguém. Por isso é que ele não foi recebido. Vi que alguns jornais disseram que não o recebi com medo da China: isso não é verdade. Naquela altura, a razão foi esta. Ele solicitou audiência, e foi-lhe referida uma certa data. Tinha-a pedido antes, mas não para aquela ocasião; temos bom relacionamento. Mas o motivo não foi a recusa da pessoa nem o medo da China. Estamos abertos, e queremos a paz com todos. E como estão as relações? O governo chinês é educado; e nós também somos educados. Fazemos as coisas passo a passo, como tudo o que se faz na história. Ainda não se sabe; mas eles sabem que eu estou disposto a receber ou a ir. Eles sabem disso.

(Marco Ansaldo, da «Repubblica», pelo grupo italiano)

Santo Padre, acaba de fazer uma viagem encantadora, muito rica, cheia de coisas belas, aqui nas Filipinas. Mas eu gostaria de recuar um passo, até porque o terrorismo atinge a cristandade, os católicos, em muitas partes do mundo. Vimo-lo ainda nestes últimos dias, no Níger; mas os exemplos são muitíssimos. Ora o Santo Padre, na última viagem que fizemos, ao regressar da Turquia fez um apelo aos líderes islâmicos dizendo que era útil um passo, uma intervenção muito firme da parte deles. Mas não me parece que isto tenha sido tomado em consideração e acolhido, apesar das suas palavras. Há alguns países muçulmanos moderados – pode-se muito bem dar o exemplo da Turquia – que mantêm, a propósito do terrorismo (cito os casos do IS ou mesmo do «Charlie Hebdo»), uma atitude pelo menos ambígua. Pois bem, não sei se o Santo Padre teve possibilidades, neste mês e meio, de reflectir e pensar como ir mais além do seu convite, que não foi acolhido, e contudo era importante. O Santo Padre ou alguém por si – penso na Secretaria de Estado, vejo aqui Mons. Becciu ou o próprio Cardeal Parolin –, até porque este é um problema que continuará a interpelar-nos.

(Papa Francisco)

Repeti aquele apelo no próprio dia da partida para o Sri Lanka, ao falar ao Corpo Diplomático na parte de manhã. No discurso ao Corpo Diplomático, disse ser meu desejo que se exprimam os líderes religiosos, políticos, académicos e intelectuais. O próprio povo moderado islâmico pede isto aos seus líderes. Alguns já fizeram qualquer coisa. Creio que é preciso também dar-lhes um pouco de tempo, porque, para eles, a situação não é fácil. Tenho esperança, porque há tantas pessoas boas entre eles, tanta gente boa, tantos líderes bons, e estou certo de que se chegará a isso. Mas queria dizer e salientar que repeti o mesmo no dia da partida.

(Cristoph Schmidt, pelo grupo alemão)

Santo Padre, antes de mais nada queria dizer-lhe muito obrigado por todos os momentos tão impressionantes desta semana. É a primeira vez que o acompanho e gostaria de lhe dizer mil vezes obrigado. A minha pergunta: O Santo Padre falou da multidão de crianças nas Filipinas, da sua alegria por haver assim tantas crianças. Mas, segundo as sondagens, a maioria dos filipinos pensa que o enorme crescimento da população filipina é uma das razões mais importantes para a pobreza imensa do país, já que, em média, uma mulher, nas Filipinas, dá à luz mais de três filhos na sua vida, e a posição católica relativamente à contracepção parece ser uma das poucas questões em que um grande número de pessoas nas Filipinas não está de acordo com a Igreja. Que pensa disto?

(Papa Francisco)

Creio que o número de três por família, mencionado pelo senhor, seja importante – de acordo com o que dizem os peritos – para manter a população. Três por casal. Quando se desce abaixo deste nível, acontece o outro extremo, como, por exemplo, na Itália onde ouvi dizer (não sei se é verdade) que, em 2024, não haverá dinheiro para pagar aos reformados. A diminuição da população. Por isso a palavra-chave para responder é esta expressão que usa sempre a Igreja, e eu também: «paternidade responsável». Como se consegue isto? Com o diálogo. Cada pessoa, com o seu pastor, deve procurar o modo como fazer esta paternidade responsável. Aquele exemplo, que mencionei há pouco, de uma mulher que esperava o oitavo filho e tinha sete com partos cesáreos: isto é uma irresponsabilidade. «Não! Eu confio em Deus». «Mas atenção! Deus dá-te os meios; sê responsável». Crêem alguns – desculpem a frase – que, para ser bons católicos, devem ser como coelhos. Não. Paternidade responsável. Isto é claro e por isso, na Igreja, há os movimentos matrimoniais, há os especialistas no assunto, há os pastores, e investiga-se. Eu conheço muitas e muitas soluções lícitas, que serviram de ajuda para o efeito. Mas fez bem em mo dizer. Há ainda outra coisa curiosa, que é diversa mas está relacionada com isto. Para as pessoas mais pobres, um filho é um tesouro. É verdade que aqui se deve ser prudente. Mas, para eles, um filho é um tesouro. Deus sabe como ajudá-los. Talvez alguns não sejam prudentes nisto, é verdade. Paternidade responsável. Mas é preciso também ver a generosidade daquele pai e daquela mãe que vêem em cada criança um tesouro.

(Isabel Piqué, pelo grupo espanhol)

Em representação do grupo espanhol, duas perguntas. Foi uma viagem comovente para todos: vimos chorar, em Tacloban, durante o tempo todo; nós mesmos, jornalistas, choramos; ontem o Santo Padre disse que o mundo precisa de chorar. Foi tudo muito intenso. Queríamos perguntar qual foi, para o Santo Padre, o momento mais intenso: a Missa em Tacloban e depois, ontem, quando aquela jovem se pôs a chorar… Esta é a primeira pergunta. Depois, a segunda: Ontem o Santo Padre fez história, bateu o recorde de João Paulo II no mesmo lugar, isto é, havia 6/7 milhões de pessoas. Como vive isto? O Cardeal Tagle contou-nos que no altar, durante a Missa, o Santo Padre lhe perguntou: «Mas quantas pessoas estão?» Assim, como vive o facto de ter superado este recorde, ter entrado na história como o Papa com a Missa mais numerosa da história?

(Papa Francisco)

A primeira: o momento mais intenso. O de Tacloban, a Missa, para mim, foi intenso, muito intenso. Ver todo o povo de Deus ali de pé, rezando, depois daquela catástrofe… Pensar nos meus pecados e naquela gente… Foi intenso, um momento muito intenso. Lá, no momento da Missa, sentia-me como que aniquilado, quase não me saía a voz. Não sei o que me sucedeu; talvez fosse a emoção, não sei. Mas, tudo o que sentia era isto: uma espécie de aniquilação. E, depois, momentos intensos foram os gestos, cada gesto. Quando passava e um pai fazia assim [faz o gesto de levantar a criança], eu dava a bênção, e ele dizia-me obrigado; para eles, era suficiente uma bênção. Pensei: e eu com tantas pretensões, quero isto, quero aquilo… Aquilo fez-me bem. Momentos intensos. Mesmo quando soube que aterrámos, em Tacloban, com um vento de 70 Km/h, tomei a sério o aviso de que deveríamos sair à uma hora da tarde, e não depois, porque havia perigo. Mas não tive medo.

Quanto à grande presença, senti-me tão aniquilado. Aquele era o povo de Deus, e o Senhor estava ali. É a alegria da presença de Deus que nos diz: pensai bem que sois os servidores destas pessoas. Os protagonistas são elas…

E depois o facto do pranto. Uma das coisas que se perde quando há demasiado bem-estar, quando não se compreendem bem os valores, ou quando nos habituamos à injustiça, a esta cultura do descarte, é a capacidade de chorar. É uma graça que devemos pedir. No Missal antigo, havia uma bela oração para se pedir o pranto. Dizia mais ou menos assim: «Ó Senhor, Vós que fizestes com que Moisés fizesse sair, com a sua vara, água do rochedo, fazei que da rocha do meu coração saia a água das lágrimas». É uma belíssima oração. Nós, cristãos, devemos pedir a graça de chorar, sobretudo os cristãos abastados, e chorar pelas injustiças, chorar pelos pecados. É que o pranto abre-te à compreensão de novas realidades ou de novas dimensões da realidade. Foi aquilo que disse a jovem, e também o que eu lhe disse a ela. Ela foi a única a fazer aquela pergunta a que não se pode responder: «Porque sofrem as crianças?» O grande Dostoiévski pôs a pergunta, mas não conseguiu responder: Por que sofrem as crianças? Ela, sim, com o seu pranto: uma mulher que chorava. Quando digo que é importante que as mulheres sejam tidas mais em conta na Igreja, não é só para lhes dar uma função de secretária num dicastério; isso também pode ser. Mas não é para isso; é para que elas nos digam como sentem e vêem a realidade, porque as mulheres olham a partir duma riqueza diferente, maior. Outra coisa, que desejo sublinhar aqui: aquilo que disse ao último jovem [no encontro com a juventude], ou seja, que verdadeiramente trabalha bem, dá, organiza, ajuda os pobres. Mas não esqueças – disse-lhe eu – que também nós devemos ser mendigos junto deles, porque os pobres evangelizam-nos. Se tiramos os pobres do Evangelho, não podemos compreender a mensagem de Jesus. Os pobres evangelizam-nos. «Eu vou evangelizar os pobres». Sim, mas deixa-te evangelizar por eles, porque têm valores que tu não tens.

Agradeço-vos imenso pelo vosso trabalho! Estimo-o. E muito obrigado. Sei que é um sacrifício para vós.