FERNANDO LIMONGI Impeachment “tem uma coisa de direita forte em toda a América Latina”

“PSDB e movimentos de rua devem tomar posição agora sobre Cunha”
Fernando Limongi, cientista político / F. CAVALCANTI

Fernando Limongi, cientista político / F. CAVALCANTI

Sociólogo diz que a gritaria contra a corrupção precisa ir além das denúncias contra o PT

por Carla Jiménez/ El País

O professor da Universidade de São Paulo, Fernando Limongi, concedeu uma entrevista por telefone ao EL PAÍS há um mês para avaliar o cenário político, mas considerou que era melhor falar de novo. “Está tudo mudando muito rápido e o que falei antes já não vale mais”, disse ele, resumindo um pouco do quadro brasileiro, que vive no sobressalto da crise política de Brasília. Doutor pela Universidade de Chicago, Limongi entende que a fraqueza do Governo Dilma garantiu espaço a uma certa hipocrisia, ao colocar o PT no centro de todas as responsabilidades por atos ilícitos.

Pergunta. É possível ter um diagnóstico preciso sobre o quadro político neste momento?

Resposta. Há um jogo em curso difícil de decifrar porque não se fecham alianças. Há uma possibilidade de uma força de oposição se consolidar e derrubar a Dilma. Há outra, que é ela conseguir montar uma base mais ou menos e funcionar. Mas o principal que aparece continua a ser um movimento extremamente radicalizado pelo impeachment, com raiz fora do sistema político, que são esses movimentos organizados, com uma base estranha, apoio externo. Isso não acontece só no Brasil. Tem uma coisa de direita forte em toda a América Latina. Tem apoio do establishment, de um jeito doentio. Irracional e totalmente despropositada. O PT não é tudo isso que estão pintando. Ele não vai socializar os meios de produção. Ele já está fazendo política neoliberal, como já foi feita no passado.

P. Como um partido assim tem a possibilidade de virar o jogo?

R. Veja, há um quadro estranho. Quando Fernando Henrique Cardoso estava no poder, alguém tentou o impeachment dele. É algo despropositado. Mas tem sempre um louquinho falando de impeachment num Governo, e tudo bem. Mas agora, o que tem de diferente neste momento é que há um apoio institucional.

P. É mais de um louquinho agora?

R. É uma confluência de loucos. Há o [Augusto] Nardes [presidente do Tribunal de Contas da União], Gilmar Mendes [ministro do Supremo] , e [Eduardo] Cunha. Os três agem de forma a reabilitar de qualquer forma o impeachment. É muito difícil entender o jogo do Cunha. Ele tem oposição ideológica ao PT. Ele e o Nardes são pessoas sem o menor caráter, capazes de qualquer coisa. Há uma aliança muito estranha. Uma direita que se diz moralista, que faz aliança com quem explora a coisa pública para ter beneficio.

P. Mas no que você identifica esse padrão?

R. É muito estranho como o Cunha está sendo tratado pela mídia. Enquanto houver essa espada na cabeça da Dilma, o Governo não vai sair dessa sinuca. Tem que ser dito. A proposta de impeachment é uma forçada de barra e demonstração de absoluta irresponsabilidade pois compromete todos os avanços dos últimos anos com FHC e Lula. Tudo está sendo destruído por uma infantilidade.

P. Tudo coincide com o fatiamento da Lava Jato. Isso significa alguma coisa?

R. A Lava Jato vai pegar tudo, todas as corrupções do Estado serão investigadas por ela. Não tenho exatamente uma opinião formada sobre isso. Mas estão tomando controle, pois estava-se extrapolando, de maneira seletiva. Não estou muito convencido. Tem um exagero antipetista. Se olharmos a coisa da corrupção que a Lava Jato desvenda, de um lado não tem nada novo. Se olhar o que foi, são as mesmas empresas envolvidas no impeachment do Collor. Se olhar o [escândalo] do orçamento dos anões [de 1993] são as mesmas empreiteiras e a mesma forma de agir, e a forma como elas geram sua própria demanda. Trabalham pelos seus contratos e financiam o sistema político. Isso desde a redemocratização. Então como eu regulo esse mercado? Como ter mercado de obras do Estado que não seja tão corrupta? As doações de campanha financiaram tanto a Dilma quanto o Aécio.

P. Mas apuram-se as suspeitas de que dinheiro de propina abasteceu a campanha de Dilma.

R. Aécio foi financiado pelas mesmas empresas. Um levantamento informal que fiz mostra que 67% do dinheiro que o PSDB recebeu é de grupos que também doaram para Dilma. Difícil dizer que só o PT se beneficiou de um esquema de corrupção enquanto o PSDB também recebeu. Foi muito dinheiro para os dois. Só a Dilma está pegando dinheiro ilícito? É difícil ir por aí. Tem dois mercados ligados a corrupção política que precisam ser regulamentados. A de empreiteiras e de propaganda oficial.

P. Mas há acusações sérias ao PT…

R. O PT se destruiu, vai pagar. Mas chamo a atenção para o fato de que precisamos ir além disso. Ir as causas, financiamento e gastos de campanhas, que estão desregulados. Por que não se cria um sistema como bolsa de Valores? Com recursos internos de investigação? Só fica essa coisa boba, moralista. Neste momento, a única forma do governo se colocar de pé é conversando com a ala podre do PMDB, que é o que ela está fazendo.

P. Ela acertou com uma ala do PMDB nesta reforma ministerial, mas tudo pode ser jogo de cena e ela ficar sem apoio, não?

R. Sim. Agora o Cunha não sabe o que ele pode ou não pode fazer. Ele não tem escapatória, não tem como não ser condenado. Se o PT fecha com ele ou o [Leonardo] Picciani, é a institucionalização da roubalheira. A pressão deles é para colocar gente deles para pequenas corrupções. Só não entendo o que o PSDB está fazendo ali. É fazer pacto com o diabo.

P. Como as coisas ficam com o Cunha investigado pelo Ministério Público?

R. A denúncia contra o Cunha muda tudo. Força o PSDB a tomar uma decisão. Os tucanos namoraram o Cunha um pouco e com a reação dele à possibilidade de ser denunciado, foi acelerado a possibilidade de impeachment. O PSDB aceitou, participou. Agora o PSDB tem de decidir se é ou não o aliado dele.

P. O PSDB ajudou a vitaminar o Cunha?

R. Deu apoio sim, inclusive a Aécio começou a apoiar a ideia sugerir novas eleições. Com assim? Aqui não é a casa da mãe Joana. O povo nas ruas também dizia que eram contra o PT porque eram contra a corrupção. Contra a corrupção do PT? Do Cunha não?

P. Movimentos precisam se posicionar agora?

R. Para eles, o Cunha tudo bem? Isso deixa claro quem são. Grupos políticos ligados à direita. Todo mundo disfarçando, dizendo que é movimento cívico. Mas é contra a corrupção ou não? O lado positivo é que os crimes estão sendo investigados. O sistema brasileiro é um dos que mais pune seus políticos. Na França, Estados Unidos acabam em pizza. A ideia de que políticos não são condenados é um pouco falsa. É difícil comparar as coisas. As pessoas estão indo para as ruas. Mas não acho que seja uma mudança. Desde que me conheço por gente se diz que o Brasil não será mais o mesmo. Desde as Diretas, caras pintadas do Collor, pós impeachment, é sempre assim. Políticos pedem milhões de dólares para depois comprar Lamborghini, como o Collor. Lembra o [ex-deputado] João de Deus, da Comissão do Orçamento dos anões. Nem sabem o que fazer com dinheiro. São políticos que montam os esquemas, isso se fala pouco.

P. Como assim?

R. Quem monta os sistemas são as empreiteiras, os políticos se tornam sócios, em vez de fiscalizá-los. São as mesmas empreiteiras em todos os escândalos.

Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da UE

Por Grazia Tanta/ Kaos

indignados bunda banqueiros

Um tributo de solidariedade com o povo grego O sistema financeiro para sobreviver precisa de exportar dívida para os povos, servindo-se do Estado e das classes políticas para impor dois tipos de modelos – a desvalorização interna (austeridade) e a da moeda. Existem alternativas mas, somente saídas da vontade coletiva dos povos, […]

Um tributo de solidariedade com o povo grego

grazia muro

O sistema financeiro para sobreviver precisa de exportar dívida para os povos, servindo-se do Estado e das classes políticas para impor dois tipos de modelos – a desvalorização interna (austeridade) e a da moeda. Existem alternativas mas, somente saídas da vontade coletiva dos povos, sem taras nacionalistas ou autoritárias

Sumário

1 – O domínio através da dívida, o verdadeiro problema

2 – Duas falsas alternativas do neoliberalismo

3 – Por onde passa a alternativa?

4 – Sair do euro e/ou da UE como e com que vantagens?

5 – As preocupações do BCE, da UE e do FMI

5.1– Objetivo 1 – A estabilidade e a rendabilidade dos mercados financeiros

5.2– Objetivo 2 – Conter os europeus na austeridade, na ignorância e… no medo

5.3 – Objetivo 3 – Conter as ameaças geoestratégicas

1 – O domínio através da dívida, o verdadeiro problema

Desenvolvemos recentemente algumas considerações sobre o crescimento e as desigualdades[1]. Vejamos agora como o crédito e a subsequente acumulação de dívida têm sido instrumentos essenciais para “alavancar” esse crescimento, gerando estratégias empresariais e pessoais de endividamento, colocando o mundo em estado de servidão face aos donos da dívida, o sistema financeiro. Esses donos, são bancos, seguradoras, fundos de pensões e outros – com relevo para os “simpáticos” fundos abutre – e toda uma diversificada panóplia de serviços e funções parasitárias – analistas financeiros, dealers, consultores, etc; sem esquecer os reguladores, o FED, o BCE e a rede de bancos centrais europeus, onde se enquadra o “nosso” Bdp cujo nome nos faz lembrar os pouco recomendáveis, Constâncio e Carlos Costa. Todo essa maquinaria procura manter oleada a máquina da dívida, do seu demencial crescimento, em concertação com os seus funcionários das classes políticas a quem cabe garantir a estúpida apatia vigente na multidão de seres humanos perante a captura da vida de cada um, diretamente ou através do “seu” estado, na espiral da dívida.

O gráfico seguinte fornece um quadro do aumento do peso da dívida total – pública, das empresas financeiras ou não financeiras e das pessoas – que, em última análise sobrecarrega os humanos. Em 14 anos passou dos 246% do PIB mundial para os 286% e os seus $ 199*1012 representam cerca de $ 28000 por ser humano ou, de outro modo, o correspondente a perto de três anos de trabalho de cada pessoa. Se se preferir, aquela capitação corresponde a quatro anos de remunerações brutas de um trabalhador português com o salário mínimo. Trágico e assustador!

A evolução ali espelhada revela que até 2007 a dívida crescia essencialmente no seio do próprio sistema financeiro e das famílias, por razões bem conhecidas; nos últimos anos o crescimento da dívida centrou-se nos estados, a quem compete proceder à sua distribuição pela população, situando-se o sistema financeiro oculto, na sombra, de corruptos governantes que fazem o trabalho sujo. Assim, os estados surgem na frente dos detentores de dívida, em 2014 com mais de 29% do total, claramente acima das responsabilidades que cabem diretamente às famílias e ao próprio sistema financeiro. Esta situação obriga a relembrar o papel dos estados nas sociedades capitalistas, como instrumentos dos segmentos dominantes do capital, com funções de articulação das relações inter-capitalistas e de redistribuição regressiva entre os capitalistas no seu conjunto, por um lado e a grande massa da população, por outro. Entre nós e “eles”, entre os de baixo e os de cima.
Esta política é global e não se cinge às práticas do BCE ou do FED norte-americano. Desde 2006 acelerou a monetarização massiva das economias – os quantitative easings – por parte do conjunto dos bancos centrais do mundo. As necessidades intrínsecas do capital financeiro de reproduzir lucros não se podiam limitar à formação de poupanças das famílias, nem ao crescimento do volume dos depósitos nos bancos e daí a demencial criação de dinheiro, muito para além das necessidades da economia, constituída pela produção de bens e serviços, em última análise para satisfazer as necessidades humanas. Assim, desde 2006 os ativos do conjunto dos bancos centrais do mundo passaram de $ 6*109 para $ 22*109 muito acima, portanto, do crescimento dos rendimentos contabilizados. No caso do FED, os seus ativos cresceram 23 vezes em 1987/2014 enquanto o PIB se multiplicou apenas três vezes e o rendimento médio das famílias norte-americanas somente duplicava. Como se diz em Espanha, não há pão para tanto chouriço.

Esta loucura por parte dos bancos centrais corresponde aos interesses do capital financeiro muito mais interessado na especulação baseada em cascatas de títulos e jogos na bolsa do que em financiar a atividade económica. O sistema financeiro, de acordo com as contas das instituições estatísticas, inclui os juros cobrados e os lucros como contributos para o PIB mesmo que se acumulem nas contas da oligarquia mundial de banqueiros, executivos e acionistas de multinacionais, milionários, com fraco impacto na economia. A contabilização dos lucros, essenciais para agradar aos acionistas, pode basear-se no registo de mais-valias potenciais, o que como se depreende são incertas e voláteis contribuindo para que a dimensão do próprio PIB perca muito do seu sempre nebuloso significado, em termos reais.

Por outro lado, esse dinheiro criado e transitado do BCE para os bancos vai permitir que estes ajudem as classes políticas nacionais e autárquicas a criar obra, com o consequente endividamento público a que irá corresponder a oneração fiscal da população; e os bancos até desenvolvem técnicas de perpetuação de dívida pública com contratos de parceria público-privadas, swaps e outros, com a aprovação de ministros e altos quadros da área das finanças comprometidos, com o partido no poder ou, por mera ignorância. Enquanto as economias forem apresentando algum crescimento, este edifício de frágil filigrana vai-se mantendo mas, quando há emperramento logo surgem as vítimas – empresas que fecham, famílias que não podem pagar os empréstimos para a habitação e são despejadas, estados constituídos como devedores eméritos, impulsionadores diretos ou indiretos de políticas de austeridade, de cortes, privatizações, etc.

As taxas de juro baixíssimas são a única forma de fazer crescer a espiral do crédito em economias estagnadas; se fossem mais altas então haveria ainda menos procura para investimentos produtivos. Por outro lado, se com taxas próximo de zero a economia não cresce, admitindo que a taxa de juro continua a ser o nivelador do volume do crédito, o crescimento só poderá surgir, matematicamente, de taxas negativas que não incentivarão à poupança junto dos particulares que, talvez pensem guardar as economias no colchão. Como o capital financeiro não pode parar de crescer, como acontece com qualquer “mercado” e sendo insuficiente e esquiva a poupança dos particulares, quem terá de salvar a situação é, como é usual, o Estado, para além da torneira aberta dos bancos centrais. É o Estado se constituirá em devedor compulsivo junto dos bancos que entregarão esses títulos como “colaterais” (garantias) junto dos bancos centrais. O problema é que a afetação de receitas públicas ao serviço de dívida acentua o pendor recessionista, ao retirar poder de compra e a impor medidas de austeridade às populações, coloca restrições de natureza política e social. Enfim, o Estado, como capitalista coletivo a funcionar em toda a sua transparência a favor do segmento dominante do capitalismo, o sistema financeiro.

Este modelo em que o Estado se endivida para ajudar o sistema financeiro (entre outros capitalistas) à custa das populações, sem qualquer benefício para estas é a matriz da ilegitimidade da dívida contraída. É uma exigência dos povos a sua anulação mesmo que haja partidos ditos de esquerda que tentam ajudar o sistema financeiro, à custa da multidão, propondo mansas fórmulas de reestruturação da dívida.

Essas mansas fórmulas apenas adiarão o estoiro da bolha de dívida – pública, das empresas e das famílias. Nesse estoiro desaparecerão milhares de bancos e empresas financeiras que se alimentam da bolha, obrigadas a assumir os seus créditos como incobráveis perante sociedades arrastadas em espirais de falências, de desemprego, de pobreza e repressão por parte das classes políticas, em defesa dos seus mandantes do sistema financeiro, como também da sua existência enquanto segmento social parasitário e nefasto.

2 – Duas falsas alternativas do neoliberalismo

Na cartilha neoliberal há duas posições para resolver os desequilíbrios financeiros dos estados.

Uma, defende a desvalorização interna, com austeridade, reduções salariais, cortes de pensões, nos direitos, com privatizações e outras “reformas estruturais”, como a liberalização do “mercado” do trabalho, a carga fiscal agravada, excepto para empresas, e o desmantelamento da segurança social, com a população na penúria e com uma precarização que, a partir do trabalho, se estende para todas as áreas que envolvem a vida. Esta narrativa diz-se necessária para que os países se tornem mais competitivos e tirem o pescoço do cepo através da exportação. Um dia…
Outra, é a desvalorização de uma moeda própria (com saída do euro) para obter essa mesma competitividade face à concorrência nos mercados externos, provocando forte inflação, perda de poder de compra da população, sobretudo dos assalariados – os eternos pagadores – e, desigualdades enormes entre quem tem acesso a moeda forte e quem não tem, com contrabando, mercado negro, fuga de capitais através de esquemas de subfacturação e sobrefaturação por parte do empresariato[2]. Em casos de forte dependência de importações e de exportações com baixo valor acrescentado, como é caso de Portugal ou da Grécia, o instrumento monetário seria desastroso, tal como a chamada desvalorização interna.
A primeira opção foi a adoptada pela troika, imposta para Portugal como para a Grécia dado que uma desvalorização regional da moeda não está disponível. O fracasso está à vista, dedicando-se Draghi ao seu quantitative easing, comprando dívida com o produto da emissão de moeda para alimentar a especulação dos bancos; ou ainda compensando a fuga de dinheiro da Grécia, dando luz verde ao banco central grego para ir imprimindo euros (é o ELA, emergency liquidity assistance).

O fracasso actual é evidente, porque se não pretende a colocação em causa da arquitetura europeia baseada em fundas desigualdades regionais e sociais, na segmentação do território entre Centro e periferias, elementos esses que são anteriores ao euro; para que se não molestem os sagrados interesses do capital financeiro, a oligarquia comunitária e o FMI admitem a colocação da Grécia no “lixo”, como um pária indigno de se sentar à mesa do banquete capitalista que se abastece na referida arquitetura.

A questão não é entre a desvalorização interna ou a de uma moeda nacional, ou de exercícios encantatórios sobre a coexistência pacífica entre duas moedas. Em todos os países, mesmo os que detêm moedas nacionais, manifestam-se grandes desigualdades regionais e sociais quanto ao desenvolvimento e riqueza; e não consta que se venham a criar moedas próprias para o conjunto dos lander alemães que constituíam a antiga RDA, para Trás-os-Montes, para a Extremadura espanhola, para o Mezzogiorno italiano ou o Epiro grego. Existem, mesmo sendo insuficientes, formas de estabelecimento de solidariedades dentro de cada estado-nação, incentivos e benefícios fiscais, transferências, qualquer que seja a sua moeda.

Como se sabe, são pouco evidentes essas formas de solidariedade no seio da UE, que se pretende um espaço único. A UE preocupa-se mais com planos de investimento que viabilizam empresas, que engordam os bancos, que alegram governos e autarcas nacionais, com a competitividade fiscal entre os países e entre estes e os off-shores, do que em constituir fórmulas avançadas de desenvolvimento regional e de transferências que façam da UE, de facto, um espaço coeso e solidário.

3 – Por onde passa a alternativa?

A dicotomia entre a desvalorização interna ou a de uma moeda nacional é o discurso do sistema financeiro, das classes políticas que o servem, sendo uns, neoliberais convictos e servis e outros, keynesianos, convencidos de que maiores poderes a um Estado capitalista (dirigido por eles, obviamente…) são a porta do Eden. Porém, todos são defensores explícitos ou implícitos, apenas complacentes com o capitalismo; aquela dicotomia separa apenas os segmentos mais à direita ou ditos de “esquerda” das classes políticas. Qualquer solução tem de se construir com:

· uma base social e política alargada a construir nos planos nacionais;

· a determinada recusa de propostas nacionalistas bem como de intervenções autoritárias[3] construídas e exigidas pelas instituições da troika;

· uma forte componente de construção internacionalista, solidária e supranacional;

· a criação de instituições nacionais e supranacionais democráticas, emanadas diretamente dos povos e submetidas ao controlo popular;

· a ausência de uma classe política, de profissionais do tráfico de influências;

· o redimensionamento e reconfiguração do sistema financeiro, baseado nas poupanças e não na estouvada criação de meios artificiais para alimentar a especulação.

4 – Sair do euro e/ou da UE como e com que vantagens?

Os tratados europeus não contemplam a saída de um país da zona euro, embora seja referido frequentemente, pelos media e pelos membros da classe política, a possibilidade de expulsão da Grécia, sabendo-se que a Grécia, o seu governo e o seu povo não terão ainda descoberto nisso qualquer vantagem. Estará a faltar-lhes, certamente os avisados conselhos do seu KKE, dos lusos PCP e satélites ideológicos, do nacionalista Ferreira do Amaral, do volúvel Louçã e de vários escolásticos da praça. A adopção do euro é como o nascimento de um filho; pode evitar-se que venha a nascer mas, fazê-lo desnascer é muito complicado.

O artº 140, nº 3º do Tratado sobre o Funcionamento da UE fixa de modo irrevogável a taxa com qual o euro substituiu a moeda nacional do país aderente, não se admitindo a saída voluntária nem a expulsão, nem estando contemplados mecanismos ou calendários para a concretização dessa saída. No entanto, está previsto que um país pode abandonar a UE (artº 50º do Tratado da União), sendo-lhe dado um prazo não superior a dois anos para o efeito. Mas não pode ser expulso. Assim, se a Grécia abandonar a UE, por arrastamento deixa o euro; o que provavelmente não fará, pelos inconvenientes económicos e financeiros que teria e para não facilitar a vida aos outros membros, colocando nestes a invenção dessa sanção máxima que o direito comunitário não prevê, a de expulsão da UE. Mesmo que de modo desastrado, o ministro austríaco das finanças sugere que a Grécia peça para sair da zona euro (?) e que todos os outros países deverão concordar com isso.

Pode pensar-se que o artº 4º do Tratado da União estatui que os estados-membros se devem abster de qualquer medida susceptível de colocar em perigo a realização dos objetivos da UE mas, não esclarece quem tem essa competência. Falar de saída do euro mostra as divergências existentes, o azedume mas, legalmente, qualquer tentativa de a levar a cabo redundaria numa enorme confusão jurídica, política e económica, um desastre para o euro como moeda (para gáudio dos EUA) e para a Grécia, submetida a todas as pressões e chantagens.

Não deixa de ser ridiculamente curioso, por exemplo que o PCP, seus satélites e Louçã defendam a saída do euro de modo concertado, num género de acordo de cavalheiros, onde eles não existem, como se vai observando no seu comportamento com a Grécia. E, ao mesmo tempo se quedem por algo tão manso e pífio como a reestruturação da dívida pública, não assumindo nem a sua ilegitimidade e contribuindo no engano de que aquela seja pagável. Considera-se que uma dívida ao ultrapassar os 100% do PIB jamais será pagável e, para mais com o crescimento anémico que se observa nos países europeus mais endividados e a continuidade das suas corruptas classes políticas.

Nas ditaduras o direito vale o que vale, é instrumental e não uma referência para a convivialidade social. As instituições estatais ou pluri-estatais europeias não são um exemplo de democracia; implícita ou explicitamente, adoram Carl Schmitt. Segundo o pensamento deste ideólogo do fascismo, o exercício da soberania comporta a decisão fora de qualquer norma jurídica, assumindo, como conveniente a existência de uma situação de excepção para justificar uma decisão arbitrária; não se esquecendo de apontar como objetivo a eficácia de uma medida que vise o regresso a uma situação de normalidade. Neste contexto, a normalidade não passa de uma utopia que assoma, sem se fixar, nos evanescentes intervalos que separam estados de excepção reais ou criados pelas classes políticas – programas de estabilização financeira, ameaça terrorista, inflação, deflação, desemprego elevado, reformas estruturais, estabilidade dos mercados… Dito isto, é evidente que, se necessário, os poderes (BCE, Bundesbank, Eurogrupo, Comissão Europeia) inventarão um dispositivo qualquer, no seio das suas posturas de ditatorial arrogância, para retirar a Grécia da zona euro; e terão como apoiantes mais fervorosos os cães, que sempre ladram mais alto que a dona.

Em que estado ficarão o euro, a UE, os chefes nacionais e sobretudo a Merkel que deu a cara por toda esta situação? Situação que se carateriza por atropelos e trapalhadas, que chegam ao ponto de condenarem a realização de um referendo na Grécia, negando ao povo grego o direito elementar de decidir sobre as propostas dos oligarcas comunitários. A rotina, de facto, tem sido a inexistência de consultas populares (ou que são torpedeadas como no caso da Irlanda). Cada vez mais a arquitetura da UE se parece com uma ditadura que concede, sorridente, a realização de romarias eleitorais como toscos espetáculos de final a priori conhecido.

5 – As preocupações do BCE, da UE e do FMI

É evidente que há uma pressão enorme das instituições da troika (chamamos-lhes assim a despeito do governo grego ter vincado o seu fim e não usar o vocábulo) para que continue a desnatação do povo grego, com cortes adicionais nas pensões e aumentos do IVA e não a oneração da tributação das empresas de maior gabarito. Alheios a qualquer preocupação humanitária, às instituições interessam-lhes três ordens de grandezas;

a estabilidade e a rendabilidade dos mercados financeiros;
o não agravamento da situação económica e social na Europa, nomeadamente para que não haja um contágio grego;
e a disputa entre o euro e o dólar pelas preferências de especuladores e estados quanto a divisas de transação, de referência nos preços e de reserva.

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5.1– Objetivo 1 – A estabilidade e a rentabilidade dos mercados financeiros

A dívida grega, como a portuguesa, não tem tido uma evolução explosiva nos últimos anos, de modo a colocar em perigo a estabilidade dos mercados financeiros, embora seja real que, em qualquer dos casos possa haver uma incapacidade de cumprimento dos planos de reembolso e de pagamento de juros, por implosão das suas capacidades de geração de meios financeiros, ou de renovação de divida a baixas taxas ou ainda, por explosão social, com repercussões regionais e até geopolíticas.

O interesse do capital financeiro global como principal baliza de alinhamento das instituições e das classes políticas europeias, dota a dívida de um caráter odioso e ilegítimo (ver relatório da Comissão pela Verdade sobre a Dívida Grega[4] e no caso português[5]) porque os povos nada beneficiam dela, mostrando-se simples instrumentos, obrigados fornecedores de rendimentos para os credores, obrigações essas que lhes foram imputadas por parte do capital financeiro, interessado, quer no caudal dos juros, como na aceitação de títulos das dívidas públicas pelo BCE, como formas de garantia para o abastecimento de fundos aos bancos.

Sabe-se que os bancos procuram aplicar freneticamente todo o dinheiro que detêm e o que criam a partir do nada. Em tempos de desemprego, de fraca performance das economias, a procura de crédito não anda famosa e, por seu turno, os estados têm por detrás populações susceptíveis de garantir reembolsos e juros, com riscos não comparáveis com nenhuma outra entidade. Essas aplicações junto dos estados permitem aos bancos assenhorearem-se de rendas correspondentes, tendencialmente perpétuas, cobrando juros com taxas entre 1.9% ou 5% do PIB, respetivamente, nos casos da Alemanha e de Portugal.

Esta mina para o conjunto dos países do euro aderentes até 2009, aumentou de € 7.26 biliões em dezembro daquele ano, para € 9.3 biliões cinco anos depois, com um crescimento de 30.9%, muito acima do crescimento da economia daquele conjunto de países (média anual de 0.67% para a UE entre o 1º trim/2010 e o 2º trim/2014). Há pois, um hiato entre o crescimento da divida pública e a evolução das capacidades de lhe fazer face, o que prenuncia dificuldades de pagamento.

Essa dívida pública não fica simplesmente registada nos balanços dos bancos aguardando a chegada dos juros e o dia do reembolso. Ela é entregue como garantia dos bancos ao BCE para este lhes fornecer dinheiro fresco à ridícula taxa actual de 0.05%, para aplicação na sua atividade preferida, a especulação. O BCE, formalmente fornece liquidez aos bancos para estes o colocarem na atividade económica, em investimento efetivo levado a cabo por empresas mas, essa afetação só se tornou vinculativa com um programa que se manterá até meados de 2016, numa escala muito inferior à concessão não condicionada de crédito.

Em 2012 o segundo resgate da Grécia contemplou a substituição de títulos de dívida grega por outros, novos, de forma a continuarem como colaterais oferecidos pelos bancos, mantendo-se assim intocáveis os níveis de financiamento do BCE aos bancos, sem que a Grécia tivesse tirado daí qualquer benefício; por exemplo, o BCE poderia ter então condicionado o dinheiro emprestado aos bancos e garantido por aqueles títulos, a investimentos produtivos na Grécia, o que não fez, pois isso não era conveniente para os bancos, mais interessados na especulação e em aplicações corruptas concertadas com as classes políticas.

O gráfico seguinte é eloquente e nele facilmente se observa que os créditos fornecidos – a vários títulos – pelo BCE à Grécia superam a própria situação líquida do banco. Tecnicamente o BCE faliria mas, como tem por detrás os estados da zona euro…

Para continuar a financiar os bancos da zona euro, o BCE irá, até 2016, triplicar o seu capital próprio actual que é de € 1 bilião. Para ofereceram colaterais (garantias) ao BCE – impedido de financiar diretamente os estados – os bancos concorrerão aos leilões de arrematação de dívidas soberanas que entregarão ao BCE como garantia do fornecimento de liquidez, aumentando-se também a dívida dos estados e o jugo no pescoço das populações.

A pressão exercida sobre o povo grego pelas instituições da UE e o comparsa FMI, consiste em que a Grécia vá empobrecendo com a nutrição em juros dos bancos, garantindo que a eternização da dívida irá mantendo o financiamento quase gratuito do BCE aos bancos para que estes desestruturem a economia global. Daí a pressão contra o governo grego por não ser complacente com as instituições da troika e os bancos que aquelas representam (Draghi era do famoso Goldman Sachs[6], por exemplo). Imagina-se o pânico que irá nas cabeças pensantes de Bruxelas, Frankfurt e Berlim se nos países mais endividados do euro houvesse a resistência que o governo Syriza está a tentar opor? Para evitar o contágio grego, o falcão Schauble, desde o princípio, tem sido avesso a concessões aos gregos, remetendo para os serviçais Passos e Rajoy a figura dos mais desejosos da penalização ou banimento da Grécia; se isso acontecer ficarão na fotografia dos bons alunos da turma, poderão apontar para a inevitabilidade das suas miseráveis condutas e, quem sabe, poderão vir a sentar-se na administração de um banco, provavelmente com um recado expresso “não abra a boca, nem mexa uma palha”, tendo em conta a imbecilidade de ambos.

Os imbecis não têm vistas largas e a sua atitude de penalização da Grécia permite-lhes descurarem que, banida a Grécia do palco, o espetáculo irá continuar com outros atores, mormente Portugal. Este, verá as taxas de juro da dívida a subir, maior retração das ofertas nos leilões (como aconteceu recentemente) o que irá despedaçar as metas do deficit e originar, para depois da romaria eleitoral de outubro, novas medidas punitivas da população. Entretanto, a pobre tesoureira Maria Luís canta constantemente a melodia dos cofres cheios… que talvez dure até à próxima romaria eleitoral.

5.2– Objetivo 2 – Conter os europeus na austeridade, na ignorância e… no medo

A Alemanha tem deixado arrastar a situação à espera de um acordo com os gregos que deixe tudo como dantes – os gregos com austeridade sem fim e a Alemanha a exportar os seus produtos, a proceder à manutenção dos submarinos vendidos à Grécia e com o euro livre de pressões e flutuações, de todo inconvenientes para países exportadores. A Alemanha, sabendo perfeitamente que a dívida grega não é suportável pelos gregos, manteve o caldo em fervura lenta nos últimos três anos, com a preciosa ajuda do governo Samaris. A saída deste último precipitou a situação e tudo indica que a actual situação a propósito da Grécia é apenas o princípio de uma grave crise do projeto europeu na sua actual configuração e uma desvalorização/instabilidade do euro que torne a moeda pouco atraente como divisa de reserva e de fixação de preços em contratos a prazo, com o dólar à espreita para reafirmar a sua hegemonia. Assim, a Alemanha tudo fará para manter a estabilidade do funcionamento dos mercados, a paz (podre) social da Europa, agindo em conformidade, banindo, se necessário, a Grécia da UE/euro, com rápida alteração dos tratados, no sentido de maior centralização da decisão nos órgãos comunitários e ainda inventando uma contrapartida conveniente se, em Espanha o Podemos e outros grupos colocarem em causa o binómio PP/PSOE.

Por outro lado, dada a relevância que a exportação tem para a Alemanha a instabilidade em torno do euro pode afetar o nível de emprego no país, conduzir a alterações na actual paz laboral e colocar Merkel em causa, em benefício dos seus irmãos do SPD e do aumento da popularidade do AfD, susceptível de captar eleitorado tradicional da CDU/CSU.

Entre a oligarquia espera-se com ansiedade a vitória do “sim” no referendo de dia 5 na Grécia (se ele se concretizar) e que daí advenha o afastamento do actual governo, com o regresso dos funcionários gregos da troika e a paz celestial aos “mercados”. Porém, a presença de um governo Syriza, de certo modo, tranquiliza a troika pois esta tem alguém com quem dialogar e a serenidade nas ruas de Atenas. Imagine-se um regresso de um Samaris, com uma frágil maioria, obrigado por dever de ofício a satisfazer os interesses da estabilidade do euro e a aceitar as novas e brutais exigências da UE/FMI, com os gregos em polvorosa, por razões sociais e políticas, vendo nisso o equivalente a uma nova invasão alemã. A instabilidade manter-se-ia a não ser que Samaris imitasse em termos de repressão, o regime dos coronéis; a UE aplaudiria pois as pessoas nasceram para servir os mercados, não é verdade?

A crispação da UE revela que os seus mandadores preferirão enviar a Grécia pela borda fora para garantir a estabilidade do euro e a paz nos mercados e, com isso, dar um sinal aos outros países endividados, mormente os de maior gabarito – como Espanha – de que a norma é a obediência à lógica do endividamento e do empobrecimento, para glória da ditadura do sistema financeiro. Aliás, essa subordinação dos estados periféricos e a transformação dos poderes nacionais em meras competências delegadas ou autárquicas, enquadra-se na lógica da centralização das decisões em instâncias não democráticas, por um lado e, no vincar da lógica economicista, por outro, como se observa também no âmbito dos nebulosos tratados TTIP, TISA…

Toda esta fixação no pagamento de dívidas incobráveis também parece estranha nos EUA que consideram mais avisado proceder a uma redução razoável da dívida grega, com ou sem acompanhamento por parte do FMI, como aliás sugerido pelo secretário de estado do tesouro norte-americano[7]; resta saber se e como o conselho dado à Europa pelos norte-americanos será por estes aplicado a Porto Rico, a braços com uma dívida brutal que poderá ter impactos nos mercados financeiros[8]. Por seu turno o próprio FMI divulgou, no último dia 26, um relatório onde procede a cenários contemplando haircuts e extensões dos prazos de pagamento até 2064[9].

O problema da Alemanha é a manutenção do seu enorme excedente externo que alimenta de liquidez o seu sistema financeiro, natural credor dos países do Sul; uma redução da dívida grega levantaria idêntica reivindicação a países altamente endividados como Portugal, Espanha, Itália… com efeitos devastadores sobre a liderança alemã na arquitetura da zona euro.

Uma bancarrota grega, como se adivinha, conduz a limitações aos movimentos de capitais (em Chipre duraram dois anos e na Islândia sete), algo inimaginável dentro dos objetivos mais sagrados da construção europeia e da ortodoxia neoliberal; e, eventualmente daí poderão resultar limitações gregas à importação de bens, como excepção a outra das vacas sagradas do capitalismo, o comércio livre.

A experiência cipriota de 2012, com a intervenção da troika, narra que os depósitos acima dos € 100000 foram expropriados para abate na dívida, quer fizessem parte das poupanças de cidadãos comuns, mormente reformados, ou do fundo de maneio de empresas, por exemplo de hotelaria; revela também que o serviço de dívida foi estabelecido sem qualquer atenção aos efeitos desastrosos sobre a economia do país. Esta e as restantes experiências demonstraram que as populações sofreram a subordinação das suas vidas aos interesses das instituições que zelam pelos interesses do capital financeiro e dos seus cegos burocratas. Porém, isso só aconteceu porque as suas classes políticas se renderam totalmente aos desígnios da arquitetura europeia, marcada pela demarcação de desigualdades entre Centro e periferias; e, pior que isso, porque as populações se mantêm anestesiadas pelas rotinas da democracia de mercado, mostrando-se afastadas da chamada a si das decisões sobre interesses coletivos, relegando as classes políticas, para os capítulos dos maus momentos nos livros de História.

5.3 – Objetivo 3 – Conter as ameaças geoestratégicas

O euro está presente em 25% das reservas globais de divisas, é a forma de expressão monetária de 40% do comércio mundial e é em euros que estão denominados 34% dos empréstimos bancários[10]. Esses indicadores representam um feito assinalável se se pensar que o euro tem apenas 14 anos de vida e que a sua representatividade se conseguiu a expensas de algumas moedas como a libra e, particularmente, do dólar.

Certamente os EUA estão preocupados com a situação do euro, pelos seus efeitos de contágio sobre o sistema financeiro mundial, nas cotações das bolsas, na procura de divisas para efeito de pagamentos internacionais ou para a reconfiguração de reservas em divisas. Gostariam de uma degradação da imagem do euro em lume brando que beneficiasse o dólar (e outras moedas, como o yuan… como danos colaterais), algo à semelhança do que aconteceu com a perda de relevância do dólar após o surgimento do euro. Mas não pretendem movimentos bruscos, susceptíveis de retrações e pânico, como aconteceu em 2008 com a crise dos “subprimes”.

Como única potência com capacidades de atuação global, em todas as vertentes – política, económica, militar, informação – os EUA pretendem consolidar o papel do dólar aproveitando as dificuldades institucionais na Europa ou ainda os impactos ali, do fluxo de emigrantes e refugiados provenientes de África e do Médio Oriente, que estão a facilitar o argumentário dos que antipatizam com as regras Schengen e impulsionam a militarização do Mediterrâneo como resposta à desagregação social e económica nas regiões que rodeiam a Europa.

Nesse âmbito estratégico, os EUA vêm antagonizando a Rússia, arrastando a Europa para lógicas de crispação que afetarão o preço do acesso ao petróleo e ao gás vindos da Rússia.

A Alemanha, por exemplo, que tem 1800 unidades industriais deslocadas na Ucrânia, onde os salários são baixos, interessa-lhe a integração ucraniana na sua esfera de influência em consonância com uma Rússia fornecedora de energia. Esse projeto não interessa aos EUA que veem aí um reforço da UE e do euro interessando-se mais em colocar a Nato junto à fronteira russa, empurrando a Rússia para a Ásia. O FMI, por seu turno, admite poder “emprestar dinheiro à Ucrânia mesmo que o país não possa cumprir o serviço de dívida”[11], depois de ter avançado com um empréstimo de $ 17500 em março. O contraste face à Grécia que não pagou no último dia 30 € 1600 não podia ser maior.

Ainda no campo da geopolítica, parece não haver nas instituições europeias quem observe o convite dos BRIC’s para a Grécia se tornar o sexto membro do seu projetado Banco de Desenvolvimento, que terá um capital de $ 100000 M, pertencendo à China a maior parcela e que se pretende apresentar como uma alternativa ao recurso do FMI, dominado pelos EUA e pela Europa[12]. Uma das funções do novo banco será satisfazer as necessidades dos seus membros que tenham deficits externos. Este projeto pode relacionar-se com o desvio do trajeto de um South Stream – oleoduto entre o Sul da Rússia e a Bulgária, através do mar Negro para a Turquia e a Grécia, atravessando a Macedónia e a Sérvia (o Turkish Stream).

Mais recentemente, a China apresentou-se para ajudar a Grécia nas dificuldades financeiras atuais, diretamente ou por intermédio das instituições europeias[13], o que não deixa de mostrar a todos a menoridade política das instituições europeias, dominadas por membros de dois gangs, o PPE e o S&D.

Este e outros documentos em:

http://grazia-tanta.blogspot.com/

http://pt.scribd.com/profiles/documents/index/2821310

http://www.slideshare.net/durgarrai/documents

[1] http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/06/crescimento-vantagens-competitivas-e.html

[2] http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/09/a-nao-solucao-com-um-novo-escudo-1.html

[3] Em finais de 2011, o então chefe do executivo, Papandreu havia sugerido um referendo para aceitação ou não do segundo resgate da troika. A oposição das instâncias da UE e dos “mercados” financeiros, fielmente seguida pela Nova Democracia e parte importante do Pasok impôs na Grécia um financeiro vindo do BCE – Papademos – para primeiro-ministro de uma coligação ND/Pasok que haveria de preparar as novas eleições que viriam a ser ganhas pela ND de Antonis Samaris. Não houve referendo, o segundo resgate foi portanto, aceite e, como se vê, não tornou a Grécia livre do espartilho do capital financeiro, nem da troika.

[4] http://www.hellenicparliament.gr/Enimerosi/Grafeio-Typou/Deltia-Typou/?press=abd173dc-82dd-4207-a927-a4ba00e245e0

[5] http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/03/porque-nao-e-pagavel-divida-publica.html

http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/07/por-que-no-se-puede-pagar-la-deuda.html

http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/07/why-portuguese-public-debt-is-not.html

[6] O glorioso Goldman Sachs montou na Grécia uma contabilidade fictícia em conluio com os governos da ND/Pasok e as instituições europeias. Até onde haverá responsabilidades pessoais de Draghi? Há algum princípio de justiça em ser o povo grego a pagar com desemprego, desespero e privações os efeitos de uma burla com responsáveis bem conhecidos fora da cadeia?

[7] http://ionline.pt/399553?source=social

[8] http://www.zerohedge.com/news/2015-07-02/swedens-qe-officially-broken-riksbank-doubles-down-lowers-rates-even-more-negative-b

[9] http://www.imf.org/external/pubs/cat/longres.aspx?sk=43044.0

[10] Retirado de “A solução novo escudo” de João F Amaral e F Louçã

[11] http://www.femepress.es/economia/christine-lagarde-ucrania-prestara-dinero-a-ucrania-aunque-no-pueda-pagar-las-deudas/

[12] http://br.sputniknews.com/opiniao/20150504/930999.html

[13] http://www.zerohedge/2015-07-02/china-state-official-hints-beijing-may-bailout-greece

Democracia Ateniense vs. Deuses Neoliberais

Pepe Escobar/ SputnikNews

Eneko

Eneko

O primeiro-ministro Alexis Tsipras dá ao povo grego a oportunidade para decidir o próprio destino via um referendum democrático. É o que basta para pôr atroika – Banco Central Europeu (BCE), Comissão Europeia (CE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) – em surto de fúria. Adiante, resumidamente, tudo que se precisa saber sobre o “sonho” de UE.

Tsipras, claro, está certo; teve de convocar um referendumporque a troika dera “um ultimatum à democracia grega e ao povo grego”. De fato, “ultimatum que contraria os princípios fundadores e os valores da Europa”.

Mas por quê? Porque a aparentemente tão sofisticada rede político-econômica das “instituições” europeias – o CE, o Eurogrupo, o BCE – teve de enfrentar uma séria decisão política; e essencialmente por causa da sua sórdida mistura de ganância e incompetência, não conseguiram tomar nenhuma decisão política. Agora, afinal, os cidadãos da UE começam a poder ver com mais clareza quem são os inimigos deles: as tais “instituições” nada transparentes que, supostamente, os representam.

Os – até aqui – 240 bilhões de euros do resgate da Grécia (que mostrou a Grécia sendo usada como lavanderia do dinheiro dos ‘resgates’ de bancos franceses e alemães) já fizeram a economia nacional encolher mais de 25%; o desemprego é gigante; e miséria cresce a níveis sem precedentes. E para as “instituições” da UE – plus o FMI – jamais houve qualquer Plano B; foi sempre à moda do euro-arrocho – uma espécie de Choque e Pavor econômico – ou caiam fora (e mergulhem no desespero). O pretexto sempre foi “salvar o euro”. E o que torna tudo mais absurdo é que a Alemanha não dá importância alguma a se a Grécia quebra, e se a saída da Grécia da Eurozona (“Grexit”) é inevitável.

E ainda que a UE opere, na prática como um monstrengo simulado e reacionário, o que mais intriga é ver intelectuais até aqui respeitáveis, como Jurgen Habermas, a denunciar o Syriza como partido “nacionalista” e elogiando o ex-e-eterno office-boy de Goldman Sachs e hoje presidente do BCE, Mario Draghi.

À espera de Diógenes

O Referendum de 5 de julho vai muito além de os gregos responderem se aceitam ou rejeitam mais gigantescos aumentos de impostos e cortes em aposentadorias (que afetam pessoas que já vivem abaixo da linha oficial de pobreza); é o sine qua non que a troika tenta impor – qualificado como “medidas bárbaras” por vários ministros gregos – para desbloquear mais um resgate.

Pode-se argumentar que dia 5 de julho outro referendo, mais pertinente, estará respondendo à seguinte pergunta: “Qual é a linha vermelha para que a Grécia mantenha-se na Eurozona?”

O primeiro-ministro Tsipras e o ministro das Finanças Varoufakis derrubaram os rumores de que aceitariam qualquer humilhação para permanecer na Eurozona. Só serviu para radicalizar ainda mais a elite político-econômica alemã – da Dama de Ferro Merkel ao ministro das Finanças Schauble. O “segredo” mal escondido deles é que agora eles querem a Grécia fora do euro.

E isso está levando não poucos gregos – dos que ainda acreditavam nos benefícios de uma casa financeira comum de todos – a aos poucos começarem a aceitar uma Grexit. E de cabeça erguida.

O Banco Central Europeu ainda não detonou a bomba atômica – de esmagar todo o setor bancário grego. Mas de fato, com o encerramento do processo de Assistência de Emergência à Liquidez (orig. Emergency Liquidity Assistance, ELA) no fim de semana passado, o mundo desabará se milhões de gregos decidirem sacar seu dinheiro na abertura dos bancos, antes do referendum.

O Banco da Grécia, “como membro do sistema-euro”, como se lia num comunicado, “tomará todas as medidas necessárias para garantir estabilidade financeira aos cidadãos gregos nessas difíceis circunstâncias.” Implica limitar fortemente os saques nos bancos – o que garantirá sobrevida à Grécia até o dia do referendum.

Verdade é que ninguém sabe o que acontecerá depois de 5 de julho. A Grexit é possibilidade muito clara. Projetando além disso e colhendo uma folha do “Anel” [dos Nibelungos] de Wagner, também parece claro que as “instituições” do euro, elas mesmas, estão jogando gasolina ao fogo que pode eventualmente consumir a Eurozona – consequência direta do empenho delas para imolar os gregos, como Brunnhilde.

O que a Grécia – berço da civilização ocidental – já mostrou ao mundo deve ser motivo de orgulho para os gregos; nada como um tiro de democracia, para fazer os Deuses do Neoliberalismo perderem as estribeiras.

Fica-se tentado a invocar um Diógenes pós-moderno, o primeiro filósofo homeless, só com sua lanterna, à procura de um homem honesto (em Bruxelas? Berlim? Frankfurt?) e sem jamais encontrar. Mas em vez de ele cruzar com a maior celebridade daquele tempo -Alexandre o Grande -, imaginemos outro encontro, quando nosso Diógenes pós-moderno toma sol numa praça ateniense.

– “Sou Wolfgang Schauble, Senhor da Finança Alemã.”
– “Sou Diógenes, Cínico.”
– “Posso oferecer-lhe tudo que você deseja.”
– “Desejo que caia fora do meu sol. Está fazendo sombra.”

Terceirização, “avassalador aniquilamento de direitos dos personagens antes considerados humanos trabalhadores”

O risco de a Constituição de 1988 não valer para os trabalhadores

por Grijalbo Fernandes Coutinho (*)

 

Pelicano

Pelicano

Tem sido enorme a pressão empresarial para o Estado autorizar a terceirização generalizada em todas as atividades econômicas. Não raro, até mesmo integrantes dos poderes proclamam que o tema deve ser objeto de rápida decisão porque assim esperam os agentes econômicos. Passam a enganosa impressão, com as suas falas oficiais, que a medida é necessária para proteger os empregados.

Ora, a terceirização encontra-se interpretada ou regulamentada desde 1993, ao menos sob a configuração jurídica que agora se pretende alterar no âmbito do Parlamento e STF, com reduzidas modificações ao longo dos anos no conteúdo da Súmula nº 331, do TST. Com a celeridade almejada busca-se evitar a ampliação do debate público na sociedade brasileira sobre os efeitos da terceirização para o conjunto das relações de trabalho. Quanto menor for a mobilização popular, maiores serão as chances da aprovação do trabalho terceirizado sem estardalhaço sindical e operário.

Inegavelmente, o trabalho e todas as suas instituições protetivas padecerão, na hipótese de a terceirização ser liberada de forma generalizada.

O PL 4.330/04, previsto para ser votado nos próximos dias, autoriza a terceirização sem freios, em contraposição aos limites impostos pela interpretação contida na Súmula nº 331 do TST, que hoje a admite apenas na atividade-meio. A referida iniciativa parlamentar apoiada por representações empresariais tem, como princípio nuclear, a liberação da terceirização na atividade-fim, acompanhada da responsabilidade subsidiária das empresas tomadoras. Os demais dispositivos da proposta expressam apenas o desejo de escamotear a essência do duro golpe desferido contra o Direito do Trabalho. São disposições aparentemente protetoras da execução do contrato de prestação de serviços firmado entre empresas, responsáveis, contudo, pela legitimação do fenômeno em sua vertente mais predatória, de modo que não apenas sejam intensificadas as condições de trabalho degradantes hoje oferecidas aos trabalhadores terceirizados, como também reste viabilizada a extensão das perversas condições ao grande grupo obreiro que irá fatalmente compor o rol dos terceirizados, aumentando, portanto, os níveis de proletariedade social.

A lógica do tudo terceirizável, no âmbito das relações de trabalho, legitimará o funcionamento das grandes empresas e dos conglomerados econômicos praticamente sem empregados formais em seus respectivos quadros de pessoal. O modelo, com certeza, não interessa aos trabalhadores, que passam a negociar exclusivamente com intermediários os quais atuam como mera correia de transmissão do sistema, do ponto de vista mais geral.

Diferentemente do discurso dominante, sem qualquer hesitação, a proposta em debate legitima o modo de gestão patronal terceirizante em sua vertente mais perversa contra os trabalhadores. Não poderia ser pior, tanto para a classe trabalhadora, quanto para a sociedade brasileira comprometida com a Justiça Social.

Tanto é assim que temas básicos capazes de, em tese, minimizar os efeitos danosos de ação inexoravelmente redutora de direitos sociais sequer são cogitados na discussão legislativa, tais como, restrição do trabalho subcontratado às atividades de natureza transitória, responsabilidade solidária de todas as empresas integrantes do processo produtivo, isonomia absoluta entre trabalhadores centrais e terceirizados e enquadramento sindical obreiro com base na atividade da tomadora de serviços.

As condições laborais, a partir de eventual terceirização generalizada, serão muito mais degradantes, tudo em nome da competividade e do consequente aumento das taxas de lucro. A terceirização existe não para modernizar o processo produtivo senão para arrancar até o limite extremo o potencial criativo, combativo e gerador de riquezas da força de trabalho, que passará a ser remunerada nos níveis mais baixos possíveis no âmago dessa nova marchandage comercializada midiaticamente como solução para o mundo do trabalho infernal criado pelo próprio modo de intermediação e subcontratação de mão de obra, a ser inexoravelmente aprofundado, caso vingue o sonho de consumo atual das forças hegemônicas da economia.

Em vez de banir o mal maior das relações de trabalho, persegue-se, concretamente, transformá-lo na regra geral, pouco importando o destino das pessoas que sofrem intensamente com o impacto da terceirização em variadas dimensões de suas vidas, bem como de outros milhões de serem humanos trabalhadores que também pegarão brevemente a fila do corredor da morte, opressão, humilhação, do decepamento de partes do corpo, das doenças laborais e da precariedade absoluta do ambiente de trabalho permeado por contundente intolerância social com os sujeitos construtores da riqueza nacional.

Junto ao STF, as entidades empresariais desenvolvem duas teses centrais para alcançar a escancarada terceirização, quais sejam, liberdade de contratação e ausência de lei vedando o trabalho subcontratado na atividade fim (art. 5º, II, da CRFB, “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”).

Invocar a liberdade de contratação para autorizar a terceirização generalizada ou qualquer outra forma de precarização das condições de trabalho seria extremamente adequado a partir do prisma jurídico vigente durante o auge do liberalismo econômico, nos séculos XVIII e XIX, na Europa. Com base em tal paradigma, crianças foram submetidas ao terror das condições degradantes geradoras de suicídios, acidentes graves e mortes ao lado das máquinas. Mulheres e homens trabalhadores sofreram maus tratos diversos no ambiente laboral como vítimas de crimes praticados em nome do lucro máximo, embora pouco pudessem fazer, do ponto de vista jurídico, porque a liberdade de contratação assegurava aos patrões arrancar-lhes até a última gota de sangue, em contraste com a opulência dos donos das máquinas.

Entre o século XIX e os dias atuais mudou substancialmente o panorama econômico, político e jurídico no mundo inteiro. Eclodiram duas guerras mundiais ocasionadas pelo liberalismo, revoluções sociais foram feitas para assentar no poder a classe trabalhadora e explodiram grandes crises econômicas e financeiras, tudo resultando no reconhecimento público, por parte de um capital envergonhado pela herança deixada, do completo fracasso da veia liberal, em todos os campos do conhecimento humano, nos dois séculos de existência de modelo fincado na absoluta liberdade de contratação.

Em outros termos, o pressuposto da livre contratação morreu juridicamente há quase um século. Nada é mais arcaico ou ultrapassado do que o seu ressurgimento para emprestar fantasmagórico conteúdo jurídico às novas formas de exploração da mão de obra humana, quando a essência do Direito do Trabalho reside exatamente na superação da antiga teoria civilista da liberdade contratual, sobretudo na perspectiva da efetividade de seus princípios orientadores protetivos do hipossuficiente.

Relativamente a outra matriz jurídica invocada, cabe dizer que, caso pudesse a terceirização ser implementada em razão do inciso II do artigo 5º da Constituição, cujo conteúdo próprio das aspirações de uma época histórica tem integrado há muito tempo textos constitucionais anteriores, qual seria o motivo de termos leis cuidando da autorização do trabalho terceirizado em atividades específicas, no Brasil e no mundo?

A terceirização é conduta absolutamente excepcional, estranha e repudiada historicamente pelo Direito do Trabalho. A sua existência jurídica depende, em primeiro lugar, de regulação da matéria pelo Poder Legislativo, sem prejuízo, contudo, do debate posterior acerca de sua compatibilidade ou não com o conjunto harmônico do ordenamento.

Para além e também em respeito às perspectivas jurídico-laborais frontalmente contrárias à subcontratação de trabalhadores, uma vez que o conhecimento jurídico jamais deve ignorar as tragédias sociais causadas por variados fenômenos, pesquisas acadêmicas realizadas nas últimas décadas, bem como a atuação da fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, do Ministério Público do Trabalho e da Justiça do Trabalho, revelam que a terceirização, por força da sua razão primordial de ser ancorada na drástica redução de custos, está umbilicalmente associada ao caos no ambiente de trabalho. Adoecimentos, graves acidentes com mortes e mutilações, salários baixíssimos, jornadas intensas e extenuantes, trabalho análogo ao de escravo, direitos imateriais intensamente violados, invisibilidade social, esfacelamento sindical e degradação geral das condições de trabalho simbolizam tragicamente o que significa de fato a crueldade da terceirização.

Na hipótese de chancela da terceirização na atividade-fim, o trabalho será tratado como o lixo das relações sociais por parte de quem lucra muito com o seu resultado, dado o desprezo a ser conferido a esse direito humano fundamental próprio da parte numérica mais expressiva da sociedade brasileira, a classe trabalhadora.
Detendo 25% do mercado de trabalho (Dieese, 2011), caso reste autorizada na atividade-fim, a terceirização ocupará espaço muito mais expressivo rapidamente, aumentando, sem dúvida, a tragédia social assim constada a partir de sua prática no Brasil.

Humilhações, mortes, adoecimentos, salários irrisórios, jornadas intensas e extenuantes, desemprego, violação de direitos imateriais, segregação, trabalho precário e degradante, trabalho análogo ao de escravo e outros graves problemas sociais serão intensificados em grau exagerado, a ponto de os integrantes das instituições públicas da regulação e proteção do trabalho, incluindo os auditores-fiscais, procuradores e juízes do trabalho, logo constatarem a sua absoluta inutilidade para fazer valer a justiça social inscrita como compromisso fundamental da Constituição de 1988.

Valorização do trabalho como princípio fundante da República, respeito à dignidade humana do trabalhador, necessidade da existência de ambiente saudável do trabalho, combate a qualquer tipo de trabalho degradante, função social da propriedade, livre iniciativa respeitando o primado do trabalho, entre tantos outros princípios e dispositivos previstos na Constituição Federal de 1988, far-se-ão tão eficazes quanto os direitos humanos civis clássicos durante a ditadura civil-militar de 1964-1985.

Liberada a terceirização na atividade-fim e em todos os setores econômicos, a Constituição de 1988 será de um vazio estrondoso e monumental em termos de Direitos Humanos. O risco é de o texto constitucional não valer para os trabalhadores, porquanto os direitos sociais ali previstos terão nenhuma efetividade.

O Estado Democrático de Direito perderá completamente o seu cunho social e a sua face cidadã em relação à classe trabalhadora. Nascerá, em contrapartida, o Estado Democrático de Direito do Capital, cujo seu primeiro direito fundamental consagrará a terceirização sem limites como mecanismo de avassalador aniquilamento de direitos dos personagens antes considerados humanos trabalhadores.

 

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(*) Juiz do trabalho e professor livre-docente da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Autor de Relação de emprego e direito do trabalho (2007) e O direito do trabalho como instrumento de justiça social (2000), pela LTr, e de um dos artigos da coletânea Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil (Boitempo, 2013). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente às segundas.

 

 

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“Diez años después del Caracazo, el Gran Sacudón, daba a luz a la República Bolivariana

El Gran Sacudón

 

por Daniel Sazbón

 

El 27 de febrero de 1989, Carlos Andrés Pérez lanzó su plan, al que llamó “Gran Viraje”. Apertura de la economía, devaluación de la moneda, elevación de tarifas, liberación de precios, la receta era la misma para toda la región. Sin embargo, la respuesta popular fue uno de los levantamientos más importantes de la historia reciente de América Latina: el Caracazo. A casi 30 años de aquel Gran Sacudón, una lectura sobre esos años y sobre las consecuencias políticas que tamaña rebelión tuvo en la política de la región.

caracazo

El año es 1989; el escenario, una nación sudamericana sacudida por una crónica crisis económica, una deuda externa que ahorca las arcas estatales, y una situación social explosiva. Acaba de triunfar con holgura en elecciones presidenciales un carismático candidato, con la promesa de recuperar esplendores perdidos. Las esperanzas depositadas en su figura iban de la mano con la trayectoria de su partido, que en el rígido esquema vigente en su país desde mitad de siglo, debía representar a los trabajadores sindicalizados. Sorpresivamente, a pocos días de asumir el cargo, el flamante gobernante le comunica a la azorada población que la gravedad de la crisis lo obligaba a tomar medidas drásticas, anunciando políticas económicas de corte claramente neoliberal.

Previsiblemente, el impacto de las medidas pegó de lleno en los sectores más pobres. Un violento estallido popular tuvo lugar en la ciudad capital; la ola de protestas callejeras y saqueos a comercios fue reprimida con saña, ahogándo la revuelta en sangre. Unos diez años después de estos acontecimientos, el entero sistema de partidos entraría en una profunda crisis, abriendo el camino para la aparición de una figura hasta entonces relativamente desconocida. Este nuevo líder redefiniría las coordenadas políticas del país y terminaría construyendo un liderazgo que aún hoy, luego de más de una década de gobierno, continúa vigente, a pesar de la desaparición física de su fundador.

El relato, mirado con ojos australes, resuena con ecos familiares. Pero esta historia no transcurre en el Cono Sur, sino en el trópico. El carismático candidato es Carlos Andrés Pérez (CAP), que asumió la presidencia de Venezuela a principios de febrero, rodeado de figuras como Fidel Castro, Gabriel García Márquez, el sandinista Daniel Ortega y el presidente de la Internacional Socialista, Willy Brandt. No era de extrañar, dado su pasado nacionalista (15 años atrás, en su primer presidencia, CAP había nacionalizado las industrias del hierro y el petróleo) y su encendida retórica: en su campaña había comparado las políticas del FMI con los efectos de la bomba neutrónica, que “sólo-mata-gente”. Pero apenas asumió, CAP lanzó su “Gran Viraje”, un programa de ajuste inspirado, como tantos en la región, en las recetas del FMI: apertura de la economía, devaluación de la moneda, elevación de tarifas, liberaciónde precios. Sus efectos inmediatos fueron el encarecimiento del costo de vida, el desabastecimiento de productos básicos y un explosivo aumento de las tarifas de transporte.

La respuesta fue inmediata. Días después de lanzado el plan, el lunes 27 de febrero de 1989, estalló el levantamiento popular más importante de Venezuela, y uno de los más importantes de la historia de América latina: el Caracazo, “el Gran Sacudón”; cinco días de protestas y saqueos que conmovieron al país. La chispa fueron los reclamos de trabajadores y estudiantes, afectados por el aumento del transporte (que llegó a triplicar su valor), pero el incendio llegó con los moradores de los cerros, el cinturón de ranchos precarios que rodea desde lo alto el valle de Caracas. Los enfrentamientos no tardaron en replicarse en otras ciudades del país. Desbordado, CAP decretó el estado de sitio, implantó un toque de queda y militarizó la ciudad: entraron en escena el ejército y la guardia nacional, aplicando la ley marcial contra saqueadores y manifestantes. La represión fue sangrienta, su entera magnitud se desconoce; disparos a mansalva y ejecuciones sumarias al abrigo de la noche produjeron un número de muertes que va desde los casi 300 oficialmente reconocidos a los más de dos mil que denuncian entidades no gubernamentales.

“Mataron al catire Acosta, al catire Acosta Carlez / quien lo mató no imagina lo que vendrá en adelante / ni la fuerza que ahora palpita dentro de la tierra madre…”. Es Hugo Chávez quien dedicó estos versos a la memoria de su compadre Felipe Acosta Carlez, muerto en el Caracazo. Chávez supo ver que con este “reventón” estallaba todo un sistema político. Desde la caída de la dictadura de Pérez Jiménez en 1958, se había consolidado en Venezuela la “Cuarta República”; su documento fundacional, el Pacto de Punto Fijo, fijaba la alternancia en política (el bipartidismo entre el partido de CAP, el socialdemócrata AD, ligado a los sindicatos; y el COPEI, socialcristiano y pro-empresario) y la continuidad en la economía, basada en la moderada distribución de la renta petrolera por el Estado. En 1992, el propio Chávez protagonizó un levantamiento militar contra Pérez, cuyo fracaso, famosamente, relativizaría ante las cámaras de televisión: los objetivos del levantamiento, declaró, no se han cumplido “por ahora”. Al año siguiente, CAP debía dejar la presidencia, removido por corrupción. Pero Chávez todavía tendría que esperar hasta 1998, cuando con su Movimiento V República llegó a la presidencia, venciendo al candidato que apoyaban conjuntamente los dos partidos tradicionales. Diez años después del Caracazo, el Gran Sacudón daba a luz a la República Bolivariana.

“Nada deberás temer, mientras el bosque de Birnam no se levante hasta Dunsinane”, le auguraron las brujas a Macbeth, entre truenos y relámpagos. Durante 40 años el sistema político venezolano vivió tan confiado en su futuro como el rey de Escocia, y sus manos terminaron más manchadas de sangre que las del matador de Duncan y Banquo. Pero un día bajaron los cerros; Birnam subió a Dunsinane, y la tempestad fue imparable. “La tormenta de los pueblos se desató por las calles. / No quedaba nada en pie desde Petare hasta el Valle / Caracas tenía sed y la sed era de sangre…”.

 

 

Chomsky: A Europa é hoje uma das maiores vítimas do neoliberalismo

O Syriza e o Podemos são partidos que se levantam “contra o assalto neoliberal que está a estrangular e destroçar os países periféricos”.

 

Noam Chomsky: “O capitalismo é intrinsecamente sádico". Foto de Andrew Rusk

Noam Chomsky: “O capitalismo é intrinsecamente sádico”. Foto de Andrew Rusk

“A Europa é hoje uma das maiores vítimas” das políticas neoliberais que começaram a ser aplicadas no final dos anos 70 e começaram com Ronald Reagan e Margaret Thatcher, afirmou o linguista norte-americano Noam Chomsky.

Durante uma entrevista ao CTXT, o filósofo sustentou que as medidas de austeridade implantadas na região “estão a desmantelar o Estado do Bem-estar e a debilitar os trabalhadores para aumentar o poder dos ricos e dos privilegiados”.

“É delirante a forma como a Troika está a tomar decisões na Europa. Pode-se qualificar como delirante se forem levadas em conta as consequências humanas, mas do ponto de vista dos que definem a política não é delirante, para eles é fantástico. Estão mais ricos e poderosos que nunca, e estão a acabar com o inimigo, que é a população em general”, assinalou o ativista político.

“Um mundo sem regras no qual os poderosos fazem o que querem. E, onde, milagrosamente, tudo sai à perfeição. É interessante comprovar como Adam Smith propôs isto na famosa expressão ‘mão invisível’. Agora vemos que, quando o capital deixa de ter restrições, particularmente os mercados financeiros, tudo salta pelos ares. É com isso que se confronta hoje a Europa”, sustentou o professor emérito de Linguística no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT).

“O capitalismo é intrinsecamente sádico; de facto, Adam Smith reconheceu que quando tem rédea solta e fica livre de amarras externas, a sua natureza sádica manifesta-se porque é intrinsecamente selvagem. O que é o capitalismo? Maximizar os seus benefícios à custa do resto do mundo”, explicou o filósofo norte-americano.

O autor de “Os guardiões da liberdade” vê a América Latina como um exemplo de resistência diante da “invasão neoliberal”. “Durante 500 anos, a América do Sul sofreu o domínio das potências imperiais ocidentais, a última delas, os EUA. Mas nos últimos 10 ou 15 anos começou a romper com isso”, refere.

Chomsky considerou que o Syriza, liderado por Alexis Tsipiras, é um partido de esquerda “para os padrões atuais” mas que, pelo contrário, o seu programa não o é. “É um partido antineoliberal; não exigem que os trabalhadores controlem a indústria”.

“E isto não é uma crítica, acho que é positivo. E o mesmo ocorre com o Podemos: são partidos que se levantam contra o assalto neoliberal que está a estrangular e destroçar os países periféricos”, acrescentou.

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

Leia entrevista: Poderá a civilização sobreviver ao “capitalismo realmente existente?”

El otro no me importa

por Bernardo Kliksberg

  Ivan Honczar

Ivan Honczar

Exabruptos sociales

De acuerdo con un informe de la ONU, el crecimiento continuo de las desigualdades no sólo es “intrínsecamente injusto”, sino que afecta “la calidad de las relaciones”. En un mundo donde un 1 por ciento de la población está llegando a concentrar casi el 50 por ciento del producto bruto mundial, y el 50 por ciento tiene menos del 1 por ciento, florecen las coartadas para justificar el statu quo y los exabruptos sociales.

Goleman llama la atención sobre la tendencia a deshumanizar las relaciones. Observa estadísticamente que es típico que si en una conversación entre muy ricos hay alguien de un estrato social bajo es como si fuera invisible para el grupo; las conversaciones son a través de él, como si no existiera. Si llega a opinar, nadie se hará eco o le contestará.

Goode (Universidad de Nueva York) dice que hay en el sistema económico “una carrera por mayor y mayor acumulación, que ha dejado las virtudes cristianas a un lado, intercambiándolas por una moralidad social moderna que proclama ‘yo merezco todo lo que pueda adquirir’”.

En Estados Unidos, la gran mayoría de los sectores de opinión denuncia el “greed” como el gran peligro público. Significa “codicia avariciosa”, sin límites, y se expresa en lo que Obama llamó “la especulación desenfrenada”. A su cabeza están los fondos buitre. Algunos de los que se lanzaron ávidamente contra la Argentina están tratando ahora de hacer ganancias bajando el precio de las acciones de Petrobras de Brasil.

La deshumanización del otro y la codicia avariciosa llevan a sus actores a una reclusión en un mundo artificial, desconectado de la gente real del 99 por ciento, y con frecuencia creciente producen explosiones de ira y soberbia social.

Entre otras, después de la gran crisis del 2008/9 que derrumbó la economía norteamericana y causó graves daños a la economía mundial, en un ataque a las medidas regulatorias, el presidente de uno de los principales fondos de inversión señaló que era una guerra de Obama contra los empresarios similar a la invasión de Polonia por Hitler.

En la nueva ley de presupuesto de EE.UU. se suprimieron los requerimientos que se habían conseguido para que ante el grave problema de la obesidad infantil los menúes escolares financiados por el Estado fueran saludables. La asociación que representa a los directores de “cafeterías”, que es financiada por empresas alimentarias, saludó su eliminación con el increíble argumento de que “los estándares más bajos de sal son extremadamente difíciles de alcanzar y que el gobierno tiene que hacer más investigación antes de obligar a las escuelas a hacer cambios tan costosos”.

La hija del presidente de Korean Air Lines, vicepresidenta de la compañía, viajaba en un avión de la empresa en ruta de despegue. Como le sirvieron nueces en un recipiente que no le gustó, insultó e increpó al personal, hizo arrodillar y pedir perdón al jefe de servicio, lo golpeó con una carpeta de documentos e hizo que el avión retornara con todos los pasajeros, para echarlo. El Sr.Park Chang-jin declaró: “Ud. no puede entender la humillación que he sufrido si no la experimenta por sí mismo”.

No fue un caso aislado. Diversos medios señalaron que son comportamientos comunes en las familias propietarias de grandes grupos económicos. Dice The New York Times que “sus líderes tienen la reputación de practicar conductas imperiales y tratar a sus empleados como sujetos feudales”. No sólo en el Norte o en Asia el 1 por ciento se desata. En Brasil fueron muy especiales las reacciones de la dinastía Sarney, casi dueña del Estado de Maranhao, al perder por primera vez en 2014 las elecciones para gobernador. Es el penúltimo estadio en desarrollo humano, según la tabla del PNUD, al mismo tiempo que la dinastía acumuló riquezas en gran escala y compró casi todos los medios, los servicios públicos son terribles según la mayoría de las evaluaciones. Sarney alegó que “el índice de desarrollo humano fue creado como una estrategia de los países imperialistas para hablar mal de Brasil y peor de Maranhao”. En realidad, fue creado por un prominente economista tercermundista y Amartya Sen, y sus primeros informes fueron impugnados por los sectores más conservadores del mundo, que presionaron por su supresión.

En todos los episodios mencionados hay una línea en común: el otro no importa y los muy poderosos suponen que su impunidad es absoluta.

La descalificación de los apoyos a los pobres

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La actitud de actuar como los “amos del universo” de sectores del 1 por ciento, pasando por encima de los cuestionamientos y racionalizando la legitimidad de sus practicas acumulatorias, tiene otra cara: el desprestigio sistemático de los programas sociales. Repiten “es asistencialismo”, “fomentan la indolencia”, “los que reciben el subsidio dejarán de buscar trabajo”.

Una reciente investigación (Kleven, The NYT) sobre los países líderes en subsidios a la población, los escandinavos, lleva a conclusiones opuestas.

Hay en ellos un amplio sistema de beneficios y una elevada presión fiscal. Según la ortodoxia económica, si los ciudadanos reciben mucho del Estado y además pagan altos impuestos deberían tener poco interés en trabajar.

Son en cambio los países con mayor población trabajando, más del 80 por ciento.

En Noruega, Suecia y Dinamarca estimulan el ingreso al trabajo programas como la atención subsidiada para el cuidado de los niños, las generosas políticas de vacaciones por enfermedad que permiten a los padres tomar días para cuidar a niños enfermos, el transporte público subsidiado, barato y accesible, y las amplias facilidades de entrenamiento gratuito.

Contra la suposición neoliberal, la investigación mostró que hay una robusta correlación entre lo que los países gastan en subsidios como éstos y el porcentaje de la población que trabaja.

En otro contexto diferente, los programas compensatorios difundidos en América latina, encabezados por Bolsa Familia en Brasil (más de 50 millones de beneficiarios), y la Asignación Universal por Hijo en Argentina (3.500.000 de niños pobres favorecidos), no han producido “indolencia”, “pereza”, “abandono del trabajo”, sino lo contrario: han creado condiciones mejores para la integración al mercado laboral. Así, en Bolsa Familia y en Asignación Universal, los beneficiarios trabajaban antes de recibir el subsidio, pero vendían su trabajo muy barato, por su desesperada necesidad de supervivencia. Al garantizarles el programa un ingreso mínimo estable, y la escolaridad y atención de salud de sus hijos, subieron sus posibilidades de buscar trabajos mejores y capacitarse para tener más empleabilidad.

En una América latina impactada por las tendencias contractivas actuales de la economía mundial está recrudeciendo el debate sobre si seguir profundizando los caminos de la inclusión o volver hacia atrás y aplicar las recetas pregonadas por los poderosos que alegan ser “infalibles”.

El teórico de la economía de mercado, Adam Smith, prevenía crudamente contra esta tendencia y sus implicancias éticas. Escribió: “La disposición a admirar y casi idolatrar a los ricos y poderosos y despreciar a las personas de condición pobre y humilde es la más grande causa de corrupción de nuestros sentimientos morales”.